sábado, 28 de outubro de 2017

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – XXX Domingo do Tempo Comum – Ano A

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – XXX Domingo do Tempo Comum – Ano A

Imitemos em tudo a Cristo
O verdadeiro cristão é aquele que em tudo imita a Cristo. O que fez Cristo deve fazer também o cristão. O tema da liturgia da palavra de hoje é o sentido profundo do amor que Jesus viveu e testemunhou. O amor é a essência de Deus, e exprime a existência em Deus. “Deus é amor.”  O que ensinou Jesus foi fazer em tudo a vontade de Deus-Pai. Em suma seu ensinamento era esse, e nisso se resumia a lei: amor a Deus e ao próximo. Diz São Gregório Magno que essa lei é a caridade: “O que melhor define a lei de Cristo é a caridade e esta caridade a praticamos de verdade quando toleramos por amor as cargas dos irmãos” (São Gregório magno, Tratado Morais sobre o Livro de Jó 10,7).
Essa máxima de Cristo que resume toda lei e os profetas, mesmo sendo dois preceitos, abrange muitos aspectos, pois começa pelo amor a Deus e ao próximo, mas se estende por inúmeros atos de caridade. Essa multiplicidade de facetas é enumerada por São Paulo no belíssimo hino à caridade: “O amor é paciente, afável, não é invejoso, não é vaidoso, não é ambicioso, nem egoísta, não guarda rancor, não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade” (1Cor 13, 1-13). Ensina São Gregório Magno que “o amor é paciente, porque tolera com serenidade os males que lhe são infligidos. É afável porque devolve generosamente o bem pelo mal” (São Gregório magno, Tratado Morais sobre o Livro de Jó 10,7).      
Estar na nossa raiz apostólica a união fraterna, a comunhão de amor. Já nas primeiras comunidades cristãs se dizia que os irmãos tinham tudo em comum. Essa demonstração de amor confundia os de fora que diziam: “vejam como eles se amam!” Ensina Tertuliano que é justamente essa demonstração de grande amor entre os cristãos que atraiu a aversão de alguns. “vede como eles estão dispostos a morrer uns pelos outros, enquanto que eles estão mais dispostos a matarem-se entre si” (Tertuliano, Apologeticum, 39). Nós nos toleramos por amor a Cristo, por fidelidade ao mandato cristão, e porque pelo batismo somos incorporados na família de Jesus, pela obediência à vontade de Deus. Somos verdadeiramente irmãos em Cristo, marcados por um selo espiritual mais forte que os laços de sangue, mais duráveis que as estrelas, infinitamente mais penetrante que qualquer vinculação humana. Somos irmãos porque um é nosso Deus, um é nosso Pai, um é nosso Senhor. “Com quanta maior dignidade se chamam e são verdadeiramente irmãos os que reconhecem a um único Deus como Pai, os que beberam de um mesmo Espírito de santidade, que esperam uma mesma herança, que nasceram de um mesmo ventre de cega ignorância?” (Tertuliano, Apologeticum, 39).
Mas porque acontece tanta falta de amor neste mundo, iminentemente, cristão, do ocidente? Talvez seja porque fizemos pouco caso da nova lei do amor impressa na vida e na pessoa de Jesus. Como ser seu seguidor e não seguir os seus passos? Jesus não é um ideal metafísico, nem um conceito abstrato, Ele é uma pessoa, Ele produz um encontro, neste encontro exige-se uma decisão. Ensina São Cipriano de Cartago: “Imitemos a Cristo. O nome de cristão pressupõe a justiça, a bondade, a integridade. É cristão aquele que em tudo imita a Cristo e lhe segue; aquele que é santo, inocente, incontaminado, puro. É cristão aquele em cujo coração não há lugar para malícia, aquele em cujo peito somente há piedade e a bondade tem carta de cidadania” (Autor desconhecido, Sermão atribuído a São Cipriano). Cristão é aquele que vive a vida de Cristo, quem em tudo segue os passos de Jesus, ou seja, aquele totalmente entregue a misericórdia.
Quem ama a Deus, ama o próximo. O amor do cristão é aquele amor gratuito, que se entrega às necessidades alheia. Somente o amor de Deus no coração explica ações como essas: “o rei S. Luís visitava e cuidava dos doentes com tanto desvelo como se fosse sua própria obrigação. (…) S. Gregório muito folgava de dar agasalho aos peregrinos, a exemplo do patriarca Abraão, e, como ele, recebeu um dia o Rei da glória na forma de um peregrino. Tobias exercia a caridade, sepultando os mortos. Santa Isabel, sendo uma augusta princesa, achava a sua alegria em humilhar-se a si mesma. Santa Catarina de Gênova, tendo perdido o seu marido, dedicou-se ao serviço num hospital.” (S. Francisco de Sales, Filotéia ou Introdução à vida devota, III, 1).
Muitos pensam que serão mais felizes quando possuírem mais coisas, quando forem mais admirados…, e se esquecem de que só necessitamos de “um coração enamorado”. O nosso coração foi feito por Deus para alcançar a sua plenitude, a sua completa realização, nos bens eternos, no seu Criador!
As coisas criadas são para nos levar a Deus, pois um amor perfeito busca sempre estar com mais perfeito. Ensina Santa Teresa: “Quando é perfeito, o amor tem esta força: leva-nos a esquecer o nosso próprio contentamento para contentar Aquele a quem amamos. E verdadeiramente é assim, porque, ainda que sejam grandíssimos os trabalhos, se nos afiguram doces quando percebemos que contentamos a Deus” (Fundações, 5,10).

Pe. Fantico Borges, CM


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