segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A Igreja fundada sobre o alicerce dos doze Apóstolos.


Os escritos do Novo Testamento falam que Cristo fundou a sua Igreja edificando-A sobre as colunas dos doze Apóstolos, tendo Pedro como sinal visível da unidade da comunidade (cf: Mt 16, 18; Ap 21, 14)[1]. Por isso a Tradição cristã sempre reconheceu na Igreja os Apóstolos como fundamentos.[2]
A Igreja fundada sobre os Apóstolos[3], enviada ao mundo, e nele peregrina, foi instituída para ser o sacramento daquela salvação que Deus fez-nos chegar através de seu Filho Unigênito, Jesus Cristo. Por essa razão na mesma Igreja Cristo atua na continuidade histórica de sua pessoa naquela descontinuidade de seu Corpo glorioso pelo testemunho dos doze, são as testemunhas qualificadas para darem cabo da fundação histórica da Igreja já presente nos atos e gestos de Jesus de Nazaré.
Nesta mesma Igreja pregada pelos Apóstolos e como veremos pelos sucessores dos Apóstolos, os bispos, Cristo continuamente torna atuante e atualizada sua presença como Salvador.[4] Essa ação operante de Cristo acontece pela mediação da Igreja sacramento universal da salvação.[5]
A Igreja que Cristo institui nasce da sua ação sacerdotal de santificar e purificar com seu próprio sangue. Por isso, neste ato de Jesus emerge um novo povo messiânico[6], que é a Igreja. Daí que para a Tradição o povo da Nova Aliança é chamado de povo sacerdotal. Assim Cristo funda, em última instância, a Igreja pela sua ação mediadora. O envio dos doze já é sinal sacramental do desejo de criar um novo povo, uma nova Jerusalém[7], marcada pela ação sacramental de Cristo sacramento do Pai e pela Igreja sacramento de Cristo.
Com relação ao ministério ordenado ser um desdobramento da missão dos doze a Igreja sempre acreditou. Podemos verificar melhor se nos atermos ao resumo que Boaventura kloppenburg faz das proposições apresentadas pelo Cardeal Höffner no Sínodo dos Bispo em 1971: a primeira fala da fundação da Igreja pela mediação sacerdotal de Cristo, que deve tornar-se atuante na ação sacerdotal e mediadora da Igreja. As outras trazem mais aprofundada a teologia do ministério ordenado.
Ora, Cristo confiou à Igreja a tarefa de presentificar a obra redentora de Cristo ao mundo, ela é, portanto, essencialmente sacerdotal. Cristo é o Sacerdote é todos agem por meio do sacerdócio de Cristo. Não existe sacerdócio da nova aliança desligado de Cristo. E como não existe Igreja sem Cristo também não existe sacerdócio sem Igreja, pois a Igreja é sinal visível da invisibilidade do Senhor Jesus.
Depois é mister ter claro que Cristo associou os Apóstolos à sua missão e desta forma a missão da Igreja apostólica é escatológica, indo até o fim dos tempos. Portanto, com o fim de realizar sua missão a Igreja foi enriquecida com dons e ministérios. Uma convicção da comunidade primitiva era aquele de que os Apóstolos estavam na raiz da Igreja como alicerce e sustentáculo da fé autêntica.
Todos os escritos do Novo Testamento deixam clara a relação estruturante existente entro o Apóstolo e a comunidade na base da Igreja nascente. Apóstolo e comunidade dos fiéis unidas entre si numa aliança eterna com Cristo Cabeça fazem parte da estrutura fundamental da Igreja.
Os estudos bíblicos atuais reconhecem no ministério eclesial uma instituição explicitamente intencionada por Cristo. Não é, pois, o resultado de um simples processo de crescimento puramente sociológico. Tanto na primeira comunidade cristã de Jerusalém, como na atividade terrestre pré-pascal de Jesus de Nazaré, o grupo dos Doze ocupa um lugar privilegiado. A autoridade com que se apresentam procede de uma eleição e uma investidura por parte de Cristo. Ele os chamou, escolheu e lhes deu uma missão especial na fundação da Igreja. Mas a análise exegética nos convida também a reconhecer no Colégio dos Doze uma função instituída por Cristo para o serviço do novo Israel. [8]

O Apóstolo é elemento essencial na ministerialidade da Igreja, não podendo ser substituído por outra realidade. O Apóstolo é garantia da permanência histórica de Jesus de Nazaré no mundo. E é pelos Apóstolos que o ministério ordenado será instituído como garantia da perpertuidade do autêntico testemunho apostólico. Como o Pai é a fonte de tudo e o Filho dele recebe o seu ser; assim, também, os Apóstolos recebendo Cristo uma missão delegam outros (os sucessores) a continuarem sua missão, não como testemunhas oculares de Cristo, mas como testemunhas na continuidade da missão apostólica. Como veremos ao longo desta explanação o Apóstolo é a fonte na qual o ministério ordenado encontra sua fundamentação, autoridade e autenticidade. Desta forma romper com a Tradição apostólica, com a sucessão apostólica é romper com a fonte que corrobora e autoriza o ministério ordenado. Quem rompe a sucessão apostólica está fora da comunhão com a Igreja apostólica e com os Apóstolos.
