domingo, 26 de novembro de 2017

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – Solenidade de Cristo Rei.

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – Solenidade de Cristo Rei.

Viva o Rei Jesus!
Com esta solenidade de Cristo, Rei do Universo, encerramos o Ano Litúrgico de 2017. No próximo domingo, dia 03 de dezembro, será o primeiro domingo do Advento, um novo Ano Litúrgico, início da preparação para o Natal. Ainda que as festas da Epifania, Páscoa e Ascensão sejam também festas de Cristo Rei e Senhor de todas as coisas criadas, a festa de hoje foi especialmente instituída para nos mostrar Jesus como único soberano de uma sociedade que parece querer viver de costas para Deus. Nosso Rei não estar montado num trono de ouro, nem ornamentado com joias de prata ou pérolas preciosas. Nosso Rei estar erguido num madeiro, laudado por dois ladrões. Mas é nessa imagem kenótica que está o esplendor da glória de Deus. “Adoramos, Senhor, tua cruz, na qual está depositada toda a nossa esperança de salvar-nos, porque será ela que dá aos nossos corpos a imortalidade e a claridade.” (Santo Efrém, canto fúnebre, 42)    
Jesus veio ao mundo para buscar e salvar o que estava perdido; veio em busca dos homens dispersos e afastados de Deus pelo pecado. E como estavam feridos e doentes, curou-os e vedou-lhes as feridas. Tanto os amou que deu a vida por eles. Como Rei, vem para revelar o amor de Deus, para ser o Mediador da Nova Aliança, o Redentor do homem. No Prefácio da Missa fala-se de Jesus que ofereceu ao Pai “um reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz”. Se tomarmos a liturgia da leitura de Ezequiel Deus é o bom pastor que cuida e protege seu rebanho. Vem para tomar conta da ovelha desgarrada, procurar aquela que se perdeu, enfaixar a perna quebrada, fortalecer a doente, resgatar de todo mal caminho a ovelha perdida, fazer repousar aquela que se fadigou e vigiar a ovelha gorda. Ao contrario do velho Adão, que trouxe a morte, Cristo novo Adão trouxe vida e esperança.
Assim é o Reino de Cristo, do qual somos chamados a participar e que somos convidados a dilatar mediante um apostolado fecundo que subsiste no senhorio de Cristo no coração dos fiéis. O fim será o triunfo de jesus que tudo entregará ao Pai no Espírito Santo.
O Senhor deve estar presente nos nossos familiares, amigos, vizinhos companheiros de trabalho… Perante os que reduzem a religião a um cúmulo de negações, ou se conformam com um catolicismo de meias-tintas; perante os que querem por o Senhor de cara contra a parede, ou colocá-Lo num canto da alma…, temos de afirmar, com as nossas palavras e com as nossas obras, que aspiramos a fazer de Cristo um autêntico Rei de todos os corações…, também dos deles. O Deus cujo evangelho anuncia não é passivo, mas toma a peito a paixão pelo ser humano a ponto de afirmar que tudo feito aos pequeninos deste mundo é a Ele que o fazemos. Deus se coloca no lugar da criatura de tal forma que o bem feito a Deus é atribuídos como aqueles dispensados aos pobres e necessitado. Deus está presente naqueles que sofrem e se identifica com eles. Todo isso, me faz crer “que esta descrição tão detalhada daquele juízo, que parece um quadro vivo, não tem outra finalidade que inculcar-nos a beneficência e induzir-nos a praticar a benevolência. Nela vai registrada a vida. Ela é a mãe dos pobres, a mestra dos ricos, a bondosa nutriz de seus pupilos, a protetora dos anciãos, a despensa dos necessitados, o porto comum dos miseráveis, a que assiste a todas as idades, a que atende em todas as aflições e calamidades” São (Gregório de Nissa Sermão sobre o amor aos pobres).  
Disse o Papa São João Paulo II: “A Igreja tem necessidade sobretudo de grandes correntes, movimentos e testemunhos de santidade entre os fiéis, porque é da santidade que nasce toda a autêntica renovação da Igreja, todo o enriquecimento da fé e do seguimento cristão, uma re-atualização vital e fecunda do cristianismo com as necessidades dos homens, uma renovada forma de presença no coração da existência humana e da cultura das nações”.
A atitude do cristão não pode ser de mera passividade em relação ao reinado de Cristo no mundo. Nós desejamos ardentemente esse reinado. É necessário que Cristo reine em primeiro lugar na nossa inteligência, mediante o conhecimento da sua doutrina e o acatamento amoroso dessas verdades reveladas. É necessário que reine na nossa vontade, para que se identifique cada vez mais plenamente com a vontade divina. É necessário que reine no nosso coração, para que nenhum amor se anteponha ao amor de Deus. É necessário que reine no nosso corpo, templo do Espírito Santo; no nosso trabalho profissional, caminho de santidade… Convém que Ele reine!”(Papa Pio XI).
Cristo é um Rei que recebeu todo o poder no Céu e na terra, e governa sendo manso e humilde de coração, servindo a todos, porque não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para a redenção de muitos.
O Evangelho (Lc 23, 35-43) apresenta o Rei no trono da Cruz; Cristo não aparece sentado num trono de ouro, mas pregado numa cruz, com uma coroa de espinhos na cabeça, com uma irônica inscrição pregada na cruz: “Jesus Nazareno Rei dos Judeus”.
A cruz é o trono, em que se manifesta plenamente a realeza de Jesus, que é perdão e vida plena para todos. A cruz é a expressão máxima de uma vida feita Amor e Entrega. Na oração do Pai Nosso Jesus no ensina a pedir: “Venha a nós o vosso Reino”. Jesus nos convida a fazer parte desse Reino e a trabalhar para que esse Reino chegue ao coração de todos. Por isso celebramos hoje o DIA DO LEIGO cuja missão é a de ser “protagonista da Evangelização” (Conferencia de Santo Domingo). O leigo, ou seja, todo aquele que tendo sido regenerado na água batismal como fermento no mundo, através de suas ações dá sabor divino às realidades terrenas. São “homens e mulheres no coração do mundo, e mulheres e homens do mundo no coração da Igreja” (Aparecida, 209). Por isto, se queremos transformar o mundo com a presença santificadora do Evangelho de Jesus Cristo, precisamos trabalhar, cada vez mais, em nossas comunidades para viver a doutrina cristã e os valores evangélicos, para que assim, como discípulos missionários, unido a Cristo Rei do Universo se coloque à serviço da comunidade, partilhando seus dons, tornando-se uma oferenda agradável a Deus Pai.
Que Maria, a Mãe santa do nosso Rei, Rainha do nosso coração, cuide de nós como só Ela o sabe fazer.


