sábado, 16 de dezembro de 2017

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – III domingo do Advento ano b 2017

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM –  III domingo do Advento ano b 2017

A Alegria do Senhor é a nossa Força, por isso, alegrai-vos nEle!

A litúrgica da Igreja chama este Terceiro Domingo do Advento de Gaudete, isto é “Alegria!” “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto!” (Fl 4,4.5).
No domingo anterior vimos a figura de João Batista, como o Evangelho de Marcos nos apresentou: o profeta do reino, que pregou um batismo de conversão. Neste domingo, no Evangelho, podemos ver como o evangelista João identifica o Batista: como a voz que clama no deserto, ou seja, a testemunha da glória de Deus no Filho. Em São Marcos, centrado na figura de Jesus que proclama a chegada do Reino de Deus, o Batista é o profeta escatológico, o novo Elias, que deve preparar aos corações para que, mediante a conversão, participem do Reino. Já no evangelista São João, que evita a historização do Reino, como também o tradicionalismo das conceituações apocalípticas sobre o profeta do fim; a figura do Batista é tomada como um sinal que aponta o envio de Deus, o qual estar desconhecido no meio do mundo. Por isso, João Batista é chamado de voz que clama no deserto! Se, portanto, o Batista aponta essa Luz como estando presente, desconhecida, no meio de nós, ela não apenas quer dizer que (ainda) não tivemos a chance de descobri-la, mas sugere que é preciso querer descobri-la. Para poder ver é preciso querer ver. Assim, o Evangelho de hoje desperta em nós a necessidade de uma decisão pelas palavras do Batista “No meio de vós está quem vós não conheceis”, somos convidados a querer descobri-lo, dilatando nosso coração em Alegria.    
A alegria do Senhor é ver-nos felizes! Assim a liturgia de hoje revela a proximidade do Natal! Diz São Paulo aos tessalonicenses: Alegrai-vos no Senhor e rezai sem cessar... Afastai-vos de toda espécie de maldade, não apagueis o Espírito, isto é, guardai vivo o fogo interior e incentivai com ações visíveis diante dos irmãos, para que o Deus da paz vos santifique totalmente e tudo aquilo que sois: alma, corpo e espírito sejam guardados sem mancha alguma para vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Deus através do Apóstolo admoesta para, ponderando tudo, avaliar segundo a vontade de Deus e ficar com aquilo que serve para nossa salvação.
Paulo nos aponta onde nasce a verdadeira alegria: ela nasce da oração: rezai sem cessar; daí graças em todas as circunstâncias; aqueles que rezam alcançam a graça de Deus e a felicidade duradoura. Mas o que significa essa alegria no mundo hoje? Para muito é o banquete da ceia natalina, um restaurante cinco estrelas, um hotel de luxo, etc. Mas a alegria verdadeira é outra! São Paulo dizia “por tudo dai graças a Deus”. A alegria nasce da abertura do coração aos apelos do Espírito que convida à conversão, a mudança de vida; nasce de uma vida moral irrepreensível (afastai-vos de toda espécie de maldade!), ou seja, dos pecados, dos vícios, das injustiças, do adultério, da mentira, da calunia e por fim a alegria nasce de uma vida santa: tudo que sois, seja preservado de toda mancha do pecado, isto é, que os poderes infernais não dominem sobre os filhos da luz. Para tudo isso é necessário acreditar que “Aquele que vos chamou é fiel.” Com essa certeza corramos ao encontro do Cristo que vem, tendo nossas lâmpadas acessas pela consciência da nossa condição de criaturas diante do Criador.
A vinda de Jesus, feito homem, abriu o caminho que nossos pecados fecharam. A trilha tortuosa em que o homem vivia por sua culpa foi endireitada pelo percussor para que o homem encontrasse novamente a luz que é Jesus. Segundo São Cirilo de Alexandria “existem acessos públicos e trilhas quase impraticáveis, íngremes e intransitáveis, que algumas vezes obrigam a subir os montes e as colinas, e outras a descê-las; ora te colocam à beira de precipícios, ora te fazem escalar altíssimas montanhas. Porém, se estes lugares isolados e abruptos descerem, e se preencherem as cavidades profundas, aí sim, o torcido se endireita totalmente, os campos se aplainam e os caminhos, antes íngremes e tortuosos, tornam-se transitáveis. É isso, só que em nível espiritual, o que faz acontecer o poder do