domingo, 7 de janeiro de 2018

Homilia da Solenidade da Epifania do Senhor – 2018

Vimos adorar o menino-Deus!

Hoje se celebra a Epifania do Senhor. O termo grego tem o significado de auto-comunicação, entrada poderosa no campo da notoriedade e referencia-se à chegada de um rei. Também o termo servia para manifestação de uma divindade ou de alguma intervenção prodigiosa divina. Já no campo da fé a epifania entra desde II século com o qual se comemorava a celebração da vinda do Senhor.
A epifania marca a fase final do ciclo natalino. Celebra a manifestação de Deus ao mundo, na figura dos reis magos que, representando o mundo inteiro, vão adorar o menino Jesus em Belém. A liturgia, neste sentido, retorna o tema da luz – luz que brilha não só para o povo oprimido de Israel – como manifesta a leitura de Isaias –, mas para todos os povos, segundo a visão do profetismo universalista que escreveu o final de Isaias. Jerusalém, restaurada depois do exilio da Babilônia, é vista como centro para o qual convergem as caravanas do mundo inteiro. Essa visão recebe um sentido pleno quando os magos vindos do oriente procuram o Messias nascido de Davi – nos arredores de Jerusalém, em Belém, cidade de Davi. E nesta visão São Paulo complementa que a vinda de Jesus não é benção apenas para Israel, mas também para todos, para os pagãos, os povos distantes.
Belém representa a comunidade-testemunho, não apenas o lugar oficial de Davi, lugar do império de Herodes. Ela é centro do mundo, não para si mesma, mas para quem  procura o agir de Deus. Não em Roma, nem em Jerusalém de Herodes, mas em Belém do presépio é que a estrela parou. Com isso Deus quer mostrar que a manifestação do reino não depende do poder humano, mas da força da graça de Deus. Diz São Leão Magno que quando os reis magos vieram adorar a Jesus, “eles não o viram expulsando a demônios, ressuscitando aos mortos, dando visão aos cegos, curando os aleijados, dando a faculdade de falar aos mudos, ou qualquer outro ato que revelava seu poder divino; mas viram a um menino que guardava silêncio, tranquilo, confiado aos cuidados de sua mãe” (São Leão Magno, Sermão sobre a Epifania).   
Ao significado dos três presentes que os reis levaram ao Menino Jesus: ouro, incenso e mirra, estão ali representados o significado da vida de Jesus no mundo.  Ao rei, o ouro; incenso a Deus deitado no presépio, mirra ao homem que morreria por nós.  Jesus é Deus, Homem e Rei. E, nessa sociedade que, entre outras coisas, coloca Deus em plano inferior Jesus quer reinar, deseja a adoração das suas criaturas, quer que os homens e as mulheres valorizem mais o ser humano como tal, que a pessoa humana não pise a própria dignidade. Por isso, quando vemos que homens envaidecidos pela sabedoria mundana, e apartados da fé de Jesus Cristo, são arrancados pelos pecados, da presença graça de Deus, e, por isso tratam mal seus semelhantes, só temos que pensar na necessidade de olhar para a estrela que guiou os magos e seguirmos o caminho do presépio, que nos levará à humilde cena do menino deitado no feno.   
Como os reis magos, tampouco nós iremos de mãos vazias ao encontro do Senhor; ao contrário, levaremos presentes ao Menino Jesus: a nossa adoração já que ele é Deus; as nossas reparações, que desejamos que estejam simbolizadas na mirra, àquele que morrerá pelos nossos pecados; levaremos ainda os propósitos de viver melhor como homens e como mulheres, como filhos e filhas de Deus, reconhecendo a alta dignidade que recebemos e à qual somos chamados. Alegramo-nos com “profunda alegria” (Mt 2,10) ao ver a estrela de Belém, isto é, ao ver esse Menino que iluminou a nossa vida e nos deu a missão de iluminar a dos outros, não com outra luz, mas com a sua. Efetivamente, com a vinda do Filho de Deus, todos, sem distinção, podem caminhar segundo Deus. Todos somos filhos de Deus, todos somos irmãos.
Nós, os cristãos, temos que manifestar aos outros o sentido das suas próprias vidas através da consciência e da vivência do autêntico sentido da existência. Todos precisam saber o porquê estão nesse mundo: para amar, adorar e glorificar a Deus, para receber os grandes presentes que o Senhor quis trazer-nos, para vivermos como irmãos. Nós fomos criados para a felicidade. Deus quer que sejamos felizes também aqui na terra e, depois, no céu… para sempre!
São Boaventura afirmava que a estrela que nos conduz a Jesus é triple: “a Sagrada Escritura, que temos que conhecê-la muito bem. A outra estrela é a aquela que sempre nos está facilitando andar pelas sendas de Deus fazendo-nos ver e acertar o caminho, esta estrela é a Mãe de Deus, Maria. A terceira estrela é interior, pessoal, e são as graças do Espírito Santo”.
E se quiséssemos considerar atentamente como possível, para todos os que se aproximam a Cristo pelo caminho da fé, aquela tríplice classe de dons, não descobriríamos que esta oferenda se realiza no coração de quantos retamente creem no Cristo? Retire efetivamente ouro do tesouro de seu coração quem reconhece a Cristo como rei no universo; oferece mirra quem crê que o unigênito de Deus assumiu uma verdadeira natureza humana; venera a Cristo com uma espécie de incenso quem confessa que ele em nada é diferente da majestade do Pai. Tudo isso munido de uma vida perpassada pelas ações de caridade, promoção da vida, arações contates, frequência a confissão e participação regular à eucaristia.


Pe. Fantico Borges, CM

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