sábado, 10 de março de 2018

Homilia do Padre Fantico Borges no IV Domingo da Quaresma – Ano B


Homilia do Padre Fantico Borges no IV Domingo da Quaresma – Ano B

A Misericórdia  de Deus diante do ser humano!
Na liturgia deste domingo o Senhor nos chama a escuta da Palavra de Deus; a prestar atenção aos enviados do Senhor que anunciam o desejo de divino para vida humana. A infidelidade do Povo em não ouvir o apelo de Deus por conversão e nem seguir seus ensinamentos gera a morte, ou seja, o exílio da nação de Israel. Viver nos seguimentos de Deus requer uma existência capaz de abraçar a vontade do Senhor como caminho de salvação.
Ao mesmo tempo, porém, que o povo é infiel, Deus permanece fiel com sua promessa. Enquanto nossa infidelidade gera morte a misericórdia do Senhor abre caminhos para reconstruir pela reconciliação a relação rompida com o pecado.
A Quaresma converte-se neste tempo em que o Senhor nos chama através da Igreja a refazer os caminhos da vida. Quantas vezes a Igreja como enviada de Deus já não alertou a cada um de nós acerca de nossos maus procedimentos? E o que fizemos?... É incontável a misericórdia divina porque ao invés de escutar a Deus, nós o negamos com nossos maus comportamentos. E o que faz Deus? Envia-nos seu Filho para todo que n'Ele tenham a vida eterna. Dizia São João Crisóstomo: "Existe algo que possa comparar-se com tão magnífica bondade? Pois ultrajado pessoalmente como pagamento por seus inúmeros benefícios, não só não assumiu represálias, mas também nos entregou seu Filho para reconciliar-nos com Ele" (IN. São João Crisóstomo. Comentário às cartas de São Paulo aos Efecios).  Deus deu-nos seu Filho sem pecado para morrer por nós quando ainda éramos seus inimigos. Diz novamente São João Crisóstomo: que "Ao que não tinha pecado, disse, Deus o fez expiar os nossos pecados. Mesmo que Cristo não tivesse feito nada mais além de tornar-se homem, pensa, por favor, quão agradecidos a Deus deveríamos estar por ter entregado seu Filho pela salvação daqueles que lhe cobriam de injurias. Mas a verdade é que Ele fez muito mais, e, como se fosse pouco, ainda permitiu que o ofendido fosse crucificado pelos ofensores".(IN. São João Crisóstomo. Comentário às cartas de São Paulo aos Efecios).
Viver segundo a misericórdia de Deus é adaptar a nossa maneira de pensar, querer, sentir e agir à maneira de Jesus, pois ele é a misericórdia de Deus plenamente manifestada. “Na verdade, só gozaremos da honra de sua glória se descobriremos em nós a misericórdia e a verdade. Por meio delas o Salvador chegou até àquele que ele queria salvar, por elas, os redimidos devem se elevar até o Salvador, de maneira que a misericórdia de Deus nos torna misericordiosos e sua verdade nos torna verdadeiros.” (VII Sermão sobre a Quaresma de São Leão Magno). Não nos esqueçamos de que no cristianismo, a verdade não é simplesmente um argumento, a verdade é uma pessoa: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Como também a misericórdia não é um sentimentalismo, mas a forma de agir de Deus.  Viver conforme a verdade  e a misericórdia de Deus é pensar a própria vida segundo o plano de Deus que se manifestou plenamente em Jesus Cristo.
Mas, como sabemos e experimentamos, não basta saber essas coisas, é preciso lutar para propor-se seriamente o seguimento de Jesus Misericórdia e Verdade. O ambiente no qual nos movemos oferece muitas atrações que não nos conduzem a fonte da graça. O pecado frequentemente se assemelha a uma maçã que, estando podre por dentro, apresenta-se com belíssimo aspecto, bem atraente aos sentidos. O que fazer? Pedir a Deus a luz da fé e do entendimento para julgar tudo sobre o auspicio do olhar profundo de Jesus, que vê além das aparências.
Nós cristãos temos que ter consciente de que sem a luz da fé na inteligência e sem a caridade na vontade, não faremos o bem que almejamos. Ninguém pode mover-se sobrenaturalmente sem a graça de Deus. É impossível! A nossa natureza, depois do pecado original, ficou estragada (não totalmente), posteriormente foi resgatada, e, contudo, nela permanece a ignorância e a concupiscência. Essas duas realidades são as que obscurecem a nossa inteligência e debilitam a nossa vontade. A fé vem para curar a ignorância e o amor de Deus vem para dar força à nossa vontade.
Peçamos a Maria discípula fiel e atenta, que viveu a misericórdia no caminho da cruz de Jesus, a coragem de buscarmos nossa conversão pessoal e estrutural no dia a dia de nossa caminhada quaresmal; e nunca esquecer que este pouquíssimo tempo da quaresma não basta para lutarmos contra o mal que mora em nós. É preciso estar sempre sóbrios e vigilantes!  

Pe. Fantico Borges, CM    


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