Homilia do Pe. Fantico
Borges, CM – VI Domingo do Tempo Comum –
Ano B
Jesus Médico da humanidade!
Jesus
é o médico das almas e do corpo. Tendo descrito nossa enfermidade invocamos aquele
que pode nos limpar das doenças. Aquele que nos formou à sua Imagem não
restituiria a saúde ao corpo enfermo? Deus quer renovar nossa vida sempre e
transfigurar nossa figura marcada pelo pecado em sinal da graça divina. O
Evangelho (Mc 1, 40-45) narra a cena de um leproso que, ao encontrar-se com
Jesus, ficou curado. A Lei de Moisés prescrevia o seguinte: “O leproso deve
ficar isolado e morar fora do acampamento” (Lv 13, 46). Um preceito duro que só
se explica pela preocupação de evitar o contágio e pela idéia corrente entre os
hebreus de que era um castigo de Deus aos pecadores. Consequentemente, o
leproso era um foragido da comunidade e tido como “impuro”, ferido e
amaldiçoado por Deus.
A lepra
não denominava apenas uma doença física, mas atingia as relações espirituais,
sociais e eclesiais. Daí a importância da cena de hoje: um leproso,
contrariando a Lei, aproxima-se de Jesus… e de joelhos implora: “Se queres,
tens o pode de curar-me…” diz Santo Agostinho que aquele que curou tuas
enfermidades é o mesmo que redimiu tua vida da corrupção.
Jesus
“se compadece”, estende a mão e toca-o… e restitui-lhe a saúde: “Eu quero, fica
curado…”. Que fé maravilhosa! Aquele homem de Deus, abandonado pelos homens e
tido como rejeitado por Deus, tem mais fé do que muitos seguidores de Cristo. A
fé autêntica não se perde em raciocínios sutis; tem uma lógica muito simples:
Deus pode fazer tudo; basta, pois, que o queira fazer. “Acaso não te curará
aquele que te criou em tal condição que nunca terias adoecido se quisesses
cumprir suas ordens? Ele te curará; só falta que te deixes curar” (Santo
Agostinho, Comentário ao Salmo 102,6).
Ao
pedido, que manifesta uma confiança ilimitada, Jesus responde com um gesto
inaudito para um povo, a quem fora proibido qualquer contato com os leprosos:
“estendeu a mão, tocou-o”. Deus é o Senhor da Lei e, por isso, pode
infringi-la.
A
cena do leproso que vai ao encontro de Jesus é tão marcante que a encontramos
narrada em três Evangelistas que contam o episódio e transmitem-nos o gesto
surpreendente do Senhor: “Estendeu a mão e o tocou”. Até àquele momento, todos
os homens haviam fugido dele com medo e repugnância. Cristo, porém, que podia
tê-lo curado à distância – como já o fizera em outras ocasiões -, não só não se
afasta dele, como chega a tocar a sua lepra. Não é difícil imaginar a ternura
de Cristo e a gratidão do doente quando viu o gesto do Senhor e ouviu as suas
palavras: “Quero, sê limpo.”
Ensina-nos
Santo Agostinho a confiar em Deus e não procurar remédios fãs quando temos o
verdadeiro remédio: Cristo. Buscar a saúde e tê-Lo sempre aos olhos e buscá-Lo
de todo coração. Oh Alma Cristã, levanta-te e olha o que vales, se reconcilia
com teu Redentor.
O
Senhor sempre deseja curar-nos das nossas fraquezas e libertar-nos dos nossos
pecados. E não temos necessidade de esperar meses nem mesmo dias para que ele passe
perto da nossa cidade… No Sacrário mais próximo, na intimidade da alma em
graça, no Sacramento da Penitência (Confissão), encontramos o mesmo Jesus de Nazaré
que curou o leproso. Ele é Médico, e cura o nosso egoísmo se deixarmos que a
sua graça nos penetre até o fundo da alma.
Jesus
advertiu-nos que a pior doença é a hipocrisia, o orgulho que leva a dissimular
os pecados próprios. Com o Médico, é imprescindível que tenhamos uma
sinceridade absoluta, que lhe expliquemos toda a verdade e digamos: Senhor, se
quiseres, – e Tu queres sempre -, podes curar-me. Tu conheces a minha
debilidade; sinto estes sintomas e experimento estas outras fraquezas. A sinceridade
de nossa contrição é pressuposto para cura física e espiritual.
Os
Santos Padres viram na lepra a imagem do pecado. Neste tempo de carnaval onde
se extravasam as emoções a necessidade de cura é mais gritante. Procuremos com
o mesmo entusiasmo do leproso do Evangelho aquele que pode nos purificar. Cada
uma das nossas confissões é expressão do poder e da misericórdia de Deus. É o
próprio Jesus quem, no Sacramento da Penitência, pronuncia a palavra autorizada
e paterna: “Os teus pecados te são perdoados”.
Temos
que aprender do leproso: Com toda a sinceridade, coloquemo-nos diante do Senhor
e, de joelhos, reconheçamos nossa doença e peçamos a cura.
O
Caminho do leproso deve ser o caminho de todo discípulo: Vir a Jesus, aceitar a
própria limitação humana; experimentar a misericórdia e o poder libertador do
Senhor; e finalmente tonar-se testemunha das grandes obras de Deus.
Pe.
Fantico Nonato Silva Borges, CM
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