Homilia
do Pe. Fantico Borges, CM – Domingo de Páscoa Ano B.
Cristo
está vivo Ele ressuscitou!
“A glória de
Deus é o homem vivo e a vida do homem consiste em ver a Deus”. Com estas
palavras Santo Irineu de Lyon faz refletir sobre a realidade da solenidade
pascal: Cristo está vivo, o Senhor ressuscitou aleluia!
A essência do
Cristianismo é que Jesus é revelador do Pai. Em Cristo Deus alcança a máxima
expressão de revelação como Deus e Senhor, Pai Criador e Deus Libertador. Cristo
fala não somente com palavras, mas com todo o seu ser. Tudo o que ele é, é
revelação do Pai. Então é na ressurreição que o conceito de revelação alcança
toda a sua plenitude. Deus em Cristo revela-se o senhor da vida!
Hoje, neste
domingo de Páscoa, o Cristo glorioso manifesta de maneira excelente o seu ser
e, desse modo, nos está revelando plenamente o poder do Pai nele e o quanto ele
pode no Pai. Cristo se manifesta e a sua auto-manifestação é, para nós, e ao
mesmo tempo revelação de Deus numa plenitude sem precedentes. Por outro lado, é
também revelação da humanidade glorificada em Jesus na sua novidade mais
radical.
A Liturgia
Pascal lembra, na primeira leitura, um dos mais comoventes discursos de Pedro
sobre a Ressurreição de Jesus: “Deus O ressuscitou no terceiro dia,
concedendo-lhe manifestar-se… às testemunhas que Deus havia escolhido: a nós
que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos” (At
10,40-41). Surge nestas palavras a vibrante emoção do chefe dos Apóstolos pelos
grandes acontecimentos de que foi testemunha, pela intimidade com Cristo
ressuscitado, sentando-se à mesma mesa, comendo e bebendo com Ele.
A
Ressurreição é a grande luz para todo o mundo: “Eu sou a luz” (Jo 8,10),
dissera Jesus; luz para o mundo, para cada época da história, para cada
sociedade, para cada homem. A ressurreição que revela o Pai misericordioso e
amante da vida, tornado-se uma lâmpada de Deus que rompe as trevas da consciência
humana pervertida.
No evangelho
(Jo 20,1-9) vemos que a Boa Nova da Ressurreição provocou, num primeiro
momento, um temor e espanto tão fortes, que as mulheres “saíram e fugiram do
túmulo… e não disseram nada a ninguém, porque tinham medo”. Entre elas, porém
encontrava-se Maria Madalena que viu a pedra retirada do túmulo e correu a dar
a notícia a Pedro e ao discípulo amado: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não
sabemos onde O colocaram” (Jo 20,2). “Os dois saem correndo para o sepulcro e,
entrando no túmulo, observaram as faixas que estavam no chão e o lençol…” (Jo
20,6-7). “Ele viu e acreditou” (Jo 20,8). Primeiro é emocionante a
narrativa da cena. Aqueles dois discípulos correndo até o túmulo em meio a
lagrimas de tristeza pela morte do Senhor e da alegria do túmulo vazio. Mas está
cena ainda transmite outra mensagem: o respeito do discípulo mais jovem com
Pedro. Ele chega primeiro, mas não entra. Espera Pedro porque é Simão quem
devia ver primeiro e dar o parecer de autoridade. Os dois entram e ao ver
acreditam. Acreditar é o primeiro ato de fé da igreja nascente em Cristo
Ressuscitado, originado pela solicitude de uma mulher e pelos sinais do lençol,
das faixas de linho, no sepulcro vazio. Se se tratasse de um roubo, quem se
teria preocupado em despir o cadáver e colocar o lençol com tanto cuidado? Deus
serve-se de coisas bem simples para iluminar os discípulos que “ainda não
tinham entendido a Escritura, segunda a qual Jesus devia ressuscitar dos
mortos” (Jo 20,9), nem compreendiam ainda o que o próprio Jesus tinha predito
acerca da Sua ressurreição. Que emoção tiveram os discípulos! Crer é um ato de
confiança e amor. Quem ama corre rápido para encontrar o amado. Não perde tempo,
quer ficar mais tempo possível com o
amado.
A partir
deste momento os discípulos estavam mais confiantes. Ainda haveria de acontecer outras manifestações da
ressurreição, mas tudo começava ali em ver e acreditar. A ressurreição é uma
realidade, porém, Deus quer livremente ser amado e adorado. Para muitos a pedra
ainda está fechando a porta do túmulo, outros ainda procuram entre os mortos
aquele que está vivo.
Por isso, a
pergunta é pertinente: o que significa ressuscitar em Cristo? Viver a vida nova
do Mestre. São Paulo nos ajuda a responder isso. “Se, portanto, ressuscitastes
com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de
Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima...” Isto significa que devemos realizar as tarefas
humanas pensando nas realidade do céu. Viver a vida nova do Ressuscitado é
seguir os passos de Jesus, ou seja, amar os irmãos e irmãs com justiça, paz e
solidariedade. Fazer o bem sem esperar nada em troca, viver na gratuidade e
generosidade presentes sempre na vida de Jesus. Peçamos ao Cristo nossa luz,
revelador do Pai das misericórdias que nos ilumine a consciência de filhos de
Deus e coerdeiro da vida divina, para agirmos como ressuscitados.
Pe. Fantico
Borges, CM
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