sábado, 12 de dezembro de 2009

Homilia do domingo do advento: o domingo da Alegria (ano c)

Este terceiro Domingo do Advento é conhecido na Liturgia como Domingo Gaudete – “Domingo alegrai-vos!” A alegria é a nota, o clima de toda a Eucaristia da hoje. E por quê? Basta escutar o Apóstolo, na segunda leitura: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos! O Senhor está próximo!” Com essa invocação o Apóstolo nos convida a adentrar no mistério da vida cristã. Essa é o nosso desejo no advento: anunciar a alegria da proximidade do Senhor que vem. O senhor vem para nós salvar, nele haveremos de encontrar a alegria, nele teremos a graça da salvação.
Porém, nós podemos perguntar: qual é o motivo desta alegria, e se essa alegria está unida à vinda do Senhor: que sentido a liturgia de hoje fala desta vinda? A liturgia fala da vinda do Senhor em triples sentido, como bem nos falava São Bernardo de Claraval nos seus sermões. Escutemos o que ele nos ensina: “Conhecemos uma tríplice vinda do Senhor. Entre a primeira e a última há uma terceira vinda. Aquelas são visíveis, mas esta não. Na primeira vinda o Senhor apareceu na terra e conviveu com os homens. Foi então, como ele próprio declara, que o viram e o odiaram. Na última, todos os homens verão a salvação de nosso Deus e verão aquele que traspassaram. A vida intermediária é oculta. Nela somente os eleitos o vêem em si mesmos e recebem a salvação. Na primeira o Senhor veio na fraqueza da carne. Nesta ele vem na força do Espírito e na última virá no esplendor de sua glória. Esta vinda intermediária é como um caminho que conduz da primeira à última. Na primeira Cristo foi nossa redenção; na segunda aparecerá como nossa vida; nesta é nosso repouso e consolo”. Para essas vindas de Cristo procuremos estar vigilantes: a do Natal, princípio da nossa salvação; a de cada dia, que marca e torna efetivo nosso acolhimento ou nossa rejeição da salvação trazida pelo santo Messias de Deus; e, finalmente, a vinda do final dos tempos, quando, na sua glória, tudo será manifestado e aparecerá claramente nossa salvação ou nossa danação, de acordo com nosso comportamento hoje em relação ao Senhor!
Aqui se encaminha a pergunta do Evangelho de hoje: o que devo fazer? A primeira coisa é alegrar-se com a proximidade da vinda do senhor. alegremo-nos porque o Senhor vem e sua vinda traz a salvação! Celebrando sua vinda no Natal, nos encontramos com o amor abissal de Deus por nos e com sua fidelidade que é infinita. Deus é fiel às suas promessas enche-nos de alegria e ânimo porque reconhecemos que só Deus pode nos oferecer a alegria que não tem fim.
Cuidado, irmãos, com o desânimo; cuidado com a tibieza, cuidado com a frieza de coração! Cuidado também com o espírito do mundo, com o paganismo em nossos pensamentos e ações! Cuidado para não descuidarmos das coisas de Deus, para não desacreditarmos de suas palavras e não fechar para ele o nosso coração! Muitas pessoas acreditam que a alegria do mundo pode oferecer-lhes as verdadeira satisfação de espírito, mas o mundo pós-moderno está aí para provar o contrario, a depressão e o estresse, doenças do mundo atual, demonstram o quanto as alegria deste mundo podem ser fugaz e levar o homem a uma vida sem sentido. A vinda de Cristo aponta uma nova-velha mensagem: Ele vem, e vem porque nos ama, e vem para salvar! Assim sendo, acolhamos as consoladoras palavras de Sofonias: “Canta de alegria, Sião; rejubila, Israel! Alegra-te exulta de todo coração! O Senhor está no meio de ti, nunca mais temerás o mal! Não temas, Sião; não te deixes levar pelo desânimo! O Senhor exultará de alegria por ti, movido por amor, como nos dias de festa”! Esse é o motivo da nossa alegria: o Senhor está no nosso meio!
Meus irmãos, a certeza da Vinda do Cristo deve fazer que procuremos sinceramente acolhê-lo pela estrada da conversão sincera! Por isso mesmo, no meio da alegria deste Domingo cor-de-rosa, surge a figura dura e austera de João Batista, o profeta vindo do deserto, vestido de pele de camelo atada por um cinto de couro. Sua figura rústica e sua palavra dura não são para nos amedrontar, não têm como objetivo apagar a alegria, mas são uma séria advertência! Eis a questão: o mundo procura a alegria. Agora mesmo, final de ano, o champagne correrá solto, os sorrisos e votos de felicidade e paz serão abundantes, a alegria encherá tantos corações e estará estampada em tantos lábios. Mas, é uma alegria duradoura? É uma alegria verdadeira? Temos, realmente motivo para tanto? Não qualquer alegria, caríssimos, é autêntica alegria! No mundo há dor, solidão, pobreza, doença, morte; no mundo há treva, há nossas lutas interiores, há as quebraduras do nosso coração, nossas frustrações e fracassos, há nossas ansiedades, apreensões e feridas mal curadas... Como, então, alegrar-nos de verdade? Como fazer que nossa alegria não seja uma alienação, uma fuga vazia, uma mentira deslavada? A resposta nos vem de Paulo: “Alegrai-vos sempre no Senhor”. E João Batista nos recorda e adverte que tal alegria somente pode ser fruto da sincera conversão que nos une a Deus! Por isso a pergunta: “Que devemos fazer?” Também nós devemos repetir esta pergunta: Que devemos fazer para bem prepararmos o santo Natal? Que devemos fazer para acolher o Senhor no dia-a-dia? Que devemos fazer para estar de pé diante dele quando ele se manifestar em sua glória? ... E a resposta de João é bem concreta: é preciso reconhecer que sem Deus não somos nada, que a Palavra que se fez carne é o poder de Deus derramado em nossos corações.
O caminho para a alegria do Senhor é buscar um caminho de humildade e simplicidade a exemplo de João Batista que ao ser assemelhado ao messias dizia não ser digno de desamarrar a correia de suas sandálias; João considerava-se um pobrezinho diante do poder de Deus. Para Santo Agostinho, João ao considera-se a voz e Cristo a Palavra deixava transparecer a soberania de Cristo como Verbo do Pai. E dizia o Santo: “queres ver como a voz passa e a Palavra permanece? Que foi feito do batismo de João? Cumpriu sua missão e desapareceu; agora é o batismo de Cristo que está em vigor. Todos cremos em Cristo e esperamos dele a salvação: foi o que a voz nos ensinou”.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Homília do II domingo do Advento ano C

