sábado, 13 de janeiro de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM - II Domingo do Tempo Comum – Ano B

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM - II Domingo do Tempo Comum – Ano B

 Eles permaneceram com o Senhor naquele dia!

Caros irmãos e irmãs, chegamos ao tempo comum depois de termos vivido às alegrias do natal de Jesus. Entramos hoje no Segundo Domingo chamado Comum: tempo em que encontramos os passos de Jesus rumo ao ápice de salvação que ele veio anunciar. Neste tempo penetramos no dia a dia da vida miúda, vivida na presença do Senhor que está sempre presente na sua Igreja na potência do seu Espírito Santo, dando vigor à Palavra e eficácia aos sacramentos.
Neste Missa Deus chama-nos, pois quer entrar na nossa vida e nos dirigir uma apelo apaixonado. Foi assim com jovem Samuel que se quer sabia reconhecer a sua voz; foi assim com os primeiros discípulos, traspassados pela palavra do Batista que, apresentando o Cordeiro de Deus, quase que forçava aqueles dois, André e Tiago, a seguirem Jesus. E lá vão eles: “Rabi, onde moras? Onde tens tua vida?” E Jesus os convida: “Vinde e ver! A este convide os discípulos descobrem a presença e chamado de Deus: eles foram e permaneceram com ele... Somente se tiverdes a coragem de virdes comigo, de comigo permanecerdes, podereis ver de verdade!” Santo Agostinho afirma nas confissões que nosso coração viverá sempre incompleto, e, portanto, inquieto enquanto não permanecer em Deus. Não é impressionante, quase que inacreditável, caríssimos, que Deus nos conheça pelo nome, que nos chame e nos queira parceiros de seu caminho de vida? Deus nos conhece; sabe bem quem somos. Conhece nossas virtudes e nossos pecados e assim mesmo ele nos chama, por amor, a permanecer com Ele. A pergunta do Senhor é íntima: “O que estais procurando?”. Aqueles homens não procuravam um teto, nem um emprego e muito mesmo um “guru” ilusionista que fornecesse uma estrada pronta. O que eles procuravam era o sentido de suas vidas, a salvação de suas almas. Vinde caríssimos, fiquemos com o Senhor e encontraremos aquilo que nosso coração procura aquilo que faz a vida feliz.
André e João “foram e ficaram com ele aquele dia” (Jo 1,39). Também a nós foi dado um dia para que permaneçamos com Jesus, o domingo. Nós, os cristãos, precisamos redescobrir o domingo como o kyriaké, Dies Domini, Dia do Senhor. Afirma São João Paulo II na Carta Apostolica Dies Domini: “O dia do Senhor — como foi definido o domingo, desde os tempos apostólicos — mereceu sempre, na história da Igreja, uma consideração privilegiada devido à sua estreita conexão com o próprio núcleo do mistério cristão. O domingo, de fato, recorda, no ritmo semanal do tempo, o dia da ressurreição de Cristo. É a Páscoa da semana, na qual se celebra a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, o cumprimento n'Ele da primeira criação e o início da « nova criação » (cf. 2 Cor 5,17). É o dia da evocação adorante e grata do primeiro dia do mundo e, ao mesmo tempo, da prefiguração, vivida na