Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – XXVI Domingo do Tempo Comum – Ano A
Arrepende-se é começar a vida nova!
A liturgia deste domingo
traz presente a reflexão o arrependimento que faz gerar o perdão. No Evangelho
(Mt 21,28-32) Jesus indaga ao seus ouvintes assim: “Que vos parece?”... Ora, o objetivo de
Jesus é usar os próprios argumentos dos ouvintes para exigir deles uma posição
autêntica. A pergunta é muito simples: dois filhos são enviados pelo pai a trabalhar
na vinha; o primeiro responde “sim”, mas não vai; o segundo diz
“não” mas depois arrepende-se e vai. “Qual dos dois fez a vontade do pai?
Os sumos sacerdotes e anciãos do povo responderam: ‘O primeiro’” (Mt 21,29-31).
É a sua condenação que Jesus proclama a seguir, bem claramente: “os cobradores
de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus”. O
motivo é também simples: porque as prostitutas e cobradores de impostos
arrependeram-se e eles não. Dirá São Clemente de Alexandria, que “aqueles que
de todo coração se converte para Deus tem as portas abertas, e o Pai recebe com
braços abertos ao filho realmente arrependido.” (S. Clemente, Livro sobre a
Salvação dos rico, 39)
Assim, como nesta parábola
dos dois filhos, Deus chamou primeiro os filhos de Israel; através dos
fariseus, sumo sacerdotes, escribas e doutores da lei, mas estes não quiseram
mudar de vida; por fim chamou os outros, que a principio eram rebeldes, mas
depois se arrependeram e mudaram de vida; os pecadores convertidos. Diz Jesus
que uns ouviram a pregação de João Batista, mas não lhes deram crédito porque
julgavam-se excessivamente seguros da sua ciência e da não necessidade de
aprender; excessivamente seguros da sua justiça e da não necessidade de
conversão: “não vos arrependestes para crer nele” (Mt. 21,32 ); não aceitaram a
palavra de João Batista nem a de Jesus. Veem-se, pois, colocados para
depois, nada mais e nada menos, que as pessoas de mau viver, cobradores de
impostos e prostitutas; pois estes arrependeram-se, “afastaram-se do mal que
praticaram, acreditaram e praticaram “a justiça” (Ez.18,27), e, por isso, foram
recebidos no Reino de Deus. Parece que os justos, diante da lei judaica,
não precisavam de juiz, nem se sentiam impelidos a mudar os comportamentos
internos, ao contrário deles os publicamente pecadores, não tinha ninguém para
defende-los, e por isso, punham sua esperança no Deus misericordioso e cheio de
amor, sempre inclinado a perdoar o pecador arrependido. Lembra-nos São
Clemente, “que arrepender-se supõe lamentar-se das faltas cometidas, e pedir
com insistência ao Pai que as lance definitivamente no esquecimento, ele que é
o único capaz de, em sua misericórdia, dar por não feito o feito, e abolir com
suavidade do Espírito os delitos da vida passada.” (S. Clemente, Livro sobre a
Salvação dos rico, 40)
Jesus propõe uma nova
mentalidade, onde assevera o sentimento de amor a perdão. A nova experiência do
Reino de Deus é pura misericórdia ao pecador contrito. Na comunidade de Cristo
todos que desejarem, sinceramente, e de coração, podem alcançar a salvação.
Deus não olha para o passado, nem fica atrás de nossos delitos, ele quer saber
é se estamos dispostos a começar, hoje, o caminho de santidade. Jesus não prega
um Deus contabilista, calculador de pecados, ele é o Pai das misericórdias. O Pai
deseja, como nos ensina Gregorio de Nissa, é que choremos nossos pecados, nos
repelemos com nossos maus comportamentos, que não fiquemos inertes ao mau. Por
isso, que a santidade é uma virtude dos fortes; porque santo não é quem não
pecou, mas sim quem luta, todo dia, para não pecar mais. Ser santo é dizer
todos os dias ao levantar: “só por hoje, não quero mais pecar..., Só por hoje,
náo vou falar mau de ninguém, só por hoje, não vou mentir, só por hoje, não vou
trair... PHN sempre ao pecado.
Comentando o Evangelho de
Mateus São João Crisóstomo afirma: “Porque estes dois filhos manifestam o que
aconteceu com os judeus e com os gentios.
Porque foi assim que os gentios, que não tinham prometido obedecer e nunca
ouviram a lei, em suas obras mostraram sua obediência; e os judeus, que
disseram: tudo quanto o Senhor disser o faremos e obedeceremos, mas em obras
lhe desobedeceram. Justamente Porque não pensaram que a lei lhes serviriam para
alguma coisa, ele lhes faz ver que ela seria motivo de maior condenação.” (São
João Crisóstomo, Sermão sobre o Evangelho de Mateus, 67) Por orgulho, vaidade e
arrogância muitos criam máximo obstáculo à salvação. Por isso, surge muito a
propósito, a exortação de São Paulo à Virtude da humildade: “Tende entre vós o
mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus. Ele que era de condição divina… esvaziou-se
a Si mesmo, assumindo a condição de escravo, tornando-se igual aos
homens” ( Fl.2,5-7).Se o Filho de Deus Se humilhou ao ponto de carregar sobre
Si os pecados dos homens ,será pedir muito que estes sejam humildes no
reconhecimento do seu orgulho e dos seus pecados?
Peçamos ao Senhor a graça
da humildade, ensina São João Maria Vianês, o Cura D’Ars, “é a porta pela qual
passam as graças que Deus nos outorga; é ela que amadurece todos os nossos
atos, dando-lhes valor e fazendo com que sejam agradáveis a Deus.
Finalmente, constitui-nos donos do coração de Deus, até fazer Dele, por assim
dizer nosso servidor, pois Deus nunca pode resistir a um coração humilde”.
É uma virtude que não consiste essencialmente em reprimir os impulsos da
soberba, da ambição, do egoísmo, da vaidade… Trata-se de uma virtude que
consiste fundamentalmente em inclinar-se diante de Deus e diante de tudo o que
há de Deus nas criaturas, em reconhecer a nossa pequenez e
indigência em face da grandeza do Senhor. São Vicente dizia as Filhas da
Caridade: “O espírito das Filhas da
Caridade é a humildade e ela [uma irmã] está cheia de orgulho. Isso é ser
semelhante ao diabo e pior que o diabo. Ai! Se fôssemos humildes, deveríamos
nos julgar todos piores que o diabo! Não se trata de uma imaginação, mas de uma
verdade: pois, se o diabo não se tivesse obstinado em seu pecado e tivesse
recebido a mais pequena graça que nós recebemos, a haveria usado melhor que
nós” ( COSTE, IX, 945) O que Deus quer de nós é a humildade nos comportamentos,
a firmeza na fé, respeito à sua Palavra, gratidão nas ações, misericórdia nas
obras, moderação nos costumes, e tolerância uns com os outros.
Que Deus nos fortaleça para o bom combate da fé, com a ajuda
augustíssima de sua Mãe a virgem de Nazaré. Amém!
Pe. Fantico Borges, CM