HOMÍLIA DO PE. FANTICO BORGES, CM – SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE
Trindade a
comunidade de Amor
Após termos o mistério da vinda do Espírito Santo
(Pentecostes), a liturgia propõe-nos outro mistério central de nossa fé: a
Santíssima Trindade. Toda a vida da Igreja está impregnada desta realidade
Trinitária. E quando falamos aqui de mistério, não pensemos no incompreensível,
mais na realidade mais profunda que atinge o núcleo do nosso ser e do nosso
agir da criação, da humanidade, da Igreja e de toda a realidade.
O mistério da Santíssima Trindade é manifesto desde
o principio, mas se plenifica na pessoa do Filho que se encarna. É Cristo quem
nos revela a intimidade do mistério trinitário e o convite para que
participemos dele. “Ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho
o quiser revelar” (Mt, 11, 27). Ele revelou-nos também a existência do Espírito
Santo junto com o Pai e enviou-o à Igreja para que a santificasse até o fim dos
tempos; e revelou-nos a perfeitíssima Unidade de vida entre as Pessoas divinas
(Cf. Jo16, 12-15). Assim podemos dizer que há característica mais intima da
realidade divina de Deus é a comunhão das pessoas divinas: Pai, Filho e
Espirito Santo. Santo Tomas de Aquino falava da perfeitíssima pericorese entre as pessoas da Trindade,
de modo que, são distintas, porém não indiferentes. Há uma unidade principiada
no amor dos três. Essa comunidade, portanto, é a manifestação do amor em sua
máxima relação.
O mistério da Santíssima Trindade é, por isso, o
ponto de partida de toda a verdade revelada e a fonte de que procede a vida
sobrenatural e para a qual nos encaminhamos: somos filhos do Pai, irmãos e
co-herdeiros do Filho, santificados continuamente pelo Espírito Santo para nos
assemelharmos cada vez mais a Cristo.
Por ser o mistério central da vida da Igreja, a
Santíssima Trindade é continuamente invocada em toda a liturgia. Fomos
batizados em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e em seu nome
perdoam-se os pecados; ao começarmos e ao terminarmos muitas orações,
dirigimo-nos ao Pai, por mediação de Jesus Cristo, na unidade do Espírito
Santo. Muitas vezes ao longo do dia, nós, os cristãos repetimos: Glória ao Pai
e ao Filho e ao Espírito Santo.
Desde que o homem é chamado a participar da própria
vida divina pela graça recebida no Batismo, está destinado a participar cada
vez mais dessa Vida trinitária. É um caminho que é preciso percorrer
continuamente.
A Santíssima Trindade habita na nossa alma como num
templo. E São Paulo faz-nos saber que o amor de Deus foi derramado em nossos
corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Cf. Rm 5, 5). E aí, na
intimidade da alma, temos de nos acostumar a relacionar-nos com Deus Pai, com
Deus Filho e com Deus Espírito Santo. Dizia Santa Catarina de Sena: “Vós,
Trindade eterna, sois mais profundo, no qual quanto mais penetro, mais
descubro, e quanto mais descubro, mais vos procuro”.
Imensa é a alegria por termos a presença da
Santíssima Trindade na nossa alma! Esta alegria é destinada a todo cristão,
chamado à santidade no meio dos seus afazeres profissionais e que deseja amar a
Deus com todo o seu ser; se bem que, como diz Santa Teresa, “há muitas almas
que permanecem rodando o castelo (da alma), no lugar onde montam guarda as
sentinelas , e nada se lhes dá de penetrar nele. Não sabem o que existe em tão
preciosa mansão, nem quem mora dentro dela”. Nessa “preciosa mansão”, na alma que
resplandece pela graça, está Deus conosco: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Para o cristianismo a exigência da compreensão do mistério
da Santíssima Trindade não tem um objetivo especulativo, mas sim espiritual e
existencial, pois toda realidade subsiste nEla. A contemplação e o louvor à
Santíssima Trindade são a substância da nossa vida sobrenatural, e esse é
também o nosso fim: porque no Céu, junto de Nossa Senhora – Filha de Deus Pai,
Mãe de Deus Filho, Esposa de Deus Espírito Santo: mais do que Ela, só Deus – ,
a nossa felicidade e o nosso júbilo serão um louvor eterno ao Pai, pelo Filho,
no Espírito Santo. Esse louvor, todavia, não pode alienar-nos do compromisso
com a fé aqui e agora já que construirmos neste mundo o caminho para o céu.
Nossa fé na Trindade Santíssima nos impele a viver motivados por seu exemplo de
comunhão e unidade e construirmos uma sociedade da paz, do amor, da justiça e
do perdão.
Pe. Fantico Borges, CM
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