Homília do Pe. Fantico Borges, CM – Solenidade de
todos os Santos.
Todo batizado é chamado a santidade!
Para que louvar os santos? Para que
glorifica-los? Para que, enfim, esta solenidade? Que lhes importam as honras
terrenas, a eles que segundo a promessa do Filho, o mesmo Pai celeste
glorifica? De que lhes servem nossos elogios? Os santos não precisam de nossas
homenagens, nem lhes vale nossa devoção. Se veneramos os Santos, sem dúvida
nenhuma o interesse é nosso, não deles. Ao recordar os Santos, sinto um desejo
profundo de ser santo. Acende em mim uma vontade de estar lá com eles!
A celebração de Hoje faz memória aos
irmãos e irmãs que já estão na Igreja Celeste e intercedem por nós. Afirma São
Bernardo de Claraval que “o desejo que sua lembrança mais estimula e incita é o
de gozarmos de sua tão amável companhia e de merecermos ser concidadãos e comensais
dos espíritos bem-aventurados, de unir-nos ao grupo dos patriarcas, às fileiras
dos profetas, ao senado dos apóstolos, ao numeroso exército dos mártires, ao
grêmio dos confessores, aos coros das virgens, de associar-nos, enfim, à
comunhão de todos os santos e com todos nos alegrarmos” (São Bernardo, Sermões,
In liturgia do Oficio das leituras da solenidade de todos os Santos).
A humanidade geme e chora até que se
manifestem os filhos santos de Deus! A assembleia dos primogênitos aguarda
ansiosamente a manifestação desta raça santa, deste povo sacerdotal, e nós
parecemos indiferentes! Os santos desejam-nos e não fazemos caso; os justos
esperam-nos e esquivamo-nos. Amimemo-nos para realizar já aqui a cidade celeste
que espera por nós! Para ela caminhamos segundo os passos dos santos que nos
precederam. Confiantes que não estamos sós, que caminham conosco milhões de
milhões de santos e santas que lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do
cordeiro; irmãos e irmãs que vencendo as tribulações e foram dignos de
participar das núpcias de Cristo.
Muitas vezes temos a tentação de pensar
que a santidade não é coisa acessível, que ser santo é apenas para figuras
escolhidas, pessoas excepcionais. Essa compreensão faz parte dos equívocos de
confundir a vida de santidade como uma missão particular dos consagrados à
virgindade ou aos ministros sagrados do altar. Ser santo, ensina o Concílio
Vaticano II, é missão comum a todo batizado. Por seu desígnio salvador, nós
fomos consagrados no momento do nosso batismo e nos aproximamos da montanha da
santidade. O 5º capítulo da Lumen Gentium
,chama todos os batizados a viver a vocação comum á santidade. A partir daquele momento batismal, a
santidade para nós pode ser descrita como um processo no qual confluem a graça
de Deus e a generosa correspondência humana. Uma novidade do Concílio Vaticano
II foi colocar a santidade comum a todo cristão como meta para qual tende toda
a vida do cristianismo. Por isso, ser santo pressupõe um processo de luta e
conflito pelo qual passará quem for fiel a vocação à santidade. Esse processo
tem lugar uma noite escura, como falava são João da Cruz, que tende a nos
purificar por meio da Kenosis
constante. A busca de assemelharmos a imagem daquele que é totalmente Santo e
santifica o próprio ser da criatura, exigirá de cada um a superação das
paixões, desejos e vontades. Em outras palavras, para chegar a purificação
temos que subir ao monte Carmelo e travar nossa luta espiritual contras as
forças de Baal (Baal entendido como o mal, deus pagão).
A liturgia de hoje nos amina a buscar as
realidades celestes. Tenhamos gosto pelas coisas do alto. Desejemos Aquele que
nos deseja: Jesus Cristo, o qual está sentado junto do Pai. Apresentemo-nos ao
encontro daquele que nos aguarda de braços abertos. Ensina São Bernardo que
devemos cobiçar a santidade dos santos. “Seja-nos um incentivo não só a
companhia dos santos, mas também a sua felicidade. Cobicemos com fervoroso
empenho também a glória daqueles cuja presença desejamos. Não é má esta ambição,
nem de nenhum modo é perigosa a paixão pela glória deles” (São Bernardo,
Sermões, In liturgia do Oficio das leituras da solenidade de todos os Santos).
Esta busca de ser santo é alimentada
pelo desejo de ver Deus, pois ser santo é tão natural em nós quanto a vontade
de comer e beber. Por mais avesso que seja alguém a busca de Deus, ele sempre
busca fora de si um sentido para viver. Sem transcendência ninguém vive. Por
isso dizia Santo Agostinho: “Não pode existir alguém que não deseje ser feliz.
Mas, oxalá os homens que tão vivamente desejam a recompensa não fugissem dos
trabalhos que conduzem a ela!” Como se pode observar, a serpente astuta que
aparece no livro do Gênesis, enganando os nossos primeiros pais, não estava tão
equivocada: podemos ser como deuses, ou seja, podemos ser divinizados pela
graça de Deus e parecer-nos a ele já aqui nesta terra e depois, eternamente, no
céu. O erro da serpente não estava nesta afirmação – sereis como deuses – mas
no método para alcançar esse objetivo. A serpente demoníaca, propôs o orgulho e
a desobediência para alcançar a divinização. Nada mais contraditório! O caminho
é justamente outro: a humildade e a obediência acompanhadas da mais nobre de
todas as virtudes, a caridade e isso só alcançamos com muito trabalho e
dedicação. Não esqueçamos de que antes de contemplarmos o Cristo da glória, nós
o veremos coroado de espinhos. A glória dos santos é fruto de uma luta constante,
feitas de pequenas vitórias que vão se somando ao longo da vida.
Santidade! Esse é o segredo que o
cristão deve ter para aproximar muitas pessoas de Deus. E ser santo não é não pecar,
mas lutar para não pecar. A santidade não uma virtude os fortes, mas dos
humildes. Porém, não confundamos a santidade como uma coisa esquisita, rara,
estranha. O santo come, trabalha, saí com os amigos, vai à praia. Na verdade,
os santos são pessoas verdadeiramente normais porque a vivência das virtudes
humanas (prudência, justiça, fortaleza, temperança etc.) e sobrenaturais (fé,
esperança e caridade) vai não somente divinizá-los, mas também, humanizá-los
cada vez mais.
Hoje, num mundo de tantas contradições,
ser santo é estar inseridos na vida real da sociedade. É preciso ser santo lá onde
às vezes, o padre não entra, isto é, na minha casa, no meu condomínio, no meu
trabalho, na minha escola, na minha academia, na minha associação politica, no
fórum de justiça, enfim, em todas as camadas da vida, ou seja, onde o
protagonismo dos leigos é imperativo para transformar as estruturas deste
mundo.
Pe. Fantico Borges, CM
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