Homilia da Solenidade da Epifania do Senhor – 2018
Vimos adorar o menino-Deus!
Hoje se celebra a Epifania do Senhor. O termo grego
tem o significado de auto-comunicação, entrada poderosa no campo da notoriedade
e referencia-se à chegada de um rei. Também o termo servia para manifestação de
uma divindade ou de alguma intervenção prodigiosa divina. Já no campo da fé a
epifania entra desde II século com o qual se comemorava a celebração da vinda
do Senhor.
A epifania marca a fase final do ciclo natalino. Celebra
a manifestação de Deus ao mundo, na figura dos reis magos que, representando o
mundo inteiro, vão adorar o menino Jesus em Belém. A liturgia, neste sentido,
retorna o tema da luz – luz que brilha não só para o povo oprimido de Israel – como
manifesta a leitura de Isaias –, mas para todos os povos, segundo a visão do
profetismo universalista que escreveu o final de Isaias. Jerusalém, restaurada
depois do exilio da Babilônia, é vista como centro para o qual convergem as
caravanas do mundo inteiro. Essa visão recebe um sentido pleno quando os magos
vindos do oriente procuram o Messias nascido de Davi – nos arredores de
Jerusalém, em Belém, cidade de Davi. E nesta visão São Paulo complementa que a
vinda de Jesus não é benção apenas para Israel, mas também para todos, para os
pagãos, os povos distantes.
Belém representa a comunidade-testemunho, não
apenas o lugar oficial de Davi, lugar do império de Herodes. Ela é centro do
mundo, não para si mesma, mas para quem
procura o agir de Deus. Não em Roma, nem em Jerusalém de Herodes, mas em
Belém do presépio é que a estrela parou. Com isso Deus quer mostrar que a
manifestação do reino não depende do poder humano, mas da força da graça de
Deus. Diz São Leão Magno que quando os reis magos vieram adorar a Jesus, “eles não
o viram expulsando a demônios, ressuscitando aos mortos, dando visão aos cegos,
curando os aleijados, dando a faculdade de falar aos mudos, ou qualquer outro
ato que revelava seu poder divino; mas viram a um menino que guardava silêncio,
tranquilo, confiado aos cuidados de sua mãe” (São Leão Magno, Sermão sobre a
Epifania).
Ao significado dos três presentes que os reis
levaram ao Menino Jesus: ouro, incenso e mirra, estão ali representados o
significado da vida de Jesus no mundo. Ao
rei, o ouro; incenso a Deus deitado no presépio, mirra ao homem que morreria
por nós. Jesus é Deus, Homem e Rei. E,
nessa sociedade que, entre outras coisas, coloca Deus em plano inferior Jesus
quer reinar, deseja a adoração das suas criaturas, quer que os homens e as
mulheres valorizem mais o ser humano como tal, que a pessoa humana não pise a
própria dignidade. Por isso, quando vemos que homens envaidecidos pela
sabedoria mundana, e apartados da fé de Jesus Cristo, são arrancados pelos pecados,
da presença graça de Deus, e, por isso tratam mal seus semelhantes, só temos
que pensar na necessidade de olhar para a estrela que guiou os magos e
seguirmos o caminho do presépio, que nos levará à humilde cena do menino
deitado no feno.
Como os reis magos, tampouco nós iremos de mãos
vazias ao encontro do Senhor; ao contrário, levaremos presentes ao Menino
Jesus: a nossa adoração já que ele é Deus; as nossas reparações, que desejamos
que estejam simbolizadas na mirra, àquele que morrerá pelos nossos pecados;
levaremos ainda os propósitos de viver melhor como homens e como mulheres, como
filhos e filhas de Deus, reconhecendo a alta dignidade que recebemos e à qual
somos chamados. Alegramo-nos com “profunda alegria” (Mt 2,10) ao ver a estrela
de Belém, isto é, ao ver esse Menino que iluminou a nossa vida e nos deu a
missão de iluminar a dos outros, não com outra luz, mas com a sua.
Efetivamente, com a vinda do Filho de Deus, todos, sem distinção, podem
caminhar segundo Deus. Todos somos filhos de Deus, todos somos irmãos.
Nós, os cristãos, temos que manifestar aos outros o
sentido das suas próprias vidas através da consciência e da vivência do
autêntico sentido da existência. Todos precisam saber o porquê estão nesse
mundo: para amar, adorar e glorificar a Deus, para receber os grandes presentes
que o Senhor quis trazer-nos, para vivermos como irmãos. Nós fomos criados para
a felicidade. Deus quer que sejamos felizes também aqui na terra e, depois, no
céu… para sempre!
São Boaventura afirmava que a estrela que nos
conduz a Jesus é triple: “a Sagrada Escritura, que temos que conhecê-la muito
bem. A outra estrela é a aquela que sempre nos está facilitando andar pelas
sendas de Deus fazendo-nos ver e acertar o caminho, esta estrela é a Mãe de
Deus, Maria. A terceira estrela é interior, pessoal, e são as graças do
Espírito Santo”.
E se quiséssemos considerar atentamente como possível,
para todos os que se aproximam a Cristo pelo caminho da fé, aquela tríplice classe
de dons, não descobriríamos que esta oferenda se realiza no coração de quantos
retamente creem no Cristo? Retire efetivamente ouro do tesouro de seu coração
quem reconhece a Cristo como rei no universo; oferece mirra quem crê que o unigênito
de Deus assumiu uma verdadeira natureza humana; venera a Cristo com uma espécie
de incenso quem confessa que ele em nada é diferente da majestade do Pai. Tudo isso
munido de uma vida perpassada pelas ações de caridade, promoção da vida,
arações contates, frequência a confissão e participação regular à eucaristia.
Pe. Fantico Borges, CM
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