sábado, 29 de dezembro de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – Domingo da Sagrada Família


Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – Domingo da Sagrada Família

No Domingo após o Natal celebra-se a festa da Sagrada Família Jesus, Maria e José. Deus quis manifestar-se aos homens integrado numa família humana. Essa Família se torna modelo para toda família humana. Deus quis nascer numa família, quis transformar a família num presépio vivo. Pode-se dizer que hoje celebramos o verdadeiro Dia da Família!
A Palavra de Deus em (Eclo. 3, 3 – 7. 14 – 17) lembra aos filhos o dever de honrarem pai e mãe, de socorrê-los e compadecer-se deles na velhice, ter piedade, isto é, respeito e dedicação para com eles; isto é cumprimento da vontade de Deus. Num mundo tão individualista a gratidão é um sinal profundo de amor a Deus e obediência à sua vontade.
Na segunda leitura, São Paulo, em Cl 3, 12 – 21, enumera as virtudes que devem reinar na família: sentimentos de compaixão, de bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportar-se uns aos outros com amor, perdoar-se mutuamente. Revestir-se de caridade e ser agradecidos. Se a família não estiver alicerçada no amor cristão, será muito difícil a sua perseverança em harmonia e unidade de corações. Quando esse amor existe, tudo se supera, tudo se aceita; mas, se falta esse amor mútuo, tudo se faz sumamente pesado. E o único amor que perdura, não obstante os possíveis contrastes no seio da família, é aquele que tem o seu fundamento no amor de Deus.
A Sagrada Família é proposta pela Igreja como modelo de todas as famílias cristãs: na casinha de Nazaré, Deus ocupa sempre o primeiro lugar e tudo Lhe está subordinado. Os lares cristãos, se imitarem o da Sagrada Família de Nazaré, serão lares luminosos e alegres, porque cada membro da família se esforçará em primeiro lugar por aprimorar o seu relacionamento pessoal com o Senhor e, com espírito de sacrifício, procurará ao mesmo tempo chegar a uma convivência cada dia mais amável com todos os da casa.
A família é escola de virtudes e o lugar habitual onde devemos encontrar a Deus.
Cada lar cristão tem na Sagrada Família o seu exemplo mais cabal; nela, a família cristã pode descobrir o que deve fazer e como deve comportar-se, para a santificação e a plenitude humana de cada um dos seus membros. Diz o Papa Paulo VI: “Nazaré é a escola onde se começa a compreender a vida de Jesus: a escola do Evangelho. Aqui se aprende a olhar, a escutar, a meditar e a penetrar o significado, tão profundo e tão misterioso, dessa muito simples, muito humilde e muito bela manifestação do Filho de Deus entre os homens. Aqui se aprende até, talvez insensivelmente, a imitar essa vida”.
Quando os pais de Jesus começam a procura-lo entre os vizinhos e parentes não o encontra. Somente é encontrado no templo em meio aos doutores da lei. Isso nos ensina que o lugar onde devemos procurar Jesus é na Igreja, na comunidade. A Sagrada Família que é um espaço de intimidade com Deus, sabe que Deus está no templo de Jerusalém. Aqui é a casa de Deus e seu amor se manifesta pela obediência e respeito.     
A família é a forma básica e mais simples da sociedade. É a principal escola de todas as virtudes sociais. É a sementeira da vida social, pois é na família que se pratica a obediência, a preocupação pelos outros, o sentido de responsabilidade, a compreensão e a ajuda mútua, a coordenação amorosa entre os diversos modos de ser. Está comprovado que a saúde de uma sociedade se mede pela saúde das famílias. Esta é a razão pela qual os ataques diretos à família (como divórcio, aborto, união de pessoas do mesmo sexo) são ataques diretos à própria sociedade, cujos resultados não tardam a manifestar-se.
O Messias quis começar a sua tarefa redentora no seio de uma família simples, normal. O lar onde nasceu foi a primeira realidade humana que Jesus santificou com a sua presença.
Hoje, de modo muito especial, pedimos à Sagrada Família por cada um dos membros da nossa família e pelo mais necessitado dentre eles.
Maria, Rainha da Família, rogai por nós!

Pe. Fantico Borges, CM


segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Homilia Pe. Fantico Borges, CM – Missa de Natal


Homilia Pe. Fantico Borges, CM – Missa de Natal

Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo a carne!

Nasceu Jesus, é natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo a carne! Vida nova que brota do amor misericordioso de Deus. Aos homens que viviam nas sombras do pecado, marcados pelas trevas dos erros, nasceu uma nova luz, uma luz resplandeceu para todos! Essa mensagem fez crescer a alegria e aumentou a certeza da nossa felicidade.
Todos são chamados a regozijar-se em Deus, contemplando a sua presença no presépio. Como alegres pessoas que descobriram um tesouro ou ganhadores de uma loteria, a satisfação invade os corações de quem descobriu o verdadeiro sentido do natal.
Nasceu hoje para vós o Salvador! Por isso, nesta noite não cabe tristeza, não cabe amargura ou rancor. Deus veio visitar-nos e perdoar nossa divida. Alegria e exultação, festa e jubilo felicidade e amor são esses nossos sentimentos hoje! Abramos nosso coração, abramos nossa vida, nossos afetos, nossos sentimentos, nossos projetos para o mistério deste dia de natal.
Belém se faz aqui, hoje, é dia da gente se encontrar, é dia de renascer, o senhor conosco quer morar! Por Ele os anjos cantam jubilosos, os coros dos santos exultam de alegria! O anjo de Deus vem dizer-nos novamente: não tenhais medo! Hoje na cidade de Davi, nasceu para vós o salvador, que é Cristo Senhor.
Juntemos nossa voz a voz dos anjos no céu a cantar: glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens por ele amados! Essa mensagem de paz é o símbolo mais concreto do natal. Num mundo que patrocina a guerra, numa cultura de ameaças, verbalizando um contexto de guerra, onde falta caridade e sobra arrogância, a passagem do natal quer ser uma palavra de protesto. Como cristãos não podemos nos calar diante da violência que mata tantas pessoas, que aborta tantas vidas inocentes. Os cristãos não podem mais calar em meio aos escândalos de corrupção de ceifam sonhos e massacram os pobres. Não podemos aceitar passivamente que matem crianças que não chegarão a conhecer a luz da vida. Não podemos concordar com uma cultura de morte que massacra milhares de vidas. Enquanto hoje muitos vão para casa comer e celebrar o natal pense nos milhares de irmãos refugiados que não têm um teto para descansar, uma escola para estudar, um local para trabalhar. Pense nos tantos irmãos venezuelanos que fogem da miséria de seu país. Como será para eles o natal? Que tempo da graça eles podem vislumbrar? Não podemos aceitar que uma américa cristã conviva com a violência sem fim.
   Despojemo-nos, portanto, do velho homem com atos perversos e renunciemos as discórdias. Partilhemos o amor e um pouco dos nossos bens com os que nada têm e façamos do natal a festa da solidariedade. Desde encarnação do Filho de Deus já participamos da natureza divina, não voltemos à escuridão por comportamentos indignos de Cristo. Lembremos de que cabeça e de qual corpo fazemos parte!  
Neste momento em que o criador se faz criatura é necessária as palavras de Santo Agostinho: “Expergiscere, homo: quia pro te Deus factus est homo - Desperta, ó homem, porque por ti Deus se fez homem!  Por tua causa Deus se fez homem. Estarias morto para sempre, se ele não tivesse nascido no tempo. Jamais te livrarias da carne do pecado, se ele não tivesse assumido uma  carne semelhante à do pecado. Estarias condenado a uma eterna miséria, se não fosse a sua misericórdia. Não voltarias à vida, se ele não tivesse vindo ao encontro da tua morte. Terias perecido, se ele não te socorresse. Estarias perdido, se ele não viesse salvar-te". Agradeça a Deus sua infinita misericórdia por ti construindo, já aqui e agora, na cidade dos homens, a cidade de Deus!

Pe. Fantico Borges, CM

sábado, 17 de novembro de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – XXXIII Domingo do Tempo Comum – Ano B


Homilia do Pe. Fantico Borges, CM –  XXXIII Domingo do Tempo Comum – Ano B

Onde há Cristo sempre haverá esperança!