Homília do II domingo do Advento ano C
O advento é tempo de conversão, tempo para preparar os caminhos do senhor, como bem nos alertam as leituras deste domingo. É tempo de endireitar as veredas, a fim de que chegue o reino de Deus. Mas o homem moderno não é muito dado ao tema da conversão. Diante dos graves desafios que se lhe impõem (SUPERAÇÃO DO MUNDO DE PECADO, MORTE E INJUSTIÇA), o ser humano muitas vezes desiste de construir um mundo novo. O cristão de hoje está mais consciente da necessidade de conversão. É preciso mudar de vida e reconstruir os caminhos de Deus por uma vida ilibada e repleta de caridade.
Estamos no Domingo II do Advento. Este é um tempo de espera. Um tempo que nos faz recordar a vitória e salvação de Deus. Neste mundo cansado e ferido, o coração humano espera um sentido pra vida, espera a paz, espera o amor, espera a plenitude... Menino de Deus, vem trazer a salvação, vem anunciar a redenção! A humanidade esperou e espera a salvação que vem de Deus: somente ele salva, somente nele encontra-se nossa esperança! Nos momentos de escuridão da sua história, Israel levantou-se e continuou o caminho, porque alicerçado na promessa do seu Deus, esperava contra toda desafio. A primeira leitura da Missa de hoje apresenta-nos esta realidade de modo comovente: quando o povo estava na maior escuridão do exílio de Babilônia, Deus lhe falou de esperança. Estas palavras ainda hoje nos tocam e comovem: “Depõe a veste de luto, e reveste, para sempre, os adornos da glória vinda de Deus! Cobre-te com o manto da justiça que vem de Deus e põe na cabeça o diadema da glória do Eterno!” Deus promete ao seu povo a felicidade, a bênção, a glória – essa promessa é real, concreta e plausível. Nosso Deus foi e sempre será o Deus da promessa, o Deus que nos aponta para um futuro de bênção, que nos enche de esperança, que faz nosso coração palpitar, sonhando com a paz que ele dará!
Para se alcançar essa tempo de graça é necessário aplainar os caminhos do Senhor, endireitar as veredas que levam a Deus, em outras palavras, é mister mudar de vida e começar a fazer as coisas que agradam a Deus! Ora, esta esperança, esta bênção, esta paz, esta plenitude, este futuro, têm um nome: Jesus Cristo! Tudo se cumpre nele, tudo se resume nele; nele, tudo é pleno e duradouro: ele é o Sim de Deus para Israel e para toda a humanidade! Portanto, aplainar os caminhos de Deus é o mesmo que dizer: Cristo é a regra da minha vida, do meu pensar, do meu falar e do meu viver! Como dizia são Vicente de Paulo: Jesus Cristo é a regra da nossa vida!!
A salvação que a humanidade esperou e os profetas prometeram a Israel, no Evangelho deste Domingo aparece tão próxima: ela entra na história humana; não fica lá em cima, no céu; entra nas coordenadas dos nossos pobres dias. Segundo Eusébio de Cesaréia “tudo isso se realizou literalmente na história, quando João Batista anunciou no deserto do Jordão a vinda salvífica de Deus e ali se revelou a salvação de Deus”[1]. Para justificar essa historicidade da nossa esperança o texto de hoje diz: “No décimo quinto ano do império de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador da Judéia, Herodes administrava a Galiléia, seu irmão Filipe, as regiões da Ituréia e Traconítide, e Lisânias a Abilene; quando Anás e Caifás eram sumos sacerdotes...” Nossa fé não é um mito, nossa esperança não é uma quimera: ela veio, entrou no nosso mundo, no nosso tempo, no nosso espaço, na nossa pobre vida, nos nossos dias tão pequenos: “... Ele armou sua tenda no nosso meio e fez conosco morada. Santo Atanásio afirma que essa Deus que conosco fez morada, não é um semi-deus, nem tampouco uma criatura excelente, mas Deus mesmo, o Filho Unigênito, ele é o Emanuel. Ora, se não fosse assim a salvação não nos teria atingido. Porque aquilo que é assumido é também redimido.
