sábado, 18 de agosto de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM na Festa da Assunção de Nossa Senhora.


Homilia do Pe. Fantico Borges, CM na Festa da Assunção de Nossa Senhora.


Maria no céu de corpo e alma é nossa esperança!

Essa festa solene deste domingo é a repleta da certeza daquela esperança da salvação eterna, da qual Jesus prometeu para todos os que permanecerem fiéis até o fim. Esperamos conseguir do Senhor o que Maria, sinal glorioso da Igreja, já conseguiu. Esperamos estar completos, corpo e alma, com o Senhor. Ao contemplar a Mãe de Deus de maneira tão gloriosa no dia de hoje, os nossos corações se enchem de luz e de esperança. Deus cuida de nós e nos conduz cada vez mais à sua vida divina.
A teologia patrística da Igreja, especialmente, São João Damasceno, fala com clareza da existência da incorruptibilidade do corpo de Nossa Senhora. Por isso, afirma a dormição de Maria.  Para a antiga compreensão “dormição” não significava necessariamente ausência de morte, mas um estado de sono que o corpo entrava. Outro defensor da Assunção de Nossa Senhora na Idade Média foi o assim chamado “Pseudo-Agostinho” (século IX); também Baldo de Ubaldi, no século XV,  foi um grande defensor desta verdade de fé. Finalmente, o Papa Pio XII definiu solenemente o dogma da Assunção no dia 1 de novembro de 1950 através da Constituição “Munificentissimus Deus”. Inclusive o nome desta constituição deixa claro que se trata de uma graça de Deus “munificentissimus”, isto é, generosíssimo.  Uma graça tal que é um privilégio: Maria recebeu o privilégio de que nela fosse antecipado aquilo que acontecerá com todos os eleitos. Para São João Damaceno: “ Convinha que aquela que guardara ilesa a virgindade no parto, conservasse seu corpo, mesmo depois da morte, imune de toda corrupção. Convinha que aquela que trouxera no seio o Criador como criancinha fosse morar nos tabernáculos divinos.” A compreensão que Maria está no céu de corpo e alma casa-se muito bem com a altíssima missão que lhe coubera na economia salvífica de Deus.
O Papa Pio XII declara então “que é dogma divinamente revelado: que a Imaculada Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, ao término de sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória do céu”. É interessante que antes do Papa definir o quarto dogma sobre Nossa Senhora, ele recorde os outros três: Mãe de Deus, sempre Virgem (antes, durante e depois do parto), Imaculada. Pio XII não diz se Maria, antes de ser elevada ao céu, morreu ou não: isso continua como tema aberto à livre discussão teológica, isto é, pode-se defender uma ou outra coisa. O que todos devem reter como doutrina de fé solenemente definida é que ela, Nossa Senhora, foi elevada em corpo e alma aos céus, antecipadamente, como privilégio.
Essa certeza dogmática que Maria já alcançou a graça redentora de seu Filho é a nossa maior esperança da vida eterna aberta por Jesus no altar da cruz. A esperança é virtude sobrenatural, teologal, uma disposição plantada pelo Senhor na nossa alma que nos une a ele através da vontade, do desejo. Esperamos em Deus e nos auxílios (graças) que ele nos concede para alcançá-lo. Temos a firme esperança de chegar ao céu, à bem-aventurança eterna. É nesse sentido que a Assunção de Maria nos anima a continuar com os olhares fixos na meta: uma como nós conseguiu aquilo que nós conseguiremos. O nosso caminho rumo ao céu já foi realizado por uma da nossa raça. Assim como ela chegou lá por graça, também eu posso.
O que fazer, então, para está junto com Maria na glória de Deus? Fazer tudo o que o Senhor nos disser. Há uma serie de indicações nos Evangelhos sobre aquilo que temos que realizar em nossa vida terrenal para chegar com Maria, os santos e santas ao céu. Tomemos duas orientações básicas: Amar a Deus acima de tudo, ou seja, nada, nem poder, honras, dinheiro, riquezas, títulos, são mais importantes do que a amizade com Deus. Tudo faça para ser amigo de Deus. A segunda orientação é amar o próximo como a si mesmo. Ninguém, em sã consciência, odeia sua própria carne, ou seja, ninguém que o mal para si. Então, é preciso desejar para o outro um amor no qual desejo para mim mesmo. Disto brota a caridade, a justiça, a lealdade, a hospitalidade, o respeito, etc.