A liturgia deste domingo, o penúltimo do tempo comum de 2018, fala da volta de Cristo manifesta nos sinais dos tempos que antecedem a segunda vinda de Jesus. O próximo domingo, dia 25, será o Domingo de Cristo Rei, ou seja, a festa da vitória, o trunfo do reinado de Jesus Cristo.
Na primeira leitura é clara a convicção do autor que existe vida após a morte e que todos ressuscitarão uns para felicidade eterna outros para opróbio eterno. Neste sentido, a Palavra de Deus convida-nos a meditar no fim último do homem, no seu destino derradeiro. A meta final, para onde Deus nos conduz, faz nascer em nós a esperança e a coragem para enfrentar as adversidades e lutar pelo advento do Reino. Jesus deseja animar a todos que confiam em Deus a não desanimarem diante das dificuldades existentes.
O Profeta Daniel (Dn 12, 1-3) mostra o povo judeu oprimido sob a dominação dos gregos. Muitos judeus, apavorados pela perseguição, abandonavam até a fé. O objetivo do livro de Daniel é animar o povo a resistir diante dos opressores e lembrar que a vitória final será dos justos que perseverarem fiéis. É a primeira profissão de fé na Ressurreição, que se encontra na Bíblia. É interessante notar que existe uma relação com a vinda de Miguel, o defensor e Jesus o Filho do Homem que vem para reunir os eleitos de Deus.
No Evangelho (Mc 13, 24-33) no discurso escatológico, Jesus ensina como os seus discípulos devem viver no tempo que vai de sua elevação da terra até o seu retorno glorioso. Jesus anuncia a destruição de Jerusalém e o começo de uma nova era, com a sua vinda gloriosa após a ressurreição. A intenção não era assustar, mas conduzir a comunidade a discernir os fatos catastróficos e o futuro da comunidade cristã dentro da história.
O importante não é pensar no fim do mundo, mas no início de uma nova mentalidade no mundo, ou seja, um mundo onde os valores humanos são respeitados e Deus não é usado para salvaguardar privilégios de uns poucos predestinados. Jesus manifesta com seu modo de ser que Deus está do lado dos justos, que cumprem a vontade de Deus. Não importa saber o dia e hora, o que é essencial é está sempre preparado para este dia. Portanto, o mais importante não é saber quando isso irá acontecer, mas sim estar vigilantes e preparados para ele. O cristão não pode ficar de braços cruzados, esperando que as coisas simplesmente aconteçam. O Papa Francisco chama toda Igreja a olhar para mundo e ver os sinais dos tempos. Ser cristão e não olhar para realidade humana é não compreender o sentido real do Cristo. Ele se fez carne, gente, entrou no mundo e a partir dele salvar o homem integralmente.
A vida é realmente muito curta e o encontro com Jesus está próximo. Mas não se pode dizer Ele está aqui ou Ele está ali! Jesus está em nós. Essa certeza evangélica ajuda-nos a desprender-nos dos bens que temos e aproveitar o tempo para ser mais útil aos outros. Como diz o ditado popular: “quem não vive para servir não serve para viver”.  
Neste domingo dia 18 de novembro o Santo Padre Papa Francisco instituiu o dia internacional do pobre. Com esse dia, na verdade, o Papa quer alertar a todos os cristãos e a toda gente de boa vontade, que temos muitos irmãos e irmãs, filhos de Deus, amados por Jesus, eleitos e convocados ao Reino que vivem esquecidos como se não existissem. Pessoas que como nós tem esperança em Cristo, mas estão isolados do outro lado do muro que separa os poucos ricos dos muitos pobres. É uma vergonha que nossa cultura cristã ou cristianizada ainda fabrique tanta pobreza e injustiça. Mais que um dia para dar um prato de comida para um pobre, a ideia procurar visibilizar que existem muitos milhares de pessoas passando fome e morrendo todos os dias sem assistência alguma.

Pe. Fantico Borges, CM

sábado, 18 de agosto de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM na Festa da Assunção de Nossa Senhora.


Homilia do Pe. Fantico Borges, CM na Festa da Assunção de Nossa Senhora.


Maria no céu de corpo e alma é nossa esperança!

Essa festa solene deste domingo é a repleta da certeza daquela esperança da salvação eterna, da qual Jesus prometeu para todos os que permanecerem fiéis até o fim. Esperamos conseguir do Senhor o que Maria, sinal glorioso da Igreja, já conseguiu. Esperamos estar completos, corpo e alma, com o Senhor. Ao contemplar a Mãe de Deus de maneira tão gloriosa no dia de hoje, os nossos corações se enchem de luz e de esperança. Deus cuida de nós e nos conduz cada vez mais à sua vida divina.
A teologia patrística da Igreja, especialmente, São João Damasceno, fala com clareza da existência da incorruptibilidade do corpo de Nossa Senhora. Por isso, afirma a dormição de Maria.  Para a antiga compreensão “dormição” não significava necessariamente ausência de morte, mas um estado de sono que o corpo entrava. Outro defensor da Assunção de Nossa Senhora na Idade Média foi o assim chamado “Pseudo-Agostinho” (século IX); também Baldo de Ubaldi, no século XV,  foi um grande defensor desta verdade de fé. Finalmente, o Papa Pio XII definiu solenemente o dogma da Assunção no dia 1 de novembro de 1950 através da Constituição “Munificentissimus Deus”. Inclusive o nome desta constituição deixa claro que se trata de uma graça de Deus “munificentissimus”, isto é, generosíssimo.  Uma graça tal que é um privilégio: Maria recebeu o privilégio de que nela fosse antecipado aquilo que acontecerá com todos os eleitos. Para São João Damaceno: “ Convinha que aquela que guardara ilesa a virgindade no parto, conservasse seu corpo, mesmo depois da morte, imune de toda corrupção. Convinha que aquela que trouxera no seio o Criador como criancinha fosse morar nos tabernáculos divinos.” A compreensão que Maria está no céu de corpo e alma casa-se muito bem com a altíssima missão que lhe coubera na economia salvífica de Deus.
O Papa Pio XII declara então “que é dogma divinamente revelado: que a Imaculada Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, ao término de sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória do céu”. É interessante que antes do Papa definir o quarto dogma sobre Nossa Senhora, ele recorde os outros três: Mãe de Deus, sempre Virgem (antes, durante e depois do parto), Imaculada. Pio XII não diz se Maria, antes de ser elevada ao céu, morreu ou não: isso continua como tema aberto à livre discussão teológica, isto é, pode-se defender uma ou outra coisa. O que todos devem reter como doutrina de fé solenemente definida é que ela, Nossa Senhora, foi elevada em corpo e alma aos céus, antecipadamente, como privilégio.
Essa certeza dogmática que Maria já alcançou a graça redentora de seu Filho é a nossa maior esperança da vida eterna aberta por Jesus no altar da cruz. A esperança é virtude sobrenatural, teologal, uma disposição plantada pelo Senhor na nossa alma que nos une a ele através da vontade, do desejo. Esperamos em Deus e nos auxílios (graças) que ele nos concede para alcançá-lo. Temos a firme esperança de chegar ao céu, à bem-aventurança eterna. É nesse sentido que a Assunção de Maria nos anima a continuar com os olhares fixos na meta: uma como nós conseguiu aquilo que nós conseguiremos. O nosso caminho rumo ao céu já foi realizado por uma da nossa raça. Assim como ela chegou lá por graça, também eu posso.
O que fazer, então, para está junto com Maria na glória de Deus? Fazer tudo o que o Senhor nos disser. Há uma serie de indicações nos Evangelhos sobre aquilo que temos que realizar em nossa vida terrenal para chegar com Maria, os santos e santas ao céu. Tomemos duas orientações básicas: Amar a Deus acima de tudo, ou seja, nada, nem poder, honras, dinheiro, riquezas, títulos, são mais importantes do que a amizade com Deus. Tudo faça para ser amigo de Deus. A segunda orientação é amar o próximo como a si mesmo. Ninguém, em sã consciência, odeia sua própria carne, ou seja, ninguém que o mal para si. Então, é preciso desejar para o outro um amor no qual desejo para mim mesmo. Disto brota a caridade, a justiça, a lealdade, a hospitalidade, o respeito, etc.

Pe. Fantico Borges, CM


domingo, 12 de agosto de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – XIX Domingo do Tempo Comum – Ano B


Homilia do Pe. Fantico Borges, CM –  XIX Domingo do Tempo Comum – Ano B

A Eucaristia o alimentos dos que querem o Céu!