O Apostolo não se auto-elege, mas é Deus o escolhe em Cristo pelo Espírito. A base do apostolado reside no mandato de Cristo e não na vontade pessoal de cada membro. É Cristo quem convoca e constitui (cf: Mc 3,14; 6, 7; Lc 6,13; 9, 1; Jo 6,70), chama quem quer para ficar com ele e ser enviado. Esse chamado é, portanto, gratuito e a missão não pode ficar incompleta.
Cristo associou os Apóstolos à sua missão, por isso o mandato apostólico coincide com aquele do Mestre. A missão escatológica do Apóstolo é ser testemunha de Cristo até o fim dos tempos quando o mundo todo redimido será em Cristo um só povo, uma só Igreja.[9]
Cristo é o apóstolo do Pai e os discípulos são apóstolos de Cristo. A missão dos Apóstolos não é outra coisa senão proclamar e prolongar Cristo: como o Pai me enviou assim também eu vos envio (Jo 20,21). O encargo dos Apóstolos era o de pregar o Evangelho, santificar os crentes, organizar e governar a Igreja nascente até vinda de Cristo. Isto pode ser aludido do texto de Mt 28, 20: “Eu estarei convosco até o fim dos séculos.”
A mensagem de Jesus expressa por Mateus está dirigida diretamente a todo Colégio apostólico, mas também a toda a Igreja em todo tempo, pois a colegialidade da missão apostólica sempre existirá até o fim dos tempos.
Aqui podemos supor uma continuidade do Colégio apostólico, todavia, esse Colégio sempre terá o fundamento no mandato dos doze. Por isso o Apocalipse nos revela que a Jerusalém celeste está fundamentada sobre estas doze colunas, na visibilidade da mesma que fundaram aqui nesta história, marcando assim que a missão dos Apóstolos se prolonga na história e vai além dela.
(...) Ela está cercada por muralha grossa e alta, com doze portas. Sobre as portas há doze Anjos e nomes inscritos, os nomes das dozes tribos de Israel: três portas para o lado do oriente; três portas para o norte; três portas para o sul, e três portas para o ocidente. A muralha da cidade tem doze alicerce, sobre os quais estão os nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro. (Ap 21, 12-14)
O princípio da apostolicidade reside na certeza que se conservou de que a Igreja Católica é a dilatação daquele primeiro núcleo apostólico.
Os doze pertencem ao coração do projeto de Jesus, foram estabelecidos como coluna para reger, governar e instruir o povo da nova Aliança. Para Kloppenburg B. “Os doze não existem para si mesmos, mas ‘em função de’, para o serviço de Cristo e das realidades evangélicas. Eles são ordenados à vinda do Reino de Deus na vida dos homens.[10]
Os doze não são fundamento apenas porque viveram com Cristo, eles o são pelo fato de estarem associado a missão do Mestre. Como nos afirmam os Evangélicos sinóticos os Apóstolos foram convocado por Jesus e após a ressurreição e ascensão aos céus tornaram-se as testemunhas qualificadas do Senhor ressuscitado. Eles são segundo a Tradição cristã as testemunhas da continuidade do Jesus histórico na descontinuidade do Cristo glorioso. Como alude Antônio J. de Almeida:
“Foi a eles que o ressuscitado delegou seus poderes messiânicos desabrochados em plenitude por sua glorificação (cf: Mt 28,18; Lc 24, 44-47; Jo 20, 13-26): ‘está aí sua graça própria, seu papel fundamental, insubstituível, que os constitui garantes (cic) da fé dos fiéis, e faz que a fé da Igreja seja essencialmente apostólica’. Esta condição os diferencia dos demais membros da comunidade: ‘[testemunhas do Cristo, seus plenipotenciários, seus selihim, os Doze são por isso não só os fundamentos da fé da Igreja, mas o centro da comunidade que encontra em seus lábios o eco da palavra do Mestre e, na sua pessoa, sua presença por lugar-tenência. Está aí uma graça própria, um papel único e insubstituível, um privilégio pessoal e de per si intransmissível.”[11]
