quinta-feira, 31 de maio de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – Solenidade de Corpus Christi 2018 Ano B.


Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – Solenidade de Corpus Christi 2018 Ano B.


Caminhemos todos junto rumo ao Reino.

A celebração de hoje busca expressar a presença de Cristo como alimento na vida de seu povo. Por isso nos perguntamos: qual é o significado próprio da Solenidade que celebramos hoje, o corpo e Sangue de Cristo?
É a própria celebração quem nos fala, no desenvolvimento de seus gestos fundamentais: antes de tudo estamos reunidos ao redor do Altar do Senhor, para estarmos juntos em sua presença: em segundo lugar, haverá uma procissão, ou seja, um caminhar com o Senhor, e por fim o ajoelhar-se diante do Senhor, a adoração que tem início já na Missa e acompanha toda a procissão, mas que culmina no momento final quando todos nos prostraremos diante Daquele que se dobrou até nós e deu sua vida por nós. Vamos nos deter brevemente sobre estes três comportamentos, para que seja realmente expressão da nossa fé e da nossa vida.
O primeiro ato, portanto, é o de reunir-se diante da presença do Senhor. É o que antigamente se dava o nome  de "Statio". Imaginemos por um momento que em toda Roma não exista outro altar senão este, e que todos os cristãos da cidade tenham sido convidados a reunirem-se aqui para celebrar o Salvador morto e ressuscitado. Isso nos dá uma ideia de como era nas origens, em Roma e em tantas outras cidades onde chegava a mensagem evangélica, a celebração Eucaristica: em cada Igreja particular havia um só Bispo e ao redor da Eucaristia por ele celebrada, se constituia a Comunidade, única, porque único era o Cálice abençoado e único o Pão partido como ouvimos das palavras de Paulo na segunda leitura (Cor. 10,16-17). vem a mente uma outra expressão paulina: "Não existe mais judeu, nem grego: nem escravo ou livre, porque todos somos únicos em Cristo Jesus" (Gal 3,28).
Todos nós unidos na Eucaristia somos um só coração, uma só alma! Com estas palavras se sente a verdade e a força da revolução cristã, a revolução mais profunda da história humana, que se experimenta ao redor da Eucaristia: aqui se reúnem pessoas de diversas idades, sexo, condição social, ideias políticos, culturas distintas. A Eucaristia é um ponto mais alto da comunhão cristã. Nela anelamos uma sociedade verdadeiramente fraterna e comunal. Também aqui nesta celebração, nós não escolhemos com quem nos encontramos, apenas viemos e estamos uns do lado dos outros, tendo em comum a fé e o chamado a sermos um só corpo místico, unidos a um único Pão, que é Cristo. Estamos unidos, apesar de nossas diferenças culturais, profissionais, grau social, poder econômico. Todos filhos e filhas de Deus, conscientes do poder e valor real do corpo de Cristo, podemos tomar a fila da comunhão com o desejo de participar do banquete escatológico, preparando-nos para a festa das eternas bodas do Filho Unigênito do Pai.  
Esta desde os inícios tem sido uma característica do cristianismo, realizada visivelmente ao redor da Eucaristia, que somente tem ligar na mesa de Cristo quem comunga na vida dos irmãos. É necessário sempre vigiar para que as tentações do particularismo, do exclusivismos social, não impeça que caminhemos em sentido contrário ao projeto de Deus.. Portanto, o Corpus Christi nos recorda antes de tudo que ser cristãos, quer dizer: reunir-se de todas as partes para estar na presença do único Senhor e tornar-se nEle um único povo para a glória de Deus Pai.