Na liturgia deste domingo, Jesus, Pão Vivo descido do céu, ocupa o lugar centro de toda meditação. A Liturgia da Palavra de hoje, toda ela orientada para a Eucaristia. A primeira leitura (1Rs 19, 4-8) fala do Profeta Elias que para se salvar do furor da rainha Jezebel, foge para o deserto. Durante a longa e difícil viagem, sentiu-se cansado e quis morrer. “Agora basta, Senhor! Tira minha vida, porque eu não sou melhor do que os meus pais. E, deitando-se no chão, adormeceu à sombra de Junípero  (uma árvore que tem como característica a longanimidade, veja a simbologia da imagem: Elias não quer mais viver e vai esperar a morte à sombra de uma árvore de vida longa). Mas o Anjo do Senhor o despertou, ofereceu-lhe pão e disse-lhe: Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a percorrer. Elias levantou-se, comeu e bebeu, e, com a força desse alimento, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao monte de Deus.” O monte representa o cume, a meta onde  profeta veria a Deus. Qual é o nosso Horeb? E caso já saibamos, lembremos que ainda precisarmos percorrer o nosso deserto quarenta dias e quarenta noites! O caminho era longo o profeta que não teria conseguido com as suas próprias forças, conseguiu-o com o alimento que o Senhor lhe proporcionou quando mais desanimado se sentia. Não será isso o mais sentido da eucaristia na vida do cristão? Com toda certeza sim!
O monte santo para o qual o Profeta se dirige é imagem do Céu, e o trajeto de quarenta dias representa a longa viagem que vem a ser a nossa passagem pela terra; uma viagem semeada também de tentações, cansaços e dificuldades, que por vezes nos fazem fraquejar o ânimo e a esperança e até pensar em desistir. Mas, de maneira semelhante ao Anjo, a Igreja convida-nos a alimentar a nossa alma com um pão totalmente singular, que é o próprio Cristo, presente na Sagrada Eucaristia. Nele encontramos sempre as forças necessárias para chegarmos até o Céu, apesar da nossa fraqueza. Diz Jesus no Evangelho: “Eu sou o Pão da Vida! Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu darei e a minha carne, dada para a vida do mundo” (Jo 6,51).
Hoje, o Senhor recorda-nos vivamente a necessidade que temos de recebê-Lo na Sagrada Comunhão para podermos participar da vida divina, para vencermos as tentações, para que a vida da graça recebida no Batismo se desenvolva em nós. A Eucaristia é corpo e sangue, alma e divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.  Por isso, o maior sacramento, o centro e cume de toda atividade eclesial. Para Eucaristia tudo converge na Igreja. Bem definiu São João Paulo II ao afirmar que a Igreja nasce da Eucaristia e vive dela. A presença real de Cristo dá a este sacramento uma eficácia sobrenatural infinita. É por isso, que diante da Eucaristia toda reverência e adoração. A Eucaristia é de fato um alimento do Céu para nossa vida, mas é também uma realidade à ser adorada.  
Na Comunhão, o poder divino ultrapassa todas as limitações humanas, porque sob as espécies eucarísticas recebemos o próprio Cristo indiviso. O amor atinge a máxima expressão neste sacramento, pois é a plena identificação com Aquele que tanto se ama a quem tanto se espera. “Assim como quando se juntam dois pedaços de cera e com o fogo se derretem, dos dois se forma uma só coisa, assim também é o que acontece pela participação do Corpo de Cristo e do seu precioso Sangue” (São Cirilo de Alexandria). É o que diz Jesus: “Como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por meio do Pai, assim aquele que de mim se alimenta viverá por meio de mim” (Jo 6, 57).
A alma nunca deixará de dar graças se se recordar com frequência da riqueza deste sacramento. A Eucaristia produz na vida espiritual efeitos parecidos aos do alimento material, em relação ao corpo. Fortalece-nos e afasta de nós a debilidade e a morte: o alimento eucarístico livra-nos dos pecados veniais, que causam a debilidade e a doença da alma, e preserva-nos dos mortais, que ocasionam a morte. Tal como o alimento natural permite que o corpo cresça, a Eucaristia aumenta a santidade e a união com Deus, “porque a participação do corpo e do sangue de Cristo não faz outra coisa senão transfigurar-nos naquilo que recebemos” (São Cirilo de Alexandria).
A Comunhão ajuda-nos a santificar a vida familiar; incita-nos a realizar o trabalho diário com alegria e perfeição; fortalece-nos para enfrentarmos com garbo humano e sentido sobrenatural as dificuldades e tropeços da vida diária. Nunca deixemos de participar da sagrada Eucaristia por nada. Que nunca exista em nós a ideia de trocar o encontro com Cristo eucarístico por nenhum fato no qual jamais deixaríamos de realizarmos as coisas mais importantes do nosso dia a dia. Que a fome de Deus em nós supere a gula, a vaidade de gastarmos mais tempo nas academias do que aos pés do santíssimo.
Hoje, dia dos pais iniciamos a Semana Nacional da Família, com a qual a Igreja pretende fazer redescobrir os valores da família; uma família, que a exemplo da Sagrada Família de Nazaré, seja a família que Deus quer; uma família, onde os filhos encontram a paz e a segurança tão desejada e tão necessária… Onde a vida seja valorizada e não usada como moeda eleitoreira. Nestes tempos de discursão sobre a não criminalização do aborto nossa voz seja a de Jesus: eu vim para que todos tenham vida. Que toda família cristã diga não ao aborto e sim a vida das crianças, que inocentes podem ser ceifadas pela falsa liberdade e dignidade humana de uma classe que se diz defensora da vida, mas deseja martas as crianças ainda no ventre. “

Pe. Fantico Borges, CM



domingo, 5 de agosto de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – XVIII Domingo do Tempo Comum – Ano B


