sábado, 14 de outubro de 2017

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – XXVIII do tempo comum ano A

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – XXVIII do tempo comum ano A

Muitos os convidados poucos os escolhidos!

A Palavra de Deus desde domingo chama-nos atenção para o banquete, no qual o Senhor nos quer introduzir. Ele mesmo prepara a mesa para os convidados, convocando-os a virem ao seu encontro e deleitarem-se da festa das núpcias eternas. O evangelho diz que o Senhor enviou os servos para convidar os que quisessem vir e lhes faz anunciar: “Meu banquete está servido!” Mas os que foram convidados se desculparam. Diz São Macário, o Grande: “o que convidava estava preparado, mas os chamados não fizeram caso; são responsáveis pelo seu destino” (São Macário, homilias espirituais 15, 30-31).
A grandeza do cristão consiste neste convite: Deus convoca a refeição que ele mesmo é o artífice. Do cristão se exige a responsabilidade em aderir a convocação, pois Deus lhe prepara o Reino e chama-o a entrar. Afirma São Macário, que “esta é, portanto, a grande dignidade dos cristãos. O Senhor lhes prepara o reino e lhes convida para nele entrar, mas eles se recusam a ir. Se observarmos o dom que haviam de receber, pode-se dizer que alguém... suportava tribulações desde a criação de Adão até o fim do mundo, pode-se dizer que nada tinha feito comparado com a glória que terá em herança, porque deve reinar com Cristo pelos séculos sem fim” (São Macário, homilias espirituais 15, 30-31).
Ora, quem são estes convocados? São os que receberam a fé; mergulhados nas águas santas batismais; instruídos no conhecimento da Palavra e na Tradição Apostólica. E são convocados a quê? A ceia eucarístico! Nesta refeição da graça, como em antegozo já são introduzidos no mistério da nupcialidade de Jesus. Por isso, a missa – e quero dizer toda missa – é o céu na terra. Ao banquete da missa, dizia São Justino, o Mártir, “chama-se Eucaristia, da qual ninguém pode participar, a não ser que creia serem verdadeiros nossos ensinamentos e se lavou no banho que traz a remissão dos pecados e a regeneração e viva conforme o que Cristo nos ensinou” (Justino, Mártir, I Apologia, 66).  
Escutamos no Evangelho: “Dizei aos convidados que já está preparado o meu banquete (…). Vinde às bodas!” (Mt 22,4). Jesus deixou-nos esse prodígio de amor, que é a eucaristia, para que participemos de suas alegrias eternas. Ele instituiu o sacramento do seu corpo e do seu sangue no contexto de uma ceia e se deu em alimento para que nós, fortalecidos, pudéssemos chegar à glória celestial. Mas a eucaristia não é somente um banquete, trata-se de uma ceia sacrificial. O Catecismo da Igreja Católica faz essa conexão – eucaristia-ceia – já que o Novo Testamento também o faz: “Jesus expressou de modo supremo a oferta livre de si mesmo na refeição que tomou com os Doze Apóstolos na “noite em que foi entregue” (1 Cor 11,23). Na véspera de sua Paixão, quando ainda estava em liberdade, Jesus fez desta Última Ceia, com seus apóstolos, o memorial de sua oferta voluntária ao Pai, pela salvação dos homens: “Isto é o meu corpo que é dado por vós” (Lc 22,19). “Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados” (Mt 26,28)” (Cat. 610).
Fomos convidados para participar das núpcias do Cordeiro, aquele que tira o pecado do mundo. Jesus é o noivo desta núpcia. Como os convidados, por primeiro, fizeram pouco caso do convite, o noivo vai à busca de outros que queira ir à sua festa. Diz a Escritura que o salão ficou cheio. Mas lá no meio havia uma pessoa sem a devida veste. Sem explicar como entrara ali foi expulsa do salão e jogada na escuridão. Ora, que roupa é essa? Diz São Gregório Magno: “O que significa, irmãos, a veste nupcial? Não podemos dizer que signifique o batismo nem a fé, porque quem pode entrar sem eles nestas bodas?... Portanto, o que devemos entender por veste nupcial, senão a caridade? Entra, pois, nas bodas, mas não leva a veste nupcial, aquele que pertencendo à Igreja Católica tem fé, mas lhe falta a caridade”. (São Gregório Magno, Sermões sobre os Evangelhos, 38).
