Homilia do Pe. Fantico, CM – Solenidade do Batismo
do Senhor.
Este é meu Filho amado!
Na liturgia deste domingo
celebramos o Batismo do Senhor onde somos
chamados a meditar sobre nosso próprio batismo. Mergulhar na pia bastimal e
redescobrir a chama acessa pela graça do novo nascimento espiritual. Essa Festa do
Batismo do Senhor, celebrada no Domingo depois da Epifania encerra o ciclo das
Festas da Manifestação do Senhor, o ciclo de Natal. Comemoramos o Batismo de
Jesus por São João Batista nas águas do rio Jordão. Sem ter mancha alguma que
purificar, Jesus quis submeter-se a esse rito tal como se submetera às demais
observâncias legais que também não o obrigavam. Jesus deixou seu exemplo como
prova de sua vontade.
O Senhor desejou ser batizado, diz
Santo Agostinho, “para proclamar com a sua humildade o que para nós era uma
necessidade”. Com o batismo de Jesus, ficou preparado o Batismo cristão,
diretamente instituído por Jesus Cristo e imposto por Ele como lei universal no
dia da sua Ascensão: Todo poder me foi dado no céu e na terra, dirá o Senhor;
ide, pois, ensinai a todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e
do Espírito Santo (Mt 28, 18-19).
O dia em que fomos batizados foi o
mais importante da nossa vida, pois nele recebemos a fé e a graça. Antes de
recebermos o batismo, todos nós nos encontrávamos com a porta do Céu fechada e
sem nenhuma possibilidade de dar o menor fruto sobrenatural. É no batismo que o
Céu se abre para cada um de nós e entramos em posse, novamente, da vida em Deus.
Para a tradição da Igreja o batismo de
Jesus é a efusão do Espírito Santo sobre toda carne humana. Quando o Criador decidiu
restaurar todas as coisas em Cristo e devolver à criação seu estado original,
como também promover um tempo de graça e paz, escolheu também infundir nesta
criação seu Espírito de Amor. Para São Cirilo de Alixandria “o tempo em que o
Espírito Santo haveria de descer até nós, a saber, o tempo do advento de
Cristo, e o prometeu dizendo: Naqueles dias – se refere aos dias do Salvador –
derramarei meu Espírito sobre toda carne.” Este tempo manifestou-se no Batismo
de Jesus, pois é através do Espírito derramado na carne de Cristo que nós
podemos recebê-lo. Assim o Batismo do Senhor serve mais para nós do que para
ele. Foi por nossa causa que ele foi batizado.
Dizer que Cristo recebeu o Espírito
enquanto se fizera homem não se deseja diminuir o poder de Jesus nem fazê-lo
uma criatura melhor. Ele é Filho de Deus Pai, gerado de sua substância, Deus de
Deus, luz da luz. Cristo não se sente ofendido em escutar a voz que vem do céu
e diz: esse é meu Filho amado... Nesta voz está um testemunho para todos, o de
João. Ele sabe que aquele é o Enviado. Sabe porque é o Espírito de Deus quem
autoriza a missão.
Ser batizado é ser um enviado pelo
Espírito de Cristo para ir e dar frutos. Somente somos enviados à pela força do
Espírito Santo. Cada batizado é um missionário de Cristo no Espírito. Todavia,
essa missão não é simples e necessita de muita dedicação e tempo de preparação.
Não basta dizer que é missionário precisa-se viver como missionário de Cristo.
Ser um batizado em Cristo é ser um discípulo dele e agir como ele.
Essa missão é dada ao Filho de Deus
chamado a ser servo sofredor. Jesus que é o Filho e
será também o Servo sofredor, anunciado por Isaías. Hoje, o Pai revela a Jesus
qual o modo, qual o caminho que ele deve seguir para ser o Messias como Deus
quer: na pobreza, na humildade, no despojamento, no serviço! É assim que o
Reino de Deus será anunciado no mundo. Jesus
deverá ser manso: “Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas
ruas”. Deve ser cheio de misericórdia para com os pecadores, os fracos, os
pobres, os sem esperança: “Não quebra a cana rachada nem apaga um pavio que
ainda fumega”. Ele irá sofrer, ser tentado ao desânimo, mas colocará no seu
Deus e Pai toda a sua esperança, toda a sua confiança: “Não esmorecerá nem se
deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra”. O Senhor Deus estará sempre com ele e ele veio
não somente para Israel, mas para todas as nações da terra: “Eu, o Senhor, te
chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como
aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirar os
cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas”.
Jesus já começa cumprindo
sua missão na humildade: ele entra na fila dos pecadores, para ser batizado por
João. Ele, que não tinha pecado, assume os nossos pecados, faz-se solidário
conosco; ele, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo! “João tentava
dissuadi-lo, dizendo: ‘Eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti e tu
vens a mim?’ Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Deixa estar, pois assim nos convém
cumprir toda a justiça’” (Mt 3,14s). Assim convinha, no plano do Pai, que Jesus
se humilhasse, se fizesse Servo e assumisse os nossos pecados! Ele veio não na
glória, mas na humildade, não na força, mas na fraqueza, não para impor, mas
para propor, não para ser servido, mas para servir. Eis o caminho que o Pai
indica a Jesus, eis o caminho que Jesus escolhe livremente em obediência ao
Pai, eis o caminho dos cristãos, e não há outro! Não podemos ser verdadeiramente
cristãos sem assumir essa missão do servo de Deus.
Ser um cristão não é
seguir uma ideologia, um movimento solidário, um partido. Ser cristão é seguir
uma pessoa que fez uma opção radical por amor a Deus. Quem deseja ser cristão
pensando em holofotes trabalha em vão, nada alcançará porque esse não é o
caminho de Jesus. Quem não se humilha para seguir o exemplo do Mestre faz o
caminho inverso. A simplicidade de Jesus, sua humildade e sua obediência são
caminhos seguros de salvação.
Hoje é um dia para agradecer a Deus a
Graça do Batismo. Agradecer que nos tenha purificado a alma da mancha do pecado
original, bem como de qualquer outro pecado que tivéssemos naquele momento. Essa
graça sacramental nos convida a conversão e a mudança de vida. diz São Leãao
Magno que por essa graça Deus afugenta os maus hóspedes que deseja instalar-se
em nossos corações. Hoje a liturgia
faz um convide a retornar a pia batismal para verificar quem você matou
e lá deixou para nunca mais voltar. Lá na pia batismal ficou o ser mundano,
pervertido, viciado, injusto, mentiroso, orgulhoso e desobediente não deixei
que ele torne a viver por seus maus atos. O convide, por fim, é para serdes
santos e irrepreensíveis no amor.
Pe. Fantico Borges, CM
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