sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A ÍNDOLE ESCATÓLOGICA DE NOSSA VOCAÇÃO NA IGREJA: O JÁ E O AINDA NÃO DA PLENITUDE DA SALVAÇÃO.


A índole escatológica faz parte da natureza e da missão da Igreja, que como sacramento visível da salvação em Cristo aponta à tensão de já possuir a salvação, mas não plenamente efetivada neste mundo. Neste sentido, a índole escatológica da Igreja é a tensão entre o já da fé e a espera da realização plena da ação salvífica em Cristo. Desta índole jaz a certeza que a dimensão escatológica é a meta final e objetivo da Igreja. Por isso, a índole escatológica perpassa todo o mistério eclesial, todos os tratados teológicos e os todos os ministérios na Igreja, pois tudo tende ao Escaton, isto é, a plenitude em Cristo. Como bem lembrou os padres conciliares: Cristo, levantado da terra, atraiu todos a si (cf. Jo 12,32). Ressurgindo dos mortos (cf. Rm 6,9), enviou aos discípulos o Seu vivificante Espírito, e por Ele constituiu seu Corpo, que é a Igreja, como sacramento universal da salvação. [1]
A índole escatológica da Igreja nasce, portanto, da vocação cristã de ser em Cristo comunidade de santos pela graça. Por isso, essa dimensão escatológica é índole permanente, atuante, dinâmica e necessária, porque ela aponta à finalidade da Igreja e sua missão no mundo. Daí, podemos distinguir dois momentos importantes na caminhada escatológica da Igreja, a saber, a vocação cristã de cada fiel e o chamado a efetivação do Reino aqui e agora na vida terrena da Igreja em íntima unidade com a Igreja celeste.
Como afirma a carta aos Hebreus não temos aqui pátria definitiva, mas estamos à procura daquela que há de vir. Nossa vida carrega uma ambiguidade intrínseca, pois estando na carne, sabemos, de ante mão, que nossa pátria não é aqui, porque somos seres espirituais. Todavia, estamos prisioneiros e longe do Senhor, ansiando o dia de estarmos com Ele. Então a tendência da vida escatológica na experiência cristã é viver a dialética entre o já e o ainda não da plenitude do Reino. “Unidos, pois, a Cristo na Igreja e marcados pelo Espírito Santo que é o penhor da nossa herança’ (cf. Ef 1,14), somos na verdade chamados de filhos de Deus e o somos de fato (cf. 1Jo 3,1), mas ainda não aparecemos com Cristo na gloria (cf. Col 3,4), na qual seremos semelhantes a Deus porquanto O veremos como é”[2]
Pela real participação na vida divina a qual somos chamados a viver brota a tensão dialética que caracteriza a nossa existência peregrina: já somos verdadeiramente justificados e santificados; participamos da graça do Senhor, que anima sustenta e inspira cada fiel em cada boa obra, mas ao mesmo tempo carregamos esse tesouro em vasos de barro (cf. 2 Cor 4,7). Em meio a nossa condição ambígua já possuímos em figura a plenamente daquilo que seremos na glória.[3] Estamos unidos a Deus, ele vive em nós, mas o mistério parece ser tão inefável e tremedum como afirma Rudolf Oto, que frequentemente não nos atrai e não nos comove. Isto acontece porque somos carnais e em muitas vezes materializamos nossas relação ao estremo de duvidar de tudo que nossa mess não consegue dominar, e a consequência é que a dimensão escatológica da nossa vocação perde seu papel ou pelo menos fica ofuscada.
Recuperar a discussão levantada pelo Concílio Vaticano II de uma índole escatológica presente na raiz da Igreja faz-nos pensar na contribuição que a escatologia pode oferecer à recuperação do sentido da vida no mundo, da construção do Reino nas realidades presentes, e, sobretudo, da valorização na unidade indissolúvel entre o já e o ainda não da nossa vocação à santidade.

[1] Cf. LG, 48
[2] LG, 48
[3] MOLINARI, Paolo, A Igreja Escatológica: Índole Escatológica da Igreja Peregrina e suas Relações com a Igreja Celeste, IN BARAÚNA, Frei Guilherme, OFM, A Igreja do Vaticano II, Vozes, Petrópolis, 1965, pp. 1136-1137.

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