Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – XXX Domingo do Tempo Comum – Ano A
Imitemos em tudo a Cristo
O verdadeiro cristão é aquele que em tudo imita a
Cristo. O que fez Cristo deve fazer também o cristão. O tema da liturgia da
palavra de hoje é o sentido profundo do amor que Jesus viveu e testemunhou. O
amor é a essência de Deus, e exprime a existência em Deus. “Deus é amor.” O que ensinou Jesus foi fazer em tudo a
vontade de Deus-Pai. Em suma seu ensinamento era esse, e nisso se resumia a
lei: amor a Deus e ao próximo. Diz São Gregório Magno que essa lei é a
caridade: “O que melhor define a lei de Cristo é a caridade e esta caridade a
praticamos de verdade quando toleramos por amor as cargas dos irmãos” (São Gregório magno, Tratado Morais sobre o
Livro de Jó 10,7).
Essa máxima de Cristo que resume toda lei e os
profetas, mesmo sendo dois preceitos, abrange muitos aspectos, pois começa pelo
amor a Deus e ao próximo, mas se estende por inúmeros atos de caridade. Essa
multiplicidade de facetas é enumerada por São Paulo no belíssimo hino à
caridade: “O amor é paciente, afável, não é invejoso, não é vaidoso, não é
ambicioso, nem egoísta, não guarda rancor, não se alegra com a injustiça, mas
se regozija com a verdade” (1Cor 13, 1-13). Ensina São Gregório Magno que “o
amor é paciente, porque tolera com serenidade os males que lhe são infligidos.
É afável porque devolve generosamente o bem pelo mal” (São Gregório magno, Tratado Morais sobre o Livro de Jó 10,7).
Estar na nossa raiz apostólica a união fraterna, a
comunhão de amor. Já nas primeiras comunidades cristãs se dizia que os irmãos
tinham tudo em comum. Essa demonstração de amor confundia os de fora que
diziam: “vejam como eles se amam!” Ensina Tertuliano que é justamente essa
demonstração de grande amor entre os cristãos que atraiu a aversão de alguns.
“vede como eles estão dispostos a morrer uns pelos outros, enquanto que eles
estão mais dispostos a matarem-se entre si” (Tertuliano,
Apologeticum, 39). Nós nos toleramos por amor a Cristo, por fidelidade ao
mandato cristão, e porque pelo batismo somos incorporados na família de Jesus,
pela obediência à vontade de Deus. Somos verdadeiramente irmãos em Cristo,
marcados por um selo espiritual mais forte que os laços de sangue, mais
duráveis que as estrelas, infinitamente mais penetrante que qualquer vinculação
humana. Somos irmãos porque um é nosso Deus, um é nosso Pai, um é nosso Senhor.
“Com quanta maior dignidade se chamam e são verdadeiramente irmãos os que
reconhecem a um único Deus como Pai, os que beberam de um mesmo Espírito de
santidade, que esperam uma mesma herança, que nasceram de um mesmo ventre de
cega ignorância?” (Tertuliano,
Apologeticum, 39).
Mas porque acontece tanta falta de amor neste mundo,
iminentemente, cristão, do ocidente? Talvez seja porque fizemos pouco caso da
nova lei do amor impressa na vida e na pessoa de Jesus. Como ser seu seguidor e
não seguir os seus passos? Jesus não é um ideal metafísico, nem um conceito
abstrato, Ele é uma pessoa, Ele produz um encontro, neste encontro exige-se uma
decisão. Ensina São Cipriano de Cartago: “Imitemos a Cristo. O nome de cristão
pressupõe a justiça, a bondade, a integridade. É cristão aquele que em tudo
imita a Cristo e lhe segue; aquele que é santo, inocente, incontaminado, puro.
É cristão aquele em cujo coração não há lugar para malícia, aquele em cujo
peito somente há piedade e a bondade tem carta de cidadania” (Autor desconhecido, Sermão atribuído a São
Cipriano). Cristão é aquele que vive a vida de Cristo, quem em tudo segue
os passos de Jesus, ou seja, aquele totalmente entregue a misericórdia.
Quem ama a Deus, ama o próximo. O amor do cristão é
aquele amor gratuito, que se entrega às necessidades alheia. Somente o amor de
Deus no coração explica ações como essas: “o rei S. Luís visitava e cuidava dos
doentes com tanto desvelo como se fosse sua própria obrigação. (…) S. Gregório
muito folgava de dar agasalho aos peregrinos, a exemplo do patriarca Abraão, e,
como ele, recebeu um dia o Rei da glória na forma de um peregrino. Tobias
exercia a caridade, sepultando os mortos. Santa Isabel, sendo uma augusta
princesa, achava a sua alegria em humilhar-se a si mesma. Santa Catarina de
Gênova, tendo perdido o seu marido, dedicou-se ao serviço num hospital.” (S.
Francisco de Sales, Filotéia ou Introdução à vida devota, III, 1).
Muitos
pensam que serão mais felizes quando possuírem mais coisas, quando forem mais
admirados…, e se esquecem de que só necessitamos de “um coração enamorado”. O
nosso coração foi feito por Deus para alcançar a sua plenitude, a sua completa
realização, nos bens eternos, no seu Criador!
As
coisas criadas são para nos levar a Deus, pois um amor perfeito busca sempre
estar com mais perfeito. Ensina Santa Teresa: “Quando é perfeito, o amor tem
esta força: leva-nos a esquecer o nosso próprio contentamento para contentar
Aquele a quem amamos. E verdadeiramente é assim, porque, ainda que sejam
grandíssimos os trabalhos, se nos afiguram doces quando percebemos que
contentamos a Deus” (Fundações, 5,10).
Pe.
Fantico Borges, CM
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