Homilia do Pe. Fantico – da Assunção de Nossa Senhora
Viva a Maria, esperança de Deus realizada!
Neste domingo a igreja no Brasil celebra a festa da
solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Festa essa celebrada dia 15 de agosto,
mas que por razões pastorais foi transferida para este domingo; a fim de atrair
mais fieis para esta solenidade da Mãe de Deus. Nosso desejo como fieis
cristãos é conseguir do Senhor o que Maria, sinal glorioso da Igreja, já
conseguiu. Esperamos estar completos, corpo e alma, com o Senhor. Ao contemplar
a Mãe de Deus de maneira tão gloriosa no dia de hoje, os nossos corações se
enchem de luz e de esperança.
Desde de S. João Damasceno e S. Germão de Constantinopla
que pregavam abertamente a existência da incorruptibilidade do corpo de Nossa
Senhora e assim se associa a não-corrupção da carne imaculada de Maria. A este
respeito Afirma S. Jõao Damasceno “que ao comparar a
assunção gloriosa da Mãe de Deus com as suas outras prerrogativas e
privilégios, exclama com veemente eloqüência: "Convinha que aquela que no
parto manteve ilibada virgindade conservasse o corpo incorrupto mesmo depois da
morte. Convinha que aquela que trouxe no seio o Criador encarnado, habitasse
entre os divinos tabernáculos. Convinha que morasse no tálamo celestial aquela
que o Eterno Pai desposara. Convinha que aquela que viu o seu Filho na cruz,
com o coração traspassado por uma espada de dor de que tinha sido imune no
parto, contemplasse assentada à direita do Pai. Convinha que a Mãe de Deus
possuísse o que era do Filho, e que fosse venerada por todas as criaturas como
Mãe e Serva do mesmo Deus". A essa teoria deu-se o nome de Dormição de Nossa
Senhora. A festa da Dormição de Nossa Senhora foi celebrada primeiramente em
Jerusalém. Mas para os antigos, “dormição” não significava necessariamente
ausência de morte. Defensor da Assunção de Nossa Senhora na Idade Média foi o
assim chamado “Pseudo-Agostinho” (século IX). Baldo de Ubaldi, no século XV,
também foi um grande defensor desta verdade de fé. Finalmente, o Papa Pio XII
definiu solenemente o dogma da Assunção no dia 1 de novembro de 1950 através da
Constituição “Munificentissimus Deus”. Inclusive o nome desta constituição
deixa claro que se trata de uma graça de Deus “munificentissimus”, isto é,
generosíssimo. Uma graça tal que é um privilégio: Maria recebeu o
privilégio de que nela fosse antecipado aquilo que acontecerá com todos os
eleitos.
O Papa sentencia “que é dogma divinamente revelado:
que a Imaculada Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, ao término de sua vida
terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória do céu”. É interessante que
antes do Papa definir o quarto dogma sobre Nossa Senhora, ele recorde os outros
três: Mãe de Deus, sempre Virgem (antes, durante e depois do parto), Imaculada.
Pio XII não diz se Maria, antes de ser elevada ao céu, morreu ou não: isso
continua como tema aberto à livre discussão teológica, isto é, pode-se defender
uma ou outra coisa. O que todos devem reter como doutrina de fé solenemente
definida é que ela, Nossa Senhora, foi elevada em corpo e alma aos céus,
antecipadamente, como privilégio.
Quanto à morte de Nossa Senhora, parece muito mais
acertado afirmar que ela realmente morreu e somente depois teria sido elevada
aos céus. Por um lado, quando os antigos Padres falavam de “dormição” eles
falavam também de morte. De fato, não é difícil encontrar textos na patrística
que transmitam uma dormição de Jesus na Cruz referindo-se à sua morte real. Por
outro lado, o desejo de imitar a Cristo que estava no coração de Nossa Senhora
faz com que seja mais conveniente que ela imite o seu filho também nisso e se
una, desta maneira, ao valor redentor do seu mistério de cruz.
Desta festa da Assunção de Nossa Senhora podemos
tirar para nossa vida prática que ela é
sinal de esperança para nós. O Concílio Vaticano II afirmou: “Entretanto, a Mãe
de Jesus, assim como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da
Igreja que se há de consumar no século futuro, assim também, na terra, brilha
como sinal de esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda
peregrinante, até que chegue o dia do Senhor (cfr. 2 Ped. 3,10)” (Constituição
Dogmática sobre a Igreja, Lumen Gentium, nº 68).
Maria como pregoeira da Esperança escatológica de
Jesus acena à meta anelada por cada um de nós. A esperança é virtude
sobrenatural, teologal, uma disposição plantada pelo Senhor na nossa alma que
nos une a ele através da vontade, do desejo. Esperamos em Deus e nos auxílios
(graças) que ele nos concede para alcançá-lo. Temos a firme esperança de chegar
ao céu, à bem-aventurança eterna. É nesse sentido que a Assunção de Maria nos
anima a continuar com os olhares fixos na meta: uma como nós conseguiu aquilo
que nós conseguiremos. O nosso caminho rumo ao céu já foi selado por uma da
nossa raça. Assim como ela chegou lá por graça, também nós chegaremos.
A
Festa de hoje não é somente da Virgem Maria. Primeiramente, ela glorifica o
Cristo, Autor da nossa salvação, pois em Maria aparece a vitória sobre a morte,
que Jesus nos conquistou. A liturgia hoje exclama: “Preservastes, ó Deus, da corrupção da morte
aquela que gerou de modo inefável vosso próprio Filho feito homem, Autor de
toda a vida”. Este senhorio de Cristo aparece hoje radiante na sua
Mãe toda santa: em Maria, Cristo venceu a morte de Maria! Em segundo lugar, a
festa de hoje é também festa da Igreja, de quem Maria é Mãe e figura. A
liturgia canta: “Hoje, a Virgem Maria, Mãe de
Deus, foi elevada à glória do céu. Aurora e esplendor da Igreja triunfante, ela
é consolo e esperança para o vosso povo ainda em caminho”. Sim! A
Mãe Igreja contempla a Mãe Maria e fica cheia de esperança, pois um dia, estará
totalmente glorificada como ela, a Mãe de Jesus, já se encontra agora.
Finalmente, a festa é de cada um de nós, pois já vemos em Nossa Senhora aquilo
que, pela graça de Cristo, o Pai preparou para todos nós: que sejamos
totalmente glorificados na glória luminosa do Espírito do Filho morto e
ressuscitado. Aquilo que a Virgem já possui plenamente, nós possuiremos também:
logo após a morte, na nossa alma; no fim dos tempos, também no nosso corpo!
Estejamos
atentos! A festa hodierna recorda o nosso destino, a nossa dignidade e a
dignidade do nosso corpo. O mundo atual, por um lado exalta o corpo nas
academias, no culto da forma física, da moda e da beleza exterior; por outro
lado, entrega o corpo à sensualidade, à imoralidade, à droga, ao álcool… É
comum escutarmos que o que importa é o “espírito”, que a matéria, o corpo
passa… Os cristãos não aceitam isso! Nosso corpo é templo do Espírito Santo,
nosso corpo ressuscitará, nosso corpo é dimensão indispensável do nosso eu.
Assim
entregues a oração roguemos a Mãe de Deus que derrame sobre nós seu manto de
amor. Que ela seja nossa advogada diante da Misericórdia do Pai, Filho e
Espírito Santo. Amém!
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