Homilia do Pe.  Fantico Borges, CM – XVIII Domingo do Tempo Comum – Ano B


Cristo é o pão que dá a vida!
O caminho dos evangelhos é demonstrar que a vida de Jesus era fazer a vontade de Deus. Esse é o caminho também que vela ao alimento do céu: reconhecer naquele que Deus enviou o seu Pão descido do céu, sendo-lhe obediente. A pedagogia de Jesus é partir de uma realidade terrena e ambígua, para revelar-se a si mesmo como dom de Deus, assinalando por essa realidade para quem acredita no amor misericordioso do Senhor. A multidão que outrora viu no milagre do pão só fartura material (reflexão do Evangelho do domingo passado), em vez de um “sinal” da vida, procura Jesus para saciar a fome física. Todavia, o Senhor chama atenção para o alimento espiritual, que não perece e que eles não enxergaram na multiplicação dos pães. O acesso a esse alimento só alcançamos pela  fé no enviado de Deus. Ora, os judeus pedem um sinal, como o de Moisés, que fez descer o maná do céu. Jesus responde que não foi Moisés quem deu o pão do céu, pois o pão do céu é o que desceu do Pai e dá vida ao mundo. Os judeus ainda pensando em tom puramente material, pedem este pão que os dispensem de trabalhar. Então Jesus revela-se como o dom de Deus que vem do céu para a vida do mundo: Eu sou o pão do céu!
Essa reflexão da dialética entre o pão material e o pão do céu nos coloca diante de uma decisão profunda: quais alimentos buscaram aqueles judeus? Qual alimento eu busco na missa? O que sacia a fome emergencial, material ou aquele que dar sentido a existência humana? A liturgia de hoje é estruturada por essa oposição tipológica entre o maná, o pão do céu do AT e Jesus, o verdadeiro pão do céu do NT. Como o maná do AT também o pão multiplicado era apenas um sinal material, e quem o procura por seu valor material está perdendo o mais importante, ou seja, a verdadeira comida dos anjos, o pão de Deus feito homem e dado por alimento aos que creem em seu Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Depois da multiplicação dos pães, vendo que o povo não entendera sua real significação Jesus resolve ir à sozinho montanha, enquanto seus discípulos atravessavam de barco para outro lado. O povo, porém, tinha observado tudo isso. Procuraram, então, Jesus, no mesmo lugar onde se tinha realizado a multiplicação dos pães, mas não encontrando voltaram a Carfanaum, em outros barcos, e ai encontraram Jesus. Ficaram admirados com sua presença, porém, com a mesma superficialidade que os levou a ver apenas no sinal do pão multiplicado a satisfação de sua fome material. Acontece então o dialogo entre Jesus e aqueles homens, ainda obscurecidos na real intenção do Senhor,  pedem um sinal. Depois de Jesus esclarecer o verdadeiro alimento do céu, aqueles homens ainda sem entenderem pede que sempre lhes der desse pão para quem não sintam mais fome e não precisem trabalhar pelo sustento material.
Como somos difíceis e duros de coração para entender os projetos de Deus para nós? Jesus responde que o sinal não é Moisés, mas ele mesmo: “Eu sou o Pão da Vida” que faz o homem viver eternamente, quem come deste pão não morrerá jamais. É Cristo quem faz viver verdadeiramente, este é o centro da mensagem de hoje. Sem Cristo o ser humano é sempre um faminto, um sedento. Como dizia Santo Agostinho: “minha alma está inquieta, e só em Deus encontra repouso”. Neste sentido, Jesus não nos ensina coisas, mas se apresenta a nós, e na medida, que temos comunhão com ele, imbuindo-nos de seu modo de ser faz-nos viver realmente. Isso se manifestará na doação sem restrição, da qual ele nos deu exemplo na Eucaristia.
 “Cremos que a Missa, celebrada pelo sacerdote, que representa a pessoa de Cristo, em virtude do poder recebido no sacramento da Ordem, e oferecida por ele em nome de Cristo e dos membros do seu Corpo Místico, é realmente o Sacrifício do Calvário, que se torna sacramentalmente presente em nossos altares. Cremos que, como o Pão e o Vinho consagrados pelo Senhor, na última ceia, se converteram no seu Corpo e Sangue, que logo iam ser oferecidos por nós na Cruz; assim também o Pão e o Vinho consagrados pelo sacerdote se convertem no Corpo e Sangue de Cristo que assiste gloriosamente no céu. Cremos ainda que a misteriosa presença do Senhor, debaixo daquelas espécies que continuam aparecendo aos nossos sentidos do mesmo modo que antes, é uma presença verdadeira, real e substancial(cf. Concílio de Trento, Sessão 13, Decreto sobre a Eucaristia). “Neste sacramento Cristo não pode estar presente de outra maneira a não ser pela mudança de toda a substância do pão no seu Corpo, e pela mudança de toda a substância do vinho no seu Sangue, permanecendo apenas inalteradas as propriedades do pão e do vinho, que percebemos com os nossos sentidos. Esta mudança misteriosa é chamada pela Igreja com toda a exatidão e conveniência transubstanciação. Assim, qualquer interpretação de teólogos, buscando alguma inteligência deste mistério, para que concorde com a fé católica, deve colocar bem a salvo que na própria natureza das coisas, isto é, independentemente do nosso espírito, o pão e o vinho deixaram de existir depois da consagração, de sorte que o Corpo adorável e o Sangue do Senhor Jesus estão na verdade diante de nós, debaixo das espécies sacramentais do pão e do vinho(cf. ibid.; Paulo VI, Encíclica Mysterium Fidei), conforme o mesmo Senhor quis, para se dar a nós em alimento e para nos associar pela unidade do seu Corpo Místico(cf. Suma Teológica III, q. 73, a. 3)”. Portanto, o que viemos buscar na missa não é apenas uma satisfação da consciência humana, mas o próprio Cristo que do céu veio ao mundo para que todos tenham vida e vida em abundância.
Assim, todo mistério da fé que professamos em cada Eucaristia é sinal daquilo que Jesus disse hoje no Evangelho: Eu sou o pão da vida, quem comer desse pão viverá eternamente. Às vezes, as dores do tempo presente, a carência, a falta de confiança nas instituições humanas fazem perder a visão real da promessa cumprida nos bens eternos que Jesus revelou.  Fixamos a vida na busca de suprir as necessidades existências, e perdemos, às vezes, o sentido profundo da vida. Como tem gente que não tem tempo para viver a vida como dom e doação. Mergulhados nos bens materiais e na busca de acumular o que nunca levará consigo para eternidade perde de viver os poucos anos que a vida lhe oferece. Perde de sentir as emoções eternas, perde de sentir o sorriso de uma criança, perde de acompanhar sua família, enfim perde a vida.
Pensemos, nesta liturgia que, a vida é um dom de Deus, que devemos usá-la para ganhar a vida eterna, pois não só de pão vive o ser humano. Pensemos quanto tempo perdemos correndo atrás de um alimento perecível, desperdiçando o melhor de nossa juventude em vãs filosofias, enquanto o que mais importa é Deus. Quem possui a fé em Deus não lhe falta nada, pois Deus prover Ele proverá sua misericórdia não faltará.

Pe. Fantico Borges, CM

domingo, 29 de julho de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – XVII Domingo do Tempo Comum – Ano B


Homilia do Pe. Fantico Borges, CM  – XVII Domingo do Tempo Comum – Ano B

Ele nos dará o Pão do Céu

Na liturgia de hoje Jesus realiza em sua própria pessoa a promessa do Deus do antigo Israel de enviar um Profeta. Após o milagre da multiplicação dos pães aqueles homens afirmavam ser Jesus o Profeta esperado. Ora, a profecia fala de um profeta com grande poder e prodígios. No Israel antigo Eliseu foi capaz de em nome de Deus alimentar cem homens com vinte pães. Agora Jesus alimenta 5 mil homens com cinco pães e dois peixes. Quanto maior é o poder mais extraordinário é o milagre, lá estava a figura, aqui está a realidade; lá um profeta, aqui O Profeta; lá um homem, aqui um Deus que se fez homem.  
O relato de João deste domingo traz dois elementos importantes que serão compreendidos com a leitura do capitulo seguinte ao lido na missa de hoje. Aqui se fala de pão multiplicado para saciar a fome física, no capitulo seguinte Jesus dirá ser Ele o verdadeiro pão decido do céu. A fome humana é grande, a busca por saciar essa carência existencial faz, não poucas vezes, as pessoas esquecerem o mais importante, o mais essencial. Aquele povo vinha até Jesus porque viam muitos sinais e milagres que o Senhor realizava em favor dos doentes. Corriam atrás da cura física, mas deixavam passar despercebido o verdadeiro milagre: Deus está no meio de nós! Todavia, Deus sabe das nossas necessidades, conhece nossas carências e fragilidades, e como um pai amoroso antecipa-se diante da nossa falta de entendimento. Jesus viu aquela multidão e disse a Felipe: vamos dar de comer a essa gente! O senhor tem compaixão em ver o povo faminto e quer saciar sua fome. Qual é a fome que temos diante de Deus nos dias de hoje? O que buscamos na missa dominical?
Nosso Senhor multiplicou o pão no deserto, em Caná ele transformou a água em vinho. Assim os habituava ao seu pão e ao seu vinho, até o momento em que daria o seu corpo e o seu sangue como alimento aos homens. Explica-nos Santo Efrém que ele fez com que provassem um vinho e um pão passageiros para ocasionar neles o desejo do seu corpo e sangue vivificantes. Diz Efrém: que “ele deu-lhes com liberdade estas pequenas coisas, para que soubessem que o seu dom supremo seria dado de forma gratuita. Deu-lhes gratuitamente, embora pudessem comprá-los com o que tinham, para que eles compreendessem que não lhes exigiria pagamento por uma dádiva que não tem preço; de fato, se pudessem pagar o preço do pão e do vinho, certamente não poderiam pagar o preço do seu corpo e do seu sangue.” Na mesa de banquete da vida, não tem lugar para desigualdade social, cultural e econômica; aqui no altar do Senhor todos se alimentam, ficam saciados e ainda sobra.  
O milagre daquela tarde junto do lago manifestou o poder e o amor de Jesus pelos homens. Poder e amor que hão de possibilitar também, ao longo da história, que o Corpo de Cristo seja encontrado, sob as espécies sacramentais, pelas multidões dos fiéis que O procurarão famintas e necessitadas de consolo. Como diz São Tomás de Aquino: “… tomam-no um, tomam-no mil, tomam-no este ou aquele, mas não se esgota quando O tomam…”. Diz Santo Efrém que Jesus “não multiplicou o pão tanto quanto podia, mas o suficiente para os convidados.” O milagre não alcançou a medida de seu poder, mas foi de acordo com a fome dos famintos. Realmente, se o milagre fosse medido por seu poder, seria impossível avaliar-se o fruto deste sinal. Isso deixa claro que as coisas de Deus transcende nossa mente, nosso desejo. As vezes, vamos pedir e não sabemos, pedimos o que não precisamos. O senhor sabe o que precisamos e sacia nossa fome e sede.
O outro fato importante deste relato de hoje é a associação feita com a páscoa e a eucaristia cristã.  O relato do Milagre começa com as mesmas palavras e descreve os mesmos gestos com que os Evangelhos e São Paulo nos transmitem a instituição da Eucaristia (Mt 26, 26; Mc 14, 22; Lc 22, 19; 1Cor 11, 25). Esse milagre, além de ser uma manifestação da misericórdia divina de Jesus para com os necessitados, era figura da Sagrada Eucaristia, da qual o Senhor falaria pouco depois, na sinagoga de Cafarnaum (Jo 6, 26 – 59). Assim o interpretaram muitos padres da Igreja.
Salta-nos aos olhos a atitude dos começais após o milagre se aqueles homens, por um pedaço de pão – embora o milagre da multiplicação tenha sido muito grande –, se entusiasmam e Te aclamam, que não devemos nós fazer pelos muitos dons que nos concedeste, e especialmente porque Te entregas a nós, sem reservas, na Eucaristia ? O Concílio Vaticano II afirmou que o sacrifício eucarístico é “fonte e centro de toda a vida cristã. Na Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo” (L.G. 11 e PO. 5).
Na comunhão, recebemos Jesus, Filho de Maria, que naquela tarde realizou o grandioso milagre. Na Hóstia, possuímos o Cristo de todos os mistérios da Redenção: o Cristo de Maria Madalena, do filho pródigo e da Samaritana, o Cristo ressuscitado dos mortos, sentado à direita do Pai. Esta maravilhosa presença de Cristo no meio de nós deveria revolucionar a nossa vida! Ele está aqui, conosco: em cada cidade, em cada povoado, em casa capelinha, em cada eucaristia celebrada.
Jesus, realmente presente na Sagrada Eucaristia, dá a este sacramento uma eficácia sobrenatural infinita. A Santíssima Eucaristia é a doação máxima que Jesus Cristo fez de si mesmo, revelando-nos o amor infinito de Deus por cada homem. Na Eucaristia, Jesus não dá “alguma coisa”, mas dá-se a si mesmo; entrega o seu corpo e derrama o seu sangue. Graças à Eucaristia, a Igreja renasce sempre de novo! Quanto mais viva for a fé eucarística no povo de Deus, tanto mais profunda será a sua participação na vida eclesial por meio de uma adesão convicta à missão que Cristo confiou aos seus discípulos.
Esse encontro eucarístico com a pessoal de Cristo realmente e substancialmente presente nas espécies do pão e do vinho tem que nos questionar no modo de vivermos esse encontro e o pós-missa. O encontro com a eucaristia exigem de nós pensarmos nas varias fomes existenciais presente no mundo atual: tais como a fome de paz, liberdade, segurança, solidariedade, fraternidade, acolhida aos sofredores e pobres. A multiplicação dos pães questiona a má distribuição dos recursos naturais, água potável e alimentos. Quem ver esse milagre acontecer todo domingo na missa e o recado de Jesus para não deixar estragar nada, deveria se inquietar com o fato de milhões de irmãos nossas que morrem de fome e muitos milhões de quilos de alimentos todos os dias são jogado no lixo.    

