sábado, 21 de janeiro de 2012

Como se relacionam elementos teológicos da Igreja e configurações institucionais?

É inseparável os elementos teológicos e a realidade cultural na qual a Igreja , como comunidade humana na fé cristã está inserida. Para existir uma fé verdadeiramente compreensível e autêntica faz-se necessário não abdicar da intrínseca relação entre essa duas realidades. Deste modo, a fidelidade da Igreja a seu contexto sociocultural é imperativo que decorre de sua própria realidade como sacramento da salvação de Jesus Cristo. Neste sentido, o institucional está a serviço do salvífico que é seu fim. Os elementos teológicos e as configurações institucionais encontram um ponto comum na finalidade da Igreja que é ser sacramento visível da salvação de todos em Cristo. Para que ela atinja esse fim as instituições são alteradas de acordo com o tempo e circunstâncias humanas. Essa diversidade das configurações não aniquila a autenticidade e o conteúdo da mensagem porque os elementos teológicos garantem a identidade da comunidade na diversidade de configurações.
Tudo que foi dito acima acontece porque a fé como resposta à ação de Deus, acolhimento do ser humano a autocomunicação de Deus é sempre uma fé inculturada. Sem a fé os efeitos salvíficos perdem seu objetivo, tornando-se palavra muda. Desta forma, só existe revelação enquanto acolhimento na fé. Mas quem acolhe esta salvação de Deus é sempre um sujeito situado e imerso numa cultura concreta. Daí que toda revelação é já ação inculturada e nenhuma fé existe como “fé pura”, mas sim como vivida e entendida num processo inculturada. Assim se pode afirmar que fé inculturada seria na verdade o processo de acolhimento da revelação vivida concretamente em cada cultura, no seu tempo e lugar. A fides quae (sentido objetivo da fé), na acepção do termo aqui empregado, seria a mediação real onde tal revelação efetiva-se e não a própria ação de Deus. Desta forma pode-se falar de interculturação da fé ao invés de inculturação da fé.
Portanto a relação entre os elementos teológicos da Igreja e a configuração institucionais apresenta-se no acolhimento-resposta que o ser humano faz na fé dentro de uma cultura no encontro com outras culturas. Por isso falamos não de inculturação da fé, mas interculturação da fé, como processo de acolhimento e respeito por todas as culturas.
2. Como acontece uma crise institucional na Igreja?
Enquanto comunidade humana que responde na fé à ação salvífica de Deus, a Igreja está sujeita a leis e estruturas presentes nas culturas humanas. Por isso, pode sofrer, como sofreu, crises institucionais. Do ponto de vista institucional uma crise da comunidade eclesial acontece sempre que experiências, compreensões, avaliações e compromissos comuns dos membros não se encontrarem mais devidamente harmoniosos nas instituições concretas. Neste sentido, a crise dar-se-á pela incapacidade da comunidade eclesial apresentar-se com linguagem fora do tempo e dos espaços dos atores culturais concretos. As representações metais, as estruturas de pensamentos e as categorias sociais, são elementos do seu contexto sociocultural que interagem na atualização e efetivação no interior da dimensão subjetiva da Igreja. Mas não são eles os elementos teológicos da Eclésia. Todavia não se pode esquecê-los e abdicá-los, sem cair no perigo de esvaziar a mensagem. Assim a crise institucional acontece quando elementos teológicos são separados das configurações institucionais. Quando os elementos teológicos não mais se encontram interligados com as configurações institucionais nasce a crise porque se divorcia a mensagem cristã de seu contexto cultural. O cultural é marginalizado e a fé deixa de ser uma resposta à ação de Deus para ser uma adesão alienante.
3. Como entender a catolicidade da Igreja hoje?
A catolicidade é a união das Igrejas. Não é a soma delas, mas sim a mútua recepção e comunhão das Igrejas Locais. A catolicidade é a imagem da Igreja universal que resulta da mútua inclusão, onde a comunhão das Igrejas Locais é a visibilidade da Igreja Universal. Assim não se pode conceber uma Igreja Local sem uma Igreja Universal, nem esta última é realidade sem aquela. Desta forma a catolicidade não é a uniformidade das Igrejas, muito menos a submissão das Igrejas Locais a uma Igreja Local romana, mas uma relação efetiva e efetiva com a Igreja romana, sem no entanto aniquilar-se. Catolicidade é uma relação dinâmica de inclusão que compreende as condições concretas de vida de cada Igreja Local em suas novas e autênticas configurações para prosseguir à sua missão salvífica.
Catolicidade para ser realmente universalidade não pode esquivar-se das comunidades, das culturas, das diferenças contextuais e lingüísticas. Portanto catolicidade, hoje, é uma tarefa de complementaridade, que não pode admitir-se como oposição entre o local e global. A catolicidade não significa Igrejas meramente semelhantes ou uniformes em territórios diferentes, mas sim Igrejas peculiares pelo modo próprio como seus membros acolhem e vivem a Palavra de Deus. Desta forma a diversidade não rompe a unidade, mas a enriquece, pois a universalidade só existe na e a partir da Igreja Local. Catolicidade então será a tarefa dinâmica no seio das Igrejas Locais com a Igreja Universal, em comunhão das diferenças salvaguardada pelo ministério petrino, que antes de ser um super bispo é aquele que promove o diálogo e a interação, garantindo a unidade e cuidando que as diversas configurações possam ser acolhidas pelas demais Igrejas; e intervindo quando a comunhão é ameaçada.

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