sábado, 3 de agosto de 2019

Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C)


Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C)


Um homem vem a Jesus pedindo que diga ao irmão que reparta consigo a herança. Depois de responder que Ele não é juiz sobre a questão, Jesus adverte: “Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12, 15). E conta a parábola do homem que acumulou riquezas e morreu logo em seguida (Cf. Lc. 12, 13-21). Jesus conclui: “Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus”. A Palavra de Deus estimula-nos a refletir sobre como deve ser a nossa relação com os bens materiais. A riqueza, mesmo sendo em si um bem, não deve ser considerada um bem absoluto. Dependendo do uso que se faça dela, a riqueza pode constituir a perdição do homem. Precisamente deste risco, Jesus, nessa página do Evangelho, adverte os seus discípulos. É sabedoria e virtude não apegar o coração aos bens deste mundo, porque tudo é passageiro, tudo pode terminar bruscamente. O verdadeiro tesouro que devemos procurar incessantemente para nós cristãos está nas “coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus”. Recorda-nos isto, hoje, São Paulo, na Carta aos Colossenses, acrescentando que a nossa vida “já está escondida, com Cristo, em Deus” (3, 1 – 3).
O Senhor ensina-nos que é uma insensatez colocar o coração, feito para a eternidade, na ânsia de riqueza e de bem estar material, porque nem a felicidade nem a vida verdadeiramente humana se fundamentam neles: “A vida de um homem não consiste na abundância de bens.” O rico da parábola revela o seu ideal de vida no diálogo que trava consigo próprio. Está seguro de si por ter muitos bens e por basear neles a sua estabilidade e felicidade. Viver é para ele, como para tantas pessoas, desfrutar do máximo que puder: trabalhar pouco, comer, beber, ter uma vida cômoda, dispor de reservas para longos anos. Este é o seu ideal.
E como dar segurança a uma vida construída a partir desse sentido puramente material dos dias? Diz: Armazenarei…No entanto, tudo o que não se constrói sobre Deus está falsamente construído. A segurança que os bens materiais podem dar é frágil e além disso insuficiente, porque só Deus pode nos tornar plenamente felizes. A fonte da vida está só em Deus.
Podemos perguntar-nos hoje: onde está o nosso coração? Em que se ocupa? Com que se preocupa? Com que se alegra ou com que se entristece? Daí ter mais consciência de que o nosso destino definitivo é o Céu, e que, se não o alcançarmos, nada de nada terá valido a pena.
A nossa passagem pela terra é um tempo para merecer; foi o próprio Senhor que nos deu esse tempo. Recorda-nos a Bíblia que “não temos aqui moradia (cidade) permanente, mas vamos em busca da futura” (Hb 13, 14). O Senhor virá chamar-nos, pedir-nos contas dos bens que nos deixou em depósito para que os administrássemos criteriosamente: a inteligência, a saúde, os bens materiais, a capacidade de amizade, a possibilidade de tornar felizes os que temos à nossa volta… O Senhor virá uma só vez, talvez quando menos O esperamos, como o ladrão na noite (Mt 25, 43), como um relâmpago no Céu (Mt 24, 27), e é preciso que nos encontre bem preparados. Quem vive só para os bens materiais, Deus o chama de néscio, louco! Não podemos nos esquecer que os bens são simples meios para alcançarmos a meta que o Senhor nos marcou. Nunca devem ser o fim dos nossos dias aqui na terra.
“Deus, porém, disse-lhe: ‘Insensato! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida’” (Lc 12, 20). O tempo é escasso: esta mesma noite…, e talvez nós estejamos pensando em muitos anos, como se a nossa passagem pela terra houvesse de durar para sempre! Os nossos dias estão numerados e contados; estamos nas mãos de Deus. Dentro de algum tempo – que nunca será tão longo como quereríamos –, encontrar-nos-emos face a face com o Senhor. Na Bíblia, o homem insensato é aquele que não quer compreender, da experiência das coisas visíveis, que nada dura para sempre, mas tudo passa: tanto a juventude, como a força física, quer as comodidades, quer as funções de poder. Por conseguinte, fazer depender a própria vida de realidades tão passageiras é insensatez. Por sua vez, o homem que confia no Senhor, não tem medo das adversidades da vida, nem sequer da realidade iniludível da morte: é o homem que adquiriu “um coração sábio”, como os Santos.
Meditar sobre o nosso fim, o encontro definitivo com Deus, ajuda-nos a aproveitar todas as circunstâncias desta vida para merecer e reparar pelos pecados, recuperando o tempo perdido. “Quem vive como se tivesse de morrer cada dia – visto que é incerta nossa vida por natureza – não pecará, já que o bom temor extingue grande parte da desordem dos apetites; pelo contrário, quem julga que vai ter uma vida longa, facilmente se deixa dominar pelos prazeres” (Santo Atanásio).
A insensatez do homem rico consiste em que considerou a posse de bens materiais como o único fim da sua existência e a garantia da sua segurança. É legítima a aspiração do homem a possuir o necessário para a sua vida e o seu desenvolvimento, mas ter como bem absoluto a posse de bens materiais acaba por destruir o homem e a sociedade.
O cristão não pode desprezar ou depreciar a existência temporal, pois toda ela deve servir como preparação para a sua existência definitiva com Deus no Céu. Só quem se torna rico diante de Deus, quem acumula tesouros que Deus reconhece como tais é que tira proveito certo destes dias terrenos. Fora isso, o resto é viver de enganos: “O homem passa como uma sombra, apenas sopro as riquezas que amontoa, sem saber para quem” (Sl 39 (38), 7). Aproveitemos bem, muito bem, cada instante de nossa existência!
Ao iniciar o Mês Vocacional, hoje, nossas orações são, de modo especial, para os sacerdotes! Rezemos pelas Vocações Sacerdotais, pelos seminaristas, pelos vocacionados! O Senhor chama aqueles que Ele quis ( Mc 3, 13 ). Essa é a razão suprema do chamado sacerdotal: o querer libérrimo de Deus, totalmente independente das qualidades pessoais daquele que é chamado. A vocação sacerdotal é, por isso, dom totalmente gratuito. A presença do sacerdote no mundo é absolutamente necessária para que a redenção alcance a todos os homens. A ação mais sublime que um homem pode realizar na terra – consagrar o Corpo e o Sangue do Senhor, e perdoar os pecados – só pode ser realizada por um sacerdote. “O padre possui a chave dos tesouros celestes: é ele que abre a porta; é o ecônomo do bom Deus; o administrador dos seus bens.” ( São João Maria Vianney ).
Rezemos para todos os sacerdotes possam acolher as palavras do Papa Bento XVl, dirigidas aos Participantes no Congresso Teológico, em 12 de março de 2010: “Caríssimos sacerdotes, os homens e as mulheres do nosso tempo só nos pedem que sejamos sacerdotes até ao fundo, e nada mais. Os fiéis leigos encontrarão em muitas outras pessoas aquilo de que humanamente têm necessidade, mas só no sacerdote poderão encontrar aquela Palavra de Deus que deve estar sempre nos seus lábios ( Cf. Presbyterorum ordinis, 4 ); a Misericórdia do Pai, abundante e gratuitamente concedida no Sacramento da Reconciliação; o Pão de Vida nova, “verdadeiro alimento oferecido aos homens”
A Virgem Maria, Mãe da Igreja, guarde o mais pequenino gérmen de vocação no coração daqueles que o Senhor chama a segui-Lo mais de perto; faça com que se torne uma árvore frondosa, carregada de frutos para o bem da Igreja e de toda a humanidade.

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