Homilia do II Domingo da
Quaresma – Ano B - 2015
A Transfiguração do Senhor expulsa o medo da cruz.
O Evangelho deste domingo nos relata a
transfiguração do Senhor. Ao olharmos um pouco o contexto, observamos que Jesus
tinha anunciado aos seus que “é necessário que o Filho do homem padeça muitas
coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos
escribas. É necessário que seja levado à morte e ressuscite ao terceiro dia”
(Lc 9,22); que ele tinha falado também que se alguém o quisesse seguir que
tomasse a cruz (cf. Lc 9,23-24); por outro lado, alguns discípulos esperavam um
messias político que vencesse pela força de um exército dominador o poder dos
romanos, de cujo jugo desejavam ver-se livres.
Tendo em conta tudo isso, podemos dizer que os
discípulos encontravam-se bastante desnorteados e até mesmo desanimados. A
transfiguração do Senhor é um consolo. De fato, dizia São Leão Magno que “o fim
principal da transfiguração foi desterrar das almas dos discípulos o escândalo
da Cruz e que a humilhação da paixão voluntária não perturbasse a fé daqueles aos
quais fora revelada a excelência da dignidade oculta ”; trata-se de encorajar
os discípulos em meio aos sofrimentos eminentes.
A morte de Jesus na Cruz iria gerar muitas
perguntas na consciência, ainda não amadurecida, dos apóstolos. Vale a pena seguir alguém que vai morrer na
Cruz?
Como animar o povo a imitar um crucificado? A prova pela qual passariam os discípulos não
seria fácil. Mas iluminados pelo testemunho de fé dos patriarcas os cristãos
encontram refugio. A primeira leitura nos apresentou o relato da grande prova
ao qual Abraão – o pai de todos os crentes – foi submetido (cf. Gn 22). O
relato faz parte das assim chamadas “tradições patriarcais” (Gn 12-36). A prova
pela qual Abraão passou foi assaz dramática: sacrificar Isaac, seu filho amado
e, além do mais, filho da promessa. Porém Abraão confiou em Deus e foi salvo!
O pensamento da glória que nos espera deve
animar-nos na nossa luta diária. Nada vale tanto como ganhar o Céu. Ensina
Santa Teresa: “ E se fordes sempre avante com esta determinação de antes morrer
do que desistir de chegar ao termo da jornada, o Senhor, mesmo que vos mantenha
com alguma sede nesta vida, na outra, que durará para sempre, vos dará de beber
com toda a abundância e sem perigo de que vos venha a faltar” (Caminho de
Perfeição, 20,2).
Muitas vezes, também nós passamos por provas
espirituais difíceis: parece que Deus não me ouve, que ele está longe de mim,
não liga para mim, muda de planos e que “não está nem aí” para os meus planos.
Os discípulos de Jesus têm uma sensação semelhante diante do anúncio da Paixão
e do seguimento exigido por Jesus: encontravam-se diante de um projeto que eles
não tinham imaginado. E agora, vale a pena? Vale a pena, Abraão? Vale a pena, discípulos de
Cristo?
A transfiguração de Jesus é uma catequese que
revela aos discípulos e a nós Quem é Jesus: O Filho Amado de Deus! Em nossa
caminhada para a Páscoa somos também convidados a subir com Jesus a montanha e,
na companhia dos três discípulos, viver a alegria da comunhão com Ele. As
dificuldades da caminhada não podem nos desanimar. No meio dos conflitos, o Pai
nos mostra desde já sinais da Ressurreição e do alto daquele monte Ele continua
a nos gritar: “Este é o Meu Filho Amado, escutai-O”.
A Transfiguração é uma centelha da glória divina
derramada nos Apóstolos que fez gerar uma felicidade tão grande que fez Pedro
exclamar: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas…” Pedro quer
prolongar a situação! O que é bom, o que importa, não é estar aqui ou ali, mas
estar sempre com Cristo, em qualquer parte, e vê-Lo por trás das circunstâncias
em que nos encontramos. A vida dos homens é uma caminhada para o Céu, que é a
nossa morada (2 Cor 5,2). Uma caminhada que, às vezes, se torna áspera e
difícil, porque com frequência devemos remar contra a
corrente e lutar com muitos inimigos interiores ou de fora. Mas o Senhor quer
confortar-nos com a esperança do Céu, de modo especial nos momentos mais duros
e difíceis da nossa vida.
Os discípulos da transfiguração são os mesmos do
Monte das Oliveiras, os da alegria são também os da agonia. É preciso
acompanhar o Senhor em suas alegrias e em suas dores. As alegrias preparam-nos
para o sofrimento e o sofrimento por e com Jesus dá-nos alegria. Os discípulos,
que estavam desanimados diante do Mistério da Cruz, são consolados por Jesus na
transfiguração e preparados para os acontecimentos vindouros, como, por
exemplo, o terrível sofrimento que Ele padecerá no Getsêmani. Vale a pena
segui-lo?
Certamente.
Nós devemos encontrar esse Jesus na nossa vida
corrente, no meio do trabalho, na rua, nos que nos rodeiam, na oração, quando
nos perdoa no Sacramento da Penitência (Confissão), e sobretudo na Sagrada
Escritura, onde se encontra verdadeira, real e substancialmente presente.
Devemos, aprender a descobri-Lo nas coisas ordinárias, correntes, fugindo da
tentação de desejar o extraordinário.
Escutar e anunciar!…
Não podemos ficar no Monte… de braços cruzados… O
seguidor de Cristo deve descer do monte para enfrentar o mundo e os problemas
dos homens!
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