sábado, 2 de dezembro de 2017

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – I domingo do Advento ano B

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – I domingo do Advento ano B

Vigiai até que Ele venha!

Na liturgia deste primeiro domingo do Advento, começamos o ano litúrgico de 2018. Um tempo novo brota para todos nós como expectativa da aurora resplandecente. Com advento Deus nos afirma que há uma esperança para nosso futuro. Eis chegado o tempo tão importante e solene que conforme diz o Espírito Santo, é momento favorável, o dia da salvação (cf. 2cor 6,2), da paz e da reconciliação. É o tempo que outrora os patriarcas e profetas tão ardentemente desejaram com seus anseios e suspiros; o tempo que o justo Simeão finalmente pôde ver cheio de alegria, tempo celebrado sempre solenemente pela Igreja, e que também deve ser constantemente vivido com fervor, louvando e agradecendo ao Pai eterno pela misericórdia que nos revelou neste mistério. Em seu imenso amor por nós, pecadores, o Pai enviou sem Filho único a fim de libertar-nos da tirania e do poder do demônio, convidar-nos para o céu, revelar-nos os mistérios de seu reino celeste, mostrar-nos a luz da verdade, ensinar-nos a honestidade dos costumes, comunicar-nos os germes das virtudes, enriquecer-nos com os tesouros da sua graça e, enfim, adotar-nos como seus filhos e herdeiros da vida eterna. 
Celebrando a cada ano este mistério, a Igreja nos exorta a renovar continuamente a lembrança de tão grande amor de Deus para conosco. Ensina-nos que a vinda de Jesus Cristo não foi proveitosa apenas para seus contemporâneos, mas que sua eficácia é comunicada a todos que mediante a fé e os sacramentos levam uma vida digna de filhos de Deus. Assim, a manifestação escatológica, prometida por Deus, se cumpre em Jesus Cristo, o qual é a epifania plena das promessas divina. Segundo São Carlos Borromeu, “a Igreja deseja ainda ardentemente fazer-nos compreender que Cristo, assim como veio uma só vez a este mundo, revestido de nossa carne, também está disposto a vir de novo, a qualquer momento, para habitar espiritualmente em nossos corações com a profusão de suas graças, se não opusermos resistência” (São Carlos Borromeu, Cartas Pastorais sobre o advento, In Ofício das leituras 1ª semana Advento)
O profeta Isaías fala com ênfase da era messiânica, quando todos os povos se hão de reunir em Jerusalém para adorarem o único Deus. Essa imagem corresponde com as expectativas do senhorio de Deus como rei, juiz e Senhor. Belém é a imagem da promessa que se cumprirá com a casa de Israel. Jerusalém é figura da Igreja, constituída por Deus “sacramento universal de salvação” ( LG 48), que abre os seus braços a todos os homens para os conduzir a Cristo e para que, seguindo os seus ensinamentos, vivam como irmãos na concórdia e na paz.
A vinda do Senhor será o juízo de Deus para todos, ninguém ficará sem julgamento. Diz São Cirilo de Jerusalém que “virá o Salvador, não para ser novamente julgado, mas para chamar a juízo aqueles que se constituíram seus juízes. Ele que ao ser julgado, guardara silencio, lembrará as atrocidades dos manifestadores que o levaram ao suplício da cruz, e lhes dirá: eis o que fizestes e calei-me (Sl 49,21)” (São Cirilo de Jerusalém, as duas fases da vinda de Cristo, In liturgia das horas, oficio do 1º domingo Advento). Naquele tempo Jesus veio para realizar um desígnio de amor, na segunda vinda ele virá para submeter ao seu juízo todas as coisas. 
Em Paulo encontramos a ideia que com Jesus chegou o tempo da graça, nEle fostes enriquecidos em tudo para dar bom testemunho da nova vida em Cristo. Todos os dons foram dados pelo Espírito Santo, a fim de que em tudo guardeis a revelação do Senhor Jesus. E diz Paulo que é Jesus quem nos dará perseverança em nosso procedimento irrepreensível até o fim.  
