terça-feira, 8 de novembro de 2011

A diversidade na unidade da Igreja: princípio de comunhão



O que é servir?
Segundo nossa língua portuguesa servir significa: exercer funções, ajudar ou auxiliar, prestar serviço, ser útil, prestativo e favorável. Já para a cartilha cristã servir vai além desses adjetivos. Servir é dispor-se a cuidar do outro; doar-se livremente, ou seja, ter generosidade.
No contexto cristão servir é um ato de amor. Somente quem ama é capaz de colocar-se em estado de serviço. Em Jesus, homem experimentado no amor, o sentido do servir adquire todas as dimensões: “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate de muitos” (Mt 20,28). Assim quem serve não é menos digno pelo fato de servir a outro, pois Jesus Deus-homem, mesmo tornando-se servo, não deixou de ser Deus, aliás, foi no serviço aos homens que Jesus demonstrou seu grande poder.
No Reino de Deus quem serve e se torna servo dos irmãos é sempre o maior. Em Filipenses, Paulo nos mostra o verdadeiro sentido do serviço cristão: “ele tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com Deus, pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo, tornando-se semelhante aos homens” (Fl 2,6-7). É Cristo que ensina a cada pessoa de fé o significado mais alto do termo servir. Para Jesus não há possibilidade alguma de servir a um irmão senão deixamos nosso mundo de orgulho e vaidade. Quem quer servir a Cristo dever andar na contramão do mundo. Enquanto a sociedade busca ser sempre o primeiro, o cristão almeja a humildade e a simplicidade; enquanto a sociedade anseia a vitória acima de tudo, o cristão mergulha em procura da felicidade e do amor. É como afirma Jesus: “Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e servo de todos” (Mc 9,35).

2. O sentido da fé e os carismas do povo cristão
O povo santo de Deus participa também da missão profética de Cristo: dá testemunho vivo dele especialmente pela vida de fé e de caridade, e oferece a Deus o sacrifício de louvor, fruto dos lábios que glorificam o seu nome (cf. Hb 13, 15). É esta a totalidade dos fiéis, que possuem a unção que vem do Espírito Santo, pelo batismo (cf. 1Jo 2,20 e 27). E o mesmo Espírito Santo não se limita a santificar e a dirigir o povo de Deus por meio dos sacramentos e dos ministérios, e a orná-lo com as virtudes, mas também, nos fiéis de todas as classes, - distribui individualmente e a cada um, conforme “entende”, os seus dons (1Cor 12,11), e as graças especiais, que os tornam aptos e disponíveis para assumir os diversos cargos e ofícios úteis à renovação e maior incremento da Igreja, segundo aquelas palavras: “A cada qual se concede a manifestação do Espírito para utilidade comum” (1Cor 12,7). Devem aceitar-se estes carismas com ação de graças e consolação, pois todos, desde os mais extraordinários aos mais simples e comuns, são perfeitamente acomodados e úteis às necessidades e a comunhão da Igreja.

3. A unidade na diversidade da Igreja: universalidade ou catolicidade do único povo de Deus: o sentido de comunhão
Todos os homens são chamados ao povo de Deus. É por isso que este povo, permanecendo uno, não obstante a diversidade de cultural, a qual esse povo cristão está inserido, deve dilatar-se até os confins do mundo inteiro e em todos os tempos, para se dar cumprimento ao desígnio de Deus que, no princípio, criou a natureza humana e decidiu congregar finalmente na unidade todos os seus filhos que andavam dispersos (cf. Jo 11,52). Para isto mandou Deus o seu Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas (cf. Hb 1,2), para ser o Mestre, o Rei e o Sacerdote de todos, a cabeça do povo novo e universal dos filhos de Deus. Para isto, enfim, mandou Deus o Espírito do seu Filho, o Espírito soberano e vivificante que é para toda a Igreja e para todos e cada um dos crentes, o princípio da unidade e da comunhão na doutrina dos apóstolos, na união fraterna, na fração do pão e na oração (cf. At 2,42,).
Por força do ser católico, cada pessoa contribui com os seus dons peculiares para que toda a Igreja cresça por meio da comunicação mútua e pelo esforço comum, em ordem a alcançar, a plenitude na unidade. É por isso que o povo de Deus não só reúne povos diversos, mas é sinal visível desta união com o Senhor. Entre os seus membros reina a diversidade, quer nos cargos, e assim alguns exercem o sagrado ministério ordenado para o bem dos seus irmãos, quer na condição e no modo de vida, e assim muitos no estado religioso, procurando a santidade por um caminho mais estreito, são um estímulo e exemplo para os seus irmãos, por fim outros por uma vida conjugal de santidade matrimonial.
Os membros do povo de Deus são realmente chamados a porem em comum os seus bens, e a cada um na Igreja se aplica às palavras do apóstolo Pedro: "Servir aos outros, cada qual na medida do dom que recebeu, comunicando-o uns aos outros como bons administradores da multiforme graça de Deus" (lPd 4,10).

4. A unidade nas mutuas relações dentro da Igreja
Deus nosso Senhor arquitetou o mundo como um mestre perfeito. Tudo que existe na natureza possui uma harmonia inconfundível e permanente. Na estrutura da Igreja segue-se o mesmo modelo divino. Assim a unidade eclesial é resultado da harmonia e da ordem de todos, e não é uniformidade, mas unicidade.
O exemplo mais perfeito para exprimir a unidade eclesial na diversidade dos dons e ministérios, é compará-la com uma orquestra. Numa orquestra só existe harmonia por que, não obstante a diversidade dos músicos e instrumentos, todos possui um único maestro. Portanto, os vários músicos enquanto estão tocando seu próprio instrumento, seguindo a orientação do único maestro, contribuem para que a música seja perfeita. Desta forma, cada um a seu modo, tocando seu instrumento, ajuda a tornar bela a diversidade dos sons.
Assim também acontece na Igreja. Quem são os músicos? E quem é o maestro? Os músicos são todos os agentes de pastoral, os fiéis batizados que receberam no batismo um talento especial para exercê-lo em favor da Igreja. O maestro é todo aquele que coordena o trabalho: bispo, padre, diácono, coordenador da comunidade, coordenador de pastoral.
A comunidade somente caminhará em harmonia quando quem coordena estiver em sintonia com todo o grupo. E os membros da comunidade em harmonia com ele. Compreende-se assim que o maestro não é maior que os músicos, nem os músicos maior que o maestro. Todos são importantes e úteis para o bem do trabalho. Portanto, a unidade estará garantida quando cada um na diversidade de seu carisma ou dom estiver atento ao conjunto da obra. Ninguém no reino de Deus trabalha para si e por si, trabalha-se em mutirão por Cristo, em Cristo e com Cristo para o bem e o crescimento de toda a Igreja.

Pe. Fantico Nonato Silva Borges, CM

Fortaleza, 09 de Novembro de 2011, Festa da Basílica do Latrão.

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