Pe. Fantico Borges, CM 

domingo, 19 de novembro de 2017

Homilia do Pe. Fantico Borges – XXXIII Domingo do Tempo Comum – Ano A

Homilia do Pe. Fantico Borges – XXXIII Domingo do Tempo Comum – Ano A
Trabalhai para sua santificação!
Caríssimos irmãos e irmãs se aproxima o domingo de Cristo Rei. A liturgia vai tomando como pano de fundo o juízo do justo rei-juiz de todos. Como doador dos dons Deus chamará todos para prestar contras dos talentos entregues a cada um, segundo sua capacidade. Aquele que recebeu cinco talentos e o que recebeu somente dois foram bons trabalhadores. Cada um deles, recebidos os talentos, “negociou com eles; fê-los produzir, e ganhou outros” (Mt 25,16). É preciso trabalhar! Mais ainda, é preciso trabalhar bem! São João Paulo II, na sua Carta Encíclica sobre o trabalho humano Laborem exercens, falava de “elementos para uma espiritualidade do trabalho”. O trabalho é dom de Deus em nossas vidas. 
Também é verdade que muitas pessoas não querem trabalhar. São preguiçosas e escondem os talentos para não se fadigarem. Quem não trabalho, diz o Apóstolo Paulo, não deve comer! Com o nome de talento se deve entender aquilo que qualquer pessoa recebeu. São Gregório Magno diz que devemos saber que não existe ninguém ocioso que esteja seguro de não ter recebido algum talento, porque não existe ninguém que diga: “eu não recebi nenhum talento, portanto não estou obrigado a prestar contas” (São Gregório Magno: sermões sobre os Evangelhos, 9). Todos, cristãos ou ateus, pobres ou ricos, negros ou brancos receberam bens para seu crescimento pessoal e para colaboração no crescimento dos outros.  Esses talentos são oportunidades da mente humana crescer e produzir frutos para si e para o mundo. Quem se abstém desta tarefa desvincula-se de sua missão existencial.
Podemos ter a certeza que o Senhor nos deu uma vida, “a cada um de acordo com a sua capacidade”. Ora, é esta vida, dom de Deus, fruto de um desígnio de amor sem fim, que cada um de nós deve responsavelmente cultivar e fazer frutificar em benefício para nosso irmãos e irmãs. Na leitura de provérbios a figura da mulher forte aparece como um exemplo de alguém que não se contenta em passar pela vida, mas vai tecendo o fio da existência com as pequenas fidelidades de cada dia. O importante da vida é observar o essencial, a beleza que escode-se por detrás das coisas que fazemos. A aparente estética das coisas passará, a verdadeira vida encontra-se no temor do Senhor.  Do mesmo modo, a segunda leitura chama-nos atenção para o fato que nos serão pedidas contas da vida, dom recebido de Deus. Daí, o conselho: “Não durmamos, como os outros, mas sejamos vigilantes e sóbrios”. São Gregório diz que devemos considerar o que temos recebido para empregá-lo bem. Que não exista nenhum cuidado terreno que nos impeça a vida espiritual, para que não venha a acontecer que, escondendo o talento na terra, provoque-se a ira do Senhor dos talentos.  
O mundo moderno, com todo sua técnica, pensa que a existência material é seu modo absoluto de ser. Fechados em si mesmos, os homens pensam que podem ser felizes construindo a vida de seu próprio modo, dando os parâmetros do seu agir. Esta é a grande tentação pós-moderna! Que grande Ilusão! A vida é dom de Deus e somente nos faz felizes se dela fizermos um diálogo amoroso com o Senhor, autor e doador de nosso ser. Mais que talentos na vida, o Senhor nos concedeu a própria vida como um precioso talento. Desenvolvê-lo, ser feliz e buscar não a nossa própria satisfação, não nossa