Homilia do Pe.
Fantico Borges, CM – V Domingo do Tempo Comum ano B
Aí de mim se eu não evangelizar!
A
liturgia deste domingo, o V do tempo comum, fala-nos do amor de Deus que
conhecendo o ser humano como obra de suas mãos, e consciente que pelo pecado a
humanidade está doente, vem à nossa casa
e cura nossos males libertando-nos dos sofrimentos do pecado.
O
Evangelho (Mc 1, 29-39) apresenta Jesus rodeado de uma multidão marcada pelo
sofrimento: “Curou muitos enfermos atormentados por diversos males e expulsou
muitos demônios” (Mc 1, 34). Mas se, por um lado, Ele se dedica a curar, por
outro retira-se para um lugar deserto. E ali orava durante a noite. Ação
apostólica e oração se completam. Pedro e seus companheiros o procuram. Quando
O encontram, dizem-lhe: “Todos Te procuram”. A verdadeira luz deve ser
procurada em Deus, sobretudo através da oração.
O
Senhor vai à casa de Simão Pedro e André e encontra a sogra de Pedro doente com
febre; toma-a pela mão, ajuda-a a levantar-se e a mulher está curada e começa a
servir. Neste episódio sobressai simbolicamente toda a missão de Jesus. Jesus
vindo do Pai vai à casa da humanidade, na nossa terra, e encontra uma
humanidade doente, doente com febre, com aquela febre que são as ideologias, as
idolatrias, o esquecimento de Deus, a violência, a insensibilidade com o
sofrimento alheio, a febre da injustiça. O Senhor dá-nos a sua mão, levanta-nos
e cura-nos. E faz isto em todos os séculos; pega-nos pela mão com a sua
palavra, e assim dissipa a obscuridade das ideologias, das idolatrias, das
incertezas e maldades. Toma a nossa mão nos sacramentos, cura-nos da febre das
nossas paixões e dos nossos pecados mediante a absolvição no sacramento da
reconciliação. Dá-nos a capacidade de nos erguermos, de estarmos de pé diante
de Deus e diante dos homens. E precisamente com este conteúdo da liturgia
dominical o Senhor encontra-se conosco, guia-nos pela mão, eleva-nos e cura-nos
sempre de novo com o dom da sua palavra, com o dom de si mesmo... (Bento XVI, Vaticano, 5 de Fevereiro de 2006)
Quando
os apóstolos disseram: “Todos andam à Tua Procura”; o Senhor respondeu-lhes:
“Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois
foi para isso que eu vim” (Mc 1, 38). A missão de Cristo é evangelizar, levar a
Boa Nova até o último recanto da terra, através dos Apóstolos e dos cristãos de
todos os tempos. Esta é a missão da Igreja, que assim cumpre o que o
Senhor lhe ordenou: “Ide e pregai a todos os povos…, ensinando-os a observar
tudo quanto vos mandei” (Mt 28, 19-20).
São
João Crisóstomo vai ao encontro das possíveis desculpas perante esta gratíssima
obrigação: “Não há nada mais frio do que um cristão que não se preocupa pela
salvação dos outros. Não digas: não posso ajudá-los, porque, se és cristão de
verdade, é impossível que não possas fazer. Não há maneira de negar as
propriedades das coisas naturais; o mesmo acontece com isto que agora
afirmamos, pois está na natureza do cristão agir dessa forma. É mais fácil o
sol deixar de iluminar ou de aquecer do que um cristão deixar de dar luz; mais
fácil do que isso seria que a luz fosse trevas. Não digas que é impossível;
impossível é o contrário. Se orientarmos bem a nossa conduta, o resto sairá
como consequência natural. Não se pode ocultar a luz dos cristãos, não se pode
ocultar uma lâmpada que brilha tanto”.
Perguntemo-nos
se no nosso ambiente, no lugar onde vivemos e onde trabalhamos, somos
verdadeiros transmissores da fé, se levamos os nossos amigos a uma maior frequência
dos Sacramentos. Examinemos se encaramos a ação apostólica como algo urgente,
como exigência da nossa vocação; se sentimos a mesma responsabilidade daqueles
primeiros, pois a necessidade hoje não é menor… “Ai de mim se não evangelizar!”
Na
pregação não se pode querer agradar a todos reduzindo, de acordo com as
conveniências humanas, as exigências do Evangelho: “Falamos, não como quem
procura agradar aos homens, mas somente a Deus” (1Ts 2, 4).
Não
é bom caminho pretender tornar fácil o Evangelho, silenciando ou rebaixando os
mistérios que devem ser cridos e as normas de conduta que devem ser vividas.
Ninguém pregou nem pregará o Evangelho com maior credibilidade, energia e
atrativo que Jesus Cristo, e houve quem não o seguisse fielmente. Não podemos
esquecer-nos de que pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus,
loucura para os gentios, mas poder de Deus para os escolhidos quer judeus, quer
gregos (1 Cor 1, 23-24).
Todos
andam à Tua procura… O mundo tem fome e sede de Deus. Diz o Doc. de
Aparecida, nº 29: “Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa
pode receber; tê-Lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e
fazê-Lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria”.
Pe.
Fantico Borges, CM
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