sábado, 7 de novembro de 2009

HOMILIA DA MISSA DO XXXII DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B


Caros irmãos e irmãs a liturgia deste domingo apresenta-nos duas viúvas no centro do olhar de Deus. A primeira prima pela hospitalidade e a segunda pela humildade. Elas contrastam com a opulência da vida dos ricos e poderosos que não estão muito preocupados em servir aos irmãos e irmãs, mas sim ser servido por todos eles.
A verdadeira religião pressupõe essa dupla atitude das viúvas dos textos sagrados de hoje. No caso do Evangelho o Cristão é convidado a dar não do que tem, mas dar de si. Há uma diferença dá do que se tem sobrando e dá do que se tem para viver. No primeiro caso se oferece não por comprometimento, mas por obrigação. No segundo caso a oferenda parte do coração e não do bolso. Dar de si é oferecer-se a Deus no serviço generoso da caridade. A viúva deu do que lhe era necessário, ao contrário do rico que deu da abundancia, muitas vezes fruto do seu privilégio, como ostentação da glória e do poder. O gesto da viúva, lançado no silêncio de sua entrega, todos os seus bens, obteve mais graça e mereceu o elogio do Senhor, exatamente por que foi uma oferenda que comprometeu a viúva em sua vida presente e futura.
Assim, compreendemos que a oferenda, o dizimo e a esmola somente atingem seu fim quando elas envolvem a pessoa que oferta. Desta forma, o dar da viúva assemelha-se com o dar de Deus. A entrega do Filho pela salvação da humanidade afetou o mistério intra trinitário: Deus ao dar-se no Filho assumiu nossa condição. O rico fez-se pobre para enriquecer a muitos com seu gesto de hospitalidade e humildade.
Com relação a hospitalidade e a humildade, podemos notar até aqui que essas duas características não estão aí por acaso. Elas formam dois modos reais de identidade cristã. A hospitalidade é uma herança cristã presente já na origem das comunidades, pois se ler na Didaqué: Acolhei todo aquele que vier em nome do Senhor (...),Se o hóspede estiver de passagem, dai-lhe ajuda no que puder.[1] Nas Igrejas cristãs dos primeiros séculos um cristão em viagem estava certo de ser acolhido fraternalmente por todas as comunidades que iria encontrar ao longo de seu itinerário, contanto que tivesse provido de uma carta de apresentação, que geralmente era assinada pelo Bispo, como encontramos em na Apologia ao Cristianismo de Tertuliano[2]. A hospitalidade como marca cristã não somente é um bem para quem recebe como para quem a faz. Pois em São Clemente romano encontramos: “por causa da fé e da hospitalidade foi dado um filho na velhice (...) por causa da hospitalidade foi dado a Ló a salvação da condenação de Sodoma[3]. Pela hospitalidade se conquista graça diante de Deus. Por que na hospitalidade acolhemos a modo de Deus, que acolhe sem procurar receber nada em troca. Na hospitalidade espelhamos o amor ágape próprio de Deus.
A outra característica do cristão é a humildade presente na segunda viúva da liturgia de hoje. A humildade dizia São Vicente é a fonte da vida cristã, pois ser humilde é imitar nosso Senhor que foi humilde até o fim, morrendo numa cruz. A humildade afirma, São Vicente “ faz nascer na alma todas as demais virtudes (...). Um homem, por muito caridoso que seja, se não é humilde, não tem caridade” (XI, 494) “A humildade tem a propriedade de nos impedir de pretender alguma estima que não seja de ti mesmo, Deus meu (...).[4] Assim, compreendemos que a humildade é a bela dama que nos levará no bailado do amor até Cristo, nossa salvação. Sem humildade não podemos ir até Deus. Não esqueçamos que o Reino do Senhor está reservado aos humildes de coração!

Pe. Fantico Borges, CM

[1] DIDAQUÉ, nº 12 , São Paulo: Paulus, 2002, p. 356.
[2] Dicionário Patrístico e de Antiguidade Cristã, Petrópolis/São Paulo: Vozes/ Paulus, 2002, p. 698,
[3] Cf. CLEMENTE ROMANO, I Carta, São Paulo: Paulus, 2003, p. 31 ( nº 10-11).
[4] P. COSTE, Conferencias de São Vicente de Paulo, Vol. XI, p. 495

Um comentário:

  1. Esta postagem esta simplesmente fantastica, a clareza que nos é colocado o evangelho nos colocando também o exemplo de Lo que com sua hospitalidade nos faz entender o quanto temos de nos desprender de nossos próprios quereres.

    Augusto
    Yeshuá

    ResponderExcluir

Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C) Um homem vem a Jesus pedindo que diga ao irmão que reparta consigo a herança. Depois ...