Com propriedade chama-se caridade a veste nupcial que trajamos neste banquete. A simplicidade popular canta que só tem lugar nesta mesa eucarística quem comunga na vida do irmão. Novamente ensina São Gregório que “se alguém é convidado para uma boda, procura trocar de veste, e manifesta que se alegra com o esposo e a esposa pela dignidade de seu traje, e se envergonharia de aparecer entre os convidados com uma veste insignificante. Nós assistimos as bodas divinas, e, contudo, resistimos a trocar a veste do coração” (São Gregório Magno, Sermões sobre os Evangelhos, 38).
A caridade é a grande dama que embeleza nossa imagem diante dos anjos. Pela caridade nosso coração volta-se a Deus com as vestimentas da dignidade desejada pelo Senhor. Dizia São Vicente de Paulo que a caridade é a virtude que “consiste em arrancar de nossos corações, não só de nossa fantasia e de nosso espírito, mas também de nosso coração, as afeições à impureza” (Pierre Coste, XI, 681) Pois, sem a caridade, mesmo tendo sido introduzido no batismo e na fé dos Apóstolos, caímos na falta das insígnias merecidas do noivo.
Quem recebendo um convite não se prepara, adquirindo a melhor veste, enfeitando-se com os melhores adornos, despreza quem o convidou. Quando na vivência da fé, na participação da vida cristã, não nos esforçamos por uma vida mais santa, justa, honesta, sem vícios, fugindo de todo pecado, lutando contra o mal, a impressão que deixamos ao que nos veem é o descaso, o desrespeito com quem nos convida, isto é, com Deus. Quem diz amar a Deus; ter fé, mas continua obstinado no mal faz pouco caso de sua salvação. É por isso que o Evangelho termina dizendo que “muitos são os convidados e pouco escolhidos”(Mt 22,14). Terrível é, caríssimos irmãos, o que acabamos de ouvir. Considerai que todos nós, chamados pela fé, assistimos as bodas celestiais; todos cremos e confessamos o mistério de sua encarnação; todos participamos do banquete do verbo divino, porém no dia futuro do juízo o rei entrará e passando verá quem está no salão e observará se todos estão vestidos com a roupa nupcial. Ai de quem não estiver trajado com a dignidade que convém! “sabemos que fomos chamados, mas ignoramos se pertencemos ao grupo dos escolhidos” (São Gregório Magno, sermões sobre os evangelhos, 38).    
Adverte-nos São João Crisóstomo: “não será absurdo, depois, (de ouvir) aquela misteriosa voz vinda do céu – refiro-me à dos querubins – emporcalhar o ouvido com cantos de bordel e quebradas melodias? E, como não será digno do pior castigo olhar as prostitutas com os mesmos olhos com que olhas os inefáveis e tremendos mistérios, e cometes adultérios de pensamentos?” (São João Crisóstomo, Catequese Batismal 1,2). Como não será digno de reprovação aqueles que receberam a fé e por ela robustecidos, tornam-se partícipes do numero dos eleitos, mas por práticas lamentáveis caminham como animais irracionais? Ou tendo sido iluminados no caminho de Deus, preferem seguir as pegadas das trevas? O que esperar uma alma que assim procede? Só a misericórdia de Deus pode dissolver esse enigma preclaro do juízo final.   Confiemo-nos a bondade e compaixão de nosso Deus, mas sem fugir de nossas responsabilidades.


Pe. Fantico Borges, CM 

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