própria medida, não nosso próprio caminho, mas fazer da existência uma busca amorosa e cheia de generosidade da vontade de Deus, isso sim realiza o ser humano porque mais que tenha coisas e poder a vida somente é bela se é cheia de sentidos que transcendem os bens materiais. O mundo dos ricos já demostra que ter nunca é sinal de felicidade. Muitas pessoas que possuem bens, títulos, aplausos, também comentem suicídio. Ser feliz é encontrar sentidos transcendentais, divinos para viver. Eis! Somente seremos felizes e maduros quando tivermos a capacidade de arriscar verdadeiramente nos perder, nos deixar para nos encontrar no Senhor, alicerce e fonte de nossa vida. Eis o verdadeiro investimento!
Infelizmente, a dinâmica do mundo hodierno, pagão e ateu, não nos ajuda nessa direção. Há distração demais, novidade demais, produto demais a ser consumido; há preocupação demais com uma felicidade compreendida como satisfação de nossos desejos, carências e vontades. Há consciência de menos de que a vida é dom e serviço, doação e abertura para o infinito; há percepção de menos de que aqui estamos de passagem e de que lá, junto ao Senhor, é que permaneceremos para sempre. Atolamo-nos de tal modo nos afazeres da vida, no corre-corre de nossas atividades, no esforço por satisfazer nossas vontades, na busca de nossa auto-afirmação, que perdemos a capacidade de compreender realmente que somos passageiros e viajantes numa existência breve e fugaz que somente valerá a pena se vivida na verdade, se for compreendida como abertura para o Senhor e se por amor a ele, for abertura generosa e servidora para os outros.
A advertência do Apóstolo Paulo deve nos conduzir nesta meditação: “Vós, meus irmãos, não estais nas trevas, de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão. Todos vós sois filhos da luz e filhos do dia”. Vivamos da Luz. O vaticano II dizia Lumen gentium Christis - Cristo, Luz dos povos. Viver na luz, viver no dia é viver na perspectiva de Cristo Jesus, é valorizar o que ele valoriza e desprezar o que ele despreza. Filhos da luz, filhos do dia – eis o que deveríamos ser! Mas, com tanta frequência nossa mente e nosso coração, nossos pensamentos e nossos afetos encontram-se entenebrecidos como o dos pagãos… Quão grave para nós, porque conhecemos a Luz, cremos no Dia que é o Cristo-Deus!  Será que ignoramos quem é o dono dos talentos? Será que desprezamos seus bens a ponto de tornamo-lo infrutíferos? Por acaso fazemos pouco caso do juízo divino? Consideremos, pois, o que é que temos recebido, e estejamos atentos para empregá-lo bem. O servo preguiçoso, quando o juiz pede contas das culpas, desenterra o talento. Existe, portanto, muitos que se afastam dos desejos e obras terrenas, por aviso do juiz, quando já entregues ao suplicio eterno. Vigiemos, portanto, antes que nos seja solicitada a conta do talento, para que, quando o juiz estiver ameaçando com castigo, sejamos libertos dele pelo lucro que tivermos alcançado.  
Peçamos ao bondoso Deus que não sejamos tragados pelo desanimo da tardança dos frutos, nem pelas tarefas puramente mudando sem dar a devida atenção às coisas do alto. Que Maria santíssima passe à frente de nossos empreendimentos para pensarmos e agirmos em vista do Reino de seu Filho Jesus Cristo. 

Pe. Fantico Borges, CM   

sábado, 11 de novembro de 2017

Homilia do Pe. Fantico Borges – XXXII domingo do tempo comum ano A

Homilia do Pe. Fantico Borges – XXXII domingo do tempo comum ano A

Uma Igreja previdente sempre está vigilante no amor!