Pe. Fantico Borges, CM  


domingo, 24 de junho de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – Nascimento de São João Batista – Ano B


Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – Nascimento de São João Batista – Ano B

João, Arauto de Jesus Cristo.

Hoje a Igreja celebra a festa da natividade de São João Batista. Dentro da imagem de João Batista, manifesta-se a proximidade do mistério da Encarnação do Verbo. Os sinais da geração de João são expressamente revelador, uma vez que é um anjo que vem ao encontro de Zacarias, sacerdote e ancião, casado com Isabel, mulher temente a Deus, mas padecia da esterilidade. Os dois eram justo e esperavam na graça de Deus.
Deus ouviu o apelo de Zacarias e Isabel, e deu-lhes um filho na velhice. Tudo isso, para mostrar que em Deus nada é impossível. Para afirmar que quem espera em Deus nunca fica sem respostas. E quando o Senhor responde sempre nos oferece mais que merecemos. Zacarias não teve um filho qualquer, mas dito pelo próprio Jesus: João é o maior entre os nascidos de mulher.   Santo Agostinho diz: “Dentre os nossos antepassados, não há nenhum cujo nascimento seja celebrado solenemente. Celebramos o de João, celebramos também o de Cristo”.  Com exceção à Virgem Maria, o Batista é o único santo do qual se celebra tanto o nascimento, a 24 de junho, como a morte ocorrida através do martírio. Celebra o seu nascimento porque está estreitamente ligado ao Mistério da Encarnação do Filho de Deus.
Em João Batista Deus demonstra que a glória, a honra e o louvor pertencem a Deus. Diz a Palavra de Deus: “Houve um homem enviado por Deus: o seu nome era João. Veio para dar testemunho da luz e preparar para o Senhor um povo bem disposto a recebê-lo” (cf. Jo 1,6s; Lc 1,17). João dizia a todos que o procurava: eu não sou a luz, nem a Palavra. Sou a voz que grita no deserto, preparai o caminho do Senhor. O Prefácio da Missa apresenta João como o maior entre os nascidos de mulher, o único dos profetas que mostrou o Cordeiro Redentor; o Batista que batizou o autor do Batismo e o mártir que deu o verdadeiro testemunho de Cristo.
Em João Batista vemos um homem justo e coerente! Ele exige conversão pelo testemunho de vida e pela pregação. João prega o que vive e vive do que prega. Convida-nos a preparar os caminhos do Senhor pela prática da justiça, do amor, do zelo pelas coisas de Deus e pela humildade. João é uma voz no deserto”, mas, é uma voz sem Palavra, porque a Palavra não é ele, é Outro,  é Jesus. João constitui a ressonância da Palavra. “Eis então, qual é o mistério de João: Nunca se apodera da Palavra. João é aquele que indica, que assinala o caminho da Palavra. O sentido da vida de João é indicar Outro” ( Papa Francisco). Santo Agostinho afirma: João era uma voz  passageira; Cristo é a Palavra eterna desde o princípio.   
A figura de João Batista por tudo que representa ao mistério de Cristo, aponta para uma missão comum para todos os cristãos: devemos como o Batista  aplainar os caminhos do Senhor, para que Ele entre nas almas de todas as pessoas e nações. Nós cristãos, somos os arautos de Cristo no mundo de hoje. Somos luz de Cristo para um mundo de trevas e morte que ronda a vida de muitas pessoas.
O Senhor deseja que O anunciemos por meio de nossa conduta e da nossa palavra no ambiente em que nos desenvolvemos, ainda que nos pareça que esse apostolado não tenha grande alcance. A missão que o Senhor nos encomenda atualmente é a mesma de João: preparar os caminhos, sermos seus arautos, os que O anunciam aos seus corações. A coerência entre a doutrina e a conduta é a melhor prova da validade daquilo que proclamamos; e é, em muitas ocasiões, a condição imprescindível para falarmos de Deus às almas.

Pe. Fantico Borges, CM

quinta-feira, 31 de maio de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – Solenidade de Corpus Christi 2018 Ano B.


Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – Solenidade de Corpus Christi 2018 Ano B.


Caminhemos todos junto rumo ao Reino.

