Homilia
do Padre Fantico Borges, CM – Santíssima Trindade – Ano C
Salve ó Santíssima Trindade!
Na liturgia
deste domingo celebramos o Mistério da Santíssima Trindade. Mistério que escapa
nossa mente, sem esconder-se de nós, infinito sem deixar-se ignorar. Assim afirmava,
Santo Agostinho, que é difícil encontrar uma pessoa que, falando da Trindade,
saiba do que esteja falando (Confissões XIII,II). Trata-se de uma tarefa – como
foi revelado em sonho a Santo Agostinho – não menos impossível do que aquela de
uma criança que tenta esvaziar o mar usando uma concha. A liturgia de hoje propõe a meditação sobre o mistério central de nossa
fé: a Santíssima Trindade. Toda a vida da Igreja está impregnada por este
Mistério. E quando falamos aqui de mistério, não pensemos no incompreensível,
mais na realidade mais profunda que atinge o núcleo do nosso ser e do nosso
agir.
É Cristo quem
nos revela a intimidade do mistério trinitário e o convite para que
participemos dele. “Ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho
o quiser revelar” (Mt, 11, 27). Ele revelou-nos também a existência do Espírito
Santo junto com o Pai e enviou-O à Igreja para que a santificasse até o fim dos
tempos; e revelou-nos a perfeitíssima Unidade de vida entre as Pessoas divinas
(Cf. Jo16, 12-15).
O mistério da
Santíssima Trindade é o ponto de partida de toda a verdade revelada e a fonte
de que procede a vida sobrenatural e para a qual nos encaminhamos: somos filhos
do Pai, irmãos e co-herdeiros do Filho, santificados continuamente pelo
Espírito Santo para nos assemelharmos cada vez mais a Deus. Por isso, a Santíssima Trindade habita na nossa alma como num templo. E
São Paulo faz-nos saber que o amor de Deus foi derramado em nossos corações
pelo Espírito Santo que nos foi dado (Cf. Rm 5, 5). E aí, na intimidade da
alma, temos de nos acostumar a relacionar-nos com Deus Pai, com Deus Filho e
com Deus Espírito Santo. Dizia Santa Catarina de Sena: “Vós, Trindade eterna,
sois mar profundo, no qual quanto mais penetro, mais descubro, e quanto mais
descubro, mais vos procuro”.
Imensa é
a alegria por termos a presença da Santíssima Trindade na nossa alma! Esta
alegria é destinada a todo cristão, chamado à santidade no meio dos seus
afazeres profissionais e que deseja amar a Deus com todo o seu ser; se bem que,
como diz Santa Teresa, “há muitas almas que permanecem rodando o castelo (da
alma), no lugar onde montam guarda as sentinelas , e nada se lhes dá de
penetrar nele. Não sabem o que existe em tão preciosa mansão, nem quem mora
dentro dela”. Nessa “preciosa mansão”, na alma que resplandece pela graça, está
Deus conosco: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Por ser o
mistério central da vida da Igreja, a Santíssima Trindade é continuamente
invocada em toda a liturgia. Cremos, portanto, em um só Deus, um princípio sem
princípio, incriado, ingênito, que não perece, imortal, eterno, ilimitado,
inapreensível, indefinível, onipotente,
simples, não composto, incorpóreo, imóvel, impassível, imutável, inalterável,
invisível, fonte de todo bem e de toda justiça, luz inteligível e nunca
acendida; poder que não pode medir-se com medida alguma a não ser sua própria
vontade, porque pode fazer tudo quanto quer.
É o Criador
de todas as criaturas visíveis e invisíveis, de todas tem cuidado e
providência, e as conserva; tem o poder sobre todas as coisas, as quais dirige
e governa com um reino que não tem fim e é imortal; nada pode opor-se a ele,
tudo preenche, nada pode abarcá-lo, mas, pelo contrário, ele abarca todas as
coisas, as contém e zela por elas. Penetra todas as substâncias de maneira
puríssima e em tudo repousa. Ele estabelece os principados e ordens, e
encontra-se acima de toda ordem e principado, acima da substância, da vida,
palavra e pensamento. Ele é a própria luz, a própria bondade, a própria vida, a
própria essência já que não recebeu de outro nem o ser nem qualquer uma das
suas propriedades, Ele é a fonte do ser de todos os seres, a vida dos viventes.
Ele é Deus, nosso Deus, uno e santo, indivisível todo ser racional o adora, com
uma só e mesma adoração que é do Pai, do Filho e do Espírito Santo. São três as
pessoas, mas é a mesma natureza; por isso, o mesmo louvor.
Ó coisa
admirável! Nós Cremos no Pai, no Filho e no Espírito Santo, nos quais fomos
batizados. Porque assim ordenou Deus: batizai-os em nome do Pai, Filho e
Espírito Santo. Assim, cremos num único Pai, princípio sem princípio e causa de
tudo, incausado e ingênito; Criador de todas as coisas, eterno Pai do Eterno
Filho de igual natureza do Pai, Filho Unigênito e Salvador, do qual procede o
Santíssimo Espírito. Amém