Pe. Fantico Borges, CM


domingo, 12 de agosto de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – XIX Domingo do Tempo Comum – Ano B


Homilia do Pe. Fantico Borges, CM –  XIX Domingo do Tempo Comum – Ano B

A Eucaristia o alimentos dos que querem o Céu!

Na liturgia deste domingo, Jesus, Pão Vivo descido do céu, ocupa o lugar centro de toda meditação. A Liturgia da Palavra de hoje, toda ela orientada para a Eucaristia. A primeira leitura (1Rs 19, 4-8) fala do Profeta Elias que para se salvar do furor da rainha Jezebel, foge para o deserto. Durante a longa e difícil viagem, sentiu-se cansado e quis morrer. “Agora basta, Senhor! Tira minha vida, porque eu não sou melhor do que os meus pais. E, deitando-se no chão, adormeceu à sombra de Junípero  (uma árvore que tem como característica a longanimidade, veja a simbologia da imagem: Elias não quer mais viver e vai esperar a morte à sombra de uma árvore de vida longa). Mas o Anjo do Senhor o despertou, ofereceu-lhe pão e disse-lhe: Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a percorrer. Elias levantou-se, comeu e bebeu, e, com a força desse alimento, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao monte de Deus.” O monte representa o cume, a meta onde  profeta veria a Deus. Qual é o nosso Horeb? E caso já saibamos, lembremos que ainda precisarmos percorrer o nosso deserto quarenta dias e quarenta noites! O caminho era longo o profeta que não teria conseguido com as suas próprias forças, conseguiu-o com o alimento que o Senhor lhe proporcionou quando mais desanimado se sentia. Não será isso o mais sentido da eucaristia na vida do cristão? Com toda certeza sim!
O monte santo para o qual o Profeta se dirige é imagem do Céu, e o trajeto de quarenta dias representa a longa viagem que vem a ser a nossa passagem pela terra; uma viagem semeada também de tentações, cansaços e dificuldades, que por vezes nos fazem fraquejar o ânimo e a esperança e até pensar em desistir. Mas, de maneira semelhante ao Anjo, a Igreja convida-nos a alimentar a nossa alma com um pão totalmente singular, que é o próprio Cristo, presente na Sagrada Eucaristia. Nele encontramos sempre as forças necessárias para chegarmos até o Céu, apesar da nossa fraqueza. Diz Jesus no Evangelho: “Eu sou o Pão da Vida! Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu darei e a minha carne, dada para a vida do mundo” (Jo 6,51).
Hoje, o Senhor recorda-nos vivamente a necessidade que temos de recebê-Lo na Sagrada Comunhão para podermos participar da vida divina, para vencermos as tentações, para que a vida da graça recebida no Batismo se desenvolva em nós. A Eucaristia é corpo e sangue, alma e divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.  Por isso, o maior sacramento, o centro e cume de toda atividade eclesial. Para Eucaristia tudo converge na Igreja. Bem definiu São João Paulo II ao afirmar que a Igreja nasce da Eucaristia e vive dela. A presença real de Cristo dá a este sacramento uma eficácia sobrenatural infinita. É por isso, que diante da Eucaristia toda reverência e adoração. A Eucaristia é de fato um alimento do Céu para nossa vida, mas é também uma realidade à ser adorada.  
Na Comunhão, o poder divino ultrapassa todas as limitações humanas, porque sob as espécies eucarísticas recebemos o próprio Cristo indiviso. O amor atinge a máxima expressão neste sacramento, pois é a plena identificação com Aquele que tanto se ama a quem tanto se espera. “Assim como quando se juntam dois pedaços de cera e com o fogo se derretem, dos dois se forma uma só coisa, assim também é o que acontece pela participação do Corpo de Cristo e do seu precioso Sangue” (São Cirilo de Alexandria). É o que diz Jesus: “Como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por meio do Pai, assim aquele que de mim se alimenta viverá por meio de mim” (Jo 6, 57).
A alma nunca deixará de dar graças se se recordar com frequência da riqueza deste sacramento. A Eucaristia produz na vida espiritual efeitos parecidos aos do alimento material, em relação ao corpo. Fortalece-nos e afasta de nós a debilidade e a morte: o alimento eucarístico livra-nos dos pecados veniais, que causam a debilidade e a doença da alma, e preserva-nos dos mortais, que ocasionam a morte. Tal como o alimento natural permite que o corpo cresça, a Eucaristia aumenta a santidade e a união com Deus, “porque a participação do corpo e do sangue de Cristo não faz outra coisa senão transfigurar-nos naquilo que recebemos” (São Cirilo de Alexandria).
A Comunhão ajuda-nos a santificar a vida familiar; incita-nos a realizar o trabalho diário com alegria e perfeição; fortalece-nos para enfrentarmos com garbo humano e sentido sobrenatural as dificuldades e tropeços da vida diária. Nunca deixemos de participar da sagrada Eucaristia por nada. Que nunca exista em nós a ideia de trocar o encontro com Cristo eucarístico por nenhum fato no qual jamais deixaríamos de realizarmos as coisas mais importantes do nosso dia a dia. Que a fome de Deus em nós supere a gula, a vaidade de gastarmos mais tempo nas academias do que aos pés do santíssimo.
Hoje, dia dos pais iniciamos a Semana Nacional da Família, com a qual a Igreja pretende fazer redescobrir os valores da família; uma família, que a exemplo da Sagrada Família de Nazaré, seja a família que Deus quer; uma família, onde os filhos encontram a paz e a segurança tão desejada e tão necessária… Onde a vida seja valorizada e não usada como moeda eleitoreira. Nestes tempos de discursão sobre a não criminalização do aborto nossa voz seja a de Jesus: eu vim para que todos tenham vida. Que toda família cristã diga não ao aborto e sim a vida das crianças, que inocentes podem ser ceifadas pela falsa liberdade e dignidade humana de uma classe que se diz defensora da vida, mas deseja martas as crianças ainda no ventre. “

