sábado, 10 de fevereiro de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM – VI Domingo do Tempo Comum – Ano B

Homilia do Pe. Fantico Borges, CM –  VI Domingo do Tempo Comum – Ano B

Jesus Médico da humanidade!  

Jesus é o médico das almas e do corpo. Tendo descrito nossa enfermidade invocamos aquele que pode nos limpar das doenças. Aquele que nos formou à sua Imagem não restituiria a saúde ao corpo enfermo? Deus quer renovar nossa vida sempre e transfigurar nossa figura marcada pelo pecado em sinal da graça divina. O Evangelho (Mc 1, 40-45) narra a cena de um leproso que, ao encontrar-se com Jesus, ficou curado. A Lei de Moisés prescrevia o seguinte: “O leproso deve ficar isolado e morar fora do acampamento” (Lv 13, 46). Um preceito duro que só se explica pela preocupação de evitar o contágio e pela idéia corrente entre os hebreus de que era um castigo de Deus aos pecadores. Consequentemente, o leproso era um foragido da comunidade e tido como “impuro”, ferido e amaldiçoado por Deus.
A lepra não denominava apenas uma doença física, mas atingia as relações espirituais, sociais e eclesiais. Daí a importância da cena de hoje: um leproso, contrariando a Lei, aproxima-se de Jesus… e de joelhos implora: “Se queres, tens o pode de curar-me…” diz Santo Agostinho que aquele que curou tuas enfermidades é o mesmo que redimiu tua vida da corrupção.  
Jesus “se compadece”, estende a mão e toca-o… e restitui-lhe a saúde: “Eu quero, fica curado…”. Que fé maravilhosa! Aquele homem de Deus, abandonado pelos homens e tido como rejeitado por Deus, tem mais fé do que muitos seguidores de Cristo. A fé autêntica não se perde em raciocínios sutis; tem uma lógica muito simples: Deus pode fazer tudo; basta, pois, que o queira fazer. “Acaso não te curará aquele que te criou em tal condição que nunca terias adoecido se quisesses cumprir suas ordens? Ele te curará; só falta que te deixes curar” (Santo Agostinho, Comentário ao Salmo 102,6).
Ao pedido, que manifesta uma confiança ilimitada, Jesus responde com um gesto inaudito para um povo, a quem fora proibido qualquer contato com os leprosos: “estendeu a mão, tocou-o”. Deus é o Senhor da Lei e, por isso, pode infringi-la.
A cena do leproso que vai ao encontro de Jesus é tão marcante que a encontramos narrada em três Evangelistas que contam o episódio e transmitem-nos o gesto surpreendente do Senhor: “Estendeu a mão e o tocou”. Até àquele momento, todos os homens haviam fugido dele com medo e repugnância. Cristo, porém, que podia tê-lo curado à distância – como já o fizera em outras ocasiões -, não só não se afasta dele, como chega a tocar a sua lepra. Não é difícil imaginar a ternura de Cristo e a gratidão do doente quando viu o gesto do Senhor e ouviu as suas palavras: “Quero, sê limpo.”
Ensina-nos Santo Agostinho a confiar em Deus e não procurar remédios fãs quando temos o verdadeiro remédio: Cristo. Buscar a saúde e tê-Lo sempre aos olhos e buscá-Lo de todo coração. Oh Alma Cristã, levanta-te e olha o que vales, se reconcilia com teu Redentor.    
O Senhor sempre deseja curar-nos das nossas fraquezas e libertar-nos dos nossos pecados. E não temos necessidade de esperar meses nem mesmo dias para que ele passe perto da nossa cidade… No Sacrário mais próximo, na intimidade da alma em graça, no Sacramento da Penitência (Confissão), encontramos o mesmo Jesus de Nazaré que curou o leproso. Ele é Médico, e cura o nosso egoísmo se deixarmos que a sua graça nos penetre até o fundo da alma.
Jesus advertiu-nos que a pior doença é a hipocrisia, o orgulho que leva a dissimular os pecados próprios. Com o Médico, é imprescindível que tenhamos uma sinceridade absoluta, que lhe expliquemos toda a verdade e digamos: Senhor, se quiseres, – e Tu queres sempre -, podes curar-me. Tu conheces a minha debilidade; sinto estes sintomas e experimento estas outras fraquezas. A sinceridade de nossa contrição é pressuposto para cura física e espiritual.
Os Santos Padres viram na lepra a imagem do pecado. Neste tempo de carnaval onde se extravasam as emoções a necessidade de cura é mais gritante. Procuremos com o mesmo entusiasmo do leproso do Evangelho aquele que pode nos purificar. Cada uma das nossas confissões é expressão do poder e da misericórdia de Deus. É o próprio Jesus quem, no Sacramento da Penitência, pronuncia a palavra autorizada e paterna: “Os teus pecados te são perdoados”.
Temos que aprender do leproso: Com toda a sinceridade, coloquemo-nos diante do Senhor e, de joelhos, reconheçamos nossa doença e peçamos a cura.
O Caminho do leproso deve ser o caminho de todo discípulo: Vir a Jesus, aceitar a própria limitação humana; experimentar a misericórdia e o poder libertador do Senhor; e finalmente tonar-se testemunha das grandes obras de Deus.

Pe. Fantico Nonato Silva Borges, CM



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