segunda-feira, 26 de abril de 2010

Homilia da missa de Ramos.

A oferenda de sacrifício a Deus parece constituir, em todos os povos, a expressão mais significativa do senso religioso do homem. Despojando-se de tudo que lhe pertence por conquista ou por trabalho, o homem reconhece que tudo pertence a Deus e lho restitui em agradecimento. E quando uma parte do que foi sacrificado é comido pelos ofertantes, então estabelece-se uma comunhão simbólica entre Deus e os comensais, uma participação da mesma vida. Assim na eucaristia ao participarmos da mesma mesa e comermos e bebermos do mesmo pão e vinho ofertados a Deus, nós participamos da mesma experiência divina. Por isso mesmo, os profetas nos lembram que Deus só aceita as ofertas e sacrifícios se são acompanhados de uma atitude interior de humildade, de oferta espiritual de si mesmo, de reconhecimento da própria e radical pobreza e da necessidade de libertação que nós sozinhos não podemos obter, mas podemos invocar e esperar de Deus.
A primeira leitura nos mostra que pela humildade o servo oferece o sacrifício mais agradável e aceitável para Deus. Esta atitude do “pobre de Javé”, que confia em Deus e nele espera faz crer que ele não abandona nunca quem nele põe sua vida. O servo reconhece sua inteira dependência de Deus que lhe dá língua adestrada para tudo falar sem nada temer, que lhe faz suportar os ultrajes e sofrimentos para salvar o mundo. É essa atitude de fidelidade que devemos buscar em Jesus Cristo que não desviou o rosto de socos e cusparadas, mas ao contrário permaneceu com o rosto impassivo. Sigamos ao Senhor que caminha livremente para Jerusalém, ele que desceu do seu por nossa causa. Prostrados que estávamos por nossos pecados, o servo de Deus por sua obediência e humilhação fez-nos elevar muito acima de nossa condição. Pela obediência e amor, Deus exaltará e glorificará o seu Servo acima de todo nome e poder. Portanto, quem aprender como servo a esvaziar-se a si mesmo será enriquecidos de todos os bens porque aprenderá que tudo provem de Deus. São Gregório de Nazianzo nos convida a imolarmo-nos a Deus, a oferecermo-nos a ele cada dia, por meio de nossas ações. Seja mos como o Simão Cireneu que toma a Cruz e segue o caminho de Jesus. Apresemo-nos como as mulheres a sermos as primeiras a encontrar Jesus ressuscitado e a proclamar a boa nova da esperança. O caminho para isso, ensina-nos, hoje, o Servo de Javé: humilhamo-nos e busquemos ser servo e pobre diante de Deus.
Neste sentido, a pobreza radical é sempre aquela da imitação de Cristo que sendo rico se fez pobre para nos enriquecer que não fez do seu ser igual a Deus um caminho de soberba, mas humilhou-se a si e se fez servos para salvar a todos. Eis, o milagre da fé: o Deus criador por amor de nós, escolheu morrer para nos dar vida, passar pela humilhação da morte a vermos mortos para Deus. Ele é nossa esperança e nossa força. Nele e por ele a Igreja aprende que para levar seus irmãos a Deus é necessário torna-se pequena e humilde. A simplicidade é a dama que nos conduz a Deus: despojemo-nos do orgulho que atrapalha ver e ser um sinal de Cristo para os irmãos. Como nos ensina Santo André de Creta: “acompanhemos o Senhor que corre apressadamente para sua Paixão e imitemos os que foram ao seu encontro. Não para estendermos à sua frente, no caminho, ramos de oliveira ou palmas, tapetes ou mantos, mas para nos prostrarmos a seus pés, com humildade e retidão de espírito, a fim de recebermos o Verbo de Deus que se aproxima, e acolhermos aquele Deus que ligar algum pode conter.
Portanto, em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de folhagem que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa perdem o seu verdor, prostremo-nos aos pés de Cristo. Revestidos de sua graça ou melhor revestidos dele próprio prostremo-nos aos seus pés como mantos estendidos.

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