Pe. Fantico Borges, CM



domingo, 5 de agosto de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – XVIII Domingo do Tempo Comum – Ano B


Homilia do Pe.  Fantico Borges, CM – XVIII Domingo do Tempo Comum – Ano B


Cristo é o pão que dá a vida!
O caminho dos evangelhos é demonstrar que a vida de Jesus era fazer a vontade de Deus. Esse é o caminho também que vela ao alimento do céu: reconhecer naquele que Deus enviou o seu Pão descido do céu, sendo-lhe obediente. A pedagogia de Jesus é partir de uma realidade terrena e ambígua, para revelar-se a si mesmo como dom de Deus, assinalando por essa realidade para quem acredita no amor misericordioso do Senhor. A multidão que outrora viu no milagre do pão só fartura material (reflexão do Evangelho do domingo passado), em vez de um “sinal” da vida, procura Jesus para saciar a fome física. Todavia, o Senhor chama atenção para o alimento espiritual, que não perece e que eles não enxergaram na multiplicação dos pães. O acesso a esse alimento só alcançamos pela  fé no enviado de Deus. Ora, os judeus pedem um sinal, como o de Moisés, que fez descer o maná do céu. Jesus responde que não foi Moisés quem deu o pão do céu, pois o pão do céu é o que desceu do Pai e dá vida ao mundo. Os judeus ainda pensando em tom puramente material, pedem este pão que os dispensem de trabalhar. Então Jesus revela-se como o dom de Deus que vem do céu para a vida do mundo: Eu sou o pão do céu!
Essa reflexão da dialética entre o pão material e o pão do céu nos coloca diante de uma decisão profunda: quais alimentos buscaram aqueles judeus? Qual alimento eu busco na missa? O que sacia a fome emergencial, material ou aquele que dar sentido a existência humana? A liturgia de hoje é estruturada por essa oposição tipológica entre o maná, o pão do céu do AT e Jesus, o verdadeiro pão do céu do NT. Como o maná do AT também o pão multiplicado era apenas um sinal material, e quem o procura por seu valor material está perdendo o mais importante, ou seja, a verdadeira comida dos anjos, o pão de Deus feito homem e dado por alimento aos que creem em seu Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Depois da multiplicação dos pães, vendo que o povo não entendera sua real significação Jesus resolve ir à sozinho montanha, enquanto seus discípulos atravessavam de barco para outro lado. O povo, porém, tinha observado tudo isso. Procuraram, então, Jesus, no mesmo lugar onde se tinha realizado a multiplicação dos pães, mas não encontrando voltaram a Carfanaum, em outros barcos, e ai encontraram Jesus. Ficaram admirados com sua presença, porém, com a mesma superficialidade que os levou a ver apenas no sinal do pão multiplicado a satisfação de sua fome material. Acontece então o dialogo entre Jesus e aqueles homens, ainda obscurecidos na real intenção do Senhor,  pedem um sinal. Depois de Jesus esclarecer o verdadeiro alimento do céu, aqueles homens ainda sem entenderem pede que sempre lhes der desse pão para quem não sintam mais fome e não precisem trabalhar pelo sustento material.
Como somos difíceis e duros de coração para entender os projetos de Deus para nós? Jesus responde que o sinal não é Moisés, mas ele mesmo: “Eu sou o Pão da Vida” que faz o homem viver eternamente, quem come deste pão não morrerá jamais. É Cristo quem faz viver verdadeiramente, este é o centro da mensagem de hoje. Sem Cristo o ser humano é sempre um faminto, um sedento. Como dizia Santo Agostinho: “minha alma está inquieta, e só em Deus encontra repouso”. Neste sentido, Jesus não nos ensina coisas, mas se apresenta a nós, e na medida, que temos comunhão com ele, imbuindo-nos de seu modo de ser faz-nos viver realmente. Isso se manifestará na doação sem restrição, da qual ele nos deu exemplo na Eucaristia.