O Evangelho (Mc 13,33-37) é uma exortação à vigilância constante para preparar a vinda do Senhor. Preparemos o caminho para o Senhor que chegará em breve; e se notarmos que a nossa visão está embaçada e não distinguimos com clareza a luz que procede de Belém, é o momento de afastar os obstáculos. É tempo de fazer com especial delicadeza o exame de consciência e de melhorar a nossa pureza interior para receber a Deus. É o momento de discernir as coisas que nos separam do Senhor e de lançá-las para longe de nós. Pensarmos com sinceridade em nossos atos e corrigir os desvios, endireitar as veredas, aplainar os caminhos tortuosos e endireitar a estrada que leva à vida eterna, mudando nosso modo de ser e ver as pessoas e as relações. O advento, neste sentido exige coragem para limpar a casa espiritual, queimar a eira e as palhas de nossos pecados. Um bom exame de consciência deve ir até as raízes de nossos atos, a fim de superar as paixões, desejos e vontades que não levam a Deus. E logo o remédio podemos encontrar no Sacramento da Penitência! Procure o confessor, não tenho medo de falar de seus erros a quem deseja seu perdão. A igreja não quer condenar, o padre não pode julgar. O confessionário não é um tribunal inquisitório, mas sim um lugar de reconciliação e misericórdia.   
É mister que tenhamos um cuidado redobrado com nossa vida espiritual! “Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento” (Mc 13, 35). Não sabemos o quando se dará a “parusia”, mas isso não é uma falha casual de Jesus. Deus no seu infinito amor quis que estivéssemos sempre prontos para encontrarmos com ele. Se soubéssemos o dia e a hora talvez relaxaríamos pensando dará tempo é só daqui a tempo... Somos craques em retardar as coisas pesando que dará tempo! Se agirmos assim com Deus perderíamos tempo em coisas fúteis e não desfrutaríamos da salutar companhia de Deus. Por isso mesmo não foi dada ao homem saber a hora, nem o lugar. Assim todo dia é momento de preparar-se e todo lugar é local da epifania do Senhor.
Desta forma, o símbolo da fé que professamos na liturgia convida-nos a crer naquele que subiu aos céus, onde está sentado a direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. Nosso Senhor Jesus Cristo virá portanto dos céus, virá glorioso no fim do mundo, no último dia. Dar-se-á a consumação do mundo, e este mundo que foi criado será inteiramente renovado.
Para manter este estado de vigília, é necessário lutar, porque a tendência de todo homem é viver de olhos cravados nas coisas da terra. Fiquemos alertas! Assim será se cuidarmos com atenção da oração pessoal, que evita a tibieza e, com ela, a morte dos desejos de santidade; estaremos vigilantes se não abandonarmos os pequenos sacrifícios, que nos mantêm despertos para as coisas de Deus. Diz-nos São Bernardo: “Irmãos, a vós, como às crianças, Deus revela o que ocultou aos sábios e entendidos: os autênticos caminhos da salvação. Aprofundai no sentido deste Advento. E, sobretudo, observai quem é aquele que vem, de onde vem e para onde vem; para quê, quando e por onde vem. É uma curiosidade boa. A Igreja não celebraria com tanta devoção este Advento  se não contivesse algum grande mistério”.
Procuremos afastar os motivos que impedem a acolhida do Senhor:
- os prazeres da vida: a pessoa mergulhada nos prazeres fica alienada… No domingo, dorme… passeia … pratica esportes … mas não sobra tempo para Missa.
- trabalho excessivo: a pessoa obcecada pelo trabalho esquece o resto: Deus, a família, os amigos, a própria saúde…
Criemos atos que sejam de proveito para nosso encontro com Deus. O pedido que fazemos neste início de preparação do natal é que pelos menos deem a Deus a mesma atenção que depositam nos preparativos das coisas profanas neste período! Que Deus abençoe a cada um e a Virgem derrame seu manto em nossa caminhada neste advento! 


Pe. Fantico Borges, CM 

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