sábado, 30 de setembro de 2017

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – XXVI Domingo do Tempo Comum – Ano A

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – XXVI Domingo do Tempo Comum – Ano A

Arrepende-se é começar a vida nova!

A liturgia deste domingo traz presente a reflexão o arrependimento que faz gerar o perdão. No Evangelho (Mt 21,28-32) Jesus indaga ao seus ouvintes assim:         “Que vos parece?”... Ora, o objetivo de Jesus é usar os próprios argumentos dos ouvintes para exigir deles uma posição autêntica. A pergunta é muito simples: dois filhos são enviados pelo pai a trabalhar na vinha; o primeiro responde  “sim”, mas não  vai; o segundo diz “não” mas depois  arrepende-se e vai. “Qual dos dois fez a vontade do pai? Os sumos sacerdotes e anciãos do povo responderam: ‘O primeiro’” (Mt 21,29-31). É a sua condenação que Jesus proclama a seguir, bem claramente: “os cobradores de impostos e as prostitutas  vos precedem no Reino  de Deus”. O motivo é também simples: porque as prostitutas e cobradores de impostos arrependeram-se e eles não. Dirá São Clemente de Alexandria, que “aqueles que de todo coração se converte para Deus tem as portas abertas, e o Pai recebe com braços abertos ao filho realmente arrependido.” (S. Clemente, Livro sobre a Salvação dos rico, 39)
Assim, como nesta parábola dos dois filhos, Deus chamou primeiro os filhos de Israel; através dos fariseus, sumo sacerdotes, escribas e doutores da lei, mas estes não quiseram mudar de vida; por fim chamou os outros, que a principio eram rebeldes, mas depois se arrependeram e mudaram de vida; os pecadores convertidos. Diz Jesus que uns ouviram a pregação de João Batista, mas não lhes deram crédito porque julgavam-se excessivamente seguros da sua ciência e da não necessidade de aprender; excessivamente seguros da sua justiça e da não necessidade de conversão: “não vos arrependestes para crer nele” (Mt. 21,32 ); não aceitaram a palavra  de João Batista nem a de Jesus. Veem-se, pois, colocados para depois, nada mais e nada menos, que as pessoas de mau viver, cobradores de impostos e prostitutas; pois estes arrependeram-se, “afastaram-se do mal que praticaram, acreditaram e praticaram “a justiça” (Ez.18,27), e, por isso, foram recebidos  no Reino de Deus. Parece que os justos, diante da lei judaica, não precisavam de juiz, nem se sentiam impelidos a mudar os comportamentos internos, ao contrário deles os publicamente pecadores, não tinha ninguém para defende-los, e por isso, punham sua esperança no Deus misericordioso e cheio de amor, sempre inclinado a perdoar o pecador arrependido. Lembra-nos São Clemente, “que arrepender-se supõe lamentar-se das faltas cometidas, e pedir com insistência ao Pai que as lance definitivamente no esquecimento, ele que é o único capaz de, em sua misericórdia, dar por não feito o feito, e abolir com suavidade do Espírito os delitos da vida passada.” (S. Clemente, Livro sobre a Salvação dos rico, 40)
Jesus propõe uma nova mentalidade, onde assevera o sentimento de amor a perdão. A nova experiência do Reino de Deus é pura misericórdia ao pecador contrito. Na comunidade de Cristo todos que desejarem, sinceramente, e de coração, podem alcançar a salvação. Deus não olha para o passado, nem fica atrás de nossos delitos, ele quer saber é se estamos dispostos a começar, hoje, o caminho de santidade. Jesus não prega um Deus contabilista, calculador de pecados, ele é o Pai das misericórdias. O Pai deseja, como nos ensina Gregorio de Nissa, é que choremos nossos pecados, nos repelemos com nossos maus comportamentos, que não fiquemos inertes ao mau. Por isso, que a santidade é uma virtude dos fortes; porque santo não é quem não pecou, mas sim quem luta, todo dia, para não pecar mais. Ser santo é dizer todos os dias ao levantar: “só por hoje, não quero mais pecar..., Só por hoje, náo vou falar mau de ninguém, só por hoje, não vou mentir, só por hoje, não vou trair... PHN sempre ao pecado.
Comentando o Evangelho de Mateus São João Crisóstomo afirma: “Porque estes dois filhos manifestam o que aconteceu com os judeus e com os gentios.  Porque foi assim que os gentios, que não tinham prometido obedecer e nunca ouviram a lei, em suas obras mostraram sua obediência; e os judeus, que disseram: tudo quanto o Senhor disser o faremos e obedeceremos, mas em obras lhe desobedeceram. Justamente Porque não pensaram que a lei lhes serviriam para alguma coisa, ele lhes faz ver que ela seria motivo de maior condenação.” (São João Crisóstomo, Sermão sobre o Evangelho de Mateus, 67) Por orgulho, vaidade e arrogância muitos criam máximo obstáculo à salvação. Por isso, surge muito a propósito, a exortação de São Paulo à Virtude da humildade: “Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus. Ele que era de condição divina… esvaziou-se a Si mesmo, assumindo  a  condição de escravo, tornando-se igual aos homens” ( Fl.2,5-7).Se o Filho de Deus Se humilhou ao ponto de carregar sobre Si os pecados  dos homens ,será pedir muito que estes sejam humildes no reconhecimento do seu orgulho e dos seus pecados?
Peçamos ao Senhor a graça da humildade, ensina São João Maria Vianês, o Cura D’Ars, “é a porta pela qual passam as graças que Deus nos outorga; é ela que amadurece todos os nossos atos, dando-lhes valor e fazendo com que sejam  agradáveis a Deus. Finalmente, constitui-nos donos do coração de Deus, até fazer Dele, por assim dizer nosso servidor, pois Deus nunca pode resistir  a um coração humilde”.  É uma virtude que não consiste essencialmente em reprimir os impulsos da soberba, da ambição, do egoísmo, da vaidade… Trata-se de uma virtude que consiste fundamentalmente em inclinar-se diante de Deus e diante de tudo o que há de Deus  nas criaturas, em reconhecer a nossa pequenez  e indigência em face da grandeza do Senhor. São Vicente dizia as Filhas da Caridade: “O espírito das Filhas da Caridade é a humildade e ela [uma irmã] está cheia de orgulho. Isso é ser semelhante ao diabo e pior que o diabo. Ai! Se fôssemos humildes, deveríamos nos julgar todos piores que o diabo! Não se trata de uma imaginação, mas de uma verdade: pois, se o diabo não se tivesse obstinado em seu pecado e tivesse recebido a mais pequena graça que nós recebemos, a haveria usado melhor que nós” ( COSTE, IX, 945) O que Deus quer de nós é a humildade nos comportamentos, a firmeza na fé, respeito à sua Palavra, gratidão nas ações, misericórdia nas obras, moderação nos costumes, e tolerância uns com os outros. 
       Que Deus nos fortaleça para o bom combate da fé, com a ajuda augustíssima de sua Mãe a virgem de Nazaré. Amém!

Pe. Fantico Borges, CM  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C) Um homem vem a Jesus pedindo que diga ao irmão que reparta consigo a herança. Depois ...