Na Liturgia deste Domingo, XXXII do Tempo Comum, Deus nos fala através do autor bíblico que sábio é quem teme a Deus e se afasta do mal. Sabedoria é, ao mesmo tempo, dom de Deus, mas, também, resultado de uma busca humana. Sabedoria não é só sistematizar algum conteúdo científico ou tirar nota dez em determinadas áreas do conhecimento e, às vezes, tirar zero na convivência com as pessoas, na solidariedade, no amor a Deus e ao próximo, etc. Sabedoria é sobressair-se bem diante das questões fundamentais de nossa vida. Por isso, sabedoria e prudência caminham juntas sempre. São Gregório de Nazianzeno ensinando em sua catequese dizia que “as lâmpadas acesas são figuras daquela procissão de tochas com que, quais radiantes almas virgens, não adormecidas pela preguiça ou indolência, sairemos ao encontro de Cristo, o esposo, com as radiantes lâmpadas da fé, a fim de que não se apresente de improviso, sem que saibamos, aquele cuja vinda esperamos, e nós, desprovidos de combustível e de azeite, carecendo de boas obras, sejamos excluídos do tálamo nupcial” (Gregório Nazianzeno, Sermão da festividade do Batismo, 40,46).
A prudência, a vigilância, o estar de prontidão são figuras de como devemos esperar o esposo. Como não sabemos a hora, nem o dia, alerta-nos São Pedro a sermos sóbrios e vigilantes porque o adversário está rodeando-nos para devorar aos que tiverem descuidados.
Na segunda leitura o Apóstolo Paulo esclarece aos tessalonicenses que, diante da morte de alguns membros da comunidade, ficavam em dúvida sobre a salvação em Cristo, pois viviam na expectativa de estarem todos vivos para o dia da vinda do Senhor. Paulo os anima, explicando-lhes que o cristão não pode ser, diante da morte, como os pagãos que não têm esperança, pois se cremos que Jesus ressuscitou, devemos, também, crer que os mortos ressuscitarão e estarão com o Senhor. A certeza que Paulo deseja incutir no coração da comunidade é que há uma unidade entre a Igreja peregrina, aquela que esperava a vinda eminente do Senhor, e os que já na glória participavam na morte da esperança escatológica de Cristo. Na segunda vinda do Senhor, nos encontraremos todos juntos: os vivos e os que já morreram.
No Evangelho Mateus trata do discurso escatológico de Jesus que descreve a conclusão do Reino na terra. Tudo é claramente orientado e exprime o insistente convite à perseverança e à vigilância: “Vigiai, portanto, porque não sabeis nem o dia nem a hora”. A parábola das dez virgens é uma alegoria das núpcias de Cristo com sua Igreja. Na Igreja, as virgens, isto é, os cristãos, caminham juntos ao encontro do senhor, recebem a mesma missão de Jesus: fazer o bem, amar, produzir frutos, boas obras. Mas, infelizmente, uns são bons, vigilantes, fiéis, sensatos; outros são maus, infiéis, insensatos, autossuficientes, centrados em si mesmos, se julgam sábios e esquecem o principal: as boas obras. Para estes, fecham-se as portas. No caminho da vida, achavam que os outros poderiam substituí-los, responder por eles, querem aproveitar o azeite (santidade) dos outros e, por isso, improvisam o encontro. Iniciaram a caminhada de fé, mas não se mantiveram alertas.
Aquela triste e miserável cena será dramática: “estará presente aquele que, ao se ouvir a sinal, exigirá que saiam ao seu encontro. Então todas as almas prudentes lhe sairão ao encontro com uma luz radiante e com superabundante provisão de azeite; as almas restantes, muito conturbadas, pedirão inoportunamente azeite àquelas que estão bem abastecidas. Porém, o esposo entrará apressadamente e as prudentes entrarão juntamente com ele; porém às imprudentes que empregaram o tempo em que deveriam entrar no preparo de suas lâmpadas, lhes será  proibido o ingresso e se lamentarão aos gritos, compreendendo, demasiado tarde, o prejuízo que acarretaram com sua negligência e sua indolência” (Gregório Nazianzeno, Sermão da festividade do Batismo, 40,46). A porta lhes será fechada e por mais que supliquem não se abrirá.
O momento da vinda de Jesus, o noivo, no fim dos tempos, é desconhecido (morte, juízo final). É preciso que as virgens, isto é, as comunidades cristãs, estejam abastecidas do combustível das boas obras, preparadas, para o encontro com o Senhor, mediante a prática da justiça (o azeite) e dos valores do Reino. Quem negligenciar esta vigilância, achando ter todo tempo para encontrar o azeite da lamparina, pode-se dar conta de ser tarde demais. Não imiteis tampouco aqueles que recusaram participar das bodas que o bom pai preparou para magnífico esposo, apresentando como desculpa, embora acabe de casar-se, seja o campo recentemente comprado, seja a junta de bois mal-adquirida: privando-se deste modo de bens maiores pelo solicitude de coisas insignificantes e fúteis. Diz São Cirilo de Alexandria que “como as insensatas não trouxeram nada, suas almas começam a esvaecer-se e como apagar-se e a serem levadas até um delírio, pensando que terão compaixão delas graças à virtude dos outros” (São Cirilo de Alexandria, Fragmentos sobre o Evangelho de São Mateus, 280). A virtude de cada um, a muito custo, basta para salvação da sua alma, porque até aqueles que são sábios cometem transgressões de muitas maneiras.    
A comunidade sem óleo vive no vazio, no escuro, é uma comunidade estéril. Mas, qual é a raiz da esterilidade? A ausência de relação intensa e contínua com Deus. É o desconhecimento do Espírito Santo, cujo primeiro fruto é a caridade. A oração, a intimidade com Deus mantém aceso o amor. Quem ama não esquece da pessoa amada. Há esquecimentos que não são falta de memória, mas de amor: “Quem não ama carrega dentro de si um germe homicida” (1Jo 3, 15).
O convite final desta liturgia consiste em estarmos de prontidão, pois o augustíssimo noivo, excelso Senhor e Salvador vem ao nosso encontro, e quem estiver com a lâmpada acesa ingressará no seu reinado. Oxalá que também nós nos façamos partícipes de tais mistérios de amor e nupcialidade de Jesus Cristo.

