segunda-feira, 2 de março de 2015

ÉTICA E CIÊNCIA

ÉTICA E CIÊNCIA


 I. Introdução ao texto:


A ciência marca profundamente a vida da sociedade atual. Somos uma comunidade cientificizada. Tudo isso começou com o desenvolvimento das ciências modernas, o aceleramento das mesmas, trazendo um alto nível científico a modernidade.
Para Pe. Manfredo, se a nossa sociedade entrou neste processo acelerado de modernização e cientificização, onde tudo passa a ser visto a partir do prisma científico, então a ciência começa a ocupar um lugar importante na construção da realidade social. Isso quer dizer na verdade que as relações entre os indivíduos de certa forma é influenciada pela ciência. Porém esta ciência não possibilita um nível de justiça e igualdade, visto que nela  não há valores éticos. 
Esta cientificação traz alguns questionamentos bem importante: 1oemerge desta cientificização uma dicotomia profunda, pois o seu progresso científico não chega para todos; 2o cria-se uma dependência do humano diante das ciências. Daí Surge para Pe. Manfredo um outro problema.  Como é o ser humano que está em jogo, então este problema é também ético. Assim a problemática levantada é de fundamentação do agir humano diante sociedade, que não se pode responder no campo da pura ciência, sem levar em conta uma filosofia última.
O homem é um ser ético e histórico, como tal não pode abster-se desta caraterística. Desta maneira ele é responsável por seus atos e  relações em sociedade. O homem não é fixado, estático e parado, mas um ser em construção. Por isso dizemos que é responsável por seu agir. Daí devemos sempre perguntar pelos critérios de nossa ação no mundo.
O grande problema da ciência contemporânea é o que Pe. Manfredo chama de carência de uma solução racional. O  grande projeto da humanidade secularizada, quer legitimar uma nova moral independente de qualquer metafísica ou religião, fundamentada puramente na racionalidade do homem.
A contemporaneidade difundiu uma civilização marcada pela concepção da racionalidade instrumental. Toda racionalidade reduz-se ao conhecimento formal, lógico-matemático e ao conhecimento das ciências fatuais,. Empírico-analíticas. Para eles somente neste campo existe conhecimento e ciência. Normas éticas não têm espaço neste esquema, pois elas nunca podem ser fatos. Sendo assim, a validade intersubjetiva é ilusória.
Para Pe. Manfredo nossa sociedade vive um paradoxo, pois quer ter um conhecimento fatual rigoroso dos processo de auto-construção da humanidade racionalizada. No entanto este processo só exprime as relações do homem no mundo objetiva, sem tocar na subjetividade. O grande paradoxo é o fato da humanidade contemporânea ter querido atingir a suprema forma de racionalidade no conhecimento dos fatos, mas por outro lado, conformar-se com as decisões irracionais no tocante a sua práxis moral.
Como vimos a racionalidade contemporânea não abre espaço para as discussões éticas e morais. O estabelecimento dos fins para a sociedade tecnológica é deixada no campo da cegueira. Assim na esfera científica contemporânea não existe lugar para a intersubjetividade.



II. O fundamento ético da atividade científica:


No mais profundo da atividade científica existe uma dimensão ética imanente na práxis científica. Contudo, para poder ser expressa tal dimensão, faz-se mister uma tomada de consciência do papel da filosofia. Qual é de verdade a tarefa específica da filosofia? Qual seu campo de ação?
Podemos afirma de início, que segundo a tradição, começada por Kant, o papel da filosofia seria explicitar as condições a priori de possibilidade da própria experiência humana teórica e prática. Portanto a filosofia trata de explicitar, reflexivamente os pressupostos implícito das atividades científica, por conseguinte também daquela, que se considera neutra e por esta razão aética. A atividade filosófica é uma atividade puramente reflexiva, enquanto tematiza as condições de possibilidade do agir humano no mundo. Neste sentido ela é transcendental, pois ultrapassa os fatos empíricos para ascender as condições últimas de possibilidade da própria ciência.
Desta forma, o ponto de partida da filosofia é a práxis humana no mundo, que se distingue em três dimensões: subjetiva, objetiva e intersubjetiva. Está última é expressão da convivência social e comunitária do humano. Nela a coordenação das ações são feitas, por agentes individuais, numa relação de respeito e igualdade. Daqui nasce o que Habermas chama de ação comunicativa.
Uma fundamental característica da ação comunicativa é o consenso dos indivíduos acerca do argumento em questão. Esse consenso não baseia-se no acordo fático, mas num acordo racionalmente motivado em relação ao conteúdo em discussão, ou seja, em relação ao conteúdo das expressões lingüísticas. Sendo assim o consenso não é imposto, mas conquistado argumentativamente. Porque quem fala tem a pretensão de levantar validade daquilo que fala. Ora, tal atitude de antemão coloca-se na esfera do racional argumentativo.
Desta forma legitimidade tem a ver não com a experiência puramente fática, mas com a ação argumentativa levantada. A ação comunicativa é uma ação essencialmente racional e como tal, possibilitadora de uma avaliação crítica das pretensões nela levantadas. Neste sentido a ação comunicativa é também uma ação normativa, pois cria espaço de sociabilidade e relação intersubjetividade.
Quem age comunicativamente abre-se  para a sociabilidade, ou seja, vive na dimensão da socialidade. Pois como afirma Wittgenstein, a linguagem é uma atividade pública, que brota para uma inter-relação, interpelada pelo respeito e a igualdade entre os indivíduos. Desta maneira para que aconteça uma comunicação é mister o respeito pela alteridade. Somente no reconhecimento dos direitos do outro, como agente ativo do discurso, poderemos atingir um nível de comunicação humana.
Todo debate deve pressupor, a igualdade dos parceiros da argumentação, como ponto inicial de toda a ação. Não reconhecer tal processo eqüivale a escravizar o parceiro, tornando-o objeto ou mero agente passivo. Toda comunicação somente é válida, quando brota da razão discursiva.
Reconhecer o outro em sua liberdade é o mesmo que reconhecê-lo em sua autonomia, como alguém capaz de dar-se a si mesmo os princípios de aceitação daquilo que lhe aparece. Afirmar isso é confirmar uma dimensão ética implícita no ato da comunicabilidade. Essa dimensão ética é a possibilidade da práxis comunicativa.
Para Pe. Manfredo, somente no reconhecimento da ética implícita na argumentação, se pode supera o paradoxo das ciências. Pois a grande dicotomia entre ciência e ética é que não é solúvel a nível propocional-objetiva, tal paradoxo, mas somente quando se descobre, que o nível objetivo  não é o único da linguagem; existe outra  possibilitada de superar o paradoxo através da dimensão pragmática-transcendental.
Para nosso autor toda ciência pressupõe uma ética como possibilidade transcendental, que válida sua atividade. Isso é mais claro a partir da contradição performativa explicitada por K. O. Apel. A filosofia torna-se a instância de possibilidade de validação da própria ciência. Sua função específica  a reflexão transcendental das possibilidade de todo e qualquer agir humano, até o científico.      

   

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