Para que a Igreja apostólica cumprisse sua missão foi-lhe concedido por meio de Cristo dons e ministérios (cf: Ef 4,8), nos quais o mesmo Cristo Cabeça nutri e faz crescer pela força do Espírito Santo. Como já tratamos acima nas notas o ministério ordenado se diferencia de todos os outros ministérios e dons, pois ele constitui uma forma particular de participação no Sacerdócio de Cristo, comum a todos os cristãos. No ministério ordenado o consagrado age pelo e no lugar do Cristo Cabeça para a comunidade[12]. Por isso afirma Concílio Vaticano II que o ministério ordenado é instituído em última instância por Deus e é dotado de um poder Sacro:
“Cristo nosso Senhor, com o fim de apascentar o povo de Deus e aumentá-lo sempre mais, instituiu na sua Igreja vários ministérios que se destinam ao bem de todo o corpo. Na verdade, os ministérios que são revestidos do poder sagrado, estão ao serviço de seus irmãos, para que todos os que pertencem ao povo de Deus e gozam, portanto, da verdadeira dignidade cristã, todos juntos tendam livre e ordenadamente para o mesmo fim e cheguem à salvação.”[13]
O sacerdócio ministerial não se apóia em critérios sociológicos e culturais; não é pura especialização ou subfunção da missão comum da Igreja, e muito menos um serviço comunitário exercido por qualquer batizado. O ministério ordenado é de instituição divina, pois é Deus quem chama, elege e envia os Apóstolos.
O ministério ordenado não pode perder jamais o referencial de dependência divina. Nasce como desdobramento do chamado dos doze. O ministério dos Apóstolos é continuado pelos Bispos, os quais recebe dos Apóstolos a missão de conservar entre os fiéis a autêntica presença do Cristo-Cabeça. É dogma de fé que os Bispo não criaram uma nova igreja, uma outra estrutura eclesial, e sim conservaram em sua íntegra a sucessão ininterrupta daquela mesma Igreja dos Apóstolos, sem mudar nada em seus fundamentos. Por essa razão os fiéis devem submeter-se na fé as verdades de fé na qual se apóia a Igreja de Cristo. Assim, González expressa a fé dos Santos Padres: São Clemente Romano
“Pero? cuál es el motivo por el que los fieles se han de someter a los obispos y presbíteros? Es que la vida de la Iglesia sigue la ordenación del Evangelio: Jesús es el Hijo enviado del Padre. En nombre de su Padre envió a los Apóstoles, los cuales, habiendo reconocido la resurreción y la permanencia de Cristo, a su vez enviaron a los obispos y procuranron que, a la propia muerte, no faltase a las Iglesias el ministerio se sus dirigentes: por esta causa tuveron un perfecto conocimeinto, estabielecieron a los mencionados y depués dieron una norma para que, si morían, otros hombres probados recibiensen en sucesión el ministerio[14]

Como sabemos pelo Concílio Vaticano II todos somos chamados pelo batismo a ser sacerdote em Cristo. Mas o ministério sacerdotal se diferencia de todos os outros porque é um modo particular de viver e participar no sacerdócio comum de Cristo. O cristão chamado ao exercício do sacerdócio ministerial pela ordenação representa Cristo Cabeça e sua ação é IN PERSONA CHRISTI. É tarefa, portanto, do ministro ordenado instruir organizar, reger a comunidade povo de Deus para que ela possa exercer na sua ação especifica o seu Sacerdócio comum.[15]




[1] Sínodo dos bispo de 1971.
[2] Pastor de Hermas, XXI; S. Clemente Romano: I Epistolo ao Corintios XLII; Eusébio: Hist. Eclesiástica VI, 12.
