sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Formação Básica de Bíblia







Introdução:

A leitura da bíblia na Igreja segue alguns critérios necessários para manter-se fiel à Palavra de Deus e evitar “adulterar” o sentido com uma leitura tendenciosa. A Igreja orienta a forma correta de ler a bíblia.
Entre as orientações podemos destacar:
Leitura contextualizada do texto. Compreender a cultura da época isso ajuda a compreender o texto, tendo em mente que a Bíblia é Palavra de Deus, mas foi escrita em uma época histórica, utilizando normas gramaticais, língua e destinada a um povo concreto;
Evitar leitura fundamentalista. Tirar da bíblia o que ela não quer dizer, utilizando a Palavra de Deus para justificar certas posturas e visões moralistas do mundo Evita-se assim a leitura “mágica” (Abrir a Bíblia em qualquer versículo isolado do texto completo e aplicar a Palavra na vida); Deve-se ler o texto completo.
Ler as entrelinhas. Ler sempre com a pergunta: “o que este texto quer me dizer?” e não com a pergunta: “aconteceu assim mesmo?”. Assim consegue-se descobrir a atualidade da Palavra em nossas vidas.
Utilizar as sete chaves da leitura bíblica (folha anexa).


I – CONTEXTO HISTÓRICO

1. Os Povos pré-bíblicos

Para uma compreensão da Bíblia devemos, em primeiro lugar, contextualizá-la na história da humanidade. Hoje isso é possível através da ajuda das ciências: História, Geografia, Antropologia, Arqueologia, Exegese e Filologia (estudo da escrita antiga).
Antes do início do texto escrito houve a presença de povos que foram os antecessores dos Povos Bíblicos e que juntos formam os antepassados do Povo de Deus, ou seja, antigo Israel. São os povos:
a) Hapirus:
A origem deste povo é a planície. Trata-se do campesinato expulsos de suas terras na planície. Eram mão-de-obra explorados pela cidade-estado, sendo obrigados a buscar sobrevivência às margens da sociedade Feudal. Refugiaram-se nas montanhas, onde os carros de guerras da cidade-estado não alcançava. Esses povos tiveram um grande significado quando a decadência das cidades-estados.


b) Abraâmicos:
Ocupavam os espaços entre as cidades-estados, as estepes. Eram um outro grupo de resistência ao regime da cidade-estado. Viviam da criação de gado pequeno (ovelhas e cabras). Eram seminômades. O nomadismo nas estepes estavam sujeito às condições climáticas e mudavam de acordo com o clima e as pastagens (o Patriarca Abraão era proveniente desse grupo). A instituição básica desses povos era o Patriarcalismo, liderados pelo Pai de família, organizados em clã. No entanto, a mulher e a criança gozavam de estimas, diferente das cidades-estados, onde a mulher era destinada ao harém e as crianças sacrificadas aos ídolos. A divindade era politeísta, o deus era conforme cada clã, ou seja familiar..
c) Mosiacos:
Está ligado ao grupo do êxodo que viveu escravo no Egito. Não é um grupo homogêneo, mas proveniente de escravização por guerras e conquistas. Constava de vários grupos que trabalhavam sob o jugo do Faraó trabalhando na fabricação de tijolos. Passaram a serem designados de hebreus. Esse grupo teve a experiência do Deus libertador.
d) Sinaítico:
Viviam aos pé da montanha de Deus, o Sinai.Esse grupo deu grande contribuição a Israel no culto a Javé. Provavelmente Moisés teve contato com esse grupo quando fugiu para o deserto e conheceu o clã de Jetro, que se tornou seu sogro.

Posteriormente esses povos juntaram suas tradições e aderiram a Javé como Deus de seus antepassados.


A terra habitada - organização sócio-político- econômico-religioso [1]

A época dos povos pré-bíblicos até a época bíblica, houve uma sucessão de impérios que se alternaram em vários momentos na história no controle da região. A grande disputa desses impérios era a terra de Canaã por se tratar de um corredor de passagem, controlando este corredor controlava-se a terra. Havia o que era conhecido por Crescente Fértil – extensão de terra que se estende da mesopotâmia ao Egito em forma de lua crescente, onde toma grande de Canaã.
Neste período destaca-se:

a) Canaã
Do ponto de vista político Canaã não possuía uma identidade, apesar da unidade. Eram vários mini-estados organizados sob a coroa. Os canaanitas eram comerciantes, grandes exportadores de madeira, líderes na indústria têxtil e especialistas na tintura de púrpura. Mantinham relação comercial com Egito e Mesopotâmia e as terras egéias (mar Egeu). Socialmente a concentração era nas cidades-estados na planície. Não possuía uma classe média. Eram politeístas e sacrificavam crianças para os deuses.
b) Mesopotâmia
Do ponto de vista político a Mesopotâmia era governada por um rei, apesar de ser organizada no sistema de cidades-estados. As cidades-estados eram teocracias (governo de deus), a cidade e suas terras pertenciam ao deus. Economicamente a vida era organizada em torno do templo, com seus jardins seus campos e seus depósitos. Agricultura desenvolvida possibilitava uma economia crescente e uma estabilidade. A Mesopotâmia esteve sob o domínio de várias dinastias.