O segundo aspecto constitutivo é o caminhar com o Senhor. É a realidade manifestada pela procissão, que viveremos juntos depois da Santa Missa, quase como prolongamento natural da nossa caminhada rumo ao céu. Nele nos movemos e somos atraídos pelo seus amor. Com o dom de Si mesmo na Eucaristia, o Senhor Jesus nos liberta de nossas "paralisias", nos faz "continuar o caminho", nos faz dar um passo a mais, e depois outro, e assim nos coloca em caminhada, com a força deste Pão da Vida que fortalece a alma para o combate espiritual.
Como acontece com o profeta Elias, que se refugiou no deserto por medo de seus inimigos, e havia decidido morrer no caminho (cfr I Re 19,1-4), mas Deus o despertou do sono e o fez encontrar ali ao lado pão sem fermento e da graça divina a fortaleza de sua alma: "Levanta e come – porque para ti o caminho é longo demais" (I Re 19, 5.7). A procissão do Corpo do Senhor nos ensina que a Eucaristia nos libertar de todo abatimento e desconforto. Ela nos arranca do medo que trava nosso caminha rumo ao Reino. A experiência do povo de Israel no êxodo do Egito, a longa peregrinação através do deserto, do qual falou a primeira Leitura que impulsiona a nossa experiência do caminhada neste mundo.  Uma experiência que para Israel é constitutiva, mas se tornou exemplar para toda a humanidade cristã.
Por fim a Eucaristia é o Sacramento do Deus que não nos deixa sozinhos no caminho, mas se coloca ao nossa lado e nos indica a direção. De fato, não basta caminhar, é preciso saber para onde se vai! Não basta o "progresso", se não há critérios de referência. Antes, se corre pela estrada afora, arrisca terminar em um precipício, ou em todo caso se distanciar-se da meta há que ter um ideal a alcançar. Essa horizonte Jesus veio revelar: adorar o Pai do céu.
Adorar o Deus de Jesus Cristo, feito pão partido por amor, é o remédio mais válido e radical contra as idolatrias de ontem e de hoje. Ajoelhar-se diante da Eucaristia é profissão de liberdade. Quem se inclina para Jesus não pode e não deve prostrar-se diante de nenhum poder terreno, por mais forte que seja. Nós cristãos nos ajoelhamos somente diante de Deus, diante do Santíssimo Sacramento, porque nele sabemos e cremos estar presente o único e verdadeiro Deus, que criou o mundo e o amou tanto que deu seu Filho unigênito (cf. Gn 3,16).
Nos prostramos diante de um Deus que por primeiro se inclinou perante o homem, como Bom Samaritano, para socorrê-lo e dar-lhe novamente a vida; aquele que se ajoelhou diante de nós para lavar os nossos pés sujos pelo pecado. Adorar o Corpo de Cristo quer dizer crer que ali, naquele pedaço de pão, está realmente Cristo, que dá verdadeiro sentido à vida, seja ao imenso universo como à menor das criaturas, à toda história humana como à mais breve existência.
A adoração é oração que prolonga a celebração e a comunhão eucarística cuja alma continua a nutrir-se: nutre-se de amor, verdade e paz; nutre-se, ainda mais de esperança nas promessas do Filho. Porque Aquele ao qual nos prostramos não nos julga segundo os critérios humanos, não nos expulsa, mas nos liberta e nos transforma. Por isso reunir-nos para caminhar, adorar e prostrarmo-nos diante daquele que é a nossa alegria. Fazendo-nos discípulos-missionários como Maria, adoramos um só Deus em três pessoal e desejamos estar sempre aos pés da cruz do Senhor. Que neste mês de maio que encerramos tenha manifestada em cada um de nós a vontade de como a Virgem fazer tudo que o Senhor Mandar!


