domingo, 19 de novembro de 2017

Homilia do Pe. Fantico Borges – XXXIII Domingo do Tempo Comum – Ano A

Homilia do Pe. Fantico Borges – XXXIII Domingo do Tempo Comum – Ano A
Trabalhai para sua santificação!
Caríssimos irmãos e irmãs se aproxima o domingo de Cristo Rei. A liturgia vai tomando como pano de fundo o juízo do justo rei-juiz de todos. Como doador dos dons Deus chamará todos para prestar contras dos talentos entregues a cada um, segundo sua capacidade. Aquele que recebeu cinco talentos e o que recebeu somente dois foram bons trabalhadores. Cada um deles, recebidos os talentos, “negociou com eles; fê-los produzir, e ganhou outros” (Mt 25,16). É preciso trabalhar! Mais ainda, é preciso trabalhar bem! São João Paulo II, na sua Carta Encíclica sobre o trabalho humano Laborem exercens, falava de “elementos para uma espiritualidade do trabalho”. O trabalho é dom de Deus em nossas vidas. 
Também é verdade que muitas pessoas não querem trabalhar. São preguiçosas e escondem os talentos para não se fadigarem. Quem não trabalho, diz o Apóstolo Paulo, não deve comer! Com o nome de talento se deve entender aquilo que qualquer pessoa recebeu. São Gregório Magno diz que devemos saber que não existe ninguém ocioso que esteja seguro de não ter recebido algum talento, porque não existe ninguém que diga: “eu não recebi nenhum talento, portanto não estou obrigado a prestar contas” (São Gregório Magno: sermões sobre os Evangelhos, 9). Todos, cristãos ou ateus, pobres ou ricos, negros ou brancos receberam bens para seu crescimento pessoal e para colaboração no crescimento dos outros.  Esses talentos são oportunidades da mente humana crescer e produzir frutos para si e para o mundo. Quem se abstém desta tarefa desvincula-se de sua missão existencial.
Podemos ter a certeza que o Senhor nos deu uma vida, “a cada um de acordo com a sua capacidade”. Ora, é esta vida, dom de Deus, fruto de um desígnio de amor sem fim, que cada um de nós deve responsavelmente cultivar e fazer frutificar em benefício para nosso irmãos e irmãs. Na leitura de provérbios a figura da mulher forte aparece como um exemplo de alguém que não se contenta em passar pela vida, mas vai tecendo o fio da existência com as pequenas fidelidades de cada dia. O importante da vida é observar o essencial, a beleza que escode-se por detrás das coisas que fazemos. A aparente estética das coisas passará, a verdadeira vida encontra-se no temor do Senhor.  Do mesmo modo, a segunda leitura chama-nos atenção para o fato que nos serão pedidas contas da vida, dom recebido de Deus. Daí, o conselho: “Não durmamos, como os outros, mas sejamos vigilantes e sóbrios”. São Gregório diz que devemos considerar o que temos recebido para empregá-lo bem. Que não exista nenhum cuidado terreno que nos impeça a vida espiritual, para que não venha a acontecer que, escondendo o talento na terra, provoque-se a ira do Senhor dos talentos.  
O mundo moderno, com todo sua técnica, pensa que a existência material é seu modo absoluto de ser. Fechados em si mesmos, os homens pensam que podem ser felizes construindo a vida de seu próprio modo, dando os parâmetros do seu agir. Esta é a grande tentação pós-moderna! Que grande Ilusão! A vida é dom de Deus e somente nos faz felizes se dela fizermos um diálogo amoroso com o Senhor, autor e doador de nosso ser. Mais que talentos na vida, o Senhor nos concedeu a própria vida como um precioso talento. Desenvolvê-lo, ser feliz e buscar não a nossa própria satisfação, não nossa própria medida, não nosso próprio caminho, mas fazer da existência uma busca amorosa e cheia de generosidade da vontade de Deus, isso sim realiza o ser humano porque mais que tenha coisas e poder a vida somente é bela se é cheia de sentidos que transcendem os bens materiais. O mundo dos ricos já demostra que ter nunca é sinal de felicidade. Muitas pessoas que possuem bens, títulos, aplausos, também comentem suicídio. Ser feliz é encontrar sentidos transcendentais, divinos para viver. Eis! Somente seremos felizes e maduros quando tivermos a capacidade de arriscar verdadeiramente nos perder, nos deixar para nos encontrar no Senhor, alicerce e fonte de nossa vida. Eis o verdadeiro investimento!
Infelizmente, a dinâmica do mundo hodierno, pagão e ateu, não nos ajuda nessa direção. Há distração demais, novidade demais, produto demais a ser consumido; há preocupação demais com uma felicidade compreendida como satisfação de nossos desejos, carências e vontades. Há consciência de menos de que a vida é dom e serviço, doação e abertura para o infinito; há percepção de menos de que aqui estamos de passagem e de que lá, junto ao Senhor, é que permaneceremos para sempre. Atolamo-nos de tal modo nos afazeres da vida, no corre-corre de nossas atividades, no esforço por satisfazer nossas vontades, na busca de nossa auto-afirmação, que perdemos a capacidade de compreender realmente que somos passageiros e viajantes numa existência breve e fugaz que somente valerá a pena se vivida na verdade, se for compreendida como abertura para o Senhor e se por amor a ele, for abertura generosa e servidora para os outros.
A advertência do Apóstolo Paulo deve nos conduzir nesta meditação: “Vós, meus irmãos, não estais nas trevas, de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão. Todos vós sois filhos da luz e filhos do dia”. Vivamos da Luz. O vaticano II dizia Lumen gentium Christis - Cristo, Luz dos povos. Viver na luz, viver no dia é viver na perspectiva de Cristo Jesus, é valorizar o que ele valoriza e desprezar o que ele despreza. Filhos da luz, filhos do dia – eis o que deveríamos ser! Mas, com tanta frequência nossa mente e nosso coração, nossos pensamentos e nossos afetos encontram-se entenebrecidos como o dos pagãos… Quão grave para nós, porque conhecemos a Luz, cremos no Dia que é o Cristo-Deus!  Será que ignoramos quem é o dono dos talentos? Será que desprezamos seus bens a ponto de tornamo-lo infrutíferos? Por acaso fazemos pouco caso do juízo divino? Consideremos, pois, o que é que temos recebido, e estejamos atentos para empregá-lo bem. O servo preguiçoso, quando o juiz pede contas das culpas, desenterra o talento. Existe, portanto, muitos que se afastam dos desejos e obras terrenas, por aviso do juiz, quando já entregues ao suplicio eterno. Vigiemos, portanto, antes que nos seja solicitada a conta do talento, para que, quando o juiz estiver ameaçando com castigo, sejamos libertos dele pelo lucro que tivermos alcançado.  
Peçamos ao bondoso Deus que não sejamos tragados pelo desanimo da tardança dos frutos, nem pelas tarefas puramente mudando sem dar a devida atenção às coisas do alto. Que Maria santíssima passe à frente de nossos empreendimentos para pensarmos e agirmos em vista do Reino de seu Filho Jesus Cristo. 

Pe. Fantico Borges, CM   

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