A celebração de hoje busca expressar a presença de Cristo como alimento na vida de seu povo. Por isso nos perguntamos: qual é o significado próprio da Solenidade que celebramos hoje, o corpo e Sangue de Cristo?
É a própria celebração quem nos fala, no desenvolvimento de seus gestos fundamentais: antes de tudo estamos reunidos ao redor do Altar do Senhor, para estarmos juntos em sua presença: em segundo lugar, haverá uma procissão, ou seja, um caminhar com o Senhor, e por fim o ajoelhar-se diante do Senhor, a adoração que tem início já na Missa e acompanha toda a procissão, mas que culmina no momento final quando todos nos prostraremos diante Daquele que se dobrou até nós e deu sua vida por nós. Vamos nos deter brevemente sobre estes três comportamentos, para que seja realmente expressão da nossa fé e da nossa vida.
O primeiro ato, portanto, é o de reunir-se diante da presença do Senhor. É o que antigamente se dava o nome  de "Statio". Imaginemos por um momento que em toda Roma não exista outro altar senão este, e que todos os cristãos da cidade tenham sido convidados a reunirem-se aqui para celebrar o Salvador morto e ressuscitado. Isso nos dá uma ideia de como era nas origens, em Roma e em tantas outras cidades onde chegava a mensagem evangélica, a celebração Eucaristica: em cada Igreja particular havia um só Bispo e ao redor da Eucaristia por ele celebrada, se constituia a Comunidade, única, porque único era o Cálice abençoado e único o Pão partido como ouvimos das palavras de Paulo na segunda leitura (Cor. 10,16-17). vem a mente uma outra expressão paulina: "Não existe mais judeu, nem grego: nem escravo ou livre, porque todos somos únicos em Cristo Jesus" (Gal 3,28).
Todos nós unidos na Eucaristia somos um só coração, uma só alma! Com estas palavras se sente a verdade e a força da revolução cristã, a revolução mais profunda da história humana, que se experimenta ao redor da Eucaristia: aqui se reúnem pessoas de diversas idades, sexo, condição social, ideias políticos, culturas distintas. A Eucaristia é um ponto mais alto da comunhão cristã. Nela anelamos uma sociedade verdadeiramente fraterna e comunal. Também aqui nesta celebração, nós não escolhemos com quem nos encontramos, apenas viemos e estamos uns do lado dos outros, tendo em comum a fé e o chamado a sermos um só corpo místico, unidos a um único Pão, que é Cristo. Estamos unidos, apesar de nossas diferenças culturais, profissionais, grau social, poder econômico. Todos filhos e filhas de Deus, conscientes do poder e valor real do corpo de Cristo, podemos tomar a fila da comunhão com o desejo de participar do banquete escatológico, preparando-nos para a festa das eternas bodas do Filho Unigênito do Pai.  
Esta desde os inícios tem sido uma característica do cristianismo, realizada visivelmente ao redor da Eucaristia, que somente tem ligar na mesa de Cristo quem comunga na vida dos irmãos. É necessário sempre vigiar para que as tentações do particularismo, do exclusivismos social, não impeça que caminhemos em sentido contrário ao projeto de Deus.. Portanto, o Corpus Christi nos recorda antes de tudo que ser cristãos, quer dizer: reunir-se de todas as partes para estar na presença do único Senhor e tornar-se nEle um único povo para a glória de Deus Pai.
O segundo aspecto constitutivo é o caminhar com o Senhor. É a realidade manifestada pela procissão, que viveremos juntos depois da Santa Missa, quase como prolongamento natural da nossa caminhada rumo ao céu. Nele nos movemos e somos atraídos pelo seus amor. Com o dom de Si mesmo na Eucaristia, o Senhor Jesus nos liberta de nossas "paralisias", nos faz "continuar o caminho", nos faz dar um passo a mais, e depois outro, e assim nos coloca em caminhada, com a força deste Pão da Vida que fortalece a alma para o combate espiritual.
Como acontece com o profeta Elias, que se refugiou no deserto por medo de seus inimigos, e havia decidido morrer no caminho (cfr I Re 19,1-4), mas Deus o despertou do sono e o fez encontrar ali ao lado pão sem fermento e da graça divina a fortaleza de sua alma: "Levanta e come – porque para ti o caminho é longo demais" (I Re 19, 5.7). A procissão do Corpo do Senhor nos ensina que a Eucaristia nos libertar de todo abatimento e desconforto. Ela nos arranca do medo que trava nosso caminha rumo ao Reino. A experiência do povo de Israel no êxodo do Egito, a longa peregrinação através do deserto, do qual falou a primeira Leitura que impulsiona a nossa experiência do caminhada neste mundo.  Uma experiência que para Israel é constitutiva, mas se tornou exemplar para toda a humanidade cristã.
Por fim a Eucaristia é o Sacramento do Deus que não nos deixa sozinhos no caminho, mas se coloca ao nossa lado e nos indica a direção. De fato, não basta caminhar, é preciso saber para onde se vai! Não basta o "progresso", se não há critérios de referência. Antes, se corre pela estrada afora, arrisca terminar em um precipício, ou em todo caso se distanciar-se da meta há que ter um ideal a alcançar. Essa horizonte Jesus veio revelar: adorar o Pai do céu.
Adorar o Deus de Jesus Cristo, feito pão partido por amor, é o remédio mais válido e radical contra as idolatrias de ontem e de hoje. Ajoelhar-se diante da Eucaristia é profissão de liberdade. Quem se inclina para Jesus não pode e não deve prostrar-se diante de nenhum poder terreno, por mais forte que seja. Nós cristãos nos ajoelhamos somente diante de Deus, diante do Santíssimo Sacramento, porque nele sabemos e cremos estar presente o único e verdadeiro Deus, que criou o mundo e o amou tanto que deu seu Filho unigênito (cf. Gn 3,16).
Nos prostramos diante de um Deus que por primeiro se inclinou perante o homem, como Bom Samaritano, para socorrê-lo e dar-lhe novamente a vida; aquele que se ajoelhou diante de nós para lavar os nossos pés sujos pelo pecado. Adorar o Corpo de Cristo quer dizer crer que ali, naquele pedaço de pão, está realmente Cristo, que dá verdadeiro sentido à vida, seja ao imenso universo como à menor das criaturas, à toda história humana como à mais breve existência.
A adoração é oração que prolonga a celebração e a comunhão eucarística cuja alma continua a nutrir-se: nutre-se de amor, verdade e paz; nutre-se, ainda mais de esperança nas promessas do Filho. Porque Aquele ao qual nos prostramos não nos julga segundo os critérios humanos, não nos expulsa, mas nos liberta e nos transforma. Por isso reunir-nos para caminhar, adorar e prostrarmo-nos diante daquele que é a nossa alegria. Fazendo-nos discípulos-missionários como Maria, adoramos um só Deus em três pessoal e desejamos estar sempre aos pés da cruz do Senhor. Que neste mês de maio que encerramos tenha manifestada em cada um de nós a vontade de como a Virgem fazer tudo que o Senhor Mandar!


Pe. Fantico Borges, CM

domingo, 13 de maio de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – da Ascensão do Senhor – Ano B




Homilia do Pe. Fantico Borges, CM –  da Ascensão do Senhor – Ano B

Nossa humanidade que em Cristo está no céu!
                                                                           
Hoje é um dia no qual se mesclam a alegria pela consumação da glorificação do Senhor Jesus e  a tristeza ao vê-lo partir. Mas a sua ascensão já é a nossa vitória. Ao celebrar a Ascensão do Senhor, celebramos também – como dizia São Leão Magno num sermão – a exaltação da nossa pobre natureza humana em Cristo: ele sobe aos céus com a nossa carne, com um coração de carne, com sentimentos humanos, em fim, ele nos leva aos céus. Santo Agostinho exortava: “hoje o Senhor nosso, Jesus Cristo, subiu aos céus, suba também o nosso coração com ele”. Nesta celebração sentimos o amor de Deus mais profundo no ato de nos levar para dentro da Trindade. Agora podemos que não somos sem teto, sem lar, sem colo. Nossa morada é o céu. A eterna morada de Deus que já experimentamos aqui na vida da Igreja, nos tempos de pedras dedicados à oração e o louvor.
Nós fomos feitos por Deus e para Deus, levamos dentro de nós essa marca de eternidade que nos faz desejar a felicidade. Cada ser humano tem dentro de si uma espécie de saudade do paraíso, um desejo de ser feliz para sempre, uma ânsia de eternidade que faz sentir certa náusea de viver para sempre numa situação incompleta e cheia de perigos. Aquela frase de Santo Agostinho, “Fizeste-nos, Senhor, para ti e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em ti”, continua atual. A pessoa humana, por mais que queira fugir de Deus, não descansará enquanto não se deixar seduzir pelo Senhor, já que em cada efêmera felicidade está buscando a Deus, ainda que às apalpadelas.
Você já desejou, de verdade, ver Deus? Nós falamos de Deus, cremos nele, o adoramos, mas é preciso também desejar vê-lo. Como é o rosto do Pai? Como é a humanidade glorificada de Cristo? Como é a personalidade do Espírito Santo? O que é Deus? Quem é Deus? “Ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou” (Jo 1,18). Ambas as afirmações estão perfeitamente combinadas na nossa vida cristã: nós não vimos a Deus, mas nós o conhecemos em Cristo. E, no entanto, desejamos ver como é Deus, como é cada uma das três Pessoas da Santíssima Trindade; também queremos dar um abraço em Nossa Senhora e agradecer pessoalmente ao nosso anjo da guarda por tudo, enfim, nós desejamos o céu.
Hoje é um dia para desejar a vida eterna, para querer ver o Senhor, contemplar seu resplendor e desfrutar do seu repouso. O desejo do paraíso, a busca pela vida eterna somente é possível se cremos em Cristo, pois quem crer já está salvo. E os sinais que nos acompanharão os fiéis em Cristo é o poder sobre o mal, o demônio, as trevas. Ambicionar a Jesus Cristo, o Paraíso, e a vida eterna é dá  testemunho de seu poder eterno. Isso sim que é uma santa ambição! Todo cristão é um ambicioso, santamente ambicioso pela graça divina.
Precisamos que a nossa ambição santa aumente e que desejemos o céu não somente para nós, mas também para todos os nossos amigos e até para os inimigos. Um cristão sem zelo apostólico é um cristão estéril. Assim como não se pode entender que um peixe não possa nadar, a não ser que esteja morto, assim também não se pode entender que um cristão não seja apostólico, proselitista (no bom sentido da palavra), a não ser que esteja morto. Não podemos perder a audácia, o desejo de ganhar a todos para Cristo. No mesmo sermão citado anteriormente, São Leão Magno dizia que “a fé, aumentada pela ascensão do Senhor e fortalecida com o dom do Espírito Santo, não pode temer diante das cadeias, da prisão, do desterro, da fome, do fogo, das feras nem das torturas dos cruéis perseguidores. Homens e mulheres, crianças e frágeis donzelas lutaram em todo o mundo por essa fé até o derramamento do sangue. Esta fé afugenta os demônios, afasta as enfermidades, ressuscita os mortos”.
Peçamos a Deus que aumente a nossa fé e, consequentemente, a nossa audácia apostólica, que irá ao encontro não somente daquelas pessoas que ainda não são católicas, mas também dos mesmos católicos. Há muitos que estão afastados da Igreja, com uma fé raquítica, sem vigor apostólico. É preciso ajudá-los! Nessa Semana de Oração pela Unidade dos cristãos peçamos a Deus que se acabem as divisões, que todos tenhamos um único desejo: amar a Deus e estender o seu reino por todo o mundo, cada um no ambiente em que se encontra.
Aprendamos com nossas mães que mesmo tendo muitos filhos sabem amar a todos com o mesmo amor, que cuida com mais atenção os mais frágeis sem diminuir o afeto pelo mais forte. Que sabe dar sem nada receber, faz sem nada pedir, que doa sem nada esperar. Neste dia das mães, dia de Nossa Senhora de Fátima agradeçamos a Deus que nos deu Maria Santíssima como mãe de todos: pobres, ricos, brancos, negros, órfãos e afortunados.   Que ninguém se sinta só neste dia das mães.