salvador” (São Cirilo de Alexandria, Comentários sobre o livro do profeta Isaias, 3,4). Podemos dizer que aos homens estava vedado o acesso a uma vida exemplar, pois a alma aprisionada pelo pecado, mergulhada nos apetites mundanos, entorpecida aos impulsos abomináveis da carne, não enxergava a luz de Deus. Uma vez que Cristo se fez carne e destruiu o pecado, abatendo o soberano mal dominador deste mundo, Ele nivelou o caminho para nós, um caminho muito apto para correr nas sendas da piedade; um caminho sem encostas acima, nem declives ladeirentos, realmente liso e plano. Só Cristo é a luz que não tem ocaso, a salvação eterna. Ele é o caminho da glória do Senhor, e todos, contemplamos sua glória, glórias que antes não conhecíamos, e, só depois da encarnação passamos conhecê-la e ama-la como única salvação.  
No sentido acima exposto a alegria é uma busca por colocar-se no seguimento de Jesus. João Batista, aquele que testemunha a chegada de Deus nos oferece uma exemplo claro de como devemos comporta-nos diante de Deus. Ele não é arrogante nem tenta enganar os outros querendo ser o que não é. Dirá com isso Santo Agostinho: “João era a voz, mas o Senhor, no princípio, era a Palavra. João era a voz passageira, Cristo a Palavra eterna desde o princípio”. João sabia que não era a palavra e que sem ela ressoava ao ouvida, mas não alimentava o coração. João é voz que clama no deserto: aplainai os caminhos do Senhor. E porque é difícil não confundir a voz com a palavra, julgaram que João era Cristo. Confundiram a voz com a palavra. Mas a voz reconheceu o que era para não prejudicar a palavra. Eu não sou o Cristo (Jo 1,20), disse João nem Elias, nem profeta. Sou apenas a voz que clama no deserto. E novamente dirá Agostinho: “O que significa: Aplainai o caminho do Senhor, senão: Orai como se deve ser? O que significa ainda: Aplainai o caminho senão: tende pensamentos humildes? Imitai o exemplo de João. Julgam que é o Cristo e ele diz não ser aquele que julgam; não se aproveita do erro alheio para uma afirmação pessoal. Se tivesse dito: ‘eu sou o Cristo’, facilmente teriam acreditado nele, pois já era considerado como tal antes que o dissesse. Mas não disse; pelo contrario, reconheceu o que era, disse o que não era, foi humilde. Viu de onde lhe vinha a salvação; compreendeu que era uma lâmpada e temeu que  o vento do orgulho pudesse apaga-la” (Santo Agostinho, dos Sermões 293, 3).  
João reconhece aquele que nos traz a alegria verdadeira. Nossa alegria está no Senhor e não em outro. Alegrai-vos! Há quem se alegre no pecado, há quem se alegre em futilidades, há quem, mesmo alegrando-se com coisas que valem a pena, esquece que toda alegria é passageira. Quanto a vós, caríssimos, alegrai-vos com tudo quanto é bom e louvável, mas colocai vossa maior e definitiva alegria no Senhor! Somente nele o coração repousa plenamente, somente nele encontramos a paz que dura mesmo em meio à tribulação mais feroz, somente nele o anseio mais profundo de nossa alma encontra satisfação. Como lembrava-nos Agostinho nas Confissões: “Nosso coração estará inquieto enquanto não repousar no Senhor”. Alegrai-vos! Mas seja o Senhor o fundamento da vossa alegria, a causa última da vossa exultação!
Resta-nos, então, escutar com atenção este ultimo conselho de São João Crisótomo: “Que pode perturbar o santo? A morte? Não, porque a deseja como prêmio. As injúrias? Não, porque Cristo ensinou a sofrê-las. A doença? Também não, porque a Escritura aconselha: Aceita tudo o que Deus te mandar, e permanece em paz na tua dor, e no tempo da humilhação tem paciência; porque o ouro e a prata se provam no fogo, e os homens amados de Deus, no cadinho da tribulação (Ecl 2, 5). Que resta então, que seja capaz de perturbar o santo? Nada. Na terra, até a alegria costuma acabar em tristeza; mas, para quem vive de acordo com Cristo, as próprias penas se transformam em alegrias” (Homilias sobre as estátuas, 18).
Num mundo que despreza ou ao menos é indiferente a Deus e seus mandamentos, numa sociedade pagã, senão secularizada que ridiculariza a fé e olha com indiferença os que amam a Deus, tenhamos esta certeza: “Quem vos chamou é fiel; ele mesmo realizará isso!” Ele nunca nos deixará! Ele é a nossa alegria, esta alegria é a nossa força!


Pe. Fantico Borges, CM 

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