domingo, 3 de setembro de 2017

Homilia do Pe. Fantico – XXII domingo do Tempo comum ano A

Homilia do Pe. Fantico – XXII domingo do Tempo comum ano A

A Cruz de Jesus, caminho de salvação!

Neste, domingo da XXII semana do tempo comum, a palavra de Deus vem os mover o olhar para a Cruz de Jesus, como caminho a percorrer todos os que querem seguir os passos de Cristo. A vida hodierna com as técnicas modernas de busca do bem-estar social vem cada vez mais movendo os sentimentos hedonistas de fuga da dor e sofrimento, como formas de satisfação humana. A ousadia religiosa agora é alcançar a salvação sem passar pela experiência da kenosis, ou seja, deseja-se chegar a salvação de Jesus sem passar pela paixão e morte.
Quem busca um Cristo sem Cruz acaba, por fim, encontrando-se com uma cruz sem Cristo. Já nos ensinava no seu magistério o Papa São João Paulo II: “A Cruz é o livro vivo em que aprendemos definitivamente quem somos e como devemos atuar. Este livro está sempre aberto diante de nós”(Alocução, 01/04/1980). Neste sentido a fé permite-nos ver e experimentar que sem sacrifício não há amor, não há alegria verdadeira, a alma não se purifica, não encontramos a Deus. O caminho da santidade passa pela Cruz, e todo o apostolado fundamenta-se nela. A mortificação que é inerente a vida de Jesus de Nazaré incide sobremaneira na vida discipular dos seguidores do Caminho. Quem procura a Deus sem sacrifício, sem Cruz, não O encontrará. Para ressuscitar com Cristo, temos que acompanha-Lo no seu caminho para a Cruz: aceitando as contrariedades e tribulações com paz e serenidade; sendo generosos na mortificação voluntária, que nos faz entender o sentido transcendente da vida e reafirma o senhorio da alma sobre o corpo. Devemos ter em conta que a Cruz que anuncia Cristo é escândalo para uns e loucura e insensatez para outros (cf. 1 Cor 1,23).
A atitude do profeta Jeremias é aquela humana compreensão que a dor e o sofrimento são demais para suportar. Tantas vezes esquecemos que o sofrimento está condicionado à vida imerso na existência do ser que vive. Mas que existem dois modos de encarar o sofrimento: como condição natural do ser vivente, e como fruto dos atos. O sofrimento salvífico é aquele que voluntariamente aceitamos suportar, mesmo sem merecer, em amor a Cristo. O Papa São João Paulo escrevia: “O sofrimento deve servir à conversão, isto é, à reconciliação do bem no sujeito, que pode reconhecer a misericórdia divina este chamamento à penitência” (Salvifici doloris, 12). A partir do entendimento do sofrer por amor a Cristo, então, o amor divino torna-se fonte mais rica sobre o sentido do sofrimento, que sempre continua um mistério.
A atitude de Pedro reporta seu imenso carinho por Jesus, Simão procura afastá-Lo do caminho da Cruz, sem compreender ainda que ela será um grande bem para a humanidade e a suprema demonstração do amor de Deus por nós. Comenta São João Crisóstomo: ”Pedro raciocinava humanamente e concluía que tudo aquilo – a Paixão e a Morte – era indigno de Cristo e reprovável.” Aqui também podemos notar que nem os discípulos compreendiam qual o signo do Cruz para Jesus. A expectativa messiânica dos contemporâneos de Jesus rejeitavam todo e qualquer relação de fraqueza, por isso a atitude de Pedro em reprovar as palavras de Jesus. Pedro penava num rei dravídico que iria recuperar o esplendor de Israel. A resposta de Jesus é teológica, ou seja, remete ao entendimento de Deus: vai para longe satanás! Recordando as mesmas palavras ditas ao demônio na tentação do deserto. Ver-se clara a oposição entre o mundo e Deus; o céu e a terra; as coisas do alto e as debaixo. A incompatibilidade entre querer viver para esse mundo e querer buscar o Reino de Deus. Pedro, naquele momento, não chega a entender que, por vontade expressa de Deus, a Redenção se tem de fazer mediante a Cruz e que “não houve meio mais conveniente de salvar a nossa miséria” (Sto. Agostinho).
Tem pessoas que não conseguem sair deste mundo escravagista das coisas e necessidades; não conseguem avançar as águas profundas do seu ser, porque como galinhas vivem ciscando no terreiro da vida sem poder olhar ao azul celestial que consiste em  seu verdadeiro horizonte. Temos que lembrar a todos que não ponham o coração nas coisas da terra, que tudo é caduco, que envelhece e dura pouco. ”Todos envelhecerão como uma veste” (Hb 1,11).Somente a alma que luta por manter-se em Deus permanecerá numa juventude sempre maior até que chegue o encontro com o Senhor. Todas as outras coisas passam, e depressa.
Jesus recorda-nos hoje: ”Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, se depois vier a perder a própria alma? O que poderá alguém dar em troca de sua vida?” (Mt 16,26). Antes, falou: ”Quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim vai encontrá-la.” Mas como entender esse dilema: somos do céu, buscamos ver Deus, chegar até ele, mas desejamos, e é humanamente cristão buscar cuidar-se para viver mais e melhor! Então o que pensar? Será que devemos realmente cair fora da corrente do mundo e renegar-nos como homens para sermos cristãos? Não, porque a renúncia que Jesus exige é, na realidade, a mais alta auto-realização, é a nossa verdadeira recuperação: porque perder a nós mesmos é o modo melhor para nos reencontrar: porque quem perde sua vida vai encontra-la. Aqui o Evangelho chama-nos ao retorno a casa paterna, ao coração de Deus. E somente estamos no coração de Deus quando toda nossa vida estiver nEle, com Ele e por Ele. somente quando nos oferecermos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, e assim não nos conformamos com o mundo mais transformamos nosso modo de ser e viver segundo a vontade de Deus.  

    Pe. Fantico Borges, CM

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