domingo, 17 de setembro de 2017

Homilia do Pe. Fantico - XXIV domingo comum ano A

Homilia do Pe. Fantico - XXIV domingo comum ano A

O perdão caminho de mão dupla. 

Hoje a palavra de Deus nos leva a refletir sobre o PERDÃO. Nesta liturgia dominical o Senhor se coloca como modelo perfeito de perdão divino. Deus exige do pecador, apenas, um gesto de misericórdia para com o outro. Diz o Senhor no livro do Eclesiástico: “Quem se vingar  encontrará a vingança do Senhor, que pedirá severas contas dos seus pecados. Perdoa a injustiça cometida por teu próximo: assim quando orares, teus pecados serão perdoados. Se alguém guarda raiva contra o outro, como poderá pedir a Deus a cura para si? Senão tem compaixão do seu semelhante, como poderá pedir que Deus tenha misericórdia de seus pecados?” (Eclo 28, 1-4.) Quem deseja a misericórdia para si deve se reconciliar com seus irmãos. A proposta de Jesus pressupõe uma radicalidade infinita: perdoa não apenas sete vezes mais sim setenta vezes sete. Para o santo Padre o Papa Francisco a atitude do perdão está implícita no Pai-nosso: arrepender-se com sinceridade dos próprios pecados, sabendo que Deus perdoa sempre. O papa alude que tudo parte de nós. Quando nos apresentamos para pedir perdão temos consciências dos nossos atos e a necessária busca de reconciliação com Deus e os irmãos.
Há uma diferença grande entre o pecado e a desculpa. Perdão é algo que envolve todo ser de quem perdoa e é perdoado. “Pedir perdão é diferente de pedir desculpa. Eu errei? Mas me desculpe, errei… Pequei! Não tem nada a ver uma coisa com outra. O pecado não é um simples erro. O pecado é idolatria, é adorar o ídolo, o ídolo do orgulho, da vaidade, do dinheiro, do eu mesmo, do bem-estar… Tantos ídolos que nós temos. E, por isso, Azarias, no antigo testamento, não pede desculpas, pede perdão”.  O perdão deve ser pedido com sinceridade, com o coração, e de coração deve ser doado a quem cometeu um deslize. Como o patrão da parábola contada por Jesus, que perdoa um grande débito movido pela compaixão diante das súplicas de um dos seus servos. E não como aquele mesmo servo faz com outro servo, tratando-o sem piedade e mandando-o à cadeia, mesmo que a dívida fosse irrisória. A dinâmica do perdão – recordou o Papa – é aquela ensinada por Jesus no “Pai-Nosso”.

A pergunta de Pedro é a procura sobre a essência de Deus como perdão-misericórdia. Em outras palavras se pergunta até onde Deus pode dar o perdão. Pensando que o perdão é uma prerrogativa de Deus; e Pedro, vivia, num mundo, em que a concepção judaica limitava o perdão aos justos, essa questão gira sobre a proposta de salvação, na qual Jesus anunciava, ou seja, um Deus que não impõe limites ao perdão. Sempre é hora de perdoar.  Jesus revela um caminho de Reconciliação, onde todos estão incluídos: pobres, ricos, pecadores, publicados e justos.  
Jesus ao propor a resposta para Pedro alude o caminho da reconciliação: ter a mesma atitude de Deus para com o pecado alheio. Santo Agostinho, pensando no pecado de Judas, escreveu: “se ele tivesse orado em nome de Cristo teria pedido perdão, se tivesse pedido perdão teria esperança, se tivesse esperança teria esperado na misericórdia e não teria se enforcado desesperadamente”.  Pedro que também pecou acreditou no poder da esperança que salva e alcançou a graça da reconciliação. Não temos motivo para desesperar-nos.  O pensamento de São Máximo de Turim é irrefutável: “se o ladrão obteve a graça do paraíso, por que o cristão não há de obter o perdão?”. Sendo assim, confiemos sempre na misericórdia do Senhor, façamos um propósito de mudança de vida, confessemos os nossos pecados.
Santo Tomás de Aquino na suma teológica diz que a cegueira da mente não é pecado, mas a insensatez ou o embotamento da alma, de não querer mudar de vida, isso sim leva a morte. Comecemos novamente! Perdoando os nossos semelhantes, quantas vezes for preciso, estaremos imitando o próprio Deus e essa semelhança nas ações atrairá maiores graças para as nossas futuras decisões.
O perdão constrói as relações de amizade e todas as relações sociais. Quanto há compreensão e perdão entre amigos, essa amizade perdurará apesar dos pesares. Os nossos amigos são pessoas como nós, com virtudes e defeitos; se nós, porém, não compreendermos que eles nem sempre se comportarão virtuosamente é sinal de que ainda não somos bons amigos. Até Deus permite que nós erremos, deixa que pequemos, isto é, Deus respeita até o mau uso da nossa liberdade e… continua nos amando, nos perdoando. Nós não podemos sufocar as pessoas sendo intransigentes e insuportáveis; ao contrário, devemos compreender quem está no erro sem minimizar as exigências da doutrina e da moral cristã.
Por fim diz santo Agostinho: “Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido; digamo-lo com um coração sincero e façamos o que dizemos. É um compromisso que fazemos com Deus, um pacto e um agrado. O Senhor teu Deus te diz: Perdoa e eu perdoo. Não perdoaste? Tu te voltas contra ti mesmo, não eu”. S.56,9,13


Pe. Fantico Borges,CM

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C) Um homem vem a Jesus pedindo que diga ao irmão que reparta consigo a herança. Depois ...