quarta-feira, 1 de novembro de 2017

HOMÍLIA DO PE. FANTICO BORGES - MISSA DOS FIÉIS DEFUNTOS

HOMÍLIA DO PE. FANTICO BORGES  -  MISSA DOS FIÉIS DEFUNTOS

Nascidos para a vida eterna em Cristo!
O que celebramos hoje não é a morte, mas a vida eterna plenamente realizada para nossos parentes, amigos e benfeitores que já partiram para morada de Deus. O que se afirma nesta liturgia é a doutrina da igreja, na qual se proclama a tendência escatológica da comunidade cristã, que começa aqui na terra e culmina no céu. O magistério do Concílio Vaticano II ensina que antes, da vinda do Senhor os fiéis vivem em três grupos distintos: os que ainda peregrinam nesta terra, os que se purificam depois da morte (com alusão a doutrina do purgatório) e os que já estão glorificados na visão beatífica. Há, todavia, entre os três grupos, comunicação de bens espirituais, pois todos vivem a mesma vida da graça, unidos entre si a Cristo. Mas os do céu, por estarem mais intimamente unidos a Cristo, têm também maior interesse por nós ainda peregrinos. Assim entre nós cristãos a prática de rezar pelos mortos é a compreensão de que a morte física não significa o fim, a interrupção do diálogo com a igreja celeste e aquela que “espera” o juízo final.   
O motivo desta celebração é a firme certeza que a morte não constitui o aniquilamento da vida. Ao contrário, é a partir da morte física que experimentamos a vida em sua plenitude. O ser humano, com a morte se abre ao infinito, na ilimitada onipresença do Espírito de Deus.
Para nós cristãos, a morte não é um acidente brutal, imprevisto, ou vingança do destino. Ela é, na verdade, uma desagregação dolorosa do físico, mas que conduz a uma nova etapa da vida – muito melhor,  sem dor e sofrimento. A morte é neste sentido, como afirmava Santo Ambrósio, um remédio que Deus colocou no mundo para sanar e abrandar o vale de lagrima que se tornou, por causa do pecado, a vida do homem na terra. A morte é o desabrochamento verdadeiro da vida, depois de uma existência terrena, marcada pela dor e a tentação. Ela consiste no ato mais pessoal da existência humana. A morte é uma realidade inevitável de nossa condição mortal, condição, essa, assumida por Jesus Cristo. Como nos diz nossa fé: “Se no batismo fomos sepultados com Cristo para vivermos na fé, certos de que com Cristo Senhor haveremos de ressuscitar, passando para o Reino de paz e de felicidade na Companhia dos Santos”. Como cantamos no prefácio da missa aos fiéis defunto: “em Cristo brilhou para nós a esperança da feliz ressurreição. E se a certeza da morte, ainda nos entristece, a promessa da imortalidade nos consola”.
Quem duvidaria que a morte é uma companheira inseparável? A morte consiste numa realidade tão presente em nós quanto a vida. Ela não é uma vingativa ação de Deus, nem uma frustrada interrupção de nossos sonhos. Na verdade, a morte constitui em nosso corpo físico algo inevitável, porque para viver morremos todos os dias. Mas o livro da Sabedoria orienta precisamente o que consiste a morte na vida de um justo: “Sabeis meus irmãos que a vida dos justos está nas mãos de Deus. Nenhum tormento os atingirá...”(Sb3,1-3). Ora, se a vida do justo está nas mãos de Deus, a quem temer? O que temer? Agora, outra, é a sorte dos que não se colocam nãos mãos de Deus! A morte para quem não se comporta como justo, diante do Senhor, é um tormento, um fim trágico.   
Como dói e preocupa vê hoje, um mundo que se prepara para tudo, menos para o grande encontro com Deus. Para quem não se prepara com uma vida reta, justa e fiel diante de Deus e dos irmãos a morte pode significar um aniquilamento. Pensemos assim: para o encontro definitivo devemos escolher a melhor veste, banhar-nos com o melhor perfume! Qual é esse perfume e essa veste que devemos usar? São nossas boas obras em favor da vinda do Reino.
A nossa fé nós diz que fomos sepultados com Cristo para com ele ressuscitamos na glória. A atitude de Jesus ao encontrar-se com Maria, irmã de Lázaro, é exatamente essa: lembrá-la, naquele momento de dor e saudade, que aos crentes a vida não é tirada, mas transformada e quem acreditar verá a glória de Deus.  Para quem não crer o túmulo permanece fechado, contudo aos que creem a pedra que os impedia de viver é retirada. E se pode escutar a voz suave e terna de nossa Salvador: Vem para fora, vem para vida!
O banquete eucarístico que devotamente celebramos já é sinal antecipado dessa vida nova que nos espera após nossa partida deste mundo. O ato celebrativo que hoje realizamos é ato memorial e sacramental das promessas salvíficas. Memorial, pois lembra o evento pascal, e as palavras do próprio Jesus Cristo: “vou preparar-vos um lugar e quando estiver preparado, voltarei e os levarei, para que onde eu estiver estejais-vos também”. Sacramental, porque realiza, no aqui e agora de nossa existência, de forma antecipada, tudo aquilo que na outra vida resplandecerá em plenitude.  
Eu posso imaginar o sentimento de saudade que invade o coração daqueles que perderam seus parentes. Contudo lembra São Paulo que “os sofrimentos da vida presente não tem comparação alguma com a glória que se manifestará em nós” (Rm 8,18).
Ó Deus, escutai com bondade as nossas preces e aumentai a nossa fé no Cristo ressuscitado, para que seja mais viva a nossa esperança na ressurreição dos mortos. Amém!

Pe. Fantico Borges, CM




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