 “Cremos que a Missa, celebrada pelo sacerdote, que representa a pessoa de Cristo, em virtude do poder recebido no sacramento da Ordem, e oferecida por ele em nome de Cristo e dos membros do seu Corpo Místico, é realmente o Sacrifício do Calvário, que se torna sacramentalmente presente em nossos altares. Cremos que, como o Pão e o Vinho consagrados pelo Senhor, na última ceia, se converteram no seu Corpo e Sangue, que logo iam ser oferecidos por nós na Cruz; assim também o Pão e o Vinho consagrados pelo sacerdote se convertem no Corpo e Sangue de Cristo que assiste gloriosamente no céu. Cremos ainda que a misteriosa presença do Senhor, debaixo daquelas espécies que continuam aparecendo aos nossos sentidos do mesmo modo que antes, é uma presença verdadeira, real e substancial(cf. Concílio de Trento, Sessão 13, Decreto sobre a Eucaristia). “Neste sacramento Cristo não pode estar presente de outra maneira a não ser pela mudança de toda a substância do pão no seu Corpo, e pela mudança de toda a substância do vinho no seu Sangue, permanecendo apenas inalteradas as propriedades do pão e do vinho, que percebemos com os nossos sentidos. Esta mudança misteriosa é chamada pela Igreja com toda a exatidão e conveniência transubstanciação. Assim, qualquer interpretação de teólogos, buscando alguma inteligência deste mistério, para que concorde com a fé católica, deve colocar bem a salvo que na própria natureza das coisas, isto é, independentemente do nosso espírito, o pão e o vinho deixaram de existir depois da consagração, de sorte que o Corpo adorável e o Sangue do Senhor Jesus estão na verdade diante de nós, debaixo das espécies sacramentais do pão e do vinho(cf. ibid.; Paulo VI, Encíclica Mysterium Fidei), conforme o mesmo Senhor quis, para se dar a nós em alimento e para nos associar pela unidade do seu Corpo Místico(cf. Suma Teológica III, q. 73, a. 3)”. Portanto, o que viemos buscar na missa não é apenas uma satisfação da consciência humana, mas o próprio Cristo que do céu veio ao mundo para que todos tenham vida e vida em abundância.
Assim, todo mistério da fé que professamos em cada Eucaristia é sinal daquilo que Jesus disse hoje no Evangelho: Eu sou o pão da vida, quem comer desse pão viverá eternamente. Às vezes, as dores do tempo presente, a carência, a falta de confiança nas instituições humanas fazem perder a visão real da promessa cumprida nos bens eternos que Jesus revelou.  Fixamos a vida na busca de suprir as necessidades existências, e perdemos, às vezes, o sentido profundo da vida. Como tem gente que não tem tempo para viver a vida como dom e doação. Mergulhados nos bens materiais e na busca de acumular o que nunca levará consigo para eternidade perde de viver os poucos anos que a vida lhe oferece. Perde de sentir as emoções eternas, perde de sentir o sorriso de uma criança, perde de acompanhar sua família, enfim perde a vida.
Pensemos, nesta liturgia que, a vida é um dom de Deus, que devemos usá-la para ganhar a vida eterna, pois não só de pão vive o ser humano. Pensemos quanto tempo perdemos correndo atrás de um alimento perecível, desperdiçando o melhor de nossa juventude em vãs filosofias, enquanto o que mais importa é Deus. Quem possui a fé em Deus não lhe falta nada, pois Deus prover Ele proverá sua misericórdia não faltará.

Pe. Fantico Borges, CM

Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C) Um homem vem a Jesus pedindo que diga ao irmão que reparta consigo a herança. Depois ...