Homilia do Pe. Fantico Borges, CM -
XXVII domingo do tempo comum ano A
Ai da alma na qual não habita o Cristo!
A história
de Israel, que se desenrolou como uma espécie de luta entre Deus e o povo
eleito, é como que a parábola de toda história humana. Enquanto Deus se empenha
em salvar a humanidade, esta insiste em caminhar para a condenação. Ele vai lhe
apresentando os meios necessários para que se salve, mas o ser humano continua
destruindo a obra divina. Deus confia na conversão do coração humano; este, no
entanto, frustra, continuamente, a confiança divina.
Neste
domingo a liturgia da palavra vem continuando a reflexão de Jesus acerca do juízo
de Deus. Se queremos conhecer o juízo de Senhor e qual será a sentença ditada é
mister vislumbrar esta parábola de hoje.
O senhor diz aos responsáveis pela religião oficial de Israel: um homem
plantou uma vinha e arrendou-a; quando chegou a época da colheita o patrão
enviou seus empregados para receber os frutos, mas eles maltrataram a uns e
mataram a outros, enfim enviou seu filho e o tomaram e mataram a fim de herdar
a herança. Jesus pergunta e que fazer com estes? Os chefes do povo afirmaram
que devem ser retirados da vinha e colocados outros que deem frutos ao seu
tempo. Eis ai, meus irmãos, o juízo. É assim que acontecerá com quem toma a fé
cristã e não produz frutos para o Reino. Ensina Santo Irineu de Lião que “Deus plantou
a vinha na raça humana, primeiro ao plasmar a Adão, depois quando escolheu
Jerusalém” (Tratado contra as heresias 4,6). Deus sempre quis cuidar de sua
vinha através dos vinhateiros que é seu povo escolhido, mas exigirá os
resultados da vinha.
O Profeta Isaías (Is 5, 1-7) mostra como Deus
manifestou o seu amor, os seus cuidados pela vinha, por Israel, o povo eleito e
a falta de correspondência a esse amor. Descreve Israel como uma plantação de
Deus, tratada com todos os cuidados possíveis: “Vou cantar para o meu amado o
cântico da vinha de um amigo meu: um amigo meu possuía uma vinha em fértil
encosta. Cercou-a, limpou-a de pedras, plantou videiras escolhidas, edificou
uma torre no meio e construiu um lagar: esperava que ela produzisse uvas boas,
mas produziu uvas azedas. O que poderia eu ter feito a mais por minha vinha e
não fiz?” (Is 5, 1-4) A Vinha é certamente Israel, que não correspondeu aos
cuidados divinos; mas é também a Igreja, bem como cada um de nós: “Cristo é a
verdadeira videira, que dá vida e fecundidade aos ramos, quer dizer, a nós que
pela Igreja permanecemos nEle e sem Ele nada podemos fazer” (Jo 15, 1-5). Como ficará uma vinha abandonada, sem cuidado,
sem cerca; onde cresce os espinhos e a erva daninha? O que será duma alma sem a
luz de Deus? Aí da alma na qual não habita Cristo! Ensina São Macário: “E da
mesma forma que uma casa, se não habita nela seu dono, se cobre de trevas, de
ignomínia e de afronta, e fica toda cheia de sujeira e imundície; assim também a
alma, privada de seu Senhor e da presença alegre de seus anjos, fica repleta de
trevas do pecado, da fealdade das paixões e de todo tipo de desonra” ( São
Macário, o Grtande, Sermão 28).
Apesar de tudo que ser humano fez e faz, o Pai
mostra-se sobremaneira paciente. O primeiro gesto de rebeldia do ser humano
seria suficiente para merecer a punição. Afinal, ele é quem tem uma dívida de
gratidão para com Deus. Criado com todo o carinho, fora-lhe dadas as condições
para viver em comunhão com o Criador e com os demais seres humanos. Dele se
esperava frutos de amor e de justiça. No entanto, seu coração perverteu-se,
levando-a a se rebelar contra Deus. Até mesmo Jesus, que representa o gesto
supremo da boa-vontade divina de salvar o ser humano, acabou sendo crucificado.
Ao ressuscitar seu Filho, o Pai estabeleceu-o como sinal de seu amor pela
humanidade. Sempre que o ser humano quiser voltar-se para Deus, pode contar com
Jesus. Aquele que fora rejeitado pelo ser humano, o Pai constituiu-o como
"pedra angular" da salvação.
Para produzirmos os frutos de vida que Deus espera
diariamente de cada um de nós, temos em primeiro lugar cultivar uma aversão por
tudo que ofende a Deus; as faltas – mesmo veniais- que prejudicam os resultados
de conversão. Os descuidos na caridade, os juízos negativos sobre as pessoas,
as impaciências, as mentiras, as injustiças e tantos outros maus comportamentos...
prejudica a alma. É necessário que nos empenhemos continuamente em afastar tudo
aquilo que não é grato ao Senhor. A alma que detesta o pecado venial
deliberado, pouco a pouco vai crescendo em delicadeza e em finura no trato com
o Mestre. São Paulo (Fl 4, 6-9) lembra que na nossa fraqueza é preciso que nos
apoiemos na oração. Devemos pedir a graça da fidelidade para que possamos dar
muitos frutos, guardando nossos corações e pensamentos, em Cristo Jesus.
Pe. Fantico Borges, CM
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