Homilia do III Domingo da Páscoa – Ano B
Cristo é o Critério da
Interpretação da Palavra de Deus
O evangelho deste domingo continua a meditação do
episódio dos discípulos de Émaus. Quando eles ainda estão conversando sobre o
que tinha acontecido com eles no caminho, Jesus aparece e lhes deseja a paz;
ele continua a explicar-lhes sem interromper o argumento: “Isto é o que vos
dizia quando ainda estava convosco: era necessário que se cumprisse tudo o
quede mim está escrito na Lei de Moisés, nos profetas e nos salmos” (Lc 24,44).
Os discípulos ainda não tinham entendido a escritura, porque desejavam um
messias aos padrões dos desejos humanos e não a partir dos planos de Deus.
Observe-se o seguinte: Jesus fala com eles
recordando-lhes diretamente as profecias do Antigo Testamento e, indiretamente,
as maravilhas de Deus outrora operadas. Isto é, as grandes obras que Deus
operou noutros tempos continuam sendo uma referência para falar do Messias
Salvador, que é Jesus Cristo. Contudo, o Antigo Testamento ganha todo o seu
esplendor somente quando interpretado desde Cristo, é ele quem faz a
interpretação das antigas escrituras de Israel. Neste sentido, o Concílio
Vaticano II afirmou que “Deus, inspirador e autor dos livros dos dois
Testamentos, dispôs sabiamente que o Novo Testamento estivesse escondido no
Antigo, e o Antigo se tornasse claro no Novo” (DV 16). Na verdade, toda a
Bíblia só tem sentido como revelação divina em Cristo e na Igreja. Desvincular
a Escritura Sagrada de Cristo e da Igreja é transformá-lo num mero livro de
literatura.
O católico deveria ler mais as Sagradas Escrituras;
desconhecê-la é ignorar Jesus Cristo, já que a Bíblia dá testemunho de Jesus
Cristo. Mas, lembremo-nos: ela deve ser entendida em Cristo e na Igreja.
O que se quer dizer com isso? Explicando-o de
maneira negativa: não se deve fazer uma interpretação livre da Bíblia que vá
contra o seu sentido verdadeiro no contexto de uma autêntica interpretação. De
maneira positiva, deve-se afirmar que a Bíblia deve ser entendida no seu
contexto, que é essencialmente um ambiente de fé e eclesial. Não nos esqueçamos
que a Bíblia é fruto da Tradição: Jesus pregou, os apóstolos pregaram; tão
somente depois foi colocado por escrito a pregação de Jesus e dos Apóstolos.
As pessoas que fazem livres interpretações da
Bíblia, só que à margem da interpretação autêntica da Igreja Católica, acabam,
de uma maneira ou outra, criando o seu próprio universo bíblico, que não é o de
Cristo. Daí que há tantos cristãos com a mesma Bíblia e ao mesmo tempo há
tantas denominações cristãs, as quais, frequentemente, brigam entre si. Isso é
muito feio! A divisão entre os cristãos é um escândalo que provoca a
incredulidade ou pelo menos não ajuda os outros a aproximarem-se da fé em
Cristo.
Todo testemunho de fé precisa da adesão da fé, daí nasce
o conceito de sunsus fidellis que é o
consenso da fé, que pressupõe o testemunho dos apóstolos e por sua vez a
interpretação apostólica da Igreja. Dado as circunstâncias a Igreja Católica como
depósito ininterrupto da fé apostólica é a guardiã do mesmo. Por isso, toda
interpretação autêntica não pode dispensar a autoridade da Igreja Católica.
Deste, forma, exposta acima, recai sobre todos os católicos
e principalmente do ministério ordenado a missão de levar a termo a missão de
Jesus. Cada cristão é nestes termos um discípulo-missionário de Cristo.
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