sábado, 20 de julho de 2019



Homilia do Pe. Fantico Borges, CM - Tempo Comum (Ano C)

Da desconfiança à hospitalidade

Nossa cultura é cada vez mais desconfiada. Tudo o que é estranho é uma ameaça para nós. Em alguns lugares das grandes cidades, esses condominios fechados, pode-se ver placas nas casas onde é anunciado que a polícia será chamada se vir estranhos andando pela rua. Nossas casas estão cada vez menos abertas, assim como nossas vizinhanças, nossas cidades e nossos países. A chegada de imigrantes em busca de trabalho gera desconfiança e insegurança entre os que já moram no país. Em geral, tudo o que é estranho e fora do comum nos faz sentir inseguros e ameaçados. É por isso que, e por nenhuma outra razão, que a violência aumenta. A violência é respondida com mais violência - embora em alguns casos seja defensiva - e a espiral de desconfiança e violência está crescendo.
A proposta das leituras de hoje é outra completamente diferente. Em consonância com a mensagem do Evangelho do Reino de Deus. Somos chamados à hospitalidade, ao acolhimento, a ação e a contemplação. A primeira leitura, do livro de Gênesis, mostra-nos Abraão, o patriarca, que não apenas acolhe os que lhe pedem hospitalidade, mas implora aos três homens que fiquem em casa e comam à sua mesa. Hospitalidade para essas pessoas era um dever sagrado e ao visitante devia-se todo o respeito do mundo. Era como se fosse o próprio Deus que visitava a casa. Muitas explicações foram dadas ao texto do Evangelho, mas geralmente o mais simples foi esquecido: Marta e Maria acolheram o Senhor em sua casa. Esse é o ponto de partida sem o qual aquela pequena contenda entre Marta e Maria nunca teria acontecido. Santo Agostinho comenta esta cena da seguinte maneira: "Marta envolveu-se em muitas coisas, preparando a comida do Senhor." Pelo contrário, Maria preferiu se alimentar daquilo que o Senhor dizia. Ela não percebeu de certa maneira a agitação contínua de sua irmã e sentou-se aos pés de Jesus, não fazendo nada, mas ouvindo suas palavras. Maria tinha entendido muito bem o que o Salmista dizia: "Descansa e vê que eu sou o Senhor" (Sl 46, 11). Marta era consumida enquanto Maria estava alimentando-se. Todavia, as duas realidades são importante na vida cristã. Uma necessita da outro, pois ação sem oração é mero assistecialismo e volutatismo, oração sem ação é uma alienação da realidade querida e desejada por Deus que veio para que todos tenham vida plena.
Durante séculos, Marta e Maria foram apresentadas como dois modelos contrastantes de vida: em Maria quis-se representar a contemplação, a vida de união com Deus; em Marta, a vida ativa do trabalho; mas a vida contemplativa não consiste em estar aos pés de Jesus sem fazer nada: isso seria uma desordem! As tarefas de cada um são precisamente o lugar onde nos encontramos com Deus, o eixo sobre o qual nosso chamado à santidade está baseado e gira. Sem um trabalho sério, consciente e prestigioso, seria muito difícil, se não impossível, ter uma vida interior profunda e exercer um apostolado eficaz no meio do mundo.
A maioria dos cristãos, chamados a se santificar no meio do mundo, não pode ser considerada como duas maneiras opostas de viver o cristianismo. Para uma vida ativa que esquece a união com Deus, é inútil e estéril; Uma suposta vida de oração que dispensa a preocupação apostólica e a santificação das realidades comuns não pode agradar a Deus. A chave é, portanto, saber unir essas duas vidas, sem prejuízo de uma ou outra. Essa profunda união entre ação e contemplação pode ser vivida de maneiras muito diferentes, de acordo com a vocação concreta que cada um recebe de Deus.
Hoje, mais do que nunca, precisamos de ação e oração como uma virtude que recupere a hospitalidade como um sinal cristão. Ser hospitaleiro com os vizinhos da frente, com as pessoas do trabalho, da escola, na rua. Mas também na frente dos vizinhos mais distantes, dos imaos imigrantes que batem nas portas do nosso país pedindo um emprego que lhes garanta pão e o futuro para eles e suas famílias. Também na frente daqueles que não acreditam em nossa mesma religião e na frente daqueles que não pertencem à nossa raça ou falam nossa língua. Somos todos irmãos e irmãs. Todos nós pertencemos à família de Deus. A encarnação de Jesus tornou cada homem e mulher o melhor e mais completo sacramento da presença de Deus entre nós. Para recebê-lo, compartilhar com ele o que temos para receber o mesmo Deus que vem nos visitar, para tornar o Reino uma realidade em nosso mundo, para cumprir a vontade de Deus que quer que todos nós nos sentemos na mesma mesa para compartilhar o mesmo pão da alegria e do amor. Somente a hospitalidade, as boas-vindas sinceras e abertas, a mão estendida, poderão unir um mundo dividido e divorcidado com Deus que parece que só é capaz de gerar desconfiança e violência.
Cada um deve pedir a Deus a força de Marta para trabalhar na construção do Reino de Deus e o desejo de Maria de estar sempre aos pés do Senhor alimentando-se de sua graça e  do seu amor.

Pe. Fantico Borges, CM



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