esperança, do « último dia », quando Cristo vier na glória (cf. At 1,11; 1 Tes 4,13-17) e renovar todas as coisas (cf. Ap 21,5)”. O domingo mais que preceito, deve ser vivido como gaudete, ou seja, da alegria. O preceito de fato existe, pois a Igreja quis garantir um mínimo vital para o cristão: participar da Missa aos domingos e dias santos. A razão da lei da Igreja não é o preceito em si, mas esse mínimo vital que sustenta a existência humana em Deus. Os primeiros cristãos compreendiam bem essa realidade quando, por exemplo, quando se arriscavam nas catacumbas romanas, não obstante a truculência dos opositores do cristianismo. Os cristãos afirmavam aos seus torturadores: sine domínico non possumus, ou seja, não podemos ser, nem existir, nem viver sem a celebração da Eucaristia dominical.
O sábado, celebração da criação e do repouso de Deus, era figura da realidade que o domingo significa: a nova criação e o repouso eterno iniciado com a ressurreição do Senhor Jesus. O apóstolo Paulo deixou bem claro que os cristãos já não devem sentir-se vinculados ao sábado: “ninguém, pois, vos critique por causa de comida ou bebida, ou espécies de festas ou de luas novas ou de sábados. Tudo isto não é mais que sombra do que devia vir. A realidade é Cristo” (Cl 2,16-17). Santo Inácio de Antioquia (+110 d.C.) explicou aos cristãos de Magnésia a passagem do sábado para o domingo da seguinte maneira: “aqueles que viviam na antiga ordem das coisas chegaram à nova esperança, e não observam mais o sábado, mas o dia do Senhor, em que a nossa vida se levantou por meio dele e da sua morte” (Aos Magn., 9,1).
O domingo é o dia que nós entramos em comunhão com Jesus no mesmo desejo dos João e André de permanecer com o Senhor. A participação na eucaristia é referencial de nossa adesão ao Mistério Pascal da Paixão, Morte e Glorificação de Jesus Cristo. Quem falta à missa dominical comete um grave pecado porque despreza o mistério da redenção. Não podemos achar que uma breve ou mesmo uma longa oração em nossa casa substitui a missa dominical, festa e solenidade. Nenhuma oração é maior e mais expressão de louvor e adoração a Deus que a santa missa. São João Crisóstomo explicava aos cristãos do seu tempo: “não podes rezar em casa como na Igreja, onde se encontra o povo reunido, onde o grito é lançado a Deus de um só coração. Há ali algo mais, a união dos espíritos, a harmonia das almas, o vinculo da caridade, as orações dos presbíteros” (Incomprehens. 3,6).
Portanto, o convite de permanecer com o Senhor precisa ser levado a serio por muitos católicos que trocam a missa por futebol, festas, praias e outras coisas mais. É necessário escutar a voz do Senhor anunciada todos os domingos na liturgia da Palavra, reconhecer a urgência de conversão pelo momento penitencial e alimentar-se do corpo do Senhor para que unidos a Ele deixemo-nos guiar por sua vontade e não manchemos o Corpo Místico de Cristo, o qual todos batizados fazem parte com as imundícies, imoralidades, injustiças, roubos e tantos outros pecados. 