Pe. Fantico Borges, CM

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Espiritualidade para casais


Espiritualidade para casais 


E a família, como vai? FAMÍLIA, COMUNHÃO DE PESSOAS.
Muito se fala da crise da família. Nos últimos tempos, no entanto, pudemos ver sinais na linha de  sua revalorização. Ela  continua sendo, apesar de todas as  transformações, o espaço primeiro e privilegiado de personalização e socialização, espaço de auto-realização, comunicação, lazer e afeto. Quando alguém não vive em família, essa lacuna se fará sentir para sempre, impedindo o amadurecimento  pessoal de  que se viu privado de casa, pai, mãe, tendo também sérias influências no ambiente externo. Disto estão convencidos psicólogos, assistentes sociais, sociólogos e educadores.  Na família acontecem as  primeiras experiências da vida, que tanta importância têm na configuração da maneira pessoal de se situar no mundo. Tudo o que acontece depois, na idade adulta servirá para modificar ou enriquecer essas experiências fundamentais. Quando elas forem dolorosas e negativas ocasionam danos que dificilmente podem ser superados (cf.  Pedro José Gómez Serrano,  La família, escuela de liberación, justicia ey solidariedad, in Sal Terrae 91 (2003), p 373ss)
A família não pode ser uma camisa-de-força. Em certas configurações de família do passado, marcadas pela supremacia masculina, em tempos em que  unidade familiar era mais do que tudo uma unidade de trabalho, nem sempre as pessoas eram respeitadas, de modo especial as mulheres e as crianças.  Filmes e livros não se cansam de mostrar os malefícios de uma certa família do passado.  Certamente, ela não pode se transformar, hoje, numa espécie de ninho quente  onde seus membros vivem uma espécie de célula “gostosa”, distante dos desafios do mundo. Uma tal concepção seria completamente danosa para os seus membros e para a sociedade.  Por vezes, tem-se a impressão de que cristãos das classes remediadas  vivem um familismo sem sentido e sem amanhã. A família é responsável pela transformação do mundo.
Na esteira do personalismo de  Emanuel Mounier, João Paulo II, ao descrever a família,  fala de uma comunhão de pessoas. “A família, fundada e vivificada pelo amor, é uma comunidade de pessoas, do homem e da mulher, dos pais e dos filhos, e dos parentes. A sua primeira tarefa é a de viver fielmente a  realidade da comunhão num constante empenho por fazer crescer uma autêntica comunidade de pessoas. O princípio interior, a força permanente e a meta última de tal dever é o amor: como, sem o amor a família não é uma comunidade de pessoas, assim, sem o amor, a família não pode viver, crescer e aperfeiçoar-se como comunidade de pessoas”  ( Familiares consortio, n. 18).
A família satisfaz  a necessidade básica de conhecimento, intimidade e de colaboração do ser humano e de sua libertação da solidão e do medo diante do futuro. Em seu seio há a oportunidade de ser desenvolvido o melhor que alguém carrega em si, de fazer uma integração de sua complexa personalidade e de sempre melhorar sua condição espiritual.
A dupla orientação na direção da liberdade e solidariedade, da unidade e da distinção exigem relacionamentos novos.  É indispensável relacionar-se, reconhecendo o valor pessoal, pois do contrário somos ilhas isoladas. No seio da família, âmbito de relacionamentos, experimenta-se a alegria de uns pertencerem aos outros. Assim, se deixa a rede de individualismo e se vive a comunhão solidária.  Benito Goya  afirma:  “O lar se converte em espaço de comunhão de pessoas adultas e estabelece entre os cônjuges um estilo existencial atraente e construtivo, que favorece o espírito de doação, de apoio mútuo e de compromisso em projetos comuns. Esta harmonia entre os esposos constitui uma base sólida para que também as relações filiais sejam gratificantes”  (La nueva família. Una espiritualidad de comunión, in  Revista de Espíritualidad (59) (2000) p. 48).
A família cristã  é aquela em que pais e filhos procuram configurar os relacionamentos interpessoais no lar a partir de atitudes e valores propostos pelo Evangelho, aquela que é construída e constituída sobre a fé em Cristo Jesus. No seu fundamento está o amor do casal que supõe as condições normais e as exigências para inauguração de qualquer vida conjugal: amor, responsabilidade, comunidade de vida. Ela reveste-se, no entanto, de diferente iluminação. Seus membros são de Cristo e querem ser mais dele. Morreram a si mesmos pelo Batismo e vivem numa célula de Igreja na Igreja. É por tudo isso, que o matrimônio é sinal do mistério nupcial de Cristo com a Igreja que se entrega ao amor do Pai na unidade do Espírito Santo. 
O Papa Paulo VI chamava a família cristã de Igreja doméstica, lugar onde se aprende o amor a Deus, a conviver e os valores cristãs.  O texto-base da Campanha da Fraternidade de 1994, rezava:  “A expressão Igreja doméstica designa a realidade mais profunda do casal e da família e se tornou expressão muito frequente em documentos recentes do Magistério para caracterizar a identidade mais profunda da família cristã. A exemplo da Igreja, ela é chamada a ser santuário da vida, que acolhe, vive, celebra e anuncia a Palavra de Deus. É ainda santuário onde se edifica a santidade e a partir de onde a Igreja e o mundo podem ser santificados. Lá se celebra e se anuncia a Palavra, se vive a vivência da reconciliação pelo perdão mútuo. Destarte, a família, através das quatro facetas do amor humano reproduz as quatro experiências de vida da própria Igreja: experiência de Deus como Pai, experiência de  Cristo como irmão, experiência de filhos em, com e pelo Filho, experiência de Cristo como esposo da Igreja” ( Campanha da Fraternidade/ 1994, n. 176).
Ninguém é coisa no seio das famílias, todos possuem sua identidade. Pessoas se encontram com pessoas. Pais, filhos, avós, esposos, todos procuram viver relacionamentos fraternos no reconhecimento do diferente sem indiferença. Ali vidas se interpenetram, ou seja, cultivam a inteligência, fortalecem a vontade e nutrem afetos. E essa célula se irradia para fora como matriz da sociedade. Nada de familismo, nada de famílias guetos, mas comunidades vigorosas que não se deixam enredar pelo consumismo, pelo hedonismo e pelo relativismo. Essas famílias assim solidificadas poderão fazer de sorte que as novas gerações não sejam joguetes do acaso e de uma sociedade sem sentido.
Mais do que nunca está em jogo a identidade de comunidade cristã. A mídia bombardeia com informações incompletas as consciências ainda em formação dos nossos jovens. Priva-lhes o acesso a verdade por meio de ilusões novelescas, manobrada diabolicamente para vender uma cultura relativista e pouco humanizada, onde a família não garante segurança, mas apenas consiste num espaço de possessivos domínio do mais forte.     

