Homilia do Pe. Fantico - XXIV domingo
comum ano A
O perdão caminho de mão dupla.
Hoje a palavra de Deus nos leva a
refletir sobre o PERDÃO. Nesta liturgia dominical o Senhor se coloca
como modelo perfeito de perdão divino. Deus exige do pecador, apenas, um gesto
de misericórdia para com o outro. Diz o Senhor no livro do Eclesiástico: “Quem
se vingar encontrará a vingança do Senhor, que pedirá severas contas dos
seus pecados. Perdoa a injustiça cometida por teu próximo: assim quando orares,
teus pecados serão perdoados. Se alguém guarda raiva contra o outro, como
poderá pedir a Deus a cura para si? Senão tem compaixão do seu semelhante, como
poderá pedir que Deus tenha misericórdia de seus pecados?” (Eclo 28, 1-4.) Quem
deseja a misericórdia para si deve se reconciliar com seus irmãos. A proposta
de Jesus pressupõe uma radicalidade infinita: perdoa não apenas sete vezes mais
sim setenta vezes sete. Para o santo Padre o Papa Francisco a atitude do perdão
está implícita no Pai-nosso: arrepender-se
com sinceridade dos próprios pecados, sabendo que Deus perdoa sempre. O
papa alude que tudo parte de nós. Quando nos apresentamos para pedir perdão
temos consciências dos nossos atos e a necessária busca de reconciliação com
Deus e os irmãos.
Há uma diferença grande
entre o pecado e a desculpa. Perdão é algo que envolve todo ser de quem perdoa
e é perdoado. “Pedir
perdão é diferente de pedir desculpa. Eu errei? Mas me desculpe, errei… Pequei!
Não tem nada a ver uma coisa com outra. O pecado não é um simples erro. O
pecado é idolatria, é adorar o ídolo, o ídolo do orgulho, da vaidade, do
dinheiro, do eu mesmo, do bem-estar… Tantos ídolos que nós temos. E, por isso,
Azarias, no antigo testamento, não pede desculpas, pede perdão”. O perdão deve ser pedido com
sinceridade, com o coração, e de coração deve ser doado a quem cometeu um
deslize. Como o patrão da parábola contada por Jesus, que perdoa um grande
débito movido pela compaixão diante das súplicas de um dos seus servos. E não
como aquele mesmo servo faz com outro servo, tratando-o sem piedade e
mandando-o à cadeia, mesmo que a dívida fosse irrisória. A dinâmica do perdão –
recordou o Papa – é aquela ensinada por Jesus no “Pai-Nosso”.
A pergunta de Pedro é a procura sobre a essência
de Deus como perdão-misericórdia. Em outras palavras se pergunta até onde Deus
pode dar o perdão. Pensando que o perdão é uma prerrogativa de Deus; e Pedro, vivia,
num mundo, em que a concepção judaica limitava o perdão aos justos, essa questão
gira sobre a proposta de salvação, na qual Jesus anunciava, ou seja, um Deus
que não impõe limites ao perdão. Sempre é hora de perdoar. Jesus revela um caminho de Reconciliação, onde
todos estão incluídos: pobres, ricos, pecadores, publicados e justos.
Jesus ao propor a resposta para Pedro alude
o caminho da reconciliação: ter a mesma atitude de Deus para com o pecado
alheio. Santo Agostinho, pensando no pecado de Judas, escreveu: “se ele tivesse
orado em nome de Cristo teria pedido perdão, se tivesse pedido perdão teria
esperança, se tivesse esperança teria esperado na misericórdia e não teria se
enforcado desesperadamente”. Pedro que também
pecou acreditou no poder da esperança que salva e alcançou a graça da
reconciliação. Não temos motivo para desesperar-nos. O pensamento de São
Máximo de Turim é irrefutável: “se o ladrão obteve a graça do paraíso, por que
o cristão não há de obter o perdão?”. Sendo assim, confiemos sempre na
misericórdia do Senhor, façamos um propósito de mudança de vida, confessemos os
nossos pecados.
Santo Tomás de Aquino na suma teológica diz
que a cegueira da mente não é pecado, mas a insensatez ou o embotamento da alma,
de não querer mudar de vida, isso sim leva a morte. Comecemos novamente!
Perdoando os nossos semelhantes, quantas vezes for preciso, estaremos imitando o
próprio Deus e essa semelhança nas ações atrairá maiores graças para as nossas
futuras decisões.
O perdão constrói as relações de amizade
e todas as relações sociais. Quanto há compreensão e perdão entre amigos, essa
amizade perdurará apesar dos pesares. Os nossos amigos são pessoas como nós,
com virtudes e defeitos; se nós, porém, não compreendermos que eles nem sempre
se comportarão virtuosamente é sinal de que ainda não somos bons amigos. Até
Deus permite que nós erremos, deixa que pequemos, isto é, Deus respeita até o
mau uso da nossa liberdade e… continua nos amando, nos perdoando. Nós não
podemos sufocar as pessoas sendo intransigentes e insuportáveis; ao contrário,
devemos compreender quem está no erro sem minimizar as exigências da doutrina e
da moral cristã.
Por fim diz santo
Agostinho: “Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos
tem ofendido; digamo-lo com um coração sincero e façamos o que dizemos. É um
compromisso que fazemos com Deus, um pacto e um agrado. O Senhor teu Deus te
diz: Perdoa e eu perdoo. Não perdoaste? Tu te voltas contra ti mesmo, não eu”.
S.56,9,13
Pe. Fantico Borges,CM
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