quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Homilia da Quarta-feira de cinzas do Padre Fantico Borges, CM

Homilia da Quarta-feira de cinzas do Padre Fantico Borges, CM

O itinerário quaresma como caminho de santidade

Quero começar minhas breves palavras lembrando da última mensagem do Papa Bento XVI, no seu pontificado, para a Quaresma é um texto maravilhoso e que nos oferece todo um programa de vida. De fato, o Papa nos vai conduzindo através da Liturgia de cada Domingo da Quaresma e do Tríduo Pascal mostrando aquilo que nós já sabemos, mas que talvez nem sempre aproveitamos com fruto: toda piedade deve ser conduzida à Liturgia e a Liturgia deve fazer-se piedade, ao mesmo tempo que enriquecê-la.
a quaresma é um itinerário espiritual onde somos convocados a contemplar o Mistério da Cruz, fazendo o caminho do calvário, rumo a ressurreição. Para realizar uma conversão profunda da nossa vida: deixar-se transformar pela ação do Espírito Santo, como São Paulo no caminho de Damasco; orientar com decisão a nossa existência segundo a vontade de Deus; libertar-nos do nosso egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo; são os meios de por em marcha essa conversão.  O período quaresmal é momento favorável para reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo.
O primeiro passos rume neste itinerário é contemplar o Mistério da Cruz. Olhar com profundidade o Silêncio penetrante e salvífico da Cruz. No Silêncio da Cruz de Cristo, nasce a certeza da nossa vitória. Todos os exercícios quaresmais: jejum, esmola, oração e tantos outros nascem, recebem e se nutrem da forca da Cruz de Jesus. Nós recebemos do Mistério da Cruz a força para unir-nos à mesma Cruz, ou seja, aquilo que Deus nos pede, ele nos concede: Deus pede que rezemos? Ele nos dá a graça da oração. Deus nos pede que façamos penitência? Ele nos dá a graça para realizá-la? Deus pede que partilhemos e que não sejamos egoístas? Ele nos dá a graça da generosidade e da esmola. O que está por detrás de tudo isso é a primazia da graça de Deus na nossa vida. Não podemos mais confiar nas nossas próprias forças! A nossa experiência grita aos nossos ouvidos: “somente com as próprias forças não é possível!” E é assim. Mas também é verdade aquele grito celestial: com a graça de Deus, tudo é possível! S. Paulo experimentou e expressou essa realidade de uma maneira maravilhosa, confiando na graça de Deus pôde dizer aquelas palavras aparentemente contraditórias: “quando eu sou fraco, então, é que sou forte” (2 Cor 12,10).
O itinerário que a quaresma nos convida a realizar nasce da consciência que necessitamos de conversão pessoal. São João Crisóstomo, ensinava que existem distintos e diferentes meios que conduzem a alma para este fim. Para ele o primeiro era a acusação dos próprios pecados.  Pois se condenamos nós mesmos aquilo que pecamos esta contrição obterá o perdão diante do Senhor. Condenar aquilo que se fez de errado, com menos facilidade de recai no erro. Por isso, que quem não faz reta contrição dificilmente alcançará a graça da paz interior.
Um segundo caminho proposto por São João Crisóstomo consiste em perdoar as ofensas que recebemos de nossos inimigos, de tal forma que, colocando limites a nossa ira, esqueçamos as faltas de nossos irmãos. Quem assim age receberá o perdão de Deus, pois Cristo disse: perdoai nossas faltas como nós perdoamos a quem nos têm ofendidos.
Outro caminho é a Oração fervorosa e contínua, que brota do íntimo do coração. Pela oração a pessoa entra em contato estreito com Deus, unido-se ao seu mistério de amor. Quem reza vive na presença de Deus e sabe escutar sua voz, por isso, lhe é mais obediente. Um outro caminho, ainda, é a esmola. Ela possui uma enorme vitalidade, porque abre nosso coração ao sofrimento alheio e torna-nos mais sensíveis aos apelos de Deus, em favor do Reino. Por fim, ensina-nos, São João Crisóstomo, a humildade que significa agir com modéstia, sem desejo de recompensa humana, como fazem os hipócritas. Realizar as esmolas, os jejuns e as orações sem humildade de nada tem proveito na vida do homem.
Neste itinerário quaresmal, que iniciamos hoje ninguém deixe de esforça-se ao máximo para chegar mais santo na Páscoa. Nas sendas da Graça tudo é possível e quem espera no Senhor sempre alcança. Tomemos estes quarenta dias como um verdadeiro retiro espiritual, pondo nossa atenção na oração pessoal, que será nossa vigia, reconciliando-nos com Deus, como ponte para atravessar as tentações, como muro contra as tribulações, vitória nas batalhas, sustentáculo do espírito, e desterro da tristeza. 

Que Maria, mãe de Jesus e da Igreja caminhe conosco por essa estrada da conversão. Amém



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