Construamos nossas famílias e pastorais moldados na sociedade do amor e da paz, conscientes que, a grande contribuição do cristianismo para pós-modernidade é exatamente a fidelidade ao mistério de Cristo, sempre atual nas pessoas, que tomando sua cruz sinceramente não se cansam de afirmar: Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida!
Perguntas:
1.      Na família acontecem as  primeiras experiências da vida, que tanta importância tem na configuração da maneira pessoal de se situar no mundo. Como você ver essa desvalorização da experiência familiar no desenvolvimento humano-cristão?
2.      Nada de familismo, nada de famílias guetos, mas comunidades vigorosas que não se deixam enredar pelo consumismo, comunidade familiar onde reine comunhão. Como contribuir para isso acontecer em sua casa? 

Pe. Fantico Borges, CM

sábado, 4 de novembro de 2017

Homília do Pe. Fantico Borges, CM – Solenidade de todos os Santos.

Homília do Pe. Fantico Borges, CM – Solenidade de todos os Santos.

Todo batizado é chamado a santidade!

Para que louvar os santos? Para que glorifica-los? Para que, enfim, esta solenidade? Que lhes importam as honras terrenas, a eles que segundo a promessa do Filho, o mesmo Pai celeste glorifica? De que lhes servem nossos elogios? Os santos não precisam de nossas homenagens, nem lhes vale nossa devoção. Se veneramos os Santos, sem dúvida nenhuma o interesse é nosso, não deles. Ao recordar os Santos, sinto um desejo profundo de ser santo. Acende em mim uma vontade de estar lá com eles!
A celebração de Hoje faz memória aos irmãos e irmãs que já estão na Igreja Celeste e intercedem por nós. Afirma São Bernardo de Claraval que “o desejo que sua lembrança mais estimula e incita é o de gozarmos de sua tão amável companhia e de merecermos ser concidadãos e comensais dos espíritos bem-aventurados, de unir-nos ao grupo dos patriarcas, às fileiras dos profetas, ao senado dos apóstolos, ao numeroso exército dos mártires, ao grêmio dos confessores, aos coros das virgens, de associar-nos, enfim, à comunhão de todos os santos e com todos nos alegrarmos” (São Bernardo, Sermões, In liturgia do Oficio das leituras da solenidade de todos os Santos).
A humanidade geme e chora até que se manifestem os filhos santos de Deus! A assembleia dos primogênitos aguarda ansiosamente a manifestação desta raça santa, deste povo sacerdotal, e nós parecemos indiferentes! Os santos desejam-nos e não fazemos caso; os justos esperam-nos e esquivamo-nos. Amimemo-nos para realizar já aqui a cidade celeste que espera por nós! Para ela caminhamos segundo os passos dos santos que nos precederam. Confiantes que não estamos sós, que caminham conosco milhões de milhões de santos e santas que lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do cordeiro; irmãos e irmãs que vencendo as tribulações e foram dignos de participar das núpcias de Cristo.  
Muitas vezes temos a tentação de pensar que a santidade não é coisa acessível, que ser santo é apenas para figuras escolhidas, pessoas excepcionais. Essa compreensão faz parte dos equívocos de confundir a vida de santidade como uma missão particular dos consagrados à virgindade ou aos ministros sagrados do altar. Ser santo, ensina o Concílio Vaticano II, é missão comum a todo batizado. Por seu desígnio salvador, nós fomos consagrados no momento do nosso batismo e nos aproximamos da montanha da santidade. O 5º capítulo da Lumen Gentium ,chama todos os batizados a viver a vocação comum á santidade.  