Como é belo o Advento! João anuncia que chegou o tempo, que com Aquele que vem, o próprio Deus, em pessoa, faz-se presente: tempo de salvação, tempo de decisão, tempo de acolher o convite para o Reino! Deus habita na humanidade através de seu Filho, essa certeza nos enche de esperança, não somos mais órfãos temos um Pai. São Carlos Borromeu falando acerca do advento diz: “eis chegado o tempo tão importante e solene que, conforme diz o Espírito Santo, é o momento favorável, o dia da salvação (cf. 2Cor 6,2), da paz e da reconciliação. É o tempo que outrora os patriarcas e profetas tão ardentemente desejaram com seus anseios e suspiros; o tempo que o justo Simão finalmente pôde ver cheio de algreia, tempo celebrado sempre com solenidade pela Igreja”[2]. Celebrando cada dia essa mistério, a Igreja exorta a renovar continuamente a lembrança de tão grande amor de Deus por nós, ensina-nos que a vinda de Jesus não foi proveitosa apenas para seus contemporâneos, mas serve a todos os homens de todos os tempos e lugares, o convite é o mesmo ontem, hoje e sempre: mudai de vida, caminhai de cabeça erguida rumo ao senhor, pois ele é vossa salvação!!
Mas, este Jesus que veio – e estamos nos preparando para celebrar o seu santo Natal -, é o mesmo que ainda esperamos para consumar a sua obra no Dia final. Na Epístola aos Filipenses, segunda leitura da Missa de hoje, São Paulo nos fala do Dia de Cristo – aquele dia que começou em Belém, brilhou na Ressurreição e será pleno na Vinda do Senhor. Deus nos prometeu este Dia bendito, no qual todas as esperanças humanas serão realizadas! O cristão vive os dias deste mundo na esperança deste bendito e eterno Dia. Por isso, o Apóstolo deseja que permaneçamos puros e sem defeito “para o Dia de Cristo, cheios do fruto da justiça que nos vem por Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus”. Ele sabe que precisamos permanecer firmes até que o Mestre venha, pois isso nos exorta a viver na justiça que vem de Deus. Viver na justiça é cultivar ações evangélicas que promovam a experiência da salvação, tais como: a fraternidade, a solidariedade, o respeito, a tolerância e a fidelidade à verdade, entre outros.
Não percamos tempo! A oração da Missa pediu a Deus que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro do Filho que vem. Por isso, em nome de Cristo: levantemos os olhos de nossa mediocridade, de nossas preocupações pequenas e mesquinhas! Levantai a cabeça: a vossa Salvação se aproxima! Não sejamos desatentos, a ponto de não perceber e não acolher Aquele que veio, vem vindo e virá na Glória!


Pe. Fantico Borges, CM
[1] Eusébio de Cesaréia, Comentários sobre o Profeta Isaías, In Liturgia das horas, Oficio das Leituras, Vol. I, pp. 167-168
[2] São Carlos Borromeu, Das Cartas Pastorais, In: Liturgia das Horas, Oficio das Leituras, Vol I, pp. 122-124

Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C) Um homem vem a Jesus pedindo que diga ao irmão que reparta consigo a herança. Depois ...