Pe. Fantico Borges, CM

domingo, 13 de maio de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – da Ascensão do Senhor – Ano B




Homilia do Pe. Fantico Borges, CM –  da Ascensão do Senhor – Ano B

Nossa humanidade que em Cristo está no céu!
                                                                           
Hoje é um dia no qual se mesclam a alegria pela consumação da glorificação do Senhor Jesus e  a tristeza ao vê-lo partir. Mas a sua ascensão já é a nossa vitória. Ao celebrar a Ascensão do Senhor, celebramos também – como dizia São Leão Magno num sermão – a exaltação da nossa pobre natureza humana em Cristo: ele sobe aos céus com a nossa carne, com um coração de carne, com sentimentos humanos, em fim, ele nos leva aos céus. Santo Agostinho exortava: “hoje o Senhor nosso, Jesus Cristo, subiu aos céus, suba também o nosso coração com ele”. Nesta celebração sentimos o amor de Deus mais profundo no ato de nos levar para dentro da Trindade. Agora podemos que não somos sem teto, sem lar, sem colo. Nossa morada é o céu. A eterna morada de Deus que já experimentamos aqui na vida da Igreja, nos tempos de pedras dedicados à oração e o louvor.
Nós fomos feitos por Deus e para Deus, levamos dentro de nós essa marca de eternidade que nos faz desejar a felicidade. Cada ser humano tem dentro de si uma espécie de saudade do paraíso, um desejo de ser feliz para sempre, uma ânsia de eternidade que faz sentir certa náusea de viver para sempre numa situação incompleta e cheia de perigos. Aquela frase de Santo Agostinho, “Fizeste-nos, Senhor, para ti e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em ti”, continua atual. A pessoa humana, por mais que queira fugir de Deus, não descansará enquanto não se deixar seduzir pelo Senhor, já que em cada efêmera felicidade está buscando a Deus, ainda que às apalpadelas.
Você já desejou, de verdade, ver Deus? Nós falamos de Deus, cremos nele, o adoramos, mas é preciso também desejar vê-lo. Como é o rosto do Pai? Como é a humanidade glorificada de Cristo? Como é a personalidade do Espírito Santo? O que é Deus? Quem é Deus? “Ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou” (Jo 1,18). Ambas as afirmações estão perfeitamente combinadas na nossa vida cristã: nós não vimos a Deus, mas nós o conhecemos em Cristo. E, no entanto, desejamos ver como é Deus, como é cada uma das três Pessoas da Santíssima Trindade; também queremos dar um abraço em Nossa Senhora e agradecer pessoalmente ao nosso anjo da guarda por tudo, enfim, nós desejamos o céu.
Hoje é um dia para desejar a vida eterna, para querer ver o Senhor, contemplar seu resplendor e desfrutar do seu repouso. O desejo do paraíso, a busca pela vida eterna somente é possível se cremos em Cristo, pois quem crer já está salvo. E os sinais que nos acompanharão os fiéis em Cristo é o poder sobre o mal, o demônio, as trevas. Ambicionar a Jesus Cristo, o Paraíso, e a vida eterna é dá  testemunho de seu poder eterno. Isso sim que é uma santa ambição! Todo cristão é um ambicioso, santamente ambicioso pela graça divina.
Precisamos que a nossa ambição santa aumente e que desejemos o céu não somente para nós, mas também para todos os nossos amigos e até para os inimigos. Um cristão sem zelo apostólico é um cristão estéril. Assim como não se pode entender que um peixe não possa nadar, a não ser que esteja morto, assim também não se pode entender que um cristão não seja apostólico, proselitista (no bom sentido da palavra), a não ser que esteja morto. Não podemos perder a audácia, o desejo de ganhar a todos para Cristo. No mesmo sermão citado anteriormente, São Leão Magno dizia que “a fé, aumentada pela ascensão do Senhor e fortalecida com o dom do Espírito Santo, não pode temer diante das cadeias, da prisão, do desterro, da fome, do fogo, das feras nem das torturas dos cruéis perseguidores. Homens e mulheres, crianças e frágeis donzelas lutaram em todo o mundo por essa fé até o derramamento do sangue. Esta fé afugenta os demônios, afasta as enfermidades, ressuscita os mortos”.
Peçamos a Deus que aumente a nossa fé e, consequentemente, a nossa audácia apostólica, que irá ao encontro não somente daquelas pessoas que ainda não são católicas, mas também dos mesmos católicos. Há muitos que estão afastados da Igreja, com uma fé raquítica, sem vigor apostólico. É preciso ajudá-los! Nessa Semana de Oração pela Unidade dos cristãos peçamos a Deus que se acabem as divisões, que todos tenhamos um único desejo: amar a Deus e estender o seu reino por todo o mundo, cada um no ambiente em que se encontra.
Aprendamos com nossas mães que mesmo tendo muitos filhos sabem amar a todos com o mesmo amor, que cuida com mais atenção os mais frágeis sem diminuir o afeto pelo mais forte. Que sabe dar sem nada receber, faz sem nada pedir, que doa sem nada esperar. Neste dia das mães, dia de Nossa Senhora de Fátima agradeçamos a Deus que nos deu Maria Santíssima como mãe de todos: pobres, ricos, brancos, negros, órfãos e afortunados.   Que ninguém se sinta só neste dia das mães.

Pe. Fantico Borges, CM  



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Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C) Um homem vem a Jesus pedindo que diga ao irmão que reparta consigo a herança. Depois ...