sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Homilia da Quarta-Feira de Cinzas do Padre Fantico Borges, CM

Homilia do Padre Fantico Borges, CM

Quaresma caminho de conversão pessoal.
Quero começar minha reflexão para esta quata-feira de Cinzas lembrando de São Leão Magno que dizia: “ Sabendo, porém, que chegaram os dias santos da quaresma, cuja observância perdoa todas as faltas passadas, apaga todas as negligências”. Com esta frase desejo lembra-los que a quaresma é tempo para recomeçar.
A quaresma é um itinerário espiritual onde somos convocados a contemplar o Mistério da Cruz, fazendo o caminho do calvário, rumo a ressurreição. Para realizar uma conversão profunda da nossa vida: deixar-se transformar pela ação do Espírito Santo, como São Paulo no caminho de Damasco; orientar com decisão a nossa existência segundo a vontade de Deus; libertar-nos do nosso egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo; são os meios de por em marcha essa conversão. Novamente vem me minha memoria as palavras do Papa São Leão Magno: “...não prevaleceremos sobre nossos inimigos se não prevalecermos, antes, sobre nós mesmos.” Muitos combates começam dentro de nós, os desejos; as paixões do corpo; o anelo de controlar as pessoas e o poder, dentre outros, mostram que o inimigo não mora muito longe de nós. Por isso, o período quaresmal é momento favorável para reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo.
O primeiro passo deste itinerário é contemplar o Mistério da Cruz. Olhar com profundidade o Silêncio penetrante e salvífico da Cruz. No “Silêncio da Cruz de Cristo, nasce a certeza da nossa vitória”. Todos os exercícios quaresmais: jejum, esmola, oração e tantos outros nascem, recebem e se nutrem da forca da Cruz de Jesus. A prova disso é que recebemos do Mistério da Cruz a força para unir-nos à mesma Cruz, ou seja, aquilo que Deus nos pede, ele nos concede: Deus pede que rezemos, Ele nos dá a graça da oração. Deus nos pede que façamos penitência, Ele nos dá a graça para realizá-la. Deus pede que partilhemos e que não sejamos egoístas, Ele nos dá a graça da generosidade e da esmola. Não podemos mais confiar nas nossas próprias forças! A experiência grita aos nossos ouvidos: “somente com as próprias forças não é possível!” E é assim. Mas também é verdade aquele grito celestial: com a graça de Deus, tudo é possível! S. Paulo experimentou e expressou essa realidade de uma maneira maravilhosa, confiando na graça de Deus pôde dizer aquelas palavras aparentemente contraditórias: “quando eu sou fraco, então, é que sou forte” (2 Cor 12,10).
O itinerário que a quaresma nos convida a realizar nasce da consciência que necessitamos de conversão pessoal. São João Crisóstomo, ensinava que existem distintos e diferentes meios que conduzem a alma para este fim. Para ele o primeiro era a acusação dos próprios pecados.  Pois se condenamos nós mesmos aquilo que pecamos esta contrição obterá o perdão diante do Senhor. Condenar aquilo que se fez de errado, com menos facilidade de recaímos no erro. Por isso, que quem não faz reta contrição dificilmente alcançará a graça da paz interior.
Um segundo caminho proposto por São João Crisóstomo consiste em perdoar as ofensas que recebemos de nossos inimigos, de tal forma que, colocando limites a nossa ira, esqueçamos as faltas de nossos irmãos. Quem assim age receberá o perdão de Deus, pois Cristo disse: perdoai nossas faltas como nós perdoamos a quem nos têm ofendidos.
O segundo caminho é a Oração fervorosa e contínua, que brota do íntimo do coração. Pela oração a pessoa entra em contato estreito com Deus, unido-se ao seu mistério de amor. Quem reza vive na presença de Deus e sabe escutar sua voz, por isso, lhe é mais obediente. Como não existe frutos sem obediência a oração prepara os corações para confiar somente em Deus e esperar sempre no seu amor. Pela oração o ser humano caminhas nas sendas de Deus partilhando do seu mistério de amor, que uni a Santíssima Trindade. 
 Uma terceira via é a esmola. Ela possui uma enorme vitalidade, porque abre nosso coração ao sofrimento alheio e torna-nos mais sensíveis aos apelos de Deus, em favor do Reino. Ensina-nos, São João Crisóstomo, a esmola nos leva a uma humildade que significa agir com modéstia, sem desejo de recompensa humana, como fazem os hipócritas. Neste caminho quem dar recebe mais do que aquele beneficiado. A esmola ínsita a entrar na vida dos mais frágeis e acudi-los em suas necessidades, reconhecendo neles o Cristo que sofre.  Assim, a esmola dista de uma ajuda pretenciosa ou interesseira, que buscaria honras pessoais ou reconhecimento de um ato realizado; ao contrario, a esmola cristã é aquela feita em nome de Deus, por Ele e n’Ele. Não busca recompensa nem a faz por interesses pessoais, age apenas por misericórdia. 
Neste itinerário quaresmal, que iniciamos hoje ninguém deixe de esforça-se ao máximo para chegar mais santo na Páscoa. Nas sendas da graça tudo é possível e quem espera no Senhor sempre alcança. Tomemos estes quarenta dias como um verdadeiro retiro espiritual, pondo nossa atenção na oração pessoal, que será nossa vigia, reconciliando-nos com Deus, como ponte para atravessar as tentações, como mura contra as tribulações, vitória nas batalhas, sustentáculo do espírito, e desterro da tristeza. Que Maria, mãe de Jesus e da Igreja caminhe conosco por essa estrada da conversão. Amém


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