c) Egito
politicamente o Egito tem uma história de conquistas e expansionismo. Era governador por um rei: o faraó. Não era um rei por eleição divina, nem um homem que teria sido deificado, mas o próprio deus. Era horus visível entre o povo, um deus. Apesar da terra ser administrada por uma burocracia complexa chefiada pelo vizir, tudo pertencia ao rei-deus, sobretudo as pessoas e este tinha a obrigação de manter a justiça. Socialmente o Egito tinha os egípcios livres e os camponeses escravos que viviam na vida dura trabalhando nas construções e cerâmicas, apesar de não haver impedimento de qualquer um ascender às classes ricas (p. ex. a estória de José). A religião do Egito era politeísta. Economicamente, por sua localização, era estável. Pelo processo de expansão além de muitas relações comerciais, havia os tributos que eram cobrados sobre os povos dominados.
A visão de mundo dos Egípcios era um mundo equilibrado, com uma ordem imutável, estabelecida desde a criação do mundo.

A Migração

A Bíblia relata no livro do Gênesis ( 12, 1-10; 13,1-4) as viagens feitas pelos Patriarcas.
Esse testemunho bíblico está de acordo com o dado histórico. Abraão e Sara subiu da Mesopotâmia e segui por Canaã, desceu para o Egito e retornou a Canaã, onde se instalou.
A Bíblia também relata a estória de José (Gn 37, 1-36), José foi a frente de sua família e é com ele que começa a aventura para o Egito. A escritura também relata o processo migratório feito por vários grupos (Gn 42, 1ss), quando houve uma grande fome em toda região e todos foram forçados a descerem para o Egito em busca de melhores condições de vida. Esse fato ocorreu mais ou menos no ano 2000 antes de Cristo. A Bíblia também relata a estada do povo no Egito (Gn 46, 1-7 e Ex 1, 8-14). Esse relato apresenta todo processo que será a raiz da História da Salvação.

II – ESTRUTURA DA BÍBLIA

2.1. A Tradição Oral
A Bíblia antes de ser escrita foi falada. É o que chamamos de Tradição Oral. Foi passada de boca em boca, de pai pra filhos, de filhos pra neto... Durou 900 anos... (cf. Dt 6,21-24. 26,5-9) até ser codificada (escrita). O primeiros escritos da bíblia foram em Aramaico e hebraico (quase todo o Antigo Testamento) e em grego ( Novo testamento e alguns livros do AT). O termo “BÍBLIA” vem do grego “Biblos” que quer dizer livros.
Nossa bíblia católica possui 73. esta dividida em duas grandes partes: Antigo Testamento (ou Aliança) 46 livros e Novo Testamento (ou Aliança) 27 livros.

A) ANTIGO TESTAMENTO –
Relata a história do Povo escolhido por Deus. Sua relação com Deus. Está agrupado em quatro (4) grupos menores:
1. Pentateuco - significa penta= cinco e teucos= rolos. Cinco livros. Chamado pelos judeus de aTora = a Lei. O principal assunto é a formação do Povo de Deus, desde as origens até o momento da Aliança com Deus.
1.1. Gênesis: Relata a criação do mundo; o pecado de Adão e Eva; a história dos patriarcas: Abraão e Sara, Isaac e Jacó; história de José e seus irmãos e chegada no Egito.
1.2. Êxodo: Significa “saída”. Narra a estadia do povo no Egito, a escravidão, a eleição do povo por Javé e o processo de libertação; concluindo com a Aliança com Javé no Sinai.
1.3. Levítico: Apresenta as leis a cerca do culto a Javé, normas religiosas.
1.4. Números: Devido a listas de recenseamento contida no início do livro. Retoma a caminhada no deserto, narra as infidelidades e fidelidades do Povo, liderados por Moisés.
1.5. Deuteronômio: Significa Deutero= segunda e Nomos= Lei ( Segunda Lei) é uma reapresentação da lei dada no Sinal abrangendo as relações sociais da nova sociedade formada com a libertação e posse da Terra.
2. Livros Históricos – Formam a maior parte do AT, falam sobre a vivência da Aliança no meio do povo, a continuidade do Processo de libertação com a conquista da terra, a organização Tribal, as lideranças (juízes) e a tensão entre uma sociedade organizada segundo Deus e a tentação de renúncia a Deus aderindo aos costumes dos estrangeiros. Ao todo são 16: Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Éster, 1 e 2 Macabeus. Esses livros narram os momentos fortes da relação de Israel com Deus-Javé. Não obedecem uma ordem cronológica, pois sua função é de instruir e apresentar a fidelidade de Deus na história e as conseqüências da infidelidade do povo.
3. Livros Sapienciais – São poemas, orações, reflexões e dito populares que revelam a sabedoria do povo orientados por Deus no caminho da felicidade. São 7: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico.
4. Livros Proféticos – É o último bloco do AT. Os profetas são pessoas escolhidas por Deus para exercer uma função de “porta voz” de Deus, falar em seu nome. Os profetas atuaram nos momentos marcantes da vida de Israel a fim de que o Povo seja fiel a Javé.

