Homilia do Pe. Fantico Borges – V Domingo de
Páscoa – Ano B
A liturgia deste domingo nos leva a entrever a
imagem da árvore. Essa analogia nos remete a visão da unidade que o cristão
necessita manter com Cristo. " Sem mim nada podeis fazer", diz o Senhor.
Jesus se apresenta como a “videira verdadeira”, capaz de produzir frutos que
Israel não produziu, porque se afastou de Deus.
Jesus é o tronco e nós somos os ramos! O ramo que
não der frutos é cortado e lançado ao fogo. O ramo que dá frutos é podado para
que dê mais frutos. Jesus convida os apóstolos a permanecerem n’Ele:”
permanecei em Mim, como Eu em vós”. Como o tronco da videira transmite a vida
aos ramos e os ramos são vivificados quando permanecem ligados ao tronco, assim
se dá com Cristo e os cristãos. Os ramos assim ligados ao tronco é que produzem
fruto. Para produzir frutos, os ramos precisam de seiva da videira e da poda.
Precisa da seiva da videira, que é Cristo, pois
“sem Mim nada podeis fazer”. O texto fala oito vezes em “permanecer em Cristo”
e sete vezes em “dar frutos”. Se não permanecermos unidos a Cristo, recebendo
essa seiva, nos tornaremos ramos secos e estéreis, que serão cortados e
lançados ao fogo. Os nossos trabalhos pastorais não serão eficazes se não
houver a seiva dessa videira e o contato com Jesus, através da Oração.
Só unidos ao tronco podem viver e frutificar os
ramos; do mesmo modo, só permanecendo unido a Cristo pode o cristão viver na
graça e no amor e produzir frutos de santidade. Isto manifesta a
impossibilidade do homem em tudo o que se relaciona com a vida sobrenatural e a
necessidade da sua total dependência de Cristo; mas manifesta também a vontade
positiva de Cristo de fazer com que o homem viva a Sua própria vida. Neste
sentido, a missão é a de imitação de
Cristo. Para Orígenes, padre da Patrística, a única coisa da qual é capaz a
natureza humana é morrer de uma morte semelhante a de Cristo. Se não formos
incorporados a sua morte, a seu corpo não produziremos frutos. "Se nossa
existência está unida a Ele em uma morte semelhante a sua, igualmente em uma
comum ressurreição. Compreendamos que nossa velha condição foi crucificada com
Cristo, ficando destruída nossa personalidade de pecadores e nós, livres da
escravidão do pecado; porque aquele que morre permanece absolvido do
pecado" (Orígenes, Comentário à
Carta aos Romanos 5, 9).
Quem não está unido a Cristo por meio da graça
terá, o mesmo destino que as varas secas: o fogo. Diz Santo Agostinho:”os ramos
da videira são do mais desprezível se não estão unidos ao tronco; e do mais
nobre se o estão(…) Se se cortam não servem de nada nem para o vinhateiro nem
para o carpinteiro. Para os ramos há duas opções: ou a videira ou o fogo: para
não irem para o fogo, que estejam unidos à videira” (Santo Agostinho, Tratado sobre São João 81, 3-4 ).
Estejamos atentos! O Senhor nos faz um
apelo:”produzir frutos…”. Porém impõe
uma condição: “permanecer unido a Ele”. Para isso precisa: gastar tempo com
Ele! Nenhum trabalho, mesmo pastoral, justifica o abandono do encontro pessoal
com Cristo, na Oração. Jesus nos adverte:”sem mim nada podeis fazer”. Devemos antes falar com Deus… para
depois falar de Deus… Alimentar a
nossa espiritualidade com esta “seiva divina”, que é a graça de Deus, na escuta
da Palavra, na pratica sacramental… Dizia o Papa São João Paulo II:”A oração é
para mim a primeira tarefa, como o primeiro anúncio; é a primeira condição de
meu serviço à igreja e ao mundo”. Intensifiquemos
a nossa vida de oração, pois sem uma profunda relação de amor com Jesus seremos
um sal que não dá sabor, uma comunidade cristã estéril, sem alegria e sem vida.
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