A partir daquele momento batismal, a santidade para nós pode ser descrita como um processo no qual confluem a graça de Deus e a generosa correspondência humana. Uma novidade do Concílio Vaticano II foi colocar a santidade comum a todo cristão como meta para qual tende toda a vida do cristianismo. Por isso, ser santo pressupõe um processo de luta e conflito pelo qual passará quem for fiel a vocação à santidade. Esse processo tem lugar uma noite escura, como falava são João da Cruz, que tende a nos purificar por meio da Kenosis constante. A busca de assemelharmos a imagem daquele que é totalmente Santo e santifica o próprio ser da criatura, exigirá de cada um a superação das paixões, desejos e vontades. Em outras palavras, para chegar a purificação temos que subir ao monte Carmelo e travar nossa luta espiritual contras as forças de Baal (Baal entendido como o mal, deus pagão).
A liturgia de hoje nos amina a buscar as realidades celestes. Tenhamos gosto pelas coisas do alto. Desejemos Aquele que nos deseja: Jesus Cristo, o qual está sentado junto do Pai. Apresentemo-nos ao encontro daquele que nos aguarda de braços abertos. Ensina São Bernardo que devemos cobiçar a santidade dos santos. “Seja-nos um incentivo não só a companhia dos santos, mas também a sua felicidade. Cobicemos com fervoroso empenho também a glória daqueles cuja presença desejamos. Não é má esta ambição, nem de nenhum modo é perigosa a paixão pela glória deles” (São Bernardo, Sermões, In liturgia do Oficio das leituras da solenidade de todos os Santos).
Esta busca de ser santo é alimentada pelo desejo de ver Deus, pois ser santo é tão natural em nós quanto a vontade de comer e beber. Por mais avesso que seja alguém a busca de Deus, ele sempre busca fora de si um sentido para viver. Sem transcendência ninguém vive. Por isso dizia Santo Agostinho: “Não pode existir alguém que não deseje ser feliz. Mas, oxalá os homens que tão vivamente desejam a recompensa não fugissem dos trabalhos que conduzem a ela!” Como se pode observar, a serpente astuta que aparece no livro do Gênesis, enganando os nossos primeiros pais, não estava tão equivocada: podemos ser como deuses, ou seja, podemos ser divinizados pela graça de Deus e parecer-nos a ele já aqui nesta terra e depois, eternamente, no céu. O erro da serpente não estava nesta afirmação – sereis como deuses – mas no método para alcançar esse objetivo. A serpente demoníaca, propôs o orgulho e a desobediência para alcançar a divinização. Nada mais contraditório! O caminho é justamente outro: a humildade e a obediência acompanhadas da mais nobre de todas as virtudes, a caridade e isso só alcançamos com muito trabalho e dedicação. Não esqueçamos de que antes de contemplarmos o Cristo da glória, nós o veremos coroado de espinhos. A glória dos santos é fruto de uma luta constante, feitas de pequenas vitórias que vão se somando ao longo da vida.
Santidade! Esse é o segredo que o cristão deve ter para aproximar muitas pessoas de Deus. E ser santo não é não pecar, mas lutar para não pecar. A santidade não uma virtude os fortes, mas dos humildes. Porém, não confundamos a santidade como uma coisa esquisita, rara, estranha. O santo come, trabalha, saí com os amigos, vai à praia. Na verdade, os santos são pessoas verdadeiramente normais porque a vivência das virtudes humanas (prudência, justiça, fortaleza, temperança etc.) e sobrenaturais (fé, esperança e caridade) vai não somente divinizá-los, mas também, humanizá-los cada vez mais.
Hoje, num mundo de tantas contradições, ser santo é estar inseridos na vida real da sociedade. É preciso ser santo lá onde às vezes, o padre não entra, isto é, na minha casa, no meu condomínio, no meu trabalho, na minha escola, na minha academia, na minha associação politica, no fórum de justiça, enfim, em todas as camadas da vida, ou seja, onde o protagonismo dos leigos é imperativo para transformar as estruturas deste mundo. 


