quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Eclesiologia e Inculturação

Introdução.
A Eclesiologia presente no Evangelho de João aponta para um caminho na direção de nova evangelização que respeita as culturas e valoriza as expressões de fé presente nas varias realidades humanas. A isso se pode aludir a expressão de Bultmann que assestava a uma pré-compreensão cristã nas culturas.[1] A parábola da samaritana (Jo 4, 37-38) destro do contexto da inculturação da fé na comunidade joanina é uma riqueza, sobretudo no tratamento com a cultura diferente. Tal contato cria um horizonte importante para atuais reflexões sobre a evangelização.
A antropologia cristã vem estudando há bastante tempo o tema da evangelização de culturas ainda não-cristãs. A pergunta referencial é qual pedagogia deve ser apropriada à evangelização atual? É no contexto de resposta a esse questionamento que nasce o termo Inculturação.[2] A inculturação como realidade da evangelização significa “encarnar” a vida e a mensagem de Jesus Cristo nas diversas culturas concretas dos povos aos quais o Evangelho é boa-nova. Ora, essa boa-nova para comunicar algo de real precisa ser inteligível a quem escuta. Aqui subjaz a importância da análise do QE para nós. Como a comunidade de João consegui penetrar nas culturas e comunicar as pessoas, que não conheciam as promessas ou que mesmo conhecendo algo das alianças antigas estavam praticamente de fora das esperanças da religião do “Israel Oficial”.

Intuições Hermenêuticas para uma inculturação no QE.

Esse pequeno ensaio teológico busca encontrar as intuições hermenêuticas, tomando como base o texto de João na perícope do encontro de Jesus com a samaritana (Jo, 4, 142) para responder ao apelo da Evangelização principalmente no contato com “culturas diferentes”.
Segundo Lúcia Weiler a tradição joanina que narra a evangelização da Samaria é extremamente revolucionaria, por dois motivos que ela denomina de intuições hermenêuticas. A primeira intuição é que a comunidade joanina atribui a obra de evangelização da Samaria a uma mulher, duplamente marginalizada, por ser mulher e por ser samaritana. Com isso João sugere que a boa-nova valoriza a presença de sementes do Evangelho nas culturas.[3] Esta primeira suspeita hermenêutica pode ser verificada no próprio Evangelho de João nas palavras ditas por Jesus: “Pois bem, eu vos digo: erguei vossos olhos e vede os campos: estão brancos para a colheita... Aqui, pois, se verifica o provérbio: um é o que semeia, outro o que ceifa. Eu vos enviei a ceifar onde não trabalhastes; outros trabalharam e vos entrastes no trabalho deles” (Jo 4, 35-38).
Um segundo elemento revolucionário que se pode verificar na comunidade joanina é o fato de que não um apóstolo, mas uma mulher samaritana que após o encontro (ver, escutar e conhecer) com Jesus reconhece-o como profeta e messias e vai anunciar Cristo a seus conterrâneos. Weiler faz notar que a mesma expressão que Jesus usou para convidar os primeiros apóstolos a permanecer com ele: “vinde vede” (Jo 1, 39), aparece no encontro com a samaritana: “vinde e vede um homem que me disse tudo o que tenho feito. Não será ele o Cristo?” (Jo, 4, 29).
É notória a intenção teológica da comunidade joanina no final da perícope, pois a profissão de fé dos samaritanos revela a valorização presente do Verbo (dabar) nas culturas marginalizadas. Isso faz crer que palavra de Deus é reconhecida como revelação direta e imediata do próprio Jesus, dentro da cultura samaritana.


[1] A linguagem de Jesus já demonstra que a semente do Evangelho está nas outras culturas. Ver Jo 4, 37-38. Lúcia Weiler, que escreveu na RIBLA fascículo 15, p 102.
[2] Sobre este tema ver Lacoste, Jaen-Yves. Dicionário Crítico de Teologia, verb. Inculturação. Loyola/Paulinas, SP, 2004.
[3] Op. Cit. RIBLA, 15, p. 102-103.

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