[3] Segundo González, Santo Irineu reconhece os apóstolos as colunas da Igreja: “Ante todo reconoce como verdadera sólo la Iglesia fundada sobre aquellos a quienes Jesuscrsito elegió y envió como Apostoles, a quienes San Ireneo llama < las doce columnas>. A ellos encomendó la doctrina de la verdad, junto com la guía y gobierno de la comunidad de sus creyentes. Cf: Carlos Ignacio González. El Cuerpo Del Cristo que es la Iglesia. CEM vol.I, 2001, p. 126
[4] Sínodo dos Bispos de 1971, no 4; REB Vol XXXI, fasc. 124, 1971, p. 951
[5] Sobre a sacramentalidade da Igreja o no 48 de Lumen Gentium fala que como Cristo é o Sacramento do Pai, que revela todo o amor do Criador por sua Criatura, da mesma forma a Igreja é em Cristo Sacramento universal da salvação. Desta forma defende o Concílio Vaticano II que a Igreja fundada por Cristo e edificada sobre os Apóstolos é necessária à salvação, pois é nela e somente através dela que encontramos toda a plenitude da revelação e por onseguinte da salvação. Ver mais AG, 7; Carlos Ignacio González, S. J. El Cuerpo de Cristo que es la Iglesia. p 533- 568. ; Baraúna. A Igreja do Vaticano II, p
[6]Cristo estabeleceu este novo Pacto, isto é, a nova aliança do seu sangue, formando, dos Judeus e dos Gentios, um povo que realizasse a sua própria unidade, não segundo a carne mas no Espírito, e constituísse o novo povo de Deus. LG, 9
[7] Boaventura kloppenburg IN REB Vol XXXI, fasc. 124, 1971, p 897
[8] kloppenburg, Boaventura. O Ser do Padre. Vozes, Petrópolis, 1972, p 51. / no Sínodo dos Bispo de 1971 também encontramos no no 4 uma corroboração de nossa afirmação. Dizem os Bispo que “Dos Escritos do NT resultam claramente que fazem parte da estrutura original e inalienável da Igreja, o Apóstolo e a comunidade dos fiéis, unidos entre si, numa conexão recíproca, sob Cristo Cabeça e sob o influxo do Espírito. Sínodo dos Bispo de 1971 sobre Sacerdócio Ministerial, no 4 p. 17
[9] LG, 48b
[10] Boaventura Kloppenburg. O Ser do Padre, Vozes, Petrópolis ], 1972, p 53
[11] Pe. Antônio José de Almeida. O Ministério dos Presbíteros-Epíscopos na Igreja do Novo Testamento. Paulus, SP, 2001, p77
[12] Los ministerio a los que en su tiempo se refiere son ante todo, el de los obispos, a los que señala una función no sólo de gobierno, sino también y principalmente en el orden del culto divino. En seguida el de los presbíteros (ancianos), título que no se les da por la edad, sino por la elección y unción para que ejerzan el oficio de dirigentes de la comunidad. Cf: Carlos Ignacio González. El Cuerpo Del Cristo que es la Iglesia. CEM vol.I, 2001, p. 117

[13] LG, 18
[14] Carlos Ignacio González. El Cuerpo Del Cristo que es la Iglesia. CEM vol.I, 2001, p. 116
[15] Muito já se falou desta forma de exercício do sacerdócio comum, mas na verdade pouca coisa foi clarificada. Onde se encontra o especifico do sacerdócio comum dos cristãos? O que é mesmo função do sacerdócio ministerial? O n o 10 de LG, ainda hoje, não foi bem compreendido por alguns teólogos. Quando lá, nesta parte, fala de sacerdócio comum e sacerdócio ordenado afirma-se que o sacerdócio ordenado é sagrado para reger, organizar o povo sacerdotal, oferecendo o sacrifício eucarístico na pessoa de Cristo em nome de todo povo. O sacerdócio comum dos fiéis é vivido e exercido segundo a LG na recepção dos sacramentos, na oração e na ação de graça; como também no testemunho de uma vida santa, na caridade operante. Ora, é necessário entender que o povo de Deus é a Igreja redimida em peregrinação rumo a pátria definitiva. A Igreja não tem fim em si, mas é Cristo que como Cabeça da sentido a ela. A dinâmica é sempre a mesma para tudo na Igreja: Cristo enviado recebe tudo do Pai, a Igreja enviada de Cristo recebe tudo dele. Se é assim o que caracteriza a Igreja é a recepção, então o exercício do sacerdócio comum não poderia possuir outra função que não fosse a de receber de. Eis ai a importância de sacerdócio ordenado. O ministro ordenado agindo na pessoa de Cristo oferece em nome da comunidade o sacrifício a Deus. O povo agindo como Igreja recebe de Cristo visibilizado pelo ministro ordenado os sacramentos. Assim toda Igreja cumpri sua missão à imagem do Filho de ser eternamente dependente do Filho e continuamente receptora.

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