domingo, 11 de dezembro de 2011

Homilia do III domingo do Advento ano b


A tradição litúrgica da Igreja chama este Terceiro Domingo do Advento de Gaudete, isto é “Alegrai-vos!” No Missal Romano, a antífona de entrada exclama: “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto!” (Fl 4,4.5). Alegrai-vos! Alegremo-nos! O Senhor está perto! Está próximo o Natal; está próxima a Vinda do Senhor; está próximo de nós o Salvador nosso nos diversos momentos de nossa existência! Ele não é Deus de longe; é Deus de perto: seu nome será para sempre Emanuel, Deus-conosco!
Cristo é a Palavra e João é a voz que testemunha da Palavra. A liturgia de hoje revela a alegria do natal que se aproxima! Diz São Paulo aos tessalonicenses: Alegrai-vos no Senhor e rezai sem cessar... Afastai-vos de toda espécie de maldade e que o Deus da paz vos santifique totalmente e tudo aquilo que sois: alma, corpo e espírito sejam guardados sem mancha alguma para vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Com essa admoestação somos envolvidos na alegria que nos aguarda: o nascimento do salvador.
Paulo nos aponta onde nasce a verdadeira alegria: ela nasce da oração: “rezai sem cessar; daí graças em todas as circunstâncias, aqueles que rezam alcançam a graça de Deus e a felicidade duradoura; nasce também da abertura do coração aos apelos do Espírito que convida à conversão, a mudança de vida; nasce de uma vida moral irrepreensível (afastai-vos de toda espécie de maldade!), ou seja dos pecado, dos vícios da injustiça, do adultério, da mentira, da calunia e por fim a alegria nasce de uma vida santa: tudo que sois seja preservado de toda mancha do pecado, isto é, que os poderes infernais não domine sobre os filhos da luz. Para tudo isso é necessário acreditar que “Aquele que vos chamou é fiel.” Com essa certeza corramos ao encontro do Cristo que vem, tendo nossas lâmpadas acessas pela consciência da nossa condição de criaturas diante do Criador.
A alegria do Advento e a de cada dia é porque Jesus está muito perto de nós. A alegria cristã não é uma atitude passageira de festas humanas, mas um estado permanente, de quem confia que a vida cristã é uma caminhada ao encontro do Senhor que vem. A alegria é um dos sinais da presença de Deus no coração de uma pessoa. “Alegra-te, cheia de graça, porque o Senhor está contigo”, diz o Anjo a Maria. A causa da alegria na Virgem é a proximidade de Deus. E o Batista, ainda não nascido, saltará de alegria no seio de Isabel ante a proximidade do Messias. E o Anjo dirá aos pastores: Não temais, trago-vos uma boa nova, uma grande alegria que é para todo o povo, pois nasceu-vos hoje um salvador…” (Lc 2, 10-11). A alegria é ter Jesus, a tristeza é perdê-Lo.
No sentido acima exposto a alegria é uma busca por colocar-se no seguimento de Jesus. João Batista, aquele que testemunha a chegada de Deus nos oferece uma exemplo claro de como devemos comporta-nos diante de Deus. Ele não é arrogante nem tenta enganar os outros querendo ser o que não é. Dirá com isso Santo Agostinho: “João era a voz, mas o Senhor, no princípio, era a Palavra. João era a voz passageira, Cristo a Palavra eterna desde o princípio”. João tinha consciência que a voz só encontra sentido de existir de manifestar a Palavra. Ela, João é voz que clama no deserto: aplainai os caminho do Senhor. E novamente dirá Agostinho: “O que significa: Aplainai o caminho do Senhor, senão: Orai como se deve ser? O que significa ainda: Aplainai o caminho senão: tende pensamentos humildes? Imatai o exemplo de João julgam que é o Cristo e ele diz não ser aquele que julgam; não se aproveita do erro alheio para uma afirmação pessoal. Se tivesse dito: ‘eu sou o Cristo’, facilmente teriam acreditadonele, pois já era considerado como tal antes que o dissesse. Mas não disse: pelo contrario, reconheceu o que era, disse o que não era, foi humilde. Viu de onde lhe vinha a salvação; compreendeu que era uma lâmpada e temeu que o vento do orgulho pudesse apaga-la. João reconhece aquele que nos traz a alegria verdadeira. Nossa alegria está no Senhor e não em um outro. Alegrai-vos! Há quem se alegre no pecado, há quem se alegre em futilidades, há quem, mesmo alegrando-se com coisas que valem a pena, esquece que toda alegria é passageira. Quanto a vós, caríssimos, alegrai-vos com tudo quanto é bom e louvável, mas colocai vossa maior e definitiva alegria no Senhor! Somente nele o coração repousa plenamente, somente nele encontramos a paz que dura mesmo em meio à tribulação mais ferozes, somente nele o anseio mais profundo de nossa alma encontra satisfação. Como lembrava-nos Agostinho nas Confissões: “Nosso coração estará inquieto enquanto não repousar no Senhor”. Alegrai-vos! Mas seja o Senhor o fundamento da vossa alegria, a causa última da vossa exultação!
Caríssimos, eis a causa da nossa alegria. Nós, os cristãos, temos direito de nos alegrar, mesmo diante das tristezas do mundo; temos o dever de manter a esperança, mesmo quando as possibilidades humanas fracassam; temos a oportunidade de continuar esperando ainda quando os nossos cálculos mostrem-se errados. Porque nossa esperança e certeza não se fundam em nós nem em nossas possibilidades, mas naquele que vem, naquele que o Pai do céu nos envia, naquele que nunca conseguiremos conhecer totalmente, o Santo Messias do Pai, Jesus, nosso Deus-Salvador!
Resta-nos, então, escutar com atenção o conselho de São João Crisótomo: Que pode perturbar o santo? A morte? Não, porque a deseja como prêmio. As injúrias? Não, porque Cristo ensinou a sofrê-las: Bem-aventurados sereis quando vos injuriarem e vos perseguirem (Mt 5, 11). A doença? Também não, porque a Escritura aconselha: Aceita tudo o que Deus te mandar, e permanece em paz na tua dor, e no tempo da humilhação tem paciência; porque o ouro e a prata se provam no fogo, e os homens amados de Deus, no cadinho da tribulação (Ecl 2, 5). Que resta então, que seja capaz de perturbar o santo? Nada. Na terra, até a alegria costuma acabar em tristeza; mas, para quem vive de acordo com Cristo, as próprias penas se transformam em alegria. (Homilias sobre as estátuas, 18)
Caríssimos, num mundo que despreza ou ao menos é indiferente a Deusa e seus mandamentos, numa sociedade pagã, senão secularizada que ridiculariza a fé e olha com indiferença os que amam a Deus, tenhamos esta certeza: “Quem vos chamou é fiel; ele mesmo realizará isso!” Ele nunca nos deixará!
Que a escuta da Palavra santa do Senhor e a participação no mistério do seu Corpo e do seu Sangue nos preparem não somente para as festas que se aproximam, mas, sobretudo para o Dia da Vinda do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo!

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