Pe. Fantico Borges, CM  



domingo, 29 de abril de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – V Domingo de Páscoa Ano B


Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – V Domingo de Páscoa Ano B

Eu sou a videira, sem mim nada podeis fazer!

Na liturgia de hoje Jesus afirma que ele é a videira e nós os ramos. Ora, um ramos separado da arvore não produz nada. Secará e sera queimado como galho seco e infrutífero. A mesma coisa é o cristão se não tiver bem unido a Cristo nada pode fazer. É importante lembrar que o antigo Israel sempre se considerou a vinha do Senhor. No Evangelho (Jo 15,1-8), quando Jesus afirma: “Eu sou a videira verdadeira”. Essas palavras, numa ceia de despedida, representam o seu “Testamento”. Jesus proclama que ele é videira verdadeira plantada pelo próprio Deus, diferente do antigo Israel que não produziu os frutos esperados, Jesus diz que quem permanecer nele dará muito fruto.
Jesus se apresenta como a “videira verdadeira”, capaz de produzir frutos que Israel não produziu. Ele é o tronco e nós somos os ramos! O ramo que não der frutos é cortado e lançado ao fogo. O ramo que dá frutos é podado para que dê mais frutos. Jesus convida os apóstolos a permanecerem n’Ele:” permanecei em Mim, como Eu em vós”. Como o tronco da videira transmite a vida aos ramos e os ramos são vivificados quando permanecem ligados ao tronco, assim se dá com Cristo e os cristãos. Os ramos assim ligados ao tronco é que produzem fruto. Para produzir frutos, os ramos precisam de seiva da videira e da poda.
Na patrística Orígenes destaca a necessidade de correção que todo ser humano precisa. Para ele se estamos enxertados em Cristo, será necessário que o Pai nos pode, ele que é o agricultor.  É interessante que o agricultou quando deseja que a planta produza mais frutos e melhores a qualidade da semente ele poda a arvores, ou seja, corta os galhos que sugam as forças da planta sem nada produzir. A planta no tempo da poda sofre, mas depois ela cresce vicejante e dar frutos abundantemente. No campo da fé muitas vezes precisamos de disciplina e correções. Na hora da correção sofremos e nos sentimos até injustiçados, mas geralmente a correção fraterna dará muitos frutos positivos no tempo certo. Uma coisa que precisamos trabalhar em nós é a paciência divina, a longanimidade eterna que sabe esperar com prontidão o tempo da colheita.  
Na fala de Jesus fica claro que  o cristão precisa da seiva da videira, que é Cristo, pois “sem Ele nada podeis fazer”. É interessante notar que o texto fala oito vezes em “permanecer em Cristo” e sete vezes em “dar frutos”. Se não permanecermos unidos a Cristo, recebendo essa seiva, nos tornaremos ramos secos e estéreis, que serão cortados e lançados ao fogo.
Os nossos trabalhos pastorais não serão eficazes se não houver a seiva dessa videira e o contato com Jesus, através da Oração, meditação, leitura orate da palavra. Só unidos ao tronco podem viver e frutificar os ramos; do mesmo modo, só permanecendo unido a Cristo pode o cristão viver na graça e no amor e produzir frutos de santidade. Isto manifesta a impossibilidade do homem em tudo o que se relaciona com a vida sobrenatural e a necessidade da sua total dependência de Cristo; mas manifesta também a vontade positiva de Cristo de fazer com que o homem viva a sua própria vida com Ele.
Quem não está unido a Cristo por meio da graça terá, o mesmo destino que as varas secas: o fogo. Diz Santo Agostinho:”os ramos da videira são do mais desprezível se não estão unidos ao tronco; e do mais nobre se o estão(…) Se se cortam não servem de nada nem para o vinhateiro nem para o carpinteiro. Para os ramos há duas opções: ou a videira ou o fogo: para não irem para o fogo, que estejam unidos à videira” (Santo Agostinho: Tr. Sobre São João, 81, 3-4).
Estejamos atentos! O Senhor nos faz um apelo: “produzir frutos…”. Porém impõe uma condição: “permanecer unido a Ele”. Para isso precisa: gastar tempo com Ele! Nenhum trabalho, mesmo pastoral, justifica o abandono do encontro pessoal com Cristo, na Oração. Jesus nos adverte:”sem mim nada podeis fazer”. Devemos antes falar com Deus… para depois falar de Deus… Alimentar a nossa espiritualidade com esta “seiva divina”, que é a graça de Deus, na escuta da Palavra, na pratica sacramental… Dizia São João Paulo II:”A oração é para mim a primeira tarefa, como o primeiro anúncio; é a primeira condição de meu serviço à igreja e ao mundo”. São Francisco de Assis ensinava que “do homem que não reza não se pode esperar nenhum bom fruto”. Nossa sede de Deus será a força para nossa sede em conquistar novos filhos (ramos) para vinha de Senhor. A vida de união com Cristo transcende necessariamente o âmbito individual do cristão para se projetar em benefícios dos outros: daí brota a fecundidade apostólica, já que o apostolado, seja ele de que tipo for, consiste numa superabundância da vida interior.
Essa união com Cristo, a videira verdadeira, será sempre abundante quando mais nos envolvermos todo com ela. É preciso passar de fé conceitualistas que sabe quem é Deus com termos altíssimos para uma fé encarnada que se encontra com Deus nas situações reais da vida das pessoas, especialmente os pobres e excluídos, da religião, da economia e da vida social.  Como dizia São Vicente amemos a Deus não somente com palavras , mas atitudes. 

Pe. Fantico Borges, CM

sábado, 14 de abril de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – III Domingo da Páscoa – Ano B.


Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – III Domingo da Páscoa – Ano B.

Vós sereis minhas testemunhas!

