Os
Fundamentos Teológicos da Ética Cristã»
Deus é o Alfa e o Omega da vida humana, O Criador, o Redentor e a
Realização última de toda existência pessoal. Toda pessoa é criada à imagem e
semelhança de Deus (Gn.1, 26-27). Toda pessoa sem exceção é apta à santidade e
à teosis ou deificação: uma plena e eterna participação nas energias divinas ou
atributos divinos. É por esta razão que a Tradição Cristã põe tão fortemente o
acento sobre o caráter sagrado da vida humana. Este caráter sagrado, uma vez
ainda, tem sua origem em Deus e é concedido como uma pura expressão de Seu Amor
(...) é Dom: o Dom da Vida própria de Deus e de Sua Santidade, que nos foi
conferida, independentemente de todo o mérito, valor ou realização pessoal.
Isolada deste Dom, a vida é absurda, sem sentindo algum (...)
A VIDA
MORAL: LIBERDADE EM ESPÍRITO
O reconhecimento e a celebração de
Deus como Mestre de nossa vida é o fundamento sobre o qual edificamos a
compreensão e a esperança que levam à uma conduta cristã, uma conduta que se
conforma à vontade divina e manifesta os atributos divinos: Justiça e Amor. A
confissão de Deus como Senhor e Sua celebração na Liturgia da Igreja são, por
esta razão, o fundamento da teologia moral cristã.
A problemática da teologia moral, que
cria dilemas éticos em nossa vida cotidiana, provém do conflito existente entre
a nossa confissão de fé e nossas "paixões"; os "impulsos da
carne" que conduzem ao pecado e à separação com Deus, que é a fonte e a
plenitude da existência humana. Sem esse conflito, nós conheceríamos pela nossa
própria natureza a vontade de Deus e conformaríamos nossas atitudes e nossas
ações à esta vontade. O pecado, portanto, resulta da autonomia humana conduzida
ao absurdo que corrompeu nossa natureza criada e a capacidade natural de todos,
em virtude da divina imagem na qual ela é investida, de conhecer, de amar a
Deus e de, então, obedecê-lo acima de tudo.
"Todos pecaram e destituídos
estão da Glória de Deus" (Rm.3,23). Cada um de nós sofre os efeitos do
nosso próprio estado de pecado. É por este fato mesmo que os mais santos dentre
nós devem afrontar este conflito entre a razão e as paixões.
Atingir as qualidades de bondade, de
amor, de misericórdia e de justiça requer uma disciplina - uma ascese ou um
combate - de arrependimento contínuo. O movimento de "retorno"
implicado pela metanóia ou arrependimento não pode, todavia, ser um retorno a
nós próprios, à nossa própria natureza caída e corrompida; mas sim um retorno a
Deus. A conduta ética cristã não pode ser pregada a partir de idéias ou
objetivos humanos; suas condições e suas metas, tal como a própria vida humana,
devem estar ancorados em Deus, o único que determina aquilo que é bom, justo e
reto, e que nos revela esta determinação pela Escritura, a oração e outros
aspectos da experiência da vida em Igreja.
O AMOR
TRINITÁRIO
Eis porque a ética cristã deve
fundamentar-se sobre a Revelação. Se devemos nós empreendermos um combate para
conformar nossa vontade, nossos desejos e nossas ações à vontade de Deus,
devemos então saber o que a vontade divina exige. De fato, como é que Deus gostaria
que nós nos conduzíssemos? Se procurarmos a resposta nas Escrituras e no
ensinamento - A Tradição - da Igreja, algumas indicações emergem. Uma dentre
elas se destaca particularmente: "Deus é Amor"; como nos diz o
apóstolo João (I Jo.4,7-12). Em conseqüência, nossas atitudes e nossas ações
vão refletir o amor oblativo, sacrifical que resplandeceu de forma particular
na crucifixão de Jesus Cristo, o Filho Bem-Amado do Pai.
Esse amor revelado é essencialmente
trinitário, é uma comunhão de Dom dividida de maneira igual entre as Três
Pessoas Divinas. Desta forma, ele é sempre "dirigido aos autores";
ele consiste de dom de si, oferecido livre e jubilosamente ao outro e para o
outro. Nossa resposta a este amor é também uma resposta em comunidade. Ao saber
que somos objetos da profunda e terna afeição de Deus, nós oferecemos a Ele, de
nossa parte, o nosso amor, pela nossa oração e nossa fidelidade aos Seus
mandamentos. Ao mesmo tempo nós estendemos nosso amor ao outro (próximo), a
todo "outro" que tal como nós mesmos, traz nos recônditos da alma a
imagem da divina beleza e da vida divina. Não há limites nem qualificações para
tal amor. Ele deve estender-se igualmente e plenamente ao amigo e ao inimigo,
ao ortodoxo e ao não ortodoxo, qualquer que seja sua identidade étnica, sua
classe social, sua raça, sua religião ou seu sexo. Deus revelou-nos o Seu amor
sem medidas; e este amor confere à cada ser humano um valor e uma dignidade
infinitas. Todo "outro" é então digno do nosso amor, ele requer,
mesmo, nosso amor. Olivier Clément o exprime de uma maneira simples, mas
profunda ao dizer que "todo homem tem direito a uma compaixão
infinita" (...)
A revelação da vontade do Pai no e
pelo Filho e o Espírito é raramente específica no ponto de vista das ações
particulares que devem ser levadas em certas situações concretas. À nossa
época, onde inquietudes avançadas têm lugar na tecnologia biomédica, somos
geralmente confrontados com decisões pelas quais parece-nos não ter diretrizes
confiáveis nas fontes da revelação, compreendidas nas Sagradas Escrituras. Os
Dez Mandamentos (ex. 20; Dt.5), as Bem-Aventuranças (Mt.5; Lc.6) e outras
regras de vida similares (cf: Ef.5; Cl.3) assim como os ensinamentos
específicos de Jesus, de Paulo e de outros autores apostólicos (como por exemplo
a respeito do casamento e divórcio: Mt.19, 3-12; I Co.7, 10-16; ou sobre a
Ressurreição e o Julgamento: Mt.25, 31-46; Jo.5, 19-29; I Co.15, 34-58) nos
fornecem condutas preciosas apesar de seu pequeno número, para tomadas de
decisões éticas. Elas "condenam" certas atividades (tais como a
idolatria, o matar, o furto, o adultério) e nos prescrevem outras atividades (a
pureza, de coração, a reconciliação, a caridade).
A REFLEXÃO
ÉTICA DEVE PROCEDER DA FÉ CRISTÃ
Se atualmente há tanta confusão
quanto à tomada de decisões éticas, não é apenas em virtude da novidade e da
complexidade das questões que devemos nós afrontar mas, primeiramente, porque a
disciplina da ética foi isolada de suas raízes teológicas. Se ela deve
constituir uma "teologia moral" autêntica, a reflexão ética deve
proceder da Fé da Igreja e exprimi-Ia. Ela deve começar e terminar com a
convicção de que somente Jesus Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida, o
domínio e o próprio fim de toda ação ética, tão específica ou tão trivial que
ela possa parecer. A ética é a teologia aplicada, a teologia em atos. Em tanto
que tal, ela encontra seu tratamento mais fundamental e mais eloqüente nesta
exortação [...]
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