Pe. Fantico Borges, CM 

domingo, 7 de janeiro de 2018

Homilia da Solenidade da Epifania do Senhor – 2018

Vimos adorar o menino-Deus!

Hoje se celebra a Epifania do Senhor. O termo grego tem o significado de auto-comunicação, entrada poderosa no campo da notoriedade e referencia-se à chegada de um rei. Também o termo servia para manifestação de uma divindade ou de alguma intervenção prodigiosa divina. Já no campo da fé a epifania entra desde II século com o qual se comemorava a celebração da vinda do Senhor.
A epifania marca a fase final do ciclo natalino. Celebra a manifestação de Deus ao mundo, na figura dos reis magos que, representando o mundo inteiro, vão adorar o menino Jesus em Belém. A liturgia, neste sentido, retorna o tema da luz – luz que brilha não só para o povo oprimido de Israel – como manifesta a leitura de Isaias –, mas para todos os povos, segundo a visão do profetismo universalista que escreveu o final de Isaias. Jerusalém, restaurada depois do exilio da Babilônia, é vista como centro para o qual convergem as caravanas do mundo inteiro. Essa visão recebe um sentido pleno quando os magos vindos do oriente procuram o Messias nascido de Davi – nos arredores de Jerusalém, em Belém, cidade de Davi. E nesta visão São Paulo complementa que a vinda de Jesus não é benção apenas para Israel, mas também para todos, para os pagãos, os povos distantes.
Belém representa a comunidade-testemunho, não apenas o lugar oficial de Davi, lugar do império de Herodes. Ela é centro do mundo, não para si mesma, mas para quem  procura o agir de Deus. Não em Roma, nem em Jerusalém de Herodes, mas em Belém do presépio é que a estrela parou. Com isso Deus quer mostrar que a manifestação do reino não depende do poder humano, mas da força da graça de Deus. Diz São Leão Magno que quando os reis magos vieram adorar a Jesus, “eles não o viram expulsando a demônios, ressuscitando aos mortos, dando visão aos cegos, curando os aleijados, dando a faculdade de falar aos mudos, ou qualquer outro ato que revelava seu poder divino; mas viram a um menino que guardava silêncio, tranquilo, confiado aos cuidados de sua mãe” (São Leão Magno, Sermão sobre a Epifania).   
Ao significado dos três presentes que os reis levaram ao Menino Jesus: ouro, incenso e mirra, estão ali representados o significado da vida de Jesus no mundo.  Ao rei, o ouro; incenso a Deus deitado no presépio, mirra ao homem que morreria por nós.  Jesus é Deus, Homem e Rei. E, nessa sociedade que, entre outras coisas, coloca Deus em plano inferior Jesus quer reinar, deseja a adoração das suas criaturas, quer que os homens e as mulheres valorizem mais o ser humano como tal, que a pessoa humana não pise a própria dignidade. Por isso, quando vemos que homens envaidecidos pela sabedoria mundana, e apartados da fé de Jesus Cristo, são arrancados pelos pecados, da presença graça de Deus, e, por isso tratam mal seus semelhantes, só temos que pensar na necessidade de olhar para a estrela que guiou os magos e seguirmos o caminho do presépio, que nos levará à humilde cena do menino deitado no feno.   
Como os reis magos, tampouco nós iremos de mãos vazias ao encontro do Senhor; ao contrário, levaremos presentes ao Menino Jesus: a nossa adoração já que ele é Deus; as nossas reparações, que desejamos que estejam simbolizadas na mirra, àquele que morrerá pelos nossos pecados; levaremos ainda os propósitos de viver melhor como homens e como mulheres, como filhos e filhas de Deus, reconhecendo a alta dignidade que recebemos e à qual somos chamados. Alegramo-nos com “profunda alegria” (Mt 2,10) ao ver a estrela de Belém, isto é, ao ver esse Menino que iluminou a nossa vida e nos deu a missão de iluminar a dos outros, não com outra luz, mas com a sua. Efetivamente, com a vinda do Filho de Deus, todos, sem distinção, podem caminhar segundo Deus. Todos somos filhos de Deus, todos somos irmãos.
Nós, os cristãos, temos que manifestar aos outros o sentido das suas próprias vidas através da consciência e da vivência do autêntico sentido da existência. Todos precisam saber o porquê estão nesse mundo: para amar, adorar e glorificar a Deus, para receber os grandes presentes que o Senhor quis trazer-nos, para vivermos como irmãos. Nós fomos criados para a felicidade. Deus quer que sejamos felizes também aqui na terra e, depois, no céu… para sempre!
São Boaventura afirmava que a estrela que nos conduz a Jesus é triple: “a Sagrada Escritura, que temos que conhecê-la muito bem. A outra estrela é a aquela que sempre nos está facilitando andar pelas sendas de Deus fazendo-nos ver e acertar o caminho, esta estrela é a Mãe de Deus, Maria. A terceira estrela é interior, pessoal, e são as graças do Espírito Santo”.
E se quiséssemos considerar atentamente como possível, para todos os que se aproximam a Cristo pelo caminho da fé, aquela tríplice classe de dons, não descobriríamos que esta oferenda se realiza no coração de quantos retamente creem no Cristo? Retire efetivamente ouro do tesouro de seu coração quem reconhece a Cristo como rei no universo; oferece mirra quem crê que o unigênito de Deus assumiu uma verdadeira natureza humana; venera a Cristo com uma espécie de incenso quem confessa que ele em nada é diferente da majestade do Pai. Tudo isso munido de uma vida perpassada pelas ações de caridade, promoção da vida, arações contates, frequência a confissão e participação regular à eucaristia.


Pe. Fantico Borges, CM

Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C) Um homem vem a Jesus pedindo que diga ao irmão que reparta consigo a herança. Depois ...