O evangelho deste domingo continua a meditação do episódio dos discípulos de Émaus. Quando eles ainda estão conversando sobre o que tinha acontecido com eles no caminho, Jesus aparece e lhes deseja a paz; ele continua a explicar-lhes sem interromper o argumento: “Isto é o que vos dizia quando ainda estava convosco: era necessário que se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos profetas e nos salmos” (Lc 24,44). Os discípulos ainda não tinham entendido a escritura, porque desejavam um messias aos padrões dos desejos humanos e não a partir dos planos de Deus.
Observemos que a pregação de Pedro alude para uma consciência da Lei e dos Profetas. A comunidade quer deixar bem claro que Jesus rejeitado pelos chefes dos judeus e mestres da Lei é o mesmo que as profecias anunciavam. O discurso dos Apóstolos é duro. Vos Matastes, vos rejeitastes e pedistes a liberdade a um assassino e a condenação de Jesus. Mas Deus o ressuscitou e o libertou tornando-O Guia Supremo. Agora, arrependei-vos e convertei-vos para serdes perdoado pelo Cristo e batizado em seu nome. Ora, a proposta dos apóstolos é uma mudança de mentalidade a fim de viver uma vida nova, segundo o mandamento novo.  
Para essa vida nova o critério é viver segundo o mandamento de Deus. Quem diz que ama a Deus e não guarda seus mandamentos é mentiroso. Qual é esse mandamento? Jesus resumiu toda lei e preceitos em Amor a Deus e amor ao próximo. Ora, esse amor foi experimentado de modo real na cruz e assumido como expressão de entrega e confiança. A cruz revela com toda a força, até onde Deus é capaz de ir por nós: ele é capaz de se entregar, de dar sua vida por nós! No seu Filho o Pai nos entrega tudo de precioso que ele tem! No Filho feito homem de dores, humilhado e derrotado, nós podemos compreender o quanto somos amados por Deus, o quanto ele nos leva a sério, o quanto é capaz de descer para nos procurar! Contemplemos a cruz e sejamos gratos a Deus que se entrega assim!
O Filho, entregue ao Pai com toda a confiança e todo o abandono, o Filho, feito homem de dores, agora é glorificado pelo Pai e colocado no mais alto da glória. Deus jamais abandona os que a ele se confiam. Podemos imaginar o Senhor Jesus dizendo as palavras do Salmo de hoje: “Eu tranqüilo vou deitar-me e na paz logo adormeço, pois só vós, ó Senhor Deus, dais segurança à minha vida!” O nosso Salvador adormeceu no sono da morte certo que o Pai o despertaria para a vida da glória! Sim, o Pai é Fidelidade, o Pai é Amor! Mas, é também fidelidade e amor para conosco. Efetivamente, tudo quanto aconteceu com o Filho na cruz foi por nós, para nossa salvação, para que o nosso pecado, a nossa situação de miséria, encontrasse expiação. Eis como a Palavra de Deus deste hoje insiste nisso: “Se alguém pecar, temos junto do Pai um Defensor: Jesus Cristo, o Justo. Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro”. E o próprio Jesus afirma no Evangelho que “no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações”. Meus caros em Cristo, na cruz e ressurreição do Senhor, Deus, amorosamente nos concedeu o perdão dos pecados!
Então, que temos de fazer para corresponder a tanto amor, a tão grande graça? Três coisas: primeira: crer em Jesus, o Enviado do Pai, que por nós morreu e ressuscitou: “Convertei-vos para que os vossos pecados sejam perdoados!” Quem crer em Jesus, quem diante dele reconhecer-se pecador e o acolher como o Salvador e nele colocar a vida, nele encontrará o perdão que vem pela cruz e a ressurreição. Segunda coisa: viver na Palavra do Senhor: “Para saber se o conhecemos, vejamos se guardamos os seus mandamentos. Naquele que guarda a sua palavra, o amor de Deus é plenamente realizado”. A fé, caríssimos, não é um sentimento nem uma teoria. Nossa fé em Jesus morto e ressuscitado deve levar a um compromisso sério e radical com o Senhor na nossa vida concreta. Quem não guarda os mandamentos, não crê! Quem não crê, fecha-se para a salvação! Terceira coisa: testemunhar Jesus morto e ressuscitado: “Vós matastes o Autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos. Disso nós somos testemunhas!” E Jesus diz: “Vós sereis testemunhas de tudo isso!” Caros meus, nós não conhecemos Jesus de um modo teórico. Nós o experimentamos na força da sua Palavra e na graça dos seus sacramentos, sobretudo na participação na Eucaristia. Jesus, para nós, não é um fantasma! “Por que estais preocupados tendes dúvidas no coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo!” Sim, meus caros, quantas vezes tocamos Jesus, sentimo-lo vivo, caminhando conosco! Tenhamos, então a coragem de nele crer, de nele viver e dele dar testemunho onde quer que estejamos e onde quer que vivamos. Jesus não é um fantasma! Jesus está vivo! Jesus é Senhor! E sua paz,  sua vitória e seu perdão são provas de sua presença sempre conosco.  

Pe. Fantico Borges, CM

domingo, 1 de abril de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – Domingo de Páscoa Ano B.


Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – Domingo de Páscoa Ano B.

Cristo está vivo Ele ressuscitou!

“A glória de Deus é o homem vivo e a vida do homem consiste em ver a Deus”. Com estas palavras Santo Irineu de Lyon faz refletir sobre a realidade da solenidade pascal: Cristo está vivo, o Senhor ressuscitou aleluia!
A essência do Cristianismo é que Jesus é revelador do Pai. Em Cristo Deus alcança a máxima expressão de revelação como Deus e Senhor, Pai Criador e Deus Libertador. Cristo fala não somente com palavras, mas com todo o seu ser. Tudo o que ele é, é revelação do Pai. Então é na ressurreição que o conceito de revelação alcança toda a sua plenitude. Deus em Cristo revela-se o senhor da vida!
Hoje, neste domingo de Páscoa, o Cristo glorioso manifesta de maneira excelente o seu ser e, desse modo, nos está revelando plenamente o poder do Pai nele e o quanto ele pode no Pai. Cristo se manifesta e a sua auto-manifestação é, para nós, e ao mesmo tempo revelação de Deus numa plenitude sem precedentes. Por outro lado, é também revelação da humanidade glorificada em Jesus na sua novidade mais radical.
A Liturgia Pascal lembra, na primeira leitura, um dos mais comoventes discursos de Pedro sobre a Ressurreição de Jesus: “Deus O ressuscitou no terceiro dia, concedendo-lhe manifestar-se… às testemunhas que Deus havia escolhido: a nós que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos” (At 10,40-41). Surge nestas palavras a vibrante emoção do chefe dos Apóstolos pelos grandes acontecimentos de que foi testemunha, pela intimidade com Cristo ressuscitado, sentando-se à mesma mesa, comendo e bebendo com Ele.
A Ressurreição é a grande luz para todo o mundo: “Eu sou a luz” (Jo 8,10), dissera Jesus; luz para o mundo, para cada época da história, para cada sociedade, para cada homem. A ressurreição que revela o Pai misericordioso e amante da vida, tornado-se uma lâmpada de Deus que rompe as trevas da consciência humana pervertida.
No evangelho (Jo 20,1-9) vemos que a Boa Nova da Ressurreição provocou, num primeiro momento, um temor e espanto tão fortes, que as mulheres “saíram e fugiram do túmulo… e não disseram nada a ninguém, porque tinham medo”. Entre elas, porém encontrava-se Maria Madalena que viu a pedra retirada do túmulo e correu a dar a notícia a Pedro e ao discípulo amado: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde O colocaram” (Jo 20,2). “Os dois saem correndo para o sepulcro e, entrando no túmulo, observaram as faixas que estavam no chão e o lençol…” (Jo 20,6-7). “Ele viu e acreditou” (Jo 20,8).  Primeiro é emocionante a narrativa da cena. Aqueles dois discípulos correndo até o túmulo em meio a lagrimas de tristeza pela morte do Senhor e da alegria do túmulo vazio. Mas está cena ainda transmite outra mensagem: o respeito do discípulo mais jovem com Pedro. Ele chega primeiro, mas não entra. Espera Pedro porque é Simão quem devia ver primeiro e dar o parecer de autoridade. Os dois entram e ao ver acreditam. Acreditar é o primeiro ato de fé da igreja nascente em Cristo Ressuscitado, originado pela solicitude de uma mulher e pelos sinais do lençol, das faixas de linho, no sepulcro vazio. Se se tratasse de um roubo, quem se teria preocupado em despir o cadáver e colocar o lençol com tanto cuidado? Deus serve-se de coisas bem simples para iluminar os discípulos que “ainda não tinham entendido a Escritura, segunda a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos” (Jo 20,9), nem compreendiam ainda o que o próprio Jesus tinha predito acerca da Sua ressurreição. Que emoção tiveram os discípulos! Crer é um ato de confiança e amor. Quem ama corre rápido para encontrar o amado. Não perde tempo, quer ficar  mais tempo possível com o amado.
A partir deste momento os discípulos estavam mais confiantes. Ainda haveria de  acontecer outras manifestações da ressurreição, mas tudo começava ali em ver e acreditar. A ressurreição é uma realidade, porém, Deus quer livremente ser amado e adorado. Para muitos a pedra ainda está fechando a porta do túmulo, outros ainda procuram entre os mortos aquele que está vivo.
Por isso, a pergunta é pertinente: o que significa ressuscitar em Cristo? Viver a vida nova do Mestre. São Paulo nos ajuda a responder isso. “Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima...”  Isto significa que devemos realizar as tarefas humanas pensando nas realidade do céu. Viver a vida nova do Ressuscitado é seguir os passos de Jesus, ou seja, amar os irmãos e irmãs com justiça, paz e solidariedade. Fazer o bem sem esperar nada em troca, viver na gratuidade e generosidade presentes sempre na vida de Jesus. Peçamos ao Cristo nossa luz, revelador do Pai das misericórdias que nos ilumine a consciência de filhos de Deus e coerdeiro da vida divina, para agirmos como ressuscitados.

Pe. Fantico Borges, CM


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