Pe. Fantico Borges, CM 

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

HOMÍLIA DO PE. FANTICO BORGES - MISSA DOS FIÉIS DEFUNTOS

HOMÍLIA DO PE. FANTICO BORGES  -  MISSA DOS FIÉIS DEFUNTOS

Nascidos para a vida eterna em Cristo!
O que celebramos hoje não é a morte, mas a vida eterna plenamente realizada para nossos parentes, amigos e benfeitores que já partiram para morada de Deus. O que se afirma nesta liturgia é a doutrina da igreja, na qual se proclama a tendência escatológica da comunidade cristã, que começa aqui na terra e culmina no céu. O magistério do Concílio Vaticano II ensina que antes, da vinda do Senhor os fiéis vivem em três grupos distintos: os que ainda peregrinam nesta terra, os que se purificam depois da morte (com alusão a doutrina do purgatório) e os que já estão glorificados na visão beatífica. Há, todavia, entre os três grupos, comunicação de bens espirituais, pois todos vivem a mesma vida da graça, unidos entre si a Cristo. Mas os do céu, por estarem mais intimamente unidos a Cristo, têm também maior interesse por nós ainda peregrinos. Assim entre nós cristãos a prática de rezar pelos mortos é a compreensão de que a morte física não significa o fim, a interrupção do diálogo com a igreja celeste e aquela que “espera” o juízo final.   
O motivo desta celebração é a firme certeza que a morte não constitui o aniquilamento da vida. Ao contrário, é a partir da morte física que experimentamos a vida em sua plenitude. O ser humano, com a morte se abre ao infinito, na ilimitada onipresença do Espírito de Deus.
Para nós cristãos, a morte não é um acidente brutal, imprevisto, ou vingança do destino. Ela é, na verdade, uma desagregação dolorosa do físico, mas que conduz a uma nova etapa da vida – muito melhor,  sem dor e sofrimento. A morte é neste sentido, como afirmava Santo Ambrósio, um remédio que Deus colocou no mundo para sanar e abrandar o vale de lagrima que se tornou, por causa do pecado, a vida do homem na terra. A morte é o desabrochamento verdadeiro da vida, depois de uma existência terrena, marcada pela dor e a tentação. Ela consiste no ato mais pessoal da existência humana. A morte é uma realidade inevitável de nossa condição mortal, condição, essa, assumida por Jesus Cristo. Como nos diz nossa fé: “Se no batismo fomos sepultados com Cristo para vivermos na fé, certos de que com Cristo Senhor haveremos de ressuscitar, passando para o Reino de paz e de felicidade na Companhia dos Santos”. Como cantamos no prefácio da missa aos fiéis defunto: “em Cristo brilhou para nós a esperança da feliz ressurreição. E se a certeza da morte, ainda nos entristece, a promessa da imortalidade nos consola”.
Quem duvidaria que a morte é uma companheira inseparável? A morte consiste numa realidade tão presente em nós quanto a vida. Ela não é uma vingativa ação de Deus, nem uma frustrada interrupção de nossos sonhos. Na verdade, a morte constitui em nosso corpo físico algo inevitável, porque para viver morremos todos os dias. Mas o livro da Sabedoria orienta precisamente o que consiste a morte na vida de um justo: “Sabeis meus irmãos que a vida dos justos está nas mãos de Deus. Nenhum tormento os atingirá...”(Sb3,1-3). Ora, se a vida do justo está nas mãos de Deus, a quem temer? O que temer? Agora, outra, é a sorte dos que não se colocam nãos mãos de Deus! A morte para quem não se comporta como justo, diante do Senhor, é um tormento, um fim trágico.   
Como dói e preocupa vê hoje, um mundo que se prepara para tudo, menos para o grande encontro com Deus. Para quem não se prepara com uma vida reta, justa e fiel diante de Deus e dos irmãos a morte pode significar um aniquilamento. Pensemos assim: para o encontro definitivo devemos escolher a melhor veste, banhar-nos com o melhor perfume! Qual é esse perfume e essa veste que devemos usar? São nossas boas obras em favor da vinda do Reino.
A nossa fé nós diz que fomos sepultados com Cristo para com ele ressuscitamos na glória. A atitude de Jesus ao encontrar-se com Maria, irmã de Lázaro, é exatamente essa: lembrá-la, naquele momento de dor e saudade, que aos crentes a vida não é tirada, mas transformada e quem acreditar verá a glória de Deus.  Para quem não crer o túmulo permanece fechado, contudo aos que creem a pedra que os impedia de viver é retirada. E se pode escutar a voz suave e terna de nossa Salvador: Vem para fora, vem para vida!
O banquete eucarístico que devotamente celebramos já é sinal antecipado dessa vida nova que nos espera após nossa partida deste mundo. O ato celebrativo que hoje realizamos é ato memorial e sacramental das promessas salvíficas. Memorial, pois lembra o evento pascal, e as palavras do próprio Jesus Cristo: “vou preparar-vos um lugar e quando estiver preparado, voltarei e os levarei, para que onde eu estiver estejais-vos também”. Sacramental, porque realiza, no aqui e agora de nossa existência, de forma antecipada, tudo aquilo que na outra vida resplandecerá em plenitude.  
Eu posso imaginar o sentimento de saudade que invade o coração daqueles que perderam seus parentes. Contudo lembra São Paulo que “os sofrimentos da vida presente não tem comparação alguma com a glória que se manifestará em nós” (Rm 8,18).
Ó Deus, escutai com bondade as nossas preces e aumentai a nossa fé no Cristo ressuscitado, para que seja mais viva a nossa esperança na ressurreição dos mortos. Amém!

Pe. Fantico Borges, CM




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Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C) Um homem vem a Jesus pedindo que diga ao irmão que reparta consigo a herança. Depois ...