ÉTICA E CIÊNCIA
I. Introdução
ao texto:
A
ciência marca profundamente a vida da sociedade atual. Somos uma comunidade
cientificizada. Tudo isso começou com o desenvolvimento das ciências modernas,
o aceleramento das mesmas, trazendo um alto nível científico a modernidade.
Para
Pe. Manfredo, se a nossa sociedade entrou neste processo acelerado de
modernização e cientificização, onde tudo passa a ser visto a partir do prisma
científico, então a ciência começa a ocupar um lugar importante na construção
da realidade social. Isso quer dizer na verdade que as relações entre os
indivíduos de certa forma é influenciada pela ciência. Porém esta ciência não
possibilita um nível de justiça e igualdade, visto que nela não há valores éticos.
Esta
cientificação traz alguns questionamentos bem importante: 1oemerge
desta cientificização uma dicotomia profunda, pois o seu progresso científico
não chega para todos; 2o cria-se uma dependência do humano
diante das ciências. Daí Surge para Pe. Manfredo um outro problema. Como é o ser humano que está em jogo, então
este problema é também ético. Assim a problemática levantada é de fundamentação
do agir humano diante sociedade, que não se pode responder no campo da pura
ciência, sem levar em conta uma filosofia última.
O
homem é um ser ético e histórico, como tal não pode abster-se desta
caraterística. Desta maneira ele é responsável por seus atos e relações em sociedade. O homem não é fixado,
estático e parado, mas um ser em construção. Por isso dizemos que é responsável
por seu agir. Daí devemos sempre perguntar pelos critérios de nossa ação no
mundo.
O
grande problema da ciência contemporânea é o que Pe. Manfredo chama de carência
de uma solução racional. O grande
projeto da humanidade secularizada, quer legitimar uma nova moral independente
de qualquer metafísica ou religião, fundamentada puramente na racionalidade do
homem.
A
contemporaneidade difundiu uma civilização marcada pela concepção da
racionalidade instrumental. Toda racionalidade reduz-se ao conhecimento formal,
lógico-matemático e ao conhecimento das ciências fatuais,. Empírico-analíticas.
Para eles somente neste campo existe conhecimento e ciência. Normas éticas não
têm espaço neste esquema, pois elas nunca podem ser fatos. Sendo assim, a validade
intersubjetiva é ilusória.
Para
Pe. Manfredo nossa sociedade vive um paradoxo, pois quer ter um conhecimento
fatual rigoroso dos processo de auto-construção da humanidade racionalizada. No
entanto este processo só exprime as relações do homem no mundo objetiva, sem
tocar na subjetividade. O grande paradoxo é o fato da humanidade contemporânea
ter querido atingir a suprema forma de racionalidade no conhecimento dos fatos,
mas por outro lado, conformar-se com as decisões irracionais no tocante a sua práxis
moral.
Como
vimos a racionalidade contemporânea não abre espaço para as discussões éticas e
morais. O estabelecimento dos fins para a sociedade tecnológica é deixada no
campo da cegueira. Assim na esfera científica contemporânea não existe lugar para
a intersubjetividade.
II. O fundamento ético da atividade científica:
No
mais profundo da atividade científica existe uma dimensão ética imanente na
práxis científica. Contudo, para poder ser expressa tal dimensão, faz-se mister
uma tomada de consciência do papel da filosofia. Qual é de verdade a tarefa
específica da filosofia? Qual seu campo de ação?
Podemos
afirma de início, que segundo a tradição, começada por Kant, o papel da
filosofia seria explicitar as condições a priori de possibilidade da própria
experiência humana teórica e prática. Portanto a filosofia trata de explicitar,
reflexivamente os pressupostos implícito das atividades científica, por
conseguinte também daquela, que se considera neutra e por esta razão aética. A
atividade filosófica é uma atividade puramente reflexiva, enquanto tematiza as
condições de possibilidade do agir humano no mundo. Neste sentido ela é
transcendental, pois ultrapassa os fatos empíricos para ascender as condições
últimas de possibilidade da própria ciência.
Desta
forma, o ponto de partida da filosofia é a práxis humana no mundo, que se
distingue em três dimensões: subjetiva, objetiva e intersubjetiva. Está última
é expressão da convivência social e comunitária do humano. Nela a coordenação
das ações são feitas, por agentes individuais, numa relação de respeito e
igualdade. Daqui nasce o que Habermas chama de ação comunicativa.
Uma
fundamental característica da ação comunicativa é o consenso dos indivíduos
acerca do argumento em questão. Esse consenso não baseia-se no acordo fático,
mas num acordo racionalmente motivado em relação ao conteúdo em discussão, ou
seja, em relação ao conteúdo das expressões lingüísticas. Sendo assim o
consenso não é imposto, mas conquistado argumentativamente. Porque quem fala tem
a pretensão de levantar validade daquilo que fala. Ora, tal atitude de antemão
coloca-se na esfera do racional argumentativo.
Desta
forma legitimidade tem a ver não com a experiência puramente fática, mas com a
ação argumentativa levantada. A ação comunicativa é uma ação essencialmente
racional e como tal, possibilitadora de uma avaliação crítica das pretensões
nela levantadas. Neste sentido a ação comunicativa é também uma ação normativa,
pois cria espaço de sociabilidade e relação intersubjetividade.
Quem
age comunicativamente abre-se para a
sociabilidade, ou seja, vive na dimensão da socialidade. Pois como afirma
Wittgenstein, a linguagem é uma atividade pública, que brota para uma
inter-relação, interpelada pelo respeito e a igualdade entre os indivíduos.
Desta maneira para que aconteça uma comunicação é mister o respeito pela
alteridade. Somente no reconhecimento dos direitos do outro, como agente ativo
do discurso, poderemos atingir um nível de comunicação humana.
Todo
debate deve pressupor, a igualdade dos parceiros da argumentação, como ponto
inicial de toda a ação. Não reconhecer tal processo eqüivale a escravizar o
parceiro, tornando-o objeto ou mero agente passivo. Toda comunicação somente é
válida, quando brota da razão discursiva.
Reconhecer
o outro em sua liberdade é o mesmo que reconhecê-lo em sua autonomia, como
alguém capaz de dar-se a si mesmo os princípios de aceitação daquilo que lhe
aparece. Afirmar isso é confirmar uma dimensão ética implícita no ato da
comunicabilidade. Essa dimensão ética é a possibilidade da práxis comunicativa.
Para
Pe. Manfredo, somente no reconhecimento da ética implícita na argumentação, se
pode supera o paradoxo das ciências. Pois a grande dicotomia entre ciência e
ética é que não é solúvel a nível propocional-objetiva, tal paradoxo, mas
somente quando se descobre, que o nível objetivo não é o único da linguagem; existe outra possibilitada de superar o paradoxo através
da dimensão pragmática-transcendental.
Para
nosso autor toda ciência pressupõe uma ética como possibilidade transcendental,
que válida sua atividade. Isso é mais claro a partir da contradição
performativa explicitada por K. O. Apel. A filosofia torna-se a instância de
possibilidade de validação da própria ciência. Sua função específica a reflexão transcendental das possibilidade
de todo e qualquer agir humano, até o científico.
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