Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – III
Domingo da Páscoa – Ano B.
Vós sereis minhas
testemunhas!
O evangelho deste domingo
continua a meditação do episódio dos discípulos de Émaus. Quando eles ainda
estão conversando sobre o que tinha acontecido com eles no caminho, Jesus
aparece e lhes deseja a paz; ele continua a explicar-lhes sem interromper o
argumento: “Isto é o que vos dizia quando ainda estava convosco: era necessário
que se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos profetas
e nos salmos” (Lc 24,44). Os discípulos ainda não tinham entendido a escritura,
porque desejavam um messias aos padrões dos desejos humanos e não a partir dos
planos de Deus.
Observemos que a pregação
de Pedro alude para uma consciência da Lei e dos Profetas. A comunidade quer
deixar bem claro que Jesus rejeitado pelos chefes dos judeus e mestres da Lei é
o mesmo que as profecias anunciavam. O discurso dos Apóstolos é duro. Vos
Matastes, vos rejeitastes e pedistes a liberdade a um assassino e a condenação
de Jesus. Mas Deus o ressuscitou e o libertou tornando-O Guia Supremo. Agora, arrependei-vos
e convertei-vos para serdes perdoado pelo Cristo e batizado em seu nome. Ora, a
proposta dos apóstolos é uma mudança de mentalidade a fim de viver uma vida
nova, segundo o mandamento novo.
Para essa vida nova o critério
é viver segundo o mandamento de Deus. Quem diz que ama a Deus e não guarda seus
mandamentos é mentiroso. Qual é esse mandamento? Jesus resumiu toda lei e
preceitos em Amor a Deus e amor ao próximo. Ora, esse amor foi experimentado de
modo real na cruz e assumido como expressão de entrega e confiança. A cruz revela
com toda a força, até onde Deus é capaz de ir por nós: ele é capaz de se
entregar, de dar sua vida por nós! No seu Filho o Pai nos entrega tudo de
precioso que ele tem! No Filho feito homem de dores, humilhado e derrotado, nós
podemos compreender o quanto somos amados por Deus, o quanto ele nos leva a
sério, o quanto é capaz de descer para nos procurar! Contemplemos a cruz e
sejamos gratos a Deus que se entrega assim!
O Filho, entregue ao Pai
com toda a confiança e todo o abandono, o Filho, feito homem de dores, agora é
glorificado pelo Pai e colocado no mais alto da glória. Deus jamais abandona os
que a ele se confiam. Podemos imaginar o Senhor Jesus dizendo as palavras do
Salmo de hoje: “Eu tranqüilo vou deitar-me e na paz logo adormeço, pois só vós,
ó Senhor Deus, dais segurança à minha vida!” O nosso Salvador adormeceu no sono
da morte certo que o Pai o despertaria para a vida da glória! Sim, o Pai é
Fidelidade, o Pai é Amor! Mas, é também fidelidade e amor para conosco.
Efetivamente, tudo quanto aconteceu com o Filho na cruz foi por nós, para nossa
salvação, para que o nosso pecado, a nossa situação de miséria, encontrasse
expiação. Eis como a Palavra de Deus deste hoje insiste nisso: “Se alguém
pecar, temos junto do Pai um Defensor: Jesus Cristo, o Justo. Ele é a vítima de
expiação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos do mundo
inteiro”. E o próprio Jesus afirma no Evangelho que “no seu nome serão
anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações”. Meus caros em
Cristo, na cruz e ressurreição do Senhor, Deus, amorosamente nos concedeu o
perdão dos pecados!
Então, que temos de fazer
para corresponder a tanto amor, a tão grande graça? Três coisas: primeira: crer
em Jesus, o Enviado do Pai, que por nós morreu e ressuscitou: “Convertei-vos
para que os vossos pecados sejam perdoados!” Quem crer em Jesus, quem diante
dele reconhecer-se pecador e o acolher como o Salvador e nele colocar a vida,
nele encontrará o perdão que vem pela cruz e a ressurreição. Segunda coisa:
viver na Palavra do Senhor: “Para saber se o conhecemos, vejamos se guardamos
os seus mandamentos. Naquele que guarda a sua palavra, o amor de Deus é
plenamente realizado”. A fé, caríssimos, não é um sentimento nem uma teoria.
Nossa fé em Jesus morto e ressuscitado deve levar a um compromisso sério e
radical com o Senhor na nossa vida concreta. Quem não guarda os mandamentos,
não crê! Quem não crê, fecha-se para a salvação! Terceira coisa: testemunhar
Jesus morto e ressuscitado: “Vós matastes o Autor da vida, mas Deus o
ressuscitou dos mortos. Disso nós somos testemunhas!” E Jesus diz: “Vós sereis
testemunhas de tudo isso!” Caros meus, nós não conhecemos Jesus de um modo
teórico. Nós o experimentamos na força da sua Palavra e na graça dos seus
sacramentos, sobretudo na participação na Eucaristia. Jesus, para nós, não é um
fantasma! “Por que estais preocupados tendes dúvidas no coração? Vede minhas
mãos e meus pés: sou eu mesmo!” Sim, meus caros, quantas vezes tocamos Jesus,
sentimo-lo vivo, caminhando conosco! Tenhamos, então a coragem de nele crer, de
nele viver e dele dar testemunho onde quer que estejamos e onde quer que
vivamos. Jesus não é um fantasma! Jesus está vivo! Jesus é Senhor! E sua paz, sua vitória e seu perdão são provas de sua
presença sempre conosco.
Pe. Fantico Borges, CM
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