sábado, 14 de novembro de 2009

Homilia XXXIII Domingo Tempo Comum (B)


O cristão constrói no mundo o seu futuro!

O cristianismo é essencialmente escatológico e toda sua pregação, sua existência quer seja pastoral ou clerical e hierárquica, está orientada por essa característica escatológica[1]. Como bem lembrou o Concílio Vaticano II, na Lumen gentium número 48, Jesus, com sua ressurreição fez o mundo e a própria história humano entrarem em sua fase final. As promessas de Deus encontram na pessoa de Jesus Cristo a resposta final, a vitória definitiva. Por isso, o Cristão não deve temer os problemas, os sofrimentos e as dificuldades da caminhada. A vitória já está garantida aos que se deixam conduzir por Cristo. Essa esperança na vitória de Jesus orientará nossa reflexão deste domingo.
Diante do mundo e suas dificuldade podemos tomar duas atitudes: podemos olhar a realidade como ruína e desastre e certamente não enxergaremos saídas. Neste caso falta-nos o olhar de Deus, que tudo pode, e que faz coisas impossíveis. Existe outro modo de vislumbrar nossa realidade. Podemos entrever muitas obras boas em volta de nós. Pessoas que mesmo diante da morte e do sofrimento encaram a vida como uma dor de parto. Ora, a dor de parto é um sofrimento que levará a uma alegria indivisa. Já existem muitos sinais do Reino que penetram na nossa cultura: a defesa da vida, a valorização dos excluídos, o cuidado com o sofredores, entre outros.
Assim a esperança na vitória não é sonho vazio, mas espera confiante em Deus. A primeira leitura (Dn 12, 1-3) é sem dúvida alguma uma mensagem de esperança para um povo cansado de sofrer. O livro de Daniel foi escrito num tempo de perseguição, durante o reinado do selêucida Antíoco IV Epífanes (174-164 a.C.) Este Rei mandou colocar no Templo de Jerusalém a imagem do deus Júpiter Olímpico para ser adorado obrigatoriamente por todos. Coisa que causou revolta entre os judeus. É também neste período que Judas Macabeus, juntamente com sua família permanece firme na fé a Aliança com Deus de Israel, mesmo sofrendo terríveis tormentos.
Diante desta perseguição feroz Daniel faz lembrar aos sofredores que Deus está com eles e vai intervir em seu favor. Virá “Miguel” apontado como o grande príncipe que defenderá o povo e o conduzirá a felicidade. A vitória sobre o inimigo é apresentada como a vida eterna, onde não haverá mais sofrimento e dor. A esperança encontrada em Daniel é, portanto, uma força para cada cristão de hoje que vive buscando ser fiel a Deus. A estes Daniel diz: coragem não desanime diante dos problemas, mas tenha fé e confiança!
Na segunda leitura, nos é expresso o motivo da nossa esperança. Em Hebreus 10,11-14, o autor da carta diz que nossa esperança está em Jesus, que com seu sacrifício trouxe definitivamente o perdão dos pecados.
Com a Páscoa de Jesus o mal foi vencido definitivamente, o que vale dizer que ele nunca será o vencedor. No texto de hoje somos convidados a ter esperança, mesmo vendo uma aparente vitória do mal no mundo. Mas porque o pecado ainda reina no mundo? A resposta não está na fraqueza de Deus, nem na lentidão de nosso Senhor, mas no fechamento dos corações humanos ao amor misericordioso de Deus. Por isso, o evangelho vai alerta-nos que é preciso se preparar para a chegada final do reino e seu irrevogável juízo.
No Evangelho (Mc 13, 24-32) estamos diante do discurso escatológico de Jesus, que se inicia pela profecia da destruição do Tempo de Jerusalém e se conclui com o anúncio de sua segunda vinda gloriosa. A chegada desse reino vem primeiro com a superação do mundo de pecado. Por isso haverá destruição do velho mundo a fim de surgir o novo céu e a nova terra.
A proposta de Jesus é que só destruindo as falsas estruturas individualistas estaremos prontos a acolher o reino de Deus. Assim, entendemos que o reino não é uma construção futurista, mas uma realidade arquitetada agora em vista do céu. É preciso levar o mundo a fazer a sua páscoa, ou seja, a fazer a passagem do estado de pecado a uma vida de perfeição. Esta é a grande missão da Igreja: levar este mundo à conformidade com Cristo. Assim, nossa missão de cristãos não é somente social, política e cultural, mas também cósmica. Pois assim como o pecado do primeiro Adão não teve somente conseqüências para o homem, mas repercutiu também no cosmo e na matéria, assim também a redenção de Cristo deverá atingir todo o universo. Ele salvou a tudo e todos. Por isso a humanidade é chamada em Cristo a ser uma nova criatura e não somente ela, mas também a natureza e o universo. Desta forma, esse mundo é importante para o cristão. Certo que ele não tem morada definitiva, nem por isso deverá descuidar-se de construir aqui na terra as condições do reino. A Constituição Pastoral Gautium et Spes no número 21 afirma que o cristão não deve descuidar das obrigações deste mundo com a desculpa da salvação depois da morte. Pela esperança do reino escatológico encontramos motivação para lutar por um mundo melhor.
Não esqueçamos que o cristão é um sinal de Cristo, outro Cristo no mundo como bem afirmava Santo Agostinho. Ora, se somos Cristo, então nossa vida deve resplandecer a esperança de Cristo para as pessoas. Se não for assim, não adianta ser cristão. O cristão, afirma a Carta a Diongeto, é para o mundo o que a alma é para o corpo[2]. O cristão não foge do mundo, nem se esconde covardemente, ao contrário ele enfrenta o mundo, pois sabe que não está só nessa luta. A vitória do Cristo Rei que celebraremos no final do ao litúrgico é o sinal celebrativo de que a esperança cristã não decepciona.


[1] Cf. J. MOLTMANN, Teologia da Esperança, São Paulo: Paulus/Teologia, 2003, PP.33-47
[2] Carta a Diagneto, 6, Padres Apologistas, col. Patrística, São Paulo: Paulus, 1995.

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