Homilia do Pe. Fantico Borges – XXXII domingo do tempo
comum ano A
Uma Igreja previdente sempre está
vigilante no amor!
Na Liturgia deste Domingo, XXXII do Tempo Comum, Deus nos fala através
do autor bíblico que sábio é quem teme a Deus e se afasta do mal. Sabedoria é,
ao mesmo tempo, dom de Deus, mas, também, resultado de uma busca humana. Sabedoria
não é só sistematizar algum conteúdo científico ou tirar nota dez em
determinadas áreas do conhecimento e, às vezes, tirar zero na convivência com
as pessoas, na solidariedade, no amor a Deus e ao próximo, etc. Sabedoria é
sobressair-se bem diante das questões fundamentais de nossa vida. Por isso,
sabedoria e prudência caminham juntas sempre. São Gregório de Nazianzeno ensinando
em sua catequese dizia que “as lâmpadas acesas são figuras daquela procissão de
tochas com que, quais radiantes almas virgens, não adormecidas pela preguiça ou
indolência, sairemos ao encontro de Cristo, o esposo, com as radiantes lâmpadas
da fé, a fim de que não se apresente de improviso, sem que saibamos, aquele
cuja vinda esperamos, e nós, desprovidos de combustível e de azeite, carecendo
de boas obras, sejamos excluídos do tálamo nupcial” (Gregório Nazianzeno, Sermão da festividade do Batismo, 40,46).
A prudência, a vigilância, o estar de prontidão são figuras de como
devemos esperar o esposo. Como não sabemos a hora, nem o dia, alerta-nos São
Pedro a sermos sóbrios e vigilantes porque o adversário está rodeando-nos para
devorar aos que tiverem descuidados.
Na segunda leitura o Apóstolo Paulo esclarece aos tessalonicenses que,
diante da morte de alguns membros da comunidade, ficavam em dúvida sobre a
salvação em Cristo, pois viviam na expectativa de estarem todos vivos para o
dia da vinda do Senhor. Paulo os anima, explicando-lhes que o cristão não pode
ser, diante da morte, como os pagãos que não têm esperança, pois se cremos que
Jesus ressuscitou, devemos, também, crer que os mortos ressuscitarão e estarão
com o Senhor. A certeza que Paulo deseja incutir no coração da comunidade é que
há uma unidade entre a Igreja peregrina, aquela que esperava a vinda eminente
do Senhor, e os que já na glória participavam na morte da esperança
escatológica de Cristo. Na segunda vinda do Senhor, nos encontraremos todos
juntos: os vivos e os que já morreram.
No Evangelho Mateus trata do discurso escatológico de Jesus que descreve
a conclusão do Reino na terra. Tudo é claramente orientado e exprime o
insistente convite à perseverança e à vigilância: “Vigiai, portanto,
porque não sabeis nem o dia nem a hora”. A parábola das dez virgens é
uma alegoria das núpcias de Cristo com sua Igreja. Na Igreja, as virgens, isto
é, os cristãos, caminham juntos ao encontro do senhor, recebem a mesma missão
de Jesus: fazer o bem, amar, produzir frutos, boas obras. Mas, infelizmente,
uns são bons, vigilantes, fiéis, sensatos; outros são maus, infiéis,
insensatos, autossuficientes, centrados em si mesmos, se julgam sábios e
esquecem o principal: as boas obras. Para estes, fecham-se as portas. No
caminho da vida, achavam que os outros poderiam substituí-los, responder por
eles, querem aproveitar o azeite (santidade) dos outros e, por isso, improvisam
o encontro. Iniciaram a caminhada de fé, mas não se mantiveram alertas.
Aquela triste e miserável cena será dramática: “estará presente aquele
que, ao se ouvir a sinal, exigirá que saiam ao seu encontro. Então todas as
almas prudentes lhe sairão ao encontro com uma luz radiante e com superabundante
provisão de azeite; as almas restantes, muito conturbadas, pedirão
inoportunamente azeite àquelas que estão bem abastecidas. Porém, o esposo
entrará apressadamente e as prudentes entrarão juntamente com ele; porém às
imprudentes que empregaram o tempo em que deveriam entrar no preparo de suas
lâmpadas, lhes será proibido o ingresso
e se lamentarão aos gritos, compreendendo, demasiado tarde, o prejuízo que
acarretaram com sua negligência e sua indolência” (Gregório Nazianzeno, Sermão da festividade do Batismo, 40,46). A porta
lhes será fechada e por mais que supliquem não se abrirá.
O momento da vinda de Jesus, o noivo, no fim dos tempos, é desconhecido
(morte, juízo final). É preciso que as virgens, isto é, as comunidades cristãs,
estejam abastecidas do combustível das boas obras, preparadas, para o encontro
com o Senhor, mediante a prática da justiça (o azeite) e dos valores do Reino.
Quem negligenciar esta vigilância, achando ter todo tempo para encontrar o
azeite da lamparina, pode-se dar conta de ser tarde demais. Não imiteis
tampouco aqueles que recusaram participar das bodas que o bom pai preparou para
magnífico esposo, apresentando como desculpa, embora acabe de casar-se, seja o
campo recentemente comprado, seja a junta de bois mal-adquirida: privando-se
deste modo de bens maiores pelo solicitude de coisas insignificantes e fúteis.
Diz São Cirilo de Alexandria que “como as insensatas não trouxeram nada, suas
almas começam a esvaecer-se e como apagar-se e a serem levadas até um delírio,
pensando que terão compaixão delas graças à virtude dos outros” (São Cirilo de
Alexandria, Fragmentos sobre o Evangelho de São Mateus, 280). A virtude de cada
um, a muito custo, basta para salvação da sua alma, porque até aqueles que são
sábios cometem transgressões de muitas maneiras.
A comunidade sem óleo vive no vazio, no escuro, é uma comunidade estéril.
Mas, qual é a raiz da esterilidade? A ausência de relação intensa e contínua
com Deus. É o desconhecimento do Espírito Santo, cujo primeiro fruto é a
caridade. A oração, a intimidade com Deus mantém aceso o amor. Quem ama não
esquece da pessoa amada. Há esquecimentos que não são falta de memória, mas de
amor: “Quem não ama carrega dentro de si um germe homicida” (1Jo
3, 15).
O
convite final desta liturgia consiste em estarmos de prontidão, pois o
augustíssimo noivo, excelso Senhor e Salvador vem ao nosso encontro, e quem
estiver com a lâmpada acesa ingressará no seu reinado. Oxalá que também nós nos
façamos partícipes de tais mistérios de amor e nupcialidade de Jesus Cristo.
Pe.
Fantico Borges, CM
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