HOMILIA DO XXV
DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO A
OS SALÁRIO DO
OPERÁRIO FIEL É A VIDA ETERNA
Na meditação deste domingo, novamente, o
Senhor, falando em parábolas, anuncia ao povo a salvação. O caminho salvador é
uma graça que Deus abre a todas as pessoas, mesmo aquelas chamadas nas últimas
horas. Essa referencia final, com muita certeza, faz-se aos convertidos que
vinham das diásporas e fora da palestina, no qual podemos nos incluir. A mensagem
de Jesus é um convite a todos os povos de todos os tempos. No reino de Deus
ninguém fica de fora. Todos encontram um espaço. Urge estar a disposição do
convite de Cristo. Pelo modo como o Senhor nos ama, o ser humano jamais poderá
compreender as atitudes divinas, sem a predisposição em abrir-se àquele que chama.
Torna-se um grande perigo querer reduzir
Deus à medida de nossos pensamentos, ou mesmo, condicionar o comportamento do
Altíssimo às nossas categorias de justiça e de bondade. Deus está muito acima
do homem, muito mais do que está o céu acima da terra (Is 55,9); por isso,
muitas vezes os projetos da sua providência são incompreensíveis à inteligência
humana, que os deve aceitar com humildade, sem pretender julgá-los. Quantas
vezes ficamos aquém das maravilhas que Deus nos preparou! Quantas vezes os
nossos planos se revelam tão estreitos!
Com a parábola de hoje no Evangelho o
Senhor não deseja dar-nos uma lição de moral salarial ou profissional, mas
sublinhar que, no mundo da Graça, tudo é um puro dom, mesmo o que parece ser um
direito que nos assiste pelas nossas boas obras. A salvação não é algo
conquistado pelo tamanho do esforço, mas pela intensidade com que se lança ao
trabalho de Deus. A murmuração, a cobrança e exigência da salvação pelos obras
revelam um coração interesseiro e sem Deus, pois Deus ama quem dar com alegria
e gratuitamente, porque foi assim que ele fez e quer que façamos. Por isso, que
fomos chamados a diferentes horas para trabalhar na vinha do Senhor, só temos
motivos de agradecimento. A chamada, em si mesma, já é uma honra. “Não há
ninguém, afirma São Bernardo, que, por pouco que reflita, não encontre em si
mesmo poderosos motivos que o obriguem a mostrar-se agradecido a Deus.
Seja qual for o tempo de nossa conversão
Deus sempre nos acolhe. No Evangelho de Mateus estes homens encontrados pelo
patrão (Deus Uno e Trino), já no final do dia, queriam trabalhar, mas ninguém o
contratou. Eram ociosos por falta de Senhor que os contratassem. Jesus passou
no mundo chamando a todos a ingressarem na vinha do Senhor. Instara-se o tempo
kairótico da graça do Senhor; um convite escatológico ao reinado de Deus, que
age por misericórdia. Segundo Santo Efrém, o Senhor “ensinou que, seja qual for
o momento de sua conversão, todo homem é acolhido...” (Diatessaron, 15, 15-17).
Fica evidente que Jesus desde o início do seu ministério pastoral sempre
procurou convidar todos a seguir o caminho do Reino, ou seja, “ saiu de
madrugada para contratar trabalhadores”; saiu também até na undécima hora, a fim de ninguém ficar sem trabalho, nem
usassem a desculpa de que não foram
chamados.
É importante notarmos, neste momento, o
apelo que faz o profeta Isaías ao Israel desviado: “Abandone o ímpio seu
caminho, e o homem injusto, suas maquinações; volte para o Senhor, que terá
piedade dele” (Is 55,7). Ora, desde primeiro instante da profecia de Israel o
Senhor apresenta-se com misericordioso, sempre pronto a acolher. Esse convite
de Deus, através do oráculo, manifesta a sede que Deus tem do ser humano. Quer chamar
todos os seus filhos e reuni-los novamente: “quantas vezes quis eu ajuntar os
teus filhos, como a galinha recolhe os seus pintinhos debaixo das suas asas, e não
o quiseste!” (Mt 23, 37). A recusa de muitos é causa de dor no coração de
Jesus, que veio para que todos tenham vida. O apelo de Deus se renova em cada
eucaristia celebrada, pois, Ele passa chamando os operários ao Reino: Não
fecheis teu coração, ouvi hoje a voz de Deus. Entente ó filhos que Deus não estipula
um tempo para a conversão, mas sempre estar atento ao nosso movimento de
procura divina. E quando nos encontra oferece-nos tudo de si.
Ao contrario das atitudes divinas são aquelas
humanas atitudes desordenadas, que visão a satisfação pessoal, a retribuição meritória.
Os operários das primeiras horas reclamam da bondade do patrão que os iguala
aos que trabalharam menos. A queixa gira em torno do valor da graça alcançada. Dirá
Santo Agostinho: “o que significa esse gesto de pagar a diária começando pelos
últimos? Não lemos em outra passagem do
Evangelho que todos receberão simultaneamente a recompensa?” Ora, a moeda de
prata aqui se chamaria na teologia a vida eterna. Se todos receberão o denario
ao mesmo tempo, como entender o que aqui se diz sobre o primeiro receberão a diária,
os contratados ao entardecer, e, por último, os do amanhecer? Santo Agostinho
alude nestes termos: “ No que se refere a retribuição, todos seremos iguais: os
últimos como os primeiros, e os primeiros como os últimos, pois aquele denario
é a vida eterna, e na vida eterna todos são iguais.” Tanto Abel, Abraão, Moises, os profetas, os
Santos, como nós, receberemos o salário divino. Mesmo que aja diversidade de méritos e brilhem
diversamente os eleitos, mas no que se refere à vida todos serão iguais. É por
isso que Deus fez entrar na vida eterna o ladrão que no suplicio da cruz se
arrependeu. Não é o ladrão um operário da undécima hora? Claro que sim! Como eu,
como você somos trabalhadores do entardecer.
Como já citei acima não podemos nem
devemos enquadrar Deus nos nossos planos humanos finitos e imperfeitos. Deus é
mais; seus caminhos são infinitamente maiores e melhores que nos nossos. Sendo assim, tenhamos cuidado para não sentar Deus no banco dos réus e
julgá-lo injustamente. O melhor que podemos fazer quando não entendermos os
projetos de Deus é ser-lhe dóceis acreditando que ele sabe mais e faz melhor do
que nós. Por mais evidente que seja, é preciso que nos lembremos disso para
que, inconscientemente, não tomemos o lugar de Deus.
Cabe, portanto, pensar que todo nosso
esforço ainda será pouco para comparar-se com a gradíssima graça dada por Deus
a nós. Como afirma Efrém, “somos contratados para um trabalho proporcionado às
nossas forças, porém nos propõe um salário muito acima do que o nosso trabalho
merece...” aquilo que damos a Deus é muito pouco e inferior a sua dignidade. Por
isso, não nos cabe reprovar a bondade de Deus que deseja salvar os últimos em
primeiro. Deus se oferece livre e gratuitamente, e nisso mostra a sua paixão e compaixão
por todos.
Pe. Fantico Borges, CM
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