COMO
SE RELACIONAM FÉ E GLOBALIZAÇÃO
Como se relacionam elementos
teológicos da Igreja e configurações institucionais?
É inseparável os elementos teológicos e a realidade
cultural na qual a Igreja , como comunidade humana na fé cristã está inserida.
Para existir uma fé verdadeiramente compreensível e autêntica faz-se necessário
não abdicar da intrínseca relação entre essa duas realidades. Deste modo, a fidelidade da Igreja a seu contexto
sociocultural é imperativo que decorre de sua própria realidade como sacramento
da salvação de Jesus Cristo. Neste sentido, o institucional está a serviço do
salvífico que é seu fim. Os elementos teológicos e as configurações
institucionais encontram um ponto comum na finalidade da Igreja que é ser
sacramento visível da salvação de todos em Cristo. Para que ela atinja esse fim
as instituições são alteradas de acordo com o tempo e circunstâncias humanas. E
são os elementos teológicos que garantirão a identidade da comunidade na
diversidade de configurações que ao longo do tempo ela terá para efetivar sua
missão.
Tudo que foi dito acima acontece porque a fé como resposta à ação de Deus, acolhimento
do ser humano a autocomunicação de Deus é sempre uma fé inculturada. Sem a fé
os efeitos salvíficos perdem seu objetivo, tornando-se palavra muda. Desta
forma, só existe revelação enquanto acolhimento na fé. Mas quem acolhe esta
salvação de Deus é sempre um sujeito situado e imerso numa cultura concreta.
Daí que toda revelação é já ação inculturada e nenhuma fé existe como “fé
pura”, mas sim como vivida e entendida num processo inculturada. Assim se pode
afirmar que fé inculturada seria na verdade o processo de acolhimento da
revelação vivida concretamente em cada cultura, no seu tempo e lugar. A fides quae (sentido objetivo
da fé), na acepção do termo aqui empregado, seria a mediação real onde tal
revelação efetiva-se e não a própria ação de Deus. Desta forma pode-se falar de interculturação
da fé ao invés de inculturação da fé.
Portanto a relação entre os elementos teológicos da
Igreja e a configuração das institucionais apresenta-se no acolhimento-resposta
que o ser humano faz na fé dentro de uma cultura no encontro com outras
culturas. Por isso falamos não de inculturação da fé, mas interculturação da
fé, como processo de identidade e diferença aberto às culturas e não sobrepõe às
outras.
Como acontece uma crise
institucional na Igreja?
Enquanto comunidade humana que responde na fé à ação
salvífica de Deus, a Igreja está sujeita a leis e estruturas presentes nas
culturas humanas, por isso pode sofrer, como sofreu, crises institucionais. Do
ponto de vista institucional uma crise da comunidade eclesial acontece sempre
que experiências, compreensões, avaliações e compromissos comuns dos membros
não se encontrarem mais devidamente harmoniosos nas instituições concretas.
Neste sentido, a crise dar-se-á pela incapacidade da comunidade eclesial
apresentar-se a todos com linguagem fora do tempo e dos espaços dos atores
culturais concretos. As representações metais, as estruturas de pensamentos e
as categorias sociais, são elementos do seu contexto sociocultural que
interagem na atualização e efetivação no interior da dimensão subjetiva da
Igreja. Mas não são eles os elementos teológicos da Eclésia. Todavia não pode
ser esquecê-los e abdicá-los, sem cair no perigo de esvaziar a mensagem. Assim
a crise institucional acontece quando se separa o teológico das configurações
institucionais. Quando os elementos teológicos não mais se encontram
interligados com as configurações institucionais nasce a crise porque se
divorcia a mensagem da cultura. O cultural é marginalizado e a fé deixa de ser
uma resposta à ação de Deus para ser uma adesão alienante.
Como entender a catolicidade da
Igreja hoje?
A catolicidade é a união das
Igrejas. Não é a soma delas, mas sim a mútua recepção e comunhão das igrejas
locais. A catolicidade é a imagem da
Igreja universal que resulta da mútua inclusão, onde a comunhão das Igrejas
Locais é a visibilidade da Igreja Universal. Assim não se pode conceber uma a
Igreja Local sem a Igreja Universal, nem esta última é realidade sem aquela.
Desta forma a catolicidade não é a uniformidade das Igrejas, muito menos a
submissão das Igrejas Locais a uma Igreja Local de Roma. Catolicidade é uma
relação dinâmica de inclusão que compreende as condições concretas de vida de
cada Igreja Local em suas novas e autênticas configurações para prosseguir a
sua missão salvífica.
Catolicidade para ser realmente
universalidade não pode esquivar-se das comunidades, das culturas, das
diferenças contextuais e lingüísticas. Portanto catolicidade, hoje, é uma
tarefa de complementaridade, que não pode admitir-se como oposição entre o
local e global. A catolicidade não significa Igrejas meramente semelhantes ou
uniformes em territórios diferentes, mas sim Igrejas peculiares pelo modo
próprio como seus membros acolhem e vivem a Palavra de Deus. Desta forma a diversidade não rompe a
unidade, mas a enriquece, pois a universalidade só existe na e a partir da
Igreja Local. Catolicidade então será a
tarefa dinâmica no seio das Igrejas Locais com a Igreja Universal, em comunhão
das diferenças salvaguardada pelo ministério petrino, que antes de ser um super
bispo é aquele que promove o diálogo e a interação, cuida que as diversas
configurações possam ser acolhidas pelas demais Igrejas e intervém quando a
comunhão é ameaçada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário