sábado, 12 de janeiro de 2019


Homilia do Pe. Fantico, CM – Solenidade do Batismo do Senhor.
Este é meu Filho amado!
Na liturgia deste domingo celebramos  o Batismo do Senhor onde somos chamados a meditar sobre nosso próprio batismo. Mergulhar na pia bastimal e redescobrir a chama acessa pela graça do novo nascimento espiritual. Essa Festa do Batismo do Senhor, celebrada no Domingo depois da Epifania encerra o ciclo das Festas da Manifestação do Senhor, o ciclo de Natal. Comemoramos o Batismo de Jesus por São João Batista nas águas do rio Jordão. Sem ter mancha alguma que purificar, Jesus quis submeter-se a esse rito tal como se submetera às demais observâncias legais que também não o obrigavam. Jesus deixou seu exemplo como prova de sua vontade.
O Senhor desejou ser batizado, diz Santo Agostinho, “para proclamar com a sua humildade o que para nós era uma necessidade”. Com o batismo de Jesus, ficou preparado o Batismo cristão, diretamente instituído por Jesus Cristo e imposto por Ele como lei universal no dia da sua Ascensão: Todo poder me foi dado no céu e na terra, dirá o Senhor; ide, pois, ensinai a todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (Mt 28, 18-19).
O dia em que fomos batizados foi o mais importante da nossa vida, pois nele recebemos a fé e a graça. Antes de recebermos o batismo, todos nós nos encontrávamos com a porta do Céu fechada e sem nenhuma possibilidade de dar o menor fruto sobrenatural. É no batismo que o Céu se abre para cada um de nós e entramos em posse, novamente, da vida em Deus.
Para a tradição da Igreja o batismo de Jesus é a efusão do Espírito Santo sobre toda carne humana. Quando o Criador decidiu restaurar todas as coisas em Cristo e devolver à criação seu estado original, como também promover um tempo de graça e paz, escolheu também infundir nesta criação seu Espírito de Amor. Para São Cirilo de Alixandria “o tempo em que o Espírito Santo haveria de descer até nós, a saber, o tempo do advento de Cristo, e o prometeu dizendo: Naqueles dias – se refere aos dias do Salvador – derramarei meu Espírito sobre toda carne.” Este tempo manifestou-se no Batismo de Jesus, pois é através do Espírito derramado na carne de Cristo que nós podemos recebê-lo. Assim o Batismo do Senhor serve mais para nós do que para ele. Foi por nossa causa que ele foi batizado.
Dizer que Cristo recebeu o Espírito enquanto se fizera homem não se deseja diminuir o poder de Jesus nem fazê-lo uma criatura melhor. Ele é Filho de Deus Pai, gerado de sua substância, Deus de Deus, luz da luz. Cristo não se sente ofendido em escutar a voz que vem do céu e diz: esse é meu Filho amado... Nesta voz está um testemunho para todos, o de João. Ele sabe que aquele é o Enviado. Sabe porque é o Espírito de Deus quem autoriza a missão.
Ser batizado é ser um enviado pelo Espírito de Cristo para ir e dar frutos. Somente somos enviados à pela força do Espírito Santo. Cada batizado é um missionário de Cristo no Espírito. Todavia, essa missão não é simples e necessita de muita dedicação e tempo de preparação. Não basta dizer que é missionário precisa-se viver como missionário de Cristo. Ser um batizado em Cristo é ser um discípulo dele e agir como ele.
Essa missão é dada ao Filho de Deus chamado a ser servo sofredor. Jesus que é o Filho e será também o Servo sofredor, anunciado por Isaías. Hoje, o Pai revela a Jesus qual o modo, qual o caminho que ele deve seguir para ser o Messias como Deus quer: na pobreza, na humildade, no despojamento, no serviço! É assim que o Reino de Deus será anunciado no mundo.  Jesus deverá ser manso: “Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas”. Deve ser cheio de misericórdia para com os pecadores, os fracos, os pobres, os sem esperança: “Não quebra a cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega”. Ele irá sofrer, ser tentado ao desânimo, mas colocará no seu Deus e Pai toda a sua esperança, toda a sua confiança: “Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra”.  O Senhor Deus estará sempre com ele e ele veio não somente para Israel, mas para todas as nações da terra: “Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas”.
Jesus já começa cumprindo sua missão na humildade: ele entra na fila dos pecadores, para ser batizado por João. Ele, que não tinha pecado, assume os nossos pecados, faz-se solidário conosco; ele, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo! “João tentava dissuadi-lo, dizendo: ‘Eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti e tu vens a mim?’ Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Deixa estar, pois assim nos convém cumprir toda a justiça’” (Mt 3,14s). Assim convinha, no plano do Pai, que Jesus se humilhasse, se fizesse Servo e assumisse os nossos pecados! Ele veio não na glória, mas na humildade, não na força, mas na fraqueza, não para impor, mas para propor, não para ser servido, mas para servir. Eis o caminho que o Pai indica a Jesus, eis o caminho que Jesus escolhe livremente em obediência ao Pai, eis o caminho dos cristãos, e não há outro! Não podemos ser verdadeiramente cristãos sem assumir essa missão do servo de Deus.
Ser um cristão não é seguir uma ideologia, um movimento solidário, um partido. Ser cristão é seguir uma pessoa que fez uma opção radical por amor a Deus. Quem deseja ser cristão pensando em holofotes trabalha em vão, nada alcançará porque esse não é o caminho de Jesus. Quem não se humilha para seguir o exemplo do Mestre faz o caminho inverso. A simplicidade de Jesus, sua humildade e sua obediência são caminhos seguros de salvação.  
Hoje é um dia para agradecer a Deus a Graça do Batismo. Agradecer que nos tenha purificado a alma da mancha do pecado original, bem como de qualquer outro pecado que tivéssemos naquele momento. Essa graça sacramental nos convida a conversão e a mudança de vida. diz São Leãao Magno que por essa graça Deus afugenta os maus hóspedes que deseja instalar-se em nossos corações.   Hoje a liturgia faz um convide a retornar a pia batismal para verificar quem você matou e lá deixou para nunca mais voltar. Lá na pia batismal ficou o ser mundano, pervertido, viciado, injusto, mentiroso, orgulhoso e desobediente não deixei que ele torne a viver por seus maus atos. O convide, por fim, é para serdes santos e irrepreensíveis no amor.

Pe. Fantico Borges, CM


  

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