B) NOVO TESTAMENTO-

Relata a vida e missão de Jesus e o nascimento da Igreja e sua missão.
1. Evangelhos – Narra a vida-morte-ressurreição de Jesus e sua mensagem. Está dividido em: a) Evangelhos Sinótico: Mateus, Marcos e Lucas. São chamados assim por serem semelhantes no conteúdo e por utilizarem uma mesma fonte escrita. b) João – difere dos outros três por apresentar de forma bem específica a vida de Jesus com uma linguagem mais das alturas e por não utilizar as mesmas fontes.
2. Atos dos Apóstolos- Narra o nascimento das primeiras comunidades Cristãs, sua organização e difusão.
3. Cartas Apostólicas – São as cartas escritas pelos Apóstolos às comunidades fundadas a partir do anúncio da Palavra de Deus. a) Cartas Paulinas – As que Paulo escreveu nas suas viagens às comunidades por ele fundadas ou visitadas: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filiopenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemon e Hebreus. b) Cartas Pastorais – escritas por outros apóstolos com o fim de ajudar a comunidade a ser fiel ao projeto de Jesus Cristo.
4. Apocalipse – É um livro escrito com uma literatura caracterizada por simbologia, um recurso literário de grande estratégia, pois foi escrito no período de perseguição e o perseguidor (império Romano) não poderia descobrir as razões dos escritos, mas para as comunidades os escritos eram claros. O objetivo do livro é exortar e animar os Cristão perseguidos, mostrando que no final eles serão vencedores em Cristo – o Cordeiro.


2.2. A Diferença das Bíblias

A Bíblia Católica difere das demais bíblias. O Texto atual, chamado de CANÔNICO (quer dizer faz parte da lista oficial da Igreja) foi traduzido da Tradução Latina (chamada Vulgata – traduzida por S. Jerônimo) , que por sua vez foi traduzida do Grego (chamada Setenta ou Septuaginta [LXX]), fruto da Tradução do Aramaico e Hebraico. Nossa lista contém os 73 livros completos.
A Bíblia Hebraica só tem o Antigo Testamento, fora os livros escritos em grego, sendo assim dividida: A Toráh (Pentateuco); Neebin (Livros históricos e outros Escritos) e Ketubin (Livros Proféticos).
A Bíblia Protestante adotou a versão Hebraica do Antigo Testamento, assim possuem sete livros a menos: Judite, Tobias, 1 e 2 Macabeus, Baruc, eclesiástico e Sabedoria, também partes de Éster (10,4-16,24) e Daniel (13-14). Esses Livros foram escritos em grego.
Existem os Livros chamados de APÓCRIFOS, quer dizer: Oculto, escondido, misterioso, estes não foram aceitos pela Igreja por se tratar de muita fantasia e de fonte duvidosa (p. ex. Livros que contam estórias da infância de Jesus, nascimento de Maria, vida de santos, etc).

OBSERVAÇÃO:
Para identificar se uma Bíblia é católica ou não além de conferir a quantidade de livros, um modo mais fácil é verificar a editora, as mais comuns é: Paulinas, Paulus, Vozes, Loyola, Ave Maria, CNBB, TEB. Também outra maneira é ver a autorização da CNBB ou do Vaticano com a assinatura do Bispo responsável.
















[1] Bibliografia consultada:História de Israel. Bright J